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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

31.— DUAS PÉROLAS HIEROSOLIMITANAS


ANO
 8
RAMALAH - Palestina

EDIÇÃO
 2669
Hoje o local de postagem tem duplo significado simbólico. Para esta sexta-feira, há muito temos planejado um tour alternativo, ainda incerto, por questões de fronteira, à Palestina.
Reconhecendo a Palestina já como um país, esta edição mesmo prepostada em Jerusalém é considerada como realizada de Ramalah, (futura) capital do estado palestino, considerando como se o blogue fosse nela postada.

A edição que encerra o primeiro mês do ano, imersa em relatos feriais, nesta Jerusalém que desde a tarde de quarta-feira nos encanta faz o registros de duas pérolas locais — o Museu do Holocausto e o Mercado — que ontem curtimos, como o sumo gostoso de uma de suas frutas mais gostosas — a romã — que temos sorvido aqui.
Museu do Holocausto Yad Vashem (em hebraico: יד ושם ou Yad VaShem, a "Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto") é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto. A origem do nome é um versículo bíblico: "E a eles darei a minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome (Yad Vashem) que não será arrancado." (Isaías 56:5.)
O novo Museu da História do Holocausto, aberto em março de 2005, foi construído numa estrutura de um prisma triangular. Tem 180 metros de comprimento, na forma de um espigão, que corta a montanha. As suas paredes ásperas são feitas de concreto, e cobre uma área superior a 4.200 metros quadrados, a maior parte dos quais subterrâneos.
As mostras estão organizadas cronologicamente, com os testemunhos e os artefatos acentuando as histórias individuais usadas para salientar a narrativa histórica ao longo do museu. O museu está projetado de forma que o visitante comece a visita num plano superior, prossiga para o ponto subterrâneo mais baixo no centro do museu, e depois lentamente suba em direção à saída. A saída da exposição principal termina num miradouro com uma espetacular vista das montanhas a Oeste de Jerusalém. O visitante sai de um corredor sombrio para a luz do sol direto (conforme a hora do dia e a situação atmosférica) que ontem quando saímos, depois de quase 4 horas, estava um começo de tarde esplendoroso.
Realmente nos emocionamos com tudo que vimos e ouvimos. Alargamos nossas histórias. Relemos os momentos de bestialidades nossos (enquanto humanos) no século 20.
Mercado de frutas e verduras (e de muitas coisas outras mais) Shuk Machané Yehuda (ou traduzindo ao português: Mercado Acampamento de Judá) foi a nossa segunda pérola de ontem. Há quem diga que se em Jerusalém houvesse três locais de visitação estes seriam: o Muro das Lamentações, a Torre de David e o mercado de Machane Yehuda. Os dois primeiros por representarem a natureza religiosa e histórica de Jerusalém — o lugar a partir do qual o povo judeu se desenvolveu. Mercado Machane Yehuda, no entanto, representa o passado, o contemporâneo e o futuro do coração de Jerusalém. O Machane Yehuda integra, de uma forma única, o velho e o novo. Tanto quanto um mercado movimentado ou um bairro, incorpora alimentos, bebidas, lojas, bares, restaurantes. O shuk ainda mantém suas características mais importantes: ele permanece autêntico, com todos os sabores e aromas, as cores e a secular interação dos vendedores com multidões.
O mercado Machane Yehuda é amplamente reconhecido como um símbolo da Jerusalém, e por uma boa razão: hierosolimitanos o veem como um lugar que os representa, os simboliza, e lhes dá uma identidade única em um contexto social israelense maior. Ele é apelidado de "Machneyuda", que também é o nome de um dos melhores restaurantes israelenses localizados no mercado. Mas este nome tem algo indizível com a linguagem. Ele está além das palavras, porque lembra os hierosolimitanos de si mesmos, suas infâncias, e a Jerusalém que amam. Mesmo que a cidade tão longeva tenha hoje muitos centros comerciais e de entretenimento, há algo sobre o mercado de Machane Yehuda que atrai as pessoas, mesmo sem uma lista de compras. Talvez seja a capacidade de simplesmente ser o que dizem os habitantes desta cidade ser: pessoas que amam a vida e que amam Jerusalém.
Foi que nós experimentamos um pouco no Machane Yehuda tarde de ontem, depois das emoções do Museu do Holocausto. Por isso talvez, aquela sopa de alho tenha feito bem não só ao corpo, mas também à alma na quinta-feira fria.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

30.— SOBRE UM DIA NA VELHA JERUSALÉM


ANO
 8
JERUSALÉM

EDIÇÃO
 2668

Esta blogada se faz com um pálido relato de nosso primeiro dia completo em Jerusalém. Estes comentários se aditam às primeiras impressões trazidas aqui ontem.
Somos alienígenas de maneira muito diversificada em diferentes países. A mim a língua é um fator discriminador. Ser estrangeiro em Portugal ou em qualquer país de língua hispânica ou mesmo latino é diferente do que estar em um país anglo-saxão. Agora se compararmos este, por exemplo, a Israel, aqui a discriminação é maior. Não apenas porque não entendo nada de hebraico, mas especialmente, porque não sei ler uma palavra. Aqui sou radicalmente analfabeto, pois não identifico um Aleph ou um Beth. Até na Grécia lia algumas palavras.
Hoje o primeiro sentir-se exótico começou o desjejum. Diferentes peixes em conserva, como também vários tipos de legumes como variados pimentões, berinjelas etc. fazem parte do cardápio.
A grande síntese turística do dia foi fazermos por duas vezes ida e volta um percurso de 4 x 1,5 km na Jaffa Street a mais importante rua de Jerusalém. No trecho que caminhos ela, mesmo muito larga, é exclusiva para ‘longos e modernos traim.
Nas duas vezes — manhã e noite — nosso destino foi o mesmo: portão de Jafa para entrar na Velha Jerusalém. Estar aí é algo inenarrável. Na jornada da manhã (9h-13h), primeiro participamos de ou tour de três horas onde percorremos parte da área amuralhada em forma retangular com 0,9 km². 
A área é rodeada por uma muralha mandada construir em 1538 pelo sultão otomano Solimão, O Magnífico. Oito portas permitem o acesso à Cidade Antiga, dividida em quatro bairros: o Bairro Muçulmano, o Bairro Judeu, o Bairro Cristão, e o Bairro Arménio. Uma curiosidade que vi respondida, porque dos quatro quarteirões rateados entre as três religiões há um específico para os armênios. A explicação da guia: como estes se dizem a primeira etnia convertida ao cristianismo, historicamente reivindicaram para eles uma fração da cidade dita santa.
Neste tour — pelos quatro bairros — pudemos ver, numa mirada muito panorâmica vários locais de fundamental importância religiosa, como o Monte do Templo e Muro das Lamentações para os judeus, a Basílica do Santo Sepulcro para os cristãos e o Domo da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa para os muçulmanos.
Depois desta recorrida por um tempo estivemos nos diferentes mercados de cada um dos bairros. Destes mercados dois detalhes: um, a centena de lojinhas, que vendem de tudo: de souvenires a grandes tapetes, que em tudo se assemelham às medinas que vimos em Marrocos, Tunísia, Egito e Turquia. 
Outro, seja qual o bairro, a venda dos objetos religiosos são de livre trânsito; isto é pode-se comprar quipá de um vendedor islâmico, um crucifixo, de um judeu ou uma lembrança de uma mesquita, de um cristão.
Depois de um repouso, à noite (17h às 20h) voltamos uma vez mais a Velha Jerusalém. O espetáculo era outro. Primeiro muito mais gente, especialmente grupos religiosos (especialmente cristãos) em peregrinação.
Percorrendo as labirínticas ruelas, às vezes formadas por escadarias íngremes. Quase ao acaso chegamos a complexo religioso mais importante do mundo cristão: a igreja do Santo Sepulcro (que pela manhã viramos externamente). A visita interna noturna foi algo impressionante. Tivemos o privilégio de ouvir um coral ortodoxo entoando melodias sacras. Não me aventuro a descrever as cenas de fé e religiosidade comoventes que vimos.
Depois ainda passeamos em lojinhas e vimos fora da Cidade Velha, uma exposição de globos temáticos que percorrem o mundo.
Este é um narrar muito resumido de algo que fruímos neste nossa quarta-feira, aqui. Agora, já planejamos a nossa quinta-feira.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

29.— SOBRE ESTAR A PRIMEIRA VEZ EM JERUSALÉM

ANO
 8
JERUSALÉM

EDIÇÃO
 2667

Estou pela primeira vez em Jerusalém! Redijo isto emocionado. Aquilo que escrevia, aqui ontem, se concretiza. Marcado por uma formação dentro da tradição judaico-cristã e há muito desejoso de aprender sobre como as religiões interferem na sociedade, estar aqui tem uma alta densidade emocional.
Aceitando ser esta terra o lugar sagrado das três grandes religiões abraâmicas — judaísmo, cristianismo, islamismo — (mesmo que um taxista — o primeiro israeli com quem conversei aqui — tenha dito, diferente do que mostrei ontem, que esta cidade não signifique nada para os islâmicos), há muito para ver e sentir nesta cidade.
A chegada aqui teve lances significativos no dia de ontem. O taxi Annemasse-aeroporto de Genebra, num trajeto de 20 min, custou 92 euros, no taxímetro. Na véspera o mesmo trecho, de ônibus custou 4 euros por pessoas.
O embarque (já em companhia de muitos religiosos judeus -- como na ilustração) teve pelo menos dois lances inéditos: o primeiro: tivemos que mostrar o passaporte em cinco situações diferentes antes de acessar o avião; outro: um exame inédito (para mim) na inspeção: um pequeno pano, embebido em substancia desconhecida, é passado nas mãos, na roupa e na bagagem individual e depois elevado a um aparelho (talvez, espectrômetro) para detecção de algo (suponho resíduo de pólvora).
Duas primeiras observações de um recém chegado:  
a primeira, já do avião, e depois na viagem de 60 quilômetros entre Tel-Aviv/Jerusalém chama a atenção a aridez do solo e neste verdadeiros oásis, com diversos cultivares. Não sem razão que Israel seja produtor de vinho e frutas cítricas. Ainda, na segunda-feira, em um supermercado em Genebra, se vendia batata-doce de Israel.
Outra, a manifestação explicita de religiosidade, especialmente dos homens. Há muitos ortodoxos as ruas e nos transportes. Se os ortodoxos manifestam suas crenças, aqueles que praticam um judaísmo mais moderado, às centenas cobrem-se com o quipá, ostentando sinal de suas crenças. Hoje, mais presente nas ruas, talvez deva trazer mais detalhes. Lemo-nos, amanhã.
Assim, posto esta edição em uma nova cidade e em mais um pais. Faço isto emocionado.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

28.— RUMO A UMA TERRA DITA SANTA


ANO
 8
ANNEMASSE/GENEBRA/
TEL-AVIV/JERUSALÉM
EDIÇÃO
 2666

O dia genebrino — na verdade umas poucas horas — ontem foi muito bom. Se tivemos a gostosa contrariação das previsões meteorológica com sol agradável ao invés dos anunciados frio e chuva, perdemos um pouco na estada, pois segunda-feira os museus estão fechados. Aproveitamos para turismo a céu aberto.
O lago Leman com suas pontes das quais atravessamos várias, a ilha J. J. Rousseau, o chafariz que ejeta 1m3 de água a cada 2 segundo a uma altura de 140 m, o relógio das flores (detalhe na foto) em homenagem a produção relojoeira, ainda em alta (ao lado dos famosos canivetes), o imponente muro aos reformadores [com o imponente lema da Reforma e de Genebra “Post Tenebras, Lux” (depois das trevas a luz)] (a foto registra a visita), o monumento a J. Piaget, ‘dito o gigante da Psicologia, por japoneses que doaram a obra, a catedral de saint Pierre, a igreja da Trindade, a basílica de Notre-Dame, a Place Neuve, o Monumento Nacional (que celebra a união da Republica de Genebra e a Helvécia, formando a Suíça.
Claro que ficou muito por ver. No dia 6, estaremos voltando a Annemasse e, a Suíça e mais particularmente Genebra e Berna estarão, mais uma vez em nossas agendas.
Quando ainda for madrugada estaremos no aeroporto de Genebra para viajar a Telavive e da capital política de Israel, imediatamente seguirmos para Jerusalém. Será a concretização de um sonho.
No final da celebração da Festa de Pessach faz parte da tradição judaica proferir: "Leshana Habaa B'Yerushalayim - Ano que vem em Jerusalém". Os judeus sabem por que falam assim. Eles esperam retornar à Eretz Israel (terra de Israel), esperam a reconstrução do 3º Templo e a vinda do Messias, dentre outras coisas. Eu altero a reza: Hoje, em Jerusalém!
Até por ser uma das cidades santas das três grandes religiões abraâmicas — judaísmo, cristianismo, islamismo — é muito provável que, no nosso mais recôndito imaginário religioso (no mundo Ocidental) tenhamos, de vez em vez, sonhado em ir à Jerusalém.
Assim, nesta viagem há também um imenso potencial religioso a curtir. O Livro anual de estatística de Jerusalém listou 1.204 sinagogas, 158 igrejas, e 73 mesquitas dentro da cidade. Ajudado pela Wikipédia destaco o significado da cidade que tem pelo menos seis milênios de história.
Para os judeus Jerusalém é sagrada desde que o Rei Davi a proclamou como sua capital no 10º século a.C. Jerusalém foi o local do Templo de Salomão e do Segundo Templo. Ela é mencionada na Bíblia 632 vezes. Hoje, o Muro das Lamentações, um remanescente do muro que contornava o Segundo Templo, é o segundo local sagrado para os judeus perdendo apenas para o Santo dos santos no próprio Monte do Templo. Sinagogas ao redor do mundo são tradicionalmente construídas com o seu arco sagrado voltado para Jerusalém, e arcos dentro de Jerusalém voltado para o Santo dos santos. Como prescrito no Mixná e codificado no Shulkhan Arukh, orações diárias são recitadas em direção a Jerusalém e ao Monte do Templo. Muitos judeus têm placas de "Mizrach" (oriente) penduradas em uma parede de suas casas para indicar a direção da oração.
O cristianismo reverencia Jerusalém não apenas pela história do Antigo Testamento, mas também por sua significância na vida de Jesus. De acordo com o Novo Testamento, Jesus foi levado para o Templo de Jerusalém logo após seu nascimento. O Cenáculo, que se acreditava ser o local da última ceia de Jesus, é localizado no Monte Sião no mesmo prédio que sedia a tumba de David. Outro lugar reverenciado pelos cristãos em Jerusalém é o Gólgota, o local da crucificação. O local tido como o Santo Sepulcro é considerado um ponto de peregrinação de cristãos pelos últimos dois mil anos.
Para o Islamismo, Jerusalém é considerada a terceira cidade sagrada. Aproximadamente um ano antes de ser permanentemente trocada por Caaba em Mecca, a qibla (direção da oração) para os muçulmanos era Jerusalém. A permanência da cidade no Islão, entretanto, é primariamente de acordo com a Noite de Ascensão de Maomé (c. 620 d.C.). Os muçulmanos acreditam que Maomé foi miraculosamente transportado em uma noite de Mecca para o Monte do Templo em Jerusalém, aonde ele ascendeu ao Paraíso para encontrar os profetas anteriores do Islão. O primeiro verso no Al-Isra do Alcorão notifica o destino da jornada de Maomé como a mesquita de al-Aqsa (a mais distante), em referência à sua localização em Jerusalém. Hoje, o Monte do Templo é coberto por dois marcos islâmicos para comemorar o evento — A Mesquita de Al-Aqsa, derivada do nome mencionado no Alcorão, e a Cúpula da Rocha, que fica em cima da Pedra Fundamental, na qual os muçulmanos acreditam que Maomé ascendeu ao céu.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

27.— FOI HÁ UM ANO! MAS...


ANO
 8
ANNEMASSE FRANÇA

EDIÇÃO
 2665
UMA EVOCAÇÃO FUNÉREA Mesmo a mais de 10 mil km distante
do chão onde vivo, a abertura desta segunda-feira não poderia ser diferente. Evocar a terrificante tragédia ocorrida há um ano em Santa Maria, quando 242 jovens morreram na boate Kiss. A solidariedade aos sofridos familiares e o pedido de justiça para os responsáveis ditam — mais fortes — os sentimentos de hoje.
Depois desta pavana fúnebre, anuncio que a blogada desta segunda-feira é tecida em dois tempos: o ontem e o hoje. Trago dois momentos destas férias, motivado por manifestações de leitores que estão curtindo estes comentários de um viajor.
O ontem: Depois de dias caniculares em Porto Alegre, com temperaturas de 40ºC, vivemos agora temperaturas negativas que ensejam passear por lindos espaços cobertos de neve. Neste domingo fomos a Taninges, um lugarejo com cerca de 3 mil habitantes, a meia hora de Annemasse e então a sua estação de esqui, subindo os Alpes, por mais uns 20 minutos para chegar a Pras de Ly, a 1.500 metros de altitude. Ali vivemos por algumas horas envolvidos por neve.


Foram momentos indizíveis para alguém que vive onde nevar é algo exótico, mesmo que não fosse a minha primeira estada em meio à neve. Mais do que descrever emoções, algumas fotos narram algumas horas deste domingo, onde como ontem, o almoço foi algo muito típico da região: crepes. Uma vez mais meu francês me traiu. Vi no cardápio ‘galettes’ e imaginei ser galeto, algo adequado à fome de uma manhã ‘esquiando’, mas os crepes estavam maravilhosos e adequados à fome.
A propósito, iniciei falando nas transições térmicas, se dizia na semana passada, antes de nossa viagem, que Porto Alegre atingia a terceira temperatura mais altas Planeta. Meu descrédito, ante esta farolice muito gauchesca, ratificou-se ao consultar dados mais fidedignos em pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_recordes_clim%C3%A1ticos. Estamos distantes destes recordes.
Agora, o hoje: nosso último dia de estada pré-viagem ao Oriente Médio, será em Genebra. Há muitas razões para uma segunda-feira genebrina. Vou destacar apenas duas muito particulares. Uma que busco em uma história um pouco mais distante, outra que evoca dias atuais.
Um pequeno recorte histórico: A Reforma Protestante influenciou Genebra. Enquanto Berna favoreceu a introdução do novo ensino e exigiu a liberdade de pregação, a católica de Friburgo, em 1511, renunciou a