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sexta-feira, 30 de março de 2018

30.-Para (quase) despedir março


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 12
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EDIÇÃO
3347


Esta é a última das quatro edições de março2018. A primeira teve a marca de Nilópolis e Rio de Janeiro. Na segunda o ser de Manaus foi obliterado pelo luto por Marieli. Na terceira as emoções vieram de Igrejinha/RS e Inhumas/GO. Esta quarta por semelhança geográfica: Codó/MA.
Restringir a uma cidade maranhense que acessei a partir de Teresina PI é muito pouco. É meu parceiro neste blogada Prof. Dr. Licurgo Peixoto de Brito da UFPA e da REAMEC. A convite do Licurgo, viajei na última segunda-feira à Codó. A motivo da viagem era participar da defesa de tese doutoral de seu orientando Deusivaldo Aguiar dos Santos a ser realizada no IFMA Codó-MA, instituição locus da pesquisa. Neste caso a situação é peculiar pela distância física entre a instituição pesquisada e a IES formadora (770 km por rodovia). Essa situação não é usual na academia.
Eis o que diz o Licurgo: “tenho desenvolvido a prática de realizar defesas de teses ou de dissertações em escolas que foram alvo da investigação. A intenção é estimular um processo de retorno de resultados à instituição pesquisada. Certamente, muitas vezes já ouvimos comentários como ‘a nossa escola colaborou com a pesquisa, forneceu informações, abriu as portas para a universidade e depois da pesquisa concluída eles nem mandaram uma cópia da tese para termos na biblioteca’. Eu ouvi discursos deste tipo várias vezes. Com a motivação de não cair nessa omissão, passei a considerar a possibilidade de realizar defesas nas escolas que contribuíram como locus de pesquisa.
Não faltarão leitores que dirão: isso não é inédito. Realmente, não é. Essa é uma salutar prática que vem crescendo na Universidade brasileira. 
O Licurgo a amplia. A Banca Examinadora foi composta por Licurgo (orientador); Amparo Vilches Peña (coorientadora - Universidad de Valencia /Espanha); Membros internos Ana Cristina Pimentel Carneiro de Almeida e Jose Jeronimo de Alencar Alves; Raimundo Luna Neres (UNICEUMA) e Attico Chassot (Reamec).  Algo inédito também foi a realização de uma defesa de doutorado com quase uma centena de assistentes, Já vi muitas com menos de meia dúzia de assistentes.
Na oportunidade de estarmos no IFMA Codó nos propusemos a fazer palestras docentes e discentes do Instituto Federal.
Assim, na segunda e na terça, auditório com a capacidade de 150 lugares e cerca de lugares e pelo menos 50 pessoas em pé. O Prof. Jerônimo Alves discorreu sobre “Estudos Culturais e inserção do cientificismo com o processo modernizador e o Prof. Licurgo de “Abordagens Temáticas para o Ensino de Ciências” com a participação do prof. José Alexandre da Silva Valente. Essas falas ocorreram na noite do dia 26 de março, já que os cursos de licenciatura em Química, Matemática, Ciências Agrárias e Biologia funcionam em período noturno. 
Assim, na segunda e na terça, no auditório com a capacidade de 150 lugares e cerca de lugares e pelo menos 50 pessoas em pé, o Prof. Jerônimo Alves discorreu sobre “Estudos Culturais e inserção do cientificismo com o processo modernizador e o Prof. Licurgo de “Abordagens Temáticas para o Ensino de Ciências” com a participação do prof. José Alexandre da Silva Valente. Essas falas ocorreram na noite do dia 26 de março, já que os cursos de licenciatura em Química, Matemática, Ciências Agrárias e Biologia funcionam em período noturno. 
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No noite de terça, 27 eu fiz, para cerca de 200 pessoas, a palestra “A ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza”.
Na manhã de quarta, mais uma vez o auditório estava lotado para a defesa da tese Ensino com abordagem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente em uma escola de origem agrotécnica. Não é uma situação trivial para o doutorando expor e ouvir críticas ante seus pares e alunos.
Assim, no IFMA Campus Codó não houve apenas uma defesa de tese –- novidade para talvez uma centena de licenciados: houve um ciclo de palestras e outras atividades que envolveram especialmente os professores. Valeu ter estado em Codó. Eu sou grato e a todos que se envolveram para que pudesse participar. Personifico minha gratidão ao Sr. Cícero, o Nego Onça, que me conduziu 2 x 170 quilômetros e com habilidades me ensejou puder antecipar em 12 horas o meu regresso Codó/Teresina/Brasília/Porto Alegre. Que o plenilúnio que marca esta Sexta-Feira (ainda) Santa amealhe as melhores evocações quando neste capicuo 30:03 na conjugação este ano da Páscoa judaica e a cristão.

