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terça-feira, 31 de maio de 2011

31. Crônica de uma morte anunciada


Ano 5

Porto Alegre

Edição 1762

“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”



Na minha infância maio era um mês muito especial. No vou amealhar aqui recordações. Talvez para alguns de meus leitores as evocações de maio aflorem fortes. Este maio que estamos despedindo, talvez um dia seja lembrado como um trágico maio de sentidas perdas. Perdemos lutadores que se envolveram na defesa do Planeta.

Há, por tal, razões para no ocaso deste mês, que não foi das flores, mas foi das mortes, que estenda um convite emocionado a cada uma e cada um dos leitores deste blogue, para dispor de 9 minutos e ouvir a última palestra de Zé Cláudio Ribeiro em novembro do ano passado; ele conta que estava ameaçado de morte. Ele vivia na região de Marabá, no Pará, produzindo castanhas de maneira sustentável. Ele e sua esposa Maria do Espírito Santo foram assassinados na quinta-feira.

http://www.youtube.com/watch?v=CWa7shPsr_M&feature=player_embedded

Renovo o convite para uma atividade no próximo dia 2. E...que venha junho.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

30. A aula de segunda-feira


Ano 5

Porto Alegre

Edição 1761

Foi um domingo com um sol tímido que espiava, de vez em vez, entre nuvens. Meu filho Bernardo me fez uma visita salvadora. Tenho de novo Skipe tão importante para as sessões de “Diálogos de Aprendentes”. A versão 5.3 que instalara em uma emergência, na quinta-feira em Passo Fundo é incompatível com meu Windows. Outras da série 5. registraram o mesmo problema. Uma da série 4. foi solução.

Começamos mais uma semana já com temperatura junina. Houve temperaturas negativas na Região Sul. Esta semana marcará a despedida de maio e o ingresso no sexto mês do ano. Mais uma vez tinha uma pauta pronta para hoje; protelo. Trago nesta segunda-feira uma blogada em três movimentos.

O primeiro, quase poderia ser uma reedição da NOTA DE MORTE ANUNCIADA da última quinta feira. No segundo movimento, comento uma resposta à pergunta relativa à blogada de sexta-feira. No terceiro tempo, preparo, na noite de domingo, uma aula de segunda-feira.

Mais uma vez do Pará – Estado que lidera as estatísticas de mortes patrocinadas por madeireiras envolvidas em crimes ambientais – vem mais uma notícia de um martírio. Ali, em 2010 foram registradas 18 mortes, mais que a metade do total relativo ao Brasil inteiro.

Neste sábado, 28 de maio, uma das testemunhas-chave para esclarecer a morte do casal de extrativistas foi encontrada morta; Erenilton Pereira dos Santos, 25 anos, integrante do assentamento Praialta-Piranheira, o mesmo onde vivia o casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, lamentados aqui na quinta-feira por sua execução na última terça-feira (24), em Nova Ipixuna, sul do Pará. O corpo estava a sete quilômetros do assentamento e a cerca de 100 metros da estrada.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra, Erenilton também morreu com um tiro na cabeça e a arma seria do mesmo calibre da utilizada na execução do casal de extrativistas Zé Cláudio e Maria. Assim como eles, outros 28 trabalhadores rurais e ambientalistas integram a lista das pessoas marcadas para morrer no Estado do Pará, segundo documento entregue oficialmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) ao Ministério da Justiça em abril deste ano.

Para o Eranilton e muitos outros mártires hodiernos a afirmação:

“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”

SEGUNDO MOVIMENTO Um leitor, escreve-me questionando acerca de algo que postei na edição de sexta-feira: Marie Curie (1867-1934) foi galardoada com dois Prêmios Nobel de Ciência, pois recebeu o Nobel de Física em 1903, juntamente com Pierre Curie e Henri Becquerel (este recebeu a metade do prêmio, enquanto o casal Curie recebeu cada um a quarta parte do valor) e sozinha o Nobel de Química em 1911, pela descoberta do Polônio e do Rádio e pela contribuição no avanço da química. A bi-premiação com um Nobel de Ciências se manteve como feito exclusivo de Marie Curie por 61 anos. E aí está a questão do Paulo, de Joiville: Em 1961, portando depois de 50 anos com a segunda premiação de Linus Pauling (1901-1994), não perde a exclusividade? Não! Porque me referira a dois Nobeis de Ciências: Pauling também teve duas premiações: Prêmio Nobel de Química (1954) e da Paz (1961).