sexta-feira, 23 de março de 2018

23.-As primícias outonais




ANO
 12
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EDIÇÃO
3345


O outono de 2018 começou nesta terça-feira... Para alguns poucos leitores desse blogue, que vivem no Hemisfério Norte, começou então a primavera. O outono na região do paralelo 30 do Hemisfério Sul (onde eu moro) é talvez a mais bonita ou a mais saborosa quanto ao clima. Difere da primavera, pois usualmente não há ventos, como aqueles ditos ‘ventos de finados’.
Se diz que é a estação da maturação dos frutos e muitas árvores e arbustos, transmutam–- já em preparação do inverno –- a folhagem verde em um lindo amarelo dourado. Não é sem razão que em inglês outono é também conhecido por fall.
Fiz título desta edição uma palavra que não pertence ao nosso falar cotidiano: Primícias. Uma palavra usada usualmente no plural e está associada ao outono, pois está assim dicionarizada conjunto dos primeiros produtos da terra ou de um rebanho (Priberam). Mesmo que tenha colhido na terça-feira saborosas goiabas, aposso-me metaforicamente para narrar aqui duas primícias. Uma ocorreu na terça e outra na quinta-feira.
Na chuviscosa manhã de terça-feira fui de ônibus a Igrejinha RS, na mesorregião Metropolitana de Porto Alegre e na microrregião de Gramado-Canela, mais precisamente no Vale do Paranhana, a cerca de 82 km de Porto Alegre. O município, um dos maiores produtores de calçados femininos do Brasil tem cerca de 35 mil habitantes.
Colonizado por imigrantes alemães durante o século 19, ainda hoje possui população predominantemente de origem alemã. O nome do município se deve a uma pequena igreja construída pelos imigrantes em 1863. Para celebrar as tradições de seus antepassados a cidade criou a Oktoberfest de Igrejinha.
Meu destino em Igrejinha era a pequena Escola Municipal Dom Pedro II, em Solitária Alta na região colonial do município. A agenda era extensa (três turnos) e desafiadora.
O primeiro desafio foi no turno da manhã. Tentar responder para quase meia centena de alunas e alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental: “O que é Ciência, afinal? Ao comparamos Ciência e Religião a carta de Richard Dawkins a sua filha Juliete foi destaque. Confirmou-se, já no primeiro aquilo que sempre tenho dito: ‘é mais complexo, é mais difícil dar aula no ensino fundamental do que ser professor na pós-graduação. Motivado por um painel à entrada da escola, palestra foi dedicada à Marielle, referida como exemplo para as nossas lutas em busca de um Planeta com menos desigualdades.
Curtindo o sucesso da primeira fala, aplaudida extensamente, cumpri aquela que seria a meu juízo atividade mais significativa, mas também mais complexa: visitei quatro grupos: o primeiro era formado por alunos do terceiro ano ensino fundamental; o segundo grupo foi para alunos de quarta e quinta série reunidos; a terceira visita foi para alunos de segundo ano; e a quarta foi para alunos da Educação Infantil e do primeiro ano. Se na tarde de terça tivesse que dar uma palestra em um doutorado não teria tanta dificuldade como tive para fazer essas quatro visitas; todas elas muito diferentes e todas elas muito a meu gosto.
A última atividade nesses três turnos em Igrejinha foram duas falas para 12 dos 15 professores da escola começamos às 18 horas e terminamos depois das 21 horas com 10 minutos de intervalo. Foi uma atividade muito produtiva e muito rica. Na primeira fala falei acerca da (não) intersecção dos saberes acadêmicos / saberes escolares / saberes primevos. Na segunda parte ensaiamos possibilidade de práticas de pesquisas com os alunos tendo como problema (genérico): Como preservar saberes primevos e fazer deles saberes escolares?
Recebi de presente da escola uma linda cesta com produtos coloniais e artesanais da região acompanhada de muito carinho de alunos e professores. Foi um 20 de março de 2018/
Falta uma pergunta: Por que uma escolinha rural na beira da estrada? Minha filha Clarissa e meu genro Carlos são lindeiros com a escola e minhas netas Maria Clara e Carolina são desde agosto alunas da escola. Não se precisa dizer mais nada.
 As primícias da noite de quinta-feira não foram menos emocionantes que as terça-feira em Igrejinha. Em novembro fora convidado para atividades no Instituto Federal Goiás no campus Inhumas. Estabeleci relações com vários colegas. Este ano a Professora Danila Mendonça –- titular da disciplina Instrumentação para o Ensino de Química I –- me escreveu solicitando sugestões e/ou alternativas para trabalhar com um grupo de licenciandos em Química do 5º semestre.
Depois de algumas trocas de WhatsApp acolhemos a proposta, que já realizara com outros grupos. Os alunos leriam e discutiriam em aula o capítulo Diálogo de aprendentes (ver referência*) no qual faço transgrido as fronteiras da ficção e da realidade fazendo uma assamblage** de uma maneira usual muito apreciada pelos leitores.
No terceiro encontro sobre o mesmo texto eu compareci, via teleaula à sala de aulas com os alunos e a professora. Os estudantes trouxeram quase uma dezena de questões. Cada uma dela catalisou uma microaula que se prestou a muitas interrogações. Foram quase duas horas muito enriquecedoras.
Dois pontos fora do script: #1) A professora Priscila, que na mesma hora teria aula de Cálculo com outro grupo, trouxe cerca de duas dezenas de alunos que foram ouvintes muito significativos. #2) Tivemos problemas técnicos e só conseguimos ter áudio num não muito ortodoxo acoplamento de um notebook e smarthfone.  
* CHASSOT, Attico. Dialogo de aprendentes, in MALDANER, Otavio Aloisio (Organizador); SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos (Organizador). p. 23-50 Ijuí: Ensino de Química em Foco Editora Unijuí, 2010, 368 p. ISBN 978-85-7429-888-7
** vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas. Assim, por exemplo, cabernet sauvignon + merlot poderiam formar uma assemblage (o substantivo é feminino, numa evocação à assembleia), ou tanat + pinot noir, outra.
Mas a semana teve tristezas: faleceu a Prof. Dra. Ierecê na madrugada do dia 21.03.2018, uma muito querida colega da Reamec e da Universidade Estadual do Amazonas.
Ela deixou seu epitáfio: "Às vezes somos como a Fênix. Entramos em autocombustão. Morremos. Mas depois renascendo das cinzas. Como a Fênix, carregamos carga muito pesada para uma única existência. Temos que nos dar a chance de outra..." Ierecê dos Santos Barbosa


sexta-feira, 16 de março de 2018

16.- Os sinos dobram por Marielli Franco


ANO
 12
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EDIÇÃO
3346


Escrevo de Manaus, onde cheguei nesta terça-feira, 13 de março e que deixo nesta tarde de sexta. Não vou falar destes dias manauaras. Não vou narrar o quanto prelibo as atividades que terei, na semana que vai iniciar Igrejinha RS e em Inhumas GO.
Lembro do poeta lusitano maior: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta.” A tristeza e o luto redirecionam este blogar.
Nesta quinta-feira, iniciei uma fala para cerca de 200 pessoas UFAM dizendo que dedicava a minha fala a Marielli Franco, assassinada à véspera. E é para ela esta edição tintada de luto e de dor.
Aproprio-me de texto de José Roberto de Toledo, publicado na revista Piauí* para curtir com os leitores deste blogue a indignação e a dor que se entranha em todos   que aspiram neste pobre Brasil o respeito aos direitos humanos e à restauração da democracia.
Os bares de Copacabana e da Zona Sul do Rio de Janeiro estavam lotados de torcedores que acompanhavam, pela tevê, a virada do Flamengo sobre o Emelec na Taça Libertadores. Também nas redes sociais o time carioca provava-se popular liderando o Twitter Trends Brasil na noite de quarta-feira. Em meio aos milhares de tuítes sobre os jogadores que decidiram a partida, um nome que nada tinha a ver com o jogo começou a subir no ranking de assuntos do momento: Marielle Franco. Aos poucos, o drama futebolístico dava lugar a uma tragédia emblemática.
Líder em uma das maiores comunidades pobres do Rio – a Maré, um aglomerado de 16 favelas espremidas entre a Linha Vermelha e a avenida Brasil onde moram 130 mil pessoas –, Marielle foi a quinta mais votada entre os 51 vereadores eleitos na cidade em 2016. Recebeu 46,5 mil votos logo na primeira eleição que disputou. Usava o mandato para denunciar a violência policial e para cuidar dos interesses e preocupações de mulheres negras como ela. Eleita pelo PSOL, a socióloga pós-graduada em administração pública acabara de ser nomeada relatora da comissão da Câmara Municipal que deveria fiscalizar a intervenção militar na segurança do estado do Rio. Não teve chance de cumprir a missão.
Por volta das 21h30, enquanto o Flamengo entrava em campo no Equador, o Chevrolet Agile quatro portas branco em que Marielle estava foi alcançado por outro veículo na esquina das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no bairro do Estácio, perto do Centro da cidade. Foram pelo menos nove disparos. Oito projéteis atravessaram o vidro da porta traseira direita, bem no local onde Marielle estava sentada. O nono perfurou a lataria. Quatro atingiram a cabeça da vereadora. Marielle morreu aos 38 anos. Faria 39 em julho.
As balas traçaram uma diagonal dentro do Agile e três delas acabaram alcançando e matando o motorista do carro, Anderson Pedro Gomes. A trajetória que percorreram sugere que o atirador estava ao lado direito e atrás do Agile. Se Marielle estivesse no centro do mostrador de um relógio, o ponteiro indicaria que o assassino ficou entre as marcas das quatro e das cinco horas. Não é a posição de quem anuncia um assalto, talvez a de alguém que planeja uma execução. Nada foi roubado. O ângulo e a precisão dos disparos pouparam a assessora que viajava no banco do carona, à frente de Marielle.
Antes que a tevê noticiasse o atentado à vida da vereadora e de seus acompanhantes, múltiplos polegares se encarregaram de espalhar a história do crime por meio do WhatsApp. De lá, a notícia multiplicou-se pelo Twitter e pelo Facebook. À meia-noite e meia, “marielle franco vereadora” já era líder das “Tendências do Momento” do Google no Rio de Janeiro. A essa altura, nada provocava mais interesse entre internautas cariocas do que a morte da favelada negra que transformara a militância católica da adolescência em mandato eletivo por um partido socialista na meia-idade.
Grávida aos 18 anos, Marielle contou à Revista Subjetiva dez meses atrás que teve que interromper os estudos para cuidar da filha.Concluíra o ensino médio no turno da noite de uma escola pública, o Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, e pretendia cursar uma faculdade. Matriculou-se em um curso pré-vestibular, mas a gravidez inesperada mudou seus planos. Era 1997, e ela estava numa fase de “fugir da igreja pra ir pro baile” – conforme disse na entrevista. Engravidou. Com o apoio da mãe mas sem o do pai da criança, Marielle tratou de dedicar-se à filha. Só pode retomar os estudos anos depois. Conseguiu entrar no curso de ciências sociais da PUC do Rio em 2002. Recebeu bolsa de estudos integral da universidade.
Já na madrugada desta quinta-feira, a morte da vereadora extravasou das mídias sociais para a mídia internacional. Correspondentes estrangeiros baseados no Rio de Janeiro publicaram notícias sobre o crime em inglês, espanhol e outros idiomas. A morte de Marielle deu no New York Times. Atos de homenagem e de protesto foram marcados pela internet para esta quinta-feira.
Com o assassinato monopolizando o noticiário e ameaçando a popularidade da intervenção militar no Rio, políticos e governantes se apressaram em lamentar a morte da vereadora do PSOL, decretar luto oficial e prometer a solução do crime. As circunstâncias indicam um homicídio premeditado: o atirador sabia exatamente onde mirar para atingir Marielle, apesar de os vidros do Agile estarem fechados e serem escurecidos por uma película colante. Isso sugere que o carro onde estava o atirador seguiu o da vereadora talvez desde a Lapa, onde ela embarcara após participar de um evento com outras mulheres.
Porém, não há registro de que Marielle viesse sofrendo ameaças. Seus companheiros de partido fizeram questão de repetir isso em entrevistas ao longo da noite, argumentando que se ela tivesse sido ameaçada o PSOL teria denunciado, como forma de proteção. Qual teria sido, então, a motivação dos assassinos? Por ora, não há respostas, só especulações. Quatro dias antes de ser morta, a vereadora denunciara o assassinato de dois jovens em Acari, na Zona Norte do Rio. Em post no Facebook, afirmou que o batalhão da Polícia Militarque atua na região é conhecido como “batalhão da morte”. Pode ser uma pista, mas não é uma prova.
Denunciar a morte violenta de seus pares foi o que levou Marielle à política. Em 2005, uma amiga sua foi vítima de “bala perdida” durante um tiroteio entre policiais e traficantes na Maré. O engajamento em campanhas contra a violência policial em favelas aproximou-a de um ex-professor de História seu, do curso pré-vestibular. Em 2006, Marielle fez campanha para Marcelo Freixo, do PSOL. Eleito deputado estadual, o professor nomeou a ex-aluna para assessorá-lo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Após dez anos de trabalho como assessora parlamentar, Marielle elegeu-se em 2016 para seu primeiro e último cargo eletivo. O sucesso logo de cara predizia uma carreira política longeva. Quatro balas anularam a previsão. Mas não seu legado: foram quatorze meses como vereadora, dezenove anos como mãe, e quase quatro décadas como voz inconformada contra a violência à sua volta.
* http://piaui.folha.uol.com.br/colaborador/jose-roberto-de-toledo/
* http://piaui.folha.uol.com.br/colabor

sexta-feira, 9 de março de 2018

09.-Para celebrar março mais um pouco



ANO
 12
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EDIÇÃO
3345


A edição semanal do blogue hoje é publicada a poucos minutos de começar o segundo shabath deste março. Estou na linda (e atribulada) Rio de Janeiro. Ontem,8 quinta-feira proferi a aula inaugural do Curso de Licenciatura em Química e do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências (PROPEC) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro IFRJ Campus de Nilópolis e, por ser o dia internacional da Mulher, o tema da palestra parece ter sido muito bem proposto pelo Prof. Dr. Jorge Messeder coordenador do evento. Estar mais uma vez em Nilópolis e receber os acarinhamentos de meus colegas e dos alunos do IFRJ e sempre muito bom.
Na edição passada dizia que entre muitos eventos que fazem março festejado estava no meu calendário o 13 março de 1961, dia de celebração do acaso que me fez professor. Assim neste março festejo a alegria de ser há 57 anos professor.  Vou estar na data na Universidade Federal do Amazonas, no Departamento de Biologia, a convite da Professora Dra. Irlane Maia de Oliveira, de quem fui orientador no mestrado.
Para marcar esta celebração transcrevo um excerto do 1º capítulo Memórias de um professor: holograma desde um trem misto (Editora Unijui, 2012, 507 p.) onde dou destaque para como tudo como começou.
Terminado os três anos de científico, fiz em janeiro, vestibular na UFRGS para Engenharia. Então se fazia vestibular unificado para a Escola de Engenharia e a opção por uma modalidade (Civil, Minas, Química...) acontecia durante o 1º ano. Fui reprovado em desenho. Não consegui desenhar uma parábola, como o exigido, com tinta nanquim. Em fevereiro, na segunda chamada, se repetiu o meu insucesso, pela mesma razão. Fiquei muito frustrado. Não sabia o que fazer. Vi que não havia sentido ficar em Porto Alegre, pois meu emprego servia para pagar o aluguel de um quarto de um apartamento que ficava na avenida Getúlio Vargas, que eu compartia com o colega de Julinho Omilton Bonotto, que fora aprovado na Medicina.
Em Montenegro procurei sem sucesso algum emprego em escritório de alguma empresa. Em qualquer lugar era descartado por falta de experiência. Minha busca de emprego se dava em uma área que eu, há três anos, rejeitara. Deixara, então, a cidade porque as duas únicas opções depois de se terminar o ginásio eram curso de magistério, há época exclusivamente feminino; e, técnico em contabilidade, que não estava no horizonte de quem sonhava voar mais alto. Agora o reprovado no vestibular buscava emprego em algum escritório. Imaginem-se quantos técnicos em contabilidade deveria haver disponíveis. Quem empregaria alguém que tinha feito o curso científico?
Minha mãe, sempre muito pragmática no comando de sete filhos, teve então uma idéia audaciosa. Por que tu não vais ao Colégio Jacob Renner? Lá podem estar precisando de professor. Havia na proposta de minha mãe duas fabulosas ousadias: a mais significativa, ela muito católica recomendar-me uma escola mantida pela Igreja Episcopal; é preciso recordar que o Concílio Vaticano II só começaria no ano seguinte, e o vigário católico da cidade negava a eucaristia aos pais que colocassem os filhos no Jacob Renner, que era uma escola gratuita. Professores católicos certamente mereceriam a excomunhão. A outra, o crédito que ela tinha no seu filho, admitindo que esse tivesse requisitos de ser professor. Mãe é mãe!
Na manhã de 13 de março fui ao Jacob Renner, sendo entrevistado pelo diretor Reverendo Ernst Bernhoeft, alma-mater do Colégio. Não me lembro o que ele me perguntou, mas sai da escola com emprego. Lecionaria matemática nas duas 1ªs e duas 2ªs series do curso ginasial. O curso ginasial era até a reforma do ensino imposta pela Lei 5692, de agosto de 1971, formado por quatro anos. O ginasial sucedia aos cinco anos do curso primário e era acessado mediante exame de admissão ao ginásio. As séries que me foram destinadas corresponderiam no sistema de hoje a 6ª e 7ª do ensino fundamental. Era uma segunda-feira. As aulas começariam na quarta-feira. Programei-me para ir a Porto Alegre no dia seguinte buscar meus livros, pois não trouxera ainda minha mudança, e preparar-me para a grande estreia. Todavia naquele mesmo dia ainda aconteceria algo inusitado.
No começo da tarde, batem na casa de meus pais, para onde eu retornara depois de meus fracassos no vestibular, – e perguntam pelo ‘Professor Attico!’. Eu, não sem alta dose de atrapalhação, pois nunca fora assim antes chamado, respondo que era eu. ‘O Reverendo mandou este livro para o senhor preparar uma aula para hoje à noite, pois o professor do 3º científico vai faltar!’. Engoli em seco e recebi o livro de Matemática do 3º ano colegial, do Ary Quintella. Ainda tenho o livro de capa verde, com um desenho de uma função derivada na capa. Quem se preparava nervosamente para a estreia daí a dois dias, pariria a fórceps seu debute no magistério ainda aquela noite.
Lembro-me que parti da João Pessoa, 1884 e desci a Oswaldo Aranha, até perto da Estação da Viação Férrea, onde ficava o Jacob Renner, numa quase noite. Pelo caminho repeti várias vezes a aula sobre ‘números complexos’ que preparava para alunos da mesma série que eu frequentara no ano anterior. Só fazia aos céus um pedido: que ninguém me perguntasse nada. Não recordo muito da aula, a não ser que sentia o suor pingar na minha espinha. Lembro do grupo. Eram talvez 10 alunos, dos quais mais de um no verão seguinte preparou o vestibular comigo. A história da falta do professor era blefe. Tornei-me, depois deste teste, professor da turma.
As aulas de matemática no ginásio eram mais difíceis do que aquelas do científico. Das aulas da noite para as da manhã havia uma diferença de seis anos de escolarização e eu fazia com muitas dificuldades essa transição. Ensinava álgebra no ginásio, mas eu não sabia fazer as abstrações exigidas. Tinha que ensinar o algoritmo da raiz quadrada (que hoje não sei mais fazer!) e imaginar problemas para contextualizar o assunto.
 Logo na primeira semana a colega Maristela Lampert, por ter muitas aulas no colégio, passou-me as suas aulas de Ciências nas turmas de 3ª e 4ª séries do Ginásio, assim ministrava aulas nas quatro séries do ginasial. Lembro que nessas aulas de Ciências tinha que ensinar o aparelho reprodutor humano masculino e feminino para um bando de adolescentes inquietos. Logo em seguida, assumi as aulas de Ciências da turma do 1º ano de magistério, onde havia talvez umas 20 moças e um rapaz e eu era quase vaiado quando me referia às alunas e não aos alunos; referir-se, como agora, a alunas e alunos, então, não era usual. Só viemos aprender isso com Paulo Freire muito depois.
 Lecionava em uma das quatro séries do Ginásio e nas três do Científico [no capítulo seguinte conto como o ‘acaso’ me fez professor de Química e quanto isso foi decisivo na escolha de fazer vestibular para outro curso], mais uma série do Curso de magistério. O Reverendo me dizia que meu salário era bem maior que o dele. Só lamento muito que então, não tivesse como hoje ‘meu diário’ manuscrito; este só começou em 1985 e será muito útil quando na segunda metade desta história.


sexta-feira, 2 de março de 2018

02.- Para um festejado (e atarefado) março.



ANO
 12
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EDIÇÃO
3344


Estamos no gostoso Março que nos presenteia com o outono (ou com a primavera, para meus poucos leitores do Hemisfério Norte). Só o anúncio dessas duas estações sem frios ou calores intensos já justifica loas a Março.
Ao esteirar na Academia nesta manhã, dava-me conta quanto no grupo familiar (irmã, sobrinhos, netos) e entre amigos e colegas tenho aniversariantes em março. Alguns são filhos do inverno em tempos que a pílula não existia, logo os casais não eram, então, premiados com a liberdade de escolha de gravidezes ou ainda marcados por uma igreja repressora que empunha a seus fiéis normas como as que estão na Humane Vitae de Paulo 6º em 1968.
Também foi num Março que houve um assaque a democracia que agora parece se reeditar. No meu calendário muito pessoal tenho o 13 março de 1961 como o dia de celebração do acaso que me fez professor. Assim neste março festejo a alegria de ser há 57 anos professor.
Afortunadamente não há só celebrações. A edição desta inauguração de março se inserta entre uma muito fecunda realização e o anúncio de quatro semanas sumarentas. Aqui e agora, compartilho antecedente e consequente desta inauguração de março.
Nesta quarta-feira, 28 de fevereiro, voltei, depois de alguns meses ao campus central da UFRGS. Para mim um frutuoso retorno a cenários nos quais teci parte de minha história: funcionário do Restaurante da Reitoria, aluno de graduação, professor: primeiro da Faculdade de Filosofia depois do Instituto de Química, aluno de Mestrado, diretor do Instituto de Química, aluno de doutorado... isso me envolveu afetivamente.
Na Faculdade de Educação da UFRGS, ocorreu, a partir das 9h, a banca de qualificação da proposta de tese doutoral do professor da UFMT Eduardo Ribeiro Mueller, meu orientando na REAMEC. A banca presidida pelo orientador estava composta por dois examinadores externos: Conceição Paludo (UFRGS) e Leonir Boff (UNEMAT) e dois examinadores da REAMEC: Andréia Dalcin e Evandro Ghedin.
Inicialmente, por cerca de 1 hora, o Eduardo apresentou a sua proposta de tese: A Educação do Campo no cenário da Base Nacional Comum Curricular: confluências e divergências de saberes. A seguir conhecemos os pareceres encaminhados por escrito pelos professores Leonir e Evandro, que por razões da insolvência de Universidades públicas brasileiras não puderam participar ‘ao vivo’ da banca. Os dois pareceres aprovaram a proposta, mas um e outro trouxeram sugestões/questionamentos relevantes. Após a proposta recebeu os questionamentos das professoras Conceição e Andréa. Ambas trouxeram questões, que como os dois pareceres enviados estão a exigir redimensionamentos de alguns caminhos que deverão conduzir a proposta -- com aprovação unânime -- a uma tese doutoral.
Encerramos os trabalhos depois das 12h. Então os quatro presentes ao vivo almoçamos juntos no Bar do Antônio (outro cenário histórico) e evocamos aos Evandro e ao Leonir para nosso estar juntos.
Nesta inauguração de março contemplo uma sumarenta previsão de atividades: em cada uma das quatro semanas tenho atividades em quatro estados diferentes, nesta ordem: Rio de Janeiro, Amazonas, Rio Grande do Sul e Maranhão e ainda uma tele aula em Goiás, dia 22. É preciso dizer que nestes tempos temerosos alguns planos podem se esboroar pelas dificuldades de instituições públicas já vivem com panelas raspadas no início do ano.
Hoje, dou destaque a primeira das quatro semanas: na noite da próxima quinta-feira, dia 8 de março profiro a aula inaugural do Curso de Licenciatura em Química e do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências (PROPEC) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro IFRJ Campus de Nilópolis e, por ser o dia internacional da Mulher, o tema da palestra parece ter sido muito bem proposto pelo Prof. Dr. Jorge Messeder coordenador do evento. Assim março já se faz festejado e atarefado.