E quem arrebatou a exclusividade de Marie Curie? Em 1972, surge mais um bi-laureado em ciências: o estadunidense John Bardeen (1908-1991) dividiu o Nobel de Física em 1956, pelos estudos dos supercondutores e descoberta do transistor, com seus compatriotas William Bradford Shockley e Walter Houser Brattain, cada um com 1/3 do prêmio para repetir o feito uma vez mais, 16 anos depois em 1972, dividindo então o Nobel de Física mais uma vez, pelos estudos da teoria da supercondutividade, com seus conterrâneos Leon Neil Coopere e John Robert Schrieffer.

Não me ocorre outra bi-premiação com o Nobel além deste três: Marie Curie: Física e Química. Pauling: Química e Paz e John Bardeen: duas vezes Física.

TERCEIRO MOVIMENTO: Recebi neste domingo a seguinte mensagem: Attico Chassot, sou aluna de química do IFET de Barbacena, MG, e tenho sempre visitado seu blog, gostei muito da palestra que fez aqui ano passado. Dessa fez tenho que dar uma aula de 20 minutos pra minha turma de Licenciatura em Química, e estou um pouco perdida, será que o Senhor, teria uma boa sugestão de tema, pra me ajudar, ou algum material diferente e interessante? Obrigada, Abraço.

Usualmente não respondo mensagens que me transferem fazeres escolares. Esta não era a situação desta mensagem. Voltei um pouco a Escola de Barbacena que tanto me encantou no ano passado. Pensei na licencianda, enfrentando seus colegas e se diz um pouco perdida tendo pela frente uma aula de 20 minutos. Claro que não fiz o tema para ela. Respondi: Cynthia, obrigado por tua mensagem [...]. Quanto a tua aula, minha sugestão seria explicares talvez aquela que é a reação química mais importante: a combustão e sua associação com a respiração. Penso que aí está uma boa dica, ac.

Enviada a mensagem, assaltaram-me dúvidas. Porque não expliquei mais o assunto a aluna que estreia no dar uma aula. Lembrei-me de um junho frio, quando durante dois dias dei aulas no ITerra, em Veranópolis, na escola de formação de professoras e professores para acampamentos e assentamentos do MST. Então, centrei quase todas as discussões em torno da reação de combustão e da genialidade de Lavoisier, ao refutar o flogístico e associar a combustão à respiração animal. Discutir após a reação de fotossíntese e a produção pelas plantas de oxigênio a partir do gás carbônico, produzido na respiração é algo muito importante para entender a vida no Planeta. Uma das interrogações mais relevantes, então, foi “porque para apagar uma vela ou avivar uma chama se usa o mesmo procedimento: assoprar”. Ainda se discutiu muito “porque naqueles dias de frio na serra gaúcha era preciso deixar janelas abertas”. É natural que agora, quando amplio minha resposta à Cynthia vejo o quanto afloram postura de generalista em detrimento da de especialista. Acredito que é nesse convencimento que me faço professor.

Aos votos de boa segunda-feira adito um convite para atividade na noite da próxima quinta-feira.

domingo, 29 de maio de 2011

29 Um deleite dominical

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1760

Uma fluida blogada dominical. Vez ou outra, pergunto-me por que gasto tanto tempo fazendo sodoku. {Sodoku = jogo de raciocínio e lógica. Apesar de ser bastante simples, é divertido e viciante. Basta completar cada linha, coluna e quadrado 3x3 com números de 1 a 9. Não há nenhum tipo de matemática envolvida: http://sudoku.net.br/].

Conforto-me, dizendo que estou exercitando a mente. Mesmo que este seja muito mais desafiador que fazer ‘palavras cruzadas’ que o sodoku passou para um segundo plano, este não desenvolve o vocabulário como o subproduto oferecido pelo passatempo conhecido como crucigrama, pelos de fala espanhola. Ao final de 10 minutos (para os fáceis) ou 1 hora ou mais (para os diabólicos) toda nossa produção resume-se a nove quadros com algarismos de um a nove em cada.

Talvez tenha encontrado uma explicação de porque sodoku seja viciante. O excelente Priberam tem a dicionarizado: sodocu (japonês sodoku) s. m. Doença infecciosa devida a um [é um, mesmo] espiroqueta, transmitida pela mordedura de rato, que grassa no Extremo Oriente e se manifesta por acessos febris e erupção cutânea.

Mas e o deleite dominical anunciado? Ei-lo

Acesse http://www.chezmaya.com/jeux/game33.htm e, então, elimine os números de 1 a 33 em ordem crescente. Basta tocar cada número com o mouse (não é preciso clicar). Tente reduzir gradualmente o tempo gasto em cada série.

Se esta sugestão for acolhida, provavelmente neste domingo se iniciará uma excelente ginástica francesa para o cérebro. Vale a pena. Curtam.

sábado, 28 de maio de 2011

28. Em ‘O Dilema de Cantor’

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1759

O último sábado de maio já sabe a junho. Há prenúncios de um fim de semana frio. Em tempos pré-interneticos estava dada a receita para um aconchegar-se em fruídas leituras em livros suporte papel. Livros destes de levar para rede ou para beira da lareira bebericando um vinho tinto.

Sugestão de leitura! Porque não! Aqui vai uma: e, ela quer ser mais do que para cumprir pauta de dica sabática. Está associa a produção do conhecimento, na qual ontem vimos o discriminar das mulheres.

Em ‘O Dilema de Cantor’ vive-se um clássico problema da Ciência: poderá estar existindo fraude no anúncio de uma determinada descoberta? Transfira esse interrogante para o cenário da disputa de um ‘Prêmio Nobel’ e adicionem pitadas de amor e de ódio. Está tecido um saboroso romance.

DJERASSI, Carl, O Dilema de Cantor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, Original estadunidense: Cantor’s Dilemma tradução Flávia Terra Cunha. 336 p. ISBN: 85-209-0987-6

Carl Djerassi, estadunidense, nascido em Viena em 29 de outubro de 1923, reconhecido professor emérito de Química na Universidade de Stanford é tido como um dos pais da pílula anticoncepcional. Ele é coautor, juntamente com Roald Hoffmann, do festejado livro “Oxigênio” [Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004, ISBN: 85-88782-12-X, com primorosa

tradução do professor de Química Juergen Maar (referido por sua obra e também por minha admiração, na edição de 21 do corrente] que originou a peça homônima, há um tempo, em cartaz em teatro de São Paulo. Djerassi é um pesquisador químico de ponta que se faz também excelente romancista. Em ‘O Dilema de Cantor’ – sua estreia na literatura ficcional – nos apresenta bastidores (intrigas, invejas, ódios e amores) de uma disputa pelo Prêmio Nobel de medicina ou fisiologia. Também é autor de outros livros de contos, poemas e mesmo de uma autobiografia, todos inéditos no Brasil.

Anúncios de descobertas na Ciência, especialmente quando são revolucionários, com quebras de paradigmas, segundo Thomas Kuhn, referido neste texto, são usualmente acompanhadas de uma clássica interrogação: poderá estar existindo fraude no anúncio de uma determinada descoberta? Transfira esse interrogante para o cenário da disputa de um ‘Prêmio Nobel’ e adicionem pitadas de amor e de ódio. Está tecido um saboroso romance. Djerassi usa essa receita como um ‘connaisseur’ dos meandros da Academia, revelando intrigas do meio acadêmico que, só quem dele faz parte pode conhecer. Ele faz tessituras de relações entre personagens reais – por exemplo, laureados com o Prêmio Nobel e fatos – como descobertas significativas da Ciência no século 20 – com o anúncio bombástico da gênese dos tumores cancerígenos.

Djerassi diz no posfácio – que recomendaria fosse lido primeiro– que ‘O Dilema de Cantor’ trata de Ciência ‘em’ ficção e que com uma única exceção: a descoberta da gênese dos tumores cancerígenos, toda a Ciência que o autor descreve é verdadeira. Por exemplo, todos os detalhes sobre insetos: as moscas-escorpião machas realmente se comportam como travestis; a atividade sexual das fêmeas de certas espécies de abelhas é realmente restrita por um cinto de castidade químico; e acreditem ou não, o ‘Wall Street Journal’ prejudica e causa a morte precoce no inseto ‘Pyrrhocoris apterus’, enquanto o ‘Times’ de Londres é inócuo.

O romance se inicia quando o presunçoso professor I. Cantor tem uma ideia genial: a explicação da formação de tumores cancerígenos. O jovem e promissor assistente Dr. Jerimiah Stafford é encarregado da parte experimental. O agora chamado experimento Cantor-Statfford é publicado com destaque na ‘Nature’ e ganha o Prêmio Nobel. Mas, antes disto há disputas com o oncologista Kurt Krauss, descobridor do sarcoma de Krauss e também aspirante do Nobel. A presença da competente professora de Química Celestine Price dá ao romance um lirismo erótico na sua relação com um entomólogo especialista em relações sexuais de insetos e também no fazer a iniciação sexual do conservador batista Dr. Stafoord. Há ainda a presença de Paula Curry, decoradora de interiores e especialista em moveis ingleses antigos, que entra em cena como violinista de um quarteto de cordas do qual Cantor faz parte. Esses são os personagens centrais de ‘O Dilema de Cantor’ com os quais Djerassi faz uma intrigante divulgação dos bastidores da Ciência.

Permito-me lateralmente acrescentar que outro excelente romance para quem quiser conhecer mais sobre os bastidores que envolvem o processo de escolha dos laureados nas diferentes categorias, inclusive com injunções políticas: O prêmio, de Irving WALLACE, com 844 páginas, escrito em 1962. Há uma edição em língua portuguesa do Círculo do Livro S.A., de São Paulo; há também uma edição da Record em 1962, ainda oferecida em alguns sítios de livros usados. Li o excelente romance de Wallace há pelo menos 40 anos, mas o evoquei densamente na leitura das tramas engendradas por Carl Djerassi.

Acredito que a tradutora comete pelo menos um pecadilho quando da tradução “Journal” usado na acepção de ‘revista científica’ por ‘jornal’. Com este pequeno alerta, recomendo ‘O Dilema de Cantor’ especialmente aos leitores deste blogue que querem conhecer mais acerca da História da Ciência.

Acreditando que a dica é supimpa, só me resta desejar um bom sábado. Anuncia para amanhã um deleite dominical.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

27.- Ano Internacional da Química & as mulheres na Ciência


Ano 5

Passo Fundo

Edição 1758


Esta blogada é ainda postada em Passo Fundo, um pouco antes de deixar o hotel (o segundo em 26 horas aqui) para às 02h tomar o ônibus e retornar à Porto Alegre, onde devo chegar em torno das 6h. O dia aqui foi magnificamente aproveitado, mesmo que tenha sido surpreendido por um frio de entorno de 10ºC. No hotel uma lareira crepitava.
Pela manhã, fiquei no hotel fazendo algo que para mim é muito chato: Preencher diários de classe on-line. Estou atrasado nesta tarefa, pois custei a aprender alguns macetes (não sei esta expressão não é um tanto démodé), mas hoje, tive um razoável sucesso. Já estou quase ao par. Mas é doloroso sentir-se incompetente. A autoestima baixa.
A tarde durante 3,5 horas fiz com um grupo de 10 alunos do curso de Química uma mirada panorâmica na História e Filosofia da Ciência. Foi algo realmente desafiador. Na foto alguns dos participantes.
À noite para auditório de cerca de 200 docentes e discentes do Curso de Química da UPF fiz durante mais de 2,5 horas a palestra “Como formar jardineiros para cuidar do Planeta”. Uma e outra das falas foi procedida da frase: “Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.” e uma homenagem aos mártires hodiernos. Aliás, esta frase esteve em todas minhas mensagens desta quinta-feira. Uma seleção de imagens tomada pelo professor Lairton Tres.
Ao final respondi perguntas e dei dezenas de autógrafos em quatro de meus
títulos. A quinta-feira se encerrou com uma gostosa janta com 5 colegas do curso de Química da UPF. Agora só espero que o vinho embale sonhos no ônibus dentro de mais um pouco.
Comentara ontem que a 10ª Semana do Químico, razão de minha estada na UPF, se insere no Ano Internacional da Química e a razão da escolha deste ano para tal comemoração é que em 2011 celebra-se o 100º aniversário do Prêmio Nobel em Química para Marie Sklodowska Curie, o que, de acordo com os organizadores, motivará destaques à contribuição das mulheres à ciência. Assim, parece pertinente que estando aqui em Passo Fundo para participar de comemorações do 2011-AIQ esta blogada traga algo nesta dimensão. Recorro para tal ao livro A Ciência é masculina?
Quando se fala em uma Ciência masculina, um razoável indicador poderia ser o número muito pequeno de mulheres que ganharam o Prêmio Nobel. Elas são apenas 16 entre os laureados nas Ciências (duas em Física, quatro em Química e dez em Medicina ou Fisiologia; destas 16, apenas 3 são exclusivos a mulheres), em um universo de cerca de 540 premiados – menos de 3% –, pois, mesmo que se tenham distribuído prêmios desde 1901, nos anos das duas guerras mundiais não houve premiações, mas há anos, especialmente nos mais recentes, em que o prêmio é dividido entre dois ou três escolhidos (na situação de três premiados um pode receber a metade e os outros dois um quarte ou cada um dos três um terço).
Nas outras três modalidades de prêmios Nobel temos: Literatura onze mulheres entre 100 laureados. Paz foi concedida a doze mulheres dentre 95 pessoas e 30 organizações já premiadas. Assim nestes dois prêmios entre 195 láureas foram premiadas 33 mulheres , cerca de 17%. O Prêmio Nobel de Economia – o único mais recente, pois, diferentemente dos cinco outros, que iniciaram em 1901, este começou em 1969 – em 2009, pela primeira vez premiou uma mulher (Elinor Ostrom, nascida em 1933 nos Estados Unidos) junto com um homem.
Os químicos, quando se observa a menor participação das mulheres na Ciência, rebatem essa afirmação dando o destaque que tem Marie Slodowska Curie dentro da história da Ciência. Realmente, uma das mais significativas contribuições da Ciência do século 20 – a estrutura do átomo – tem uma tríade feminina que pode ser considerada como definidora de novos paradigmas para a teoria atômica: Marie Curie, Lise Meitner (não recebeu o Nobel, mas tem o elemento 109 com seu nome) e Maria Goeppert-Mayer. Poder-se-ia contra-argumentar que são apenas três os nomes de mulheres mais destacados na área da física nuclear em meio a uma miríade masculina.
Realmente, não se pode desconsiderar que Madame Curie ostentou, por quase três quartos de século, uma situação ímpar, não detida por nenhum homem: foi galardoada com dois Prêmios Nobel de Ciência, pois recebeu o Nobel de Física em 1903, juntamente com Pierre Curie e Henri Becquerel (este recebeu a metade do prêmio, enquanto o casal Curie recebeu cada um a quarta parte do valor) e o Nobel de Química em 1911, pela descoberta do Polônio e do Rádio e pela contribuição no avanço da química. A bi-premiação com um Nobel de Ciências se manteve como feito exclusivo de Marie Curie por 61 anos. Em 1935, a filha do casal Curie, Irene, recebeu o Nobel de Química, juntamente com o marido, Frederic Juliot-Curie, pela síntese de elementos artificialmente radioativos.
O segundo Prêmio Nobel de Física a uma mulher só ocorre 60 anos depois, em 1963, para Maria Goeppert-Mayer, nascida na Polônia, com formação na Alemanha, tendo emigrado para os Estados Unidos e casado com o físico estadunidense Joseph E. Mayer. Assim os dois Prêmios de Física (1903 e 1963)– entre 187 premiados –foram ambos compartilhados com homens.
O segundo Nobel de Química exclusivo a uma mulher é outorgado em 1964, a inglesa, nascida no Cairo, Dorothy C. Hodgkin recebeu o, por seus trabalhos sobre a estrutura da penicilina e da vitamina B12O quarto Nobel para uma mulher em Química ocorre em 2009: para israeli: Ada Yonath (com dois estadunidenses) por pesquisas sobre a estrutura e a função dos ribossomos, chamados de "usina de proteínas da célula", abrem novos caminhos para a fabricação de antibióticos. Assim, as mulheres detêm quatro prêmios Nobel de Química (1911, 1935, 1964 e 2009, o primeiro e o terceiro exclusivos a uma mulher) entre 157 premiados – cerca de 2,5% –. Essa lista é aumentada, com a citação de dez prêmios Nobel de Medicina ou Fisiologia conquistados por mulheres, que será assunto de uma próxima blogada.
Vale recordar como Marie Curie, em 1911, perdeu por um voto para Eduard Branly, o acesso à Academia de Ciências da França por ser mulher, por ter uma possível ascendência judia e por ser estrangeira, ainda oriunda de um país periférico. Talvez tenha sido a primeira das três qualidades a mais discriminadora. Mas uma mulher que se alçava com destaque em uma seara masculina precisava ser detida. Quando essa cientista, já viúva, envolveu-se em um caso amoroso com o físico Paul Langevin (1872-1946), que trabalhou com Pierre Curie, chegando independentemente de Einstein, às mesmas conclusões relativas a equivalência massa e energia. Foi o primeiro não britânico a ser admitido no laboratório Cavendish, onde trabalhou com Rutherford. A imprensa sensacionalista explorou a relação amorosa de Langevin e Maria Curie, invadindo a residência desta (uma estrangeira conspurcando a honra da família francesa) para dar publicidade à correspondência íntima, o que não faria certamente se fosse um homem.
Há um excelente filme de 1943 acerca da vida de Marie Curie, que tem como mote É preciso buscar colocar as pontas dos dedos em uma estrela. Não foi sem motivos que um dos últimos atos de François Miterrand, ao encerrar seu segundo mandato de sete anos como Presidente da França, resgatando desconsiderações históricas, faz levar ao Pantheón as cinzas de Pierre e Marie Curie. Em 20 de abril de 1995, numa festa que engalanava um dos mais imponentes monumentos de Paris, em cujo frontispício consta “Aux grands hommes, la Patrie reconnaissante", se prestava uma justa homenagem a dois cientistas que foram muito importantes no entorno da virada do século 19 para o 20. Miterrand então destacava que “a cerimônia de hoje tem um caráter particular, pois que entra para o Pantheon a primeira mulher honrada pelos seus próprios méritos”. Assim, mesmo que estivesse previsto que aquele era um local destinado aos grandes homens aos quais se homenageia porque a Pátria está reconhecida, se acolhia, então, uma mulher polonesa mais de 60 anos depois de sua morte.
A edição se estendeu mais que desejava. O cansaço me vence. Apenas junto votos de uma boa sexta-feira. Amanhã, pretendo honrar a proposta de uma dica sabática de leitura. Até então.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

26. NOTA DE MORTE ANUNCIADA

Ano 5

Passo Fundo

Edição 1757

Esta edição está sendo postada desde Passo Fundo, aonde cheguei quando a quarta-feira se transmutava em quinta-feira, após deixar Porto Alegre às 20h. Antes de referir o que me traz a mais gaúcha das cidades do Rio Grande, devo justificar a portada: NOTA DE MORTE ANUNCIADA Uma vez mais temos uma edição com luto; este é pela luta em favor da sobrevivência do Planeta.

“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.” A notícia, que tristemente está em muitos jornais internacionais, é trazida neste blogue com a transcrição de documento muito denso, como repúdio e como homenagem aos mártires hodiernos. São estes heróis que devemos trazer como exemplos de civismo e a amor ao Planeta.

NOTA DE MORTE ANUNCIADA
A história se repete! Novamente, choramos e revoltamo-nos:
Direitos Humanos e Justiça são para quem neste país?
Hoje, 24 de maio de 2011, foram assassinados nossos companheiros, José
Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados
no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os
dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com
tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus
assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”. Camponeses
e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria
do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo
UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto
coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta.
Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG
fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável
no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta
preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de
óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No
projeto de assentamento vive aproximadamente 500 famílias. A denúncia das
ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro
e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e
carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve
proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio
e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva
agroextrativista. Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A
história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a
construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados
covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e
FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA. ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e
corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude
brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se
incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as
autoridades tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com
restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os
corruptos sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de
sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele
não existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha
também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda
temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças
camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos
grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO
BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento
Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal
– E COBRAMOS JUSTIÇA! ESTAMOS EM VÍGILIA!!!
“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”

Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.
Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá;
Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA;
Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo;
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra–MST/ Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura
– FETAGRI/Sudeste do Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará;
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB;
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá;
Via Campesina – Pará;
Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará.

Esta triste notícia é paralela com a aprovação do indulto aos desmatadores. A Câmara dos Deputados é dos latifundiários e do agronegócio. Há agora a expectativa que a Presidente vete a emenda famigerada.

Estou em Passo Fundo a convite de estudantes do Curso de Química da Universidade de Passo Fundo. Mais uma vez participo da 10ª Semana do Químico, que este ano se insere nas celebrações do 2011-Ano Internacional da Química. À tarde ministro um minicurso onde discuto História e Filosofia da Ciência e à noite tenho uma palestra. Às 02h de sexta-feira retorno à Porto Alegre.

Como resultado da reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), que ocorreu em 2009, em Glasgow, na Escócia-Reino Unido, proclamou-se 2011 como o Ano Internacional da Química, sob o tema “Química - a nossa vida, o nosso futuro”. A agenda de comemorações foi organizada pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

O objetivo do Ano Internacional da Química é celebrar as contribuições da química para o bem-estar da humanidade. A química é fundamental para a nossa compreensão do mundo e do cosmos. As transformações moleculares são centrais para a produção de alimentos, medicina, combustíveis e inúmeros produtos manufaturados e naturais. A programação do Ano Internacional da Química também será inserida nas atividades da Década da Educação e do Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), estabelecida pela UNESCO. Assim, as atividades programadas para 2011 dão ênfase à importância da química para os recursos naturais sustentáveis. Além disso, no ano 2011 comemora-se o 100º aniversário do Prêmio Nobel em Química para Marie Sklodowska Curie, o que, de acordo com os organizadores, motivará uma celebração pela contribuição das mulheres à ciência.

Esta blogada marcada celebrações de tristezas e de júbilo serve também para aditar votos de uma muito boa quinta-feira. Há ainda o convite para mais uma edição amanhã ainda desde Passo Fundo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

25. O badalado livro com erros

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1756

Muito certamente a maioria de meus leitores (brasileiros) nestes últimos dias recebeu textos, ouviu na mídia falada e televisiva, leu nos jornais, acerca do “livro que ensina falar errado” e que Ministério da Educação distribuiu aos milhares. Coloquei o que está aspado no Google e recebi 160 respostas.

Na noite desta terça-feira o assunto esteve nas aulas de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. Também, então, marcado pelas leituras da imprensa de massa. As críticas são as mais variadas. Mas, muitos destes ‘autoproclamados formadores de opinião’ [é bem posta a categorização] que pululam em emissoras de rádio nas madrugadas, mostram desconhecimento da obra e o propósito da mesma.

Na semana passada chegara minutar um texto para uma blogada especial. Depois intervieram outros pontos de agenda. Deixei no esquecimento. Ontem li, na Zero Hora, o artigo Ensinar ou debater errado? de meu ex-colega de UFRGS prof. dr. Luís Augusto Fischer que merece ser trazido aqui. Ele pertence aqueles textos que ler dizemos: isto eu queria ter escrito.

Notícia boa é saber que a escola em geral e o ensino de Português em particular estão na ordem do dia – a preocupação aumentou, e disso pode resultar um desenvolvimento inédito da área em nosso país. Notícia ruim é constatar que o debate em torno desses relevantes temas é ruim, meio torto, fruto direto da falta de intimidade com a questão por parte dos meios de comunicação massivos.

Vamos a uma analogia: lembra quando a mídia começou a falar da aids? Tinha de tudo em matéria de reação e demoramos muitos anos de debates e reportagens, ouvindo especialistas, vítimas e população em geral, até que agora estamos numa situação razoável. Daquelas primeiras reações (“aids pega em aperto de mão?”) até agora, quanta água rolou, não foi?

O caso atual é bem parecido. O evento mais notório é o do livro didático que o MEC bancou para trabalho com EJA, Ensino de Jovens e Adultos, para gente fora da seriação escolar típica, adultos que há tempos não estudam, se é que alguma vez estudaram. Muitos estão opinando sem ler, ou sem ler direito. Vários textos aqui mesmo na Zero expressaram isso. O que dizem reflete mais a precariedade de informação do que o tema em pauta.

Não duvido da boa-fé de ninguém. Ocorre que tais textos (dois apenas no domingo passado) reagem ao trabalho de linguistas especializados da área da descrição científica e do ensino de línguas do mesmo modo como certas pessoas olham com desconfiança a receita dada por um médico especialista na doença, duvidando que aquilo possa fazer tão bem quanto o velho e conhecido chazinho que a vó preparava. A analogia é imperfeita, como são todas as analogias (do contrário, seriam igualdades), mas ajuda a entender, senão o mérito do problema, ao menos a forma que o problema alcançou na mídia. O chá da vó pode ser bom, mas definitivamente não ajuda a entender melhor o problema (pode até mascará-lo, como recente série do Fantástico mostrou, com Drauzio Varella), nem a curar o doente.

Li o capítulo polêmico do livro (que está em vários lugares da internet) e, caro leitor, o livro está certo, certíssimo: conversa com o leitor (do EJA) para demonstrar (não apenas constatar) a existência da variação social da língua falada e da língua escrita e – atenção – para mostrar o caminho até a forma culta, prestigiada, que os não-especialistas chamam de certa.

Eu também tenho saudade do tempo em que o médico chegava e, apenas botando a mão na testa da gente, dava diagnóstico e prognóstico sem erro; mas hoje isso não existe mais. Não estou dizendo que tudo está bem, no ensino de Português ou no MEC; há interrogações grandes, mesmo nisso que acabei de dizer, mas acabou o espaço, enquanto o problema está só começando a se configurar na arena pública.

Assim, se gastou muita pólvora em chimango. [Chimango ou ximango: uma ave rapinante que preferencialmente se alimenta de carniça, embora possa atacar animais que perceba feridos ou doentes, incluindo ovelhas e até mesmo cavalos. Oportunista, pode usar a força do grupo para atacar qualquer presa] Não gastar pólvora em chimango é não perder tempo e dinheiro em algo que não compense, como caçar chimango.

Adiro a Luis Augusto e ratifico que muitos talvez, aprenderam o que é a norma culta e a norma popular; esta o livro ilustra com textos ‘errados’.

Agora, adito aos votos de uma muito boa quarta-feira e o convite para nos lermos aqui amanhã. Até então.

terça-feira, 24 de maio de 2011

24. TEMPOS DE OBSCURANTISMO

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1755

Diferentemente de outras edições, faço meus votos de uma terça-feira prenhe ddos melhores fazeres neste prelúdio. Acredito que cada uma e cada um de meus leitores serão tomados de distintas emoções ao terminar a leitura desta edição. Uns se rejubilarão, pois se confrontarão com um texto que leva a ratificar seus credos fundamentais. Outros, talvez, serão tomados de uma santa ira (se é que ira pode ser santa). Minha posição é manifesta no preambulo e na tarja que adito ao texto.

É histórica a relação da Educação com as igrejas no mundo Ocidental. No século 12 quando surgiu a Universidade, ressalvada a primeira (a Universidade de Bolonha) todas as demais surgiram á sombra das catedrais. A Escola, no formato que conhecemos hoje, legado da Modernidade, surge com marcas eclesiais: Reforma Protestante (1517) e Contrarreforma (por exemplo, a fundação da Companhia de Jesus, 1531). Com a descoberta da América, no Novo Continente a situação não se fez diferente.

Ainda nos dias atuais é significativa a presença de diferentes denominações religiosas na Educação Básica e na Educação Superior. No Brasil, especialmente o ensino superior confessional é feito por igrejas tradicionais, talvez com mais destaque para as igrejas católica, luterana, metodista, presbiteriana.

Os tempos hoje são ou outros e seria imaginável pensar em censuras (e condenações) como receberam, por exemplo, Bruno, Galileo, Abelardo e muitos outros.

Por serem outros os tempos, há surpresas. Inesperadamente somos levados a tempos de

obscurantismo. Eis que uma igreja, mantenedora de uma Universidade com campi em diversos estados brasileiros e uma extensa rede de escolas, faz chegar a seus professores, no século 21, manifestação de admoestação, da qual trago excertos {as inserções [...] indicam supressões que fiz; são meus, também, os assinalamentos com marca-texto}:

A Igreja [...] está estabelecida num país onde há liberdade de viver, se expressar e agir conforme a decisão ou vontade de cada um. Assim, a opção sexual faz parte dessa liberdade. Por outro lado, a Igreja também entende que a liberdade de discordar e não aceitar em seu meio uma união homossexual, por esta ferir os princípios da Bíblia Sagrada, faz parte da sua liberdade e não lhe pode ser cerceada, pois fere a Constituição Nacional. [...]

Assim, precisamos diferenciar homossexualismo de homofobia. A Igreja Luterana não concorda com a conduta homossexual, mas não discrimina o ser humano homossexual.

Por isso declaramos:

1 – A Igreja [...] crê e confessa que a sexualidade é um dom de Deus, destinado por Deus para ser vivido entre um homem e uma mulher dentro do casamento.

2 - A Igreja [...] crê e confessa que o homossexual é amado por Deus como são amadas por Deus todas as suas criaturas.

3 - Em amando todas as pessoas e também o homossexual, Deus não anula o propósito da sua criação.

4 - Por esta razão, a igreja, em acordo com a Sagrada Escritura, denuncia na homossexualidade um desvio do propósito criador de Deus, fruto da corrupção humana que degrada a pessoa e transgride a vontade de Deus expressa na Bíblia. “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher: é abominação. Nem te deitarás com animal, para te contaminares com ele, nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele: é confusão. Portanto guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes abomináveis que praticaram antes de vós, e não vos contamineis com eles: Eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 18.22,23,30); “Por isso Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seus próprios corações, para desonrarem os seus corpos entre si; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro” Romanos 1.24,27); “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6.9-10).

5 - Porque a homossexualidade transgride a vontade de Deus e porque Deus enviou a igreja a levar Cristo Para Todos, a igreja se compromete a encaminhar o homossexual dentro do que preceitua o amor cristão e na sua competência de igreja, visando a que as pessoas vivam vida feliz e agradável a Deus; Mateus 19.5: “... Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”

6 - A Igreja [...] repudiando qualquer forma de discriminação, deve estar ao lado também das pessoas de comportamento homossexual, para lhes dar o apoio necessário e possam vir a ter a força para viver vida agradável a Deus.

7 - Diante disto repudiamos a ideia de se conceder à união entre homossexuais o caráter de matrimônio legítimo porque contraria a vontade expressa de Deus e dificulta, se não impossibilita, a oportunidade de tais pessoas revisarem suas opções e comportamento.

8 - Repudiamos também, por consequência, a hipótese de ser dado a um casal homossexual a adoção e guarda de crianças como filhos porque entre outros prejuízos de formação, formará na criança uma visão distorcida da sua própria natureza.

Fiéis ao nosso lema [...] ensinamos que a igreja renova também o seu compromisso de receber pessoas homossexuais no amor de Cristo visando que a fé em Jesus as transforme para a nova vida da qual Deus se agrada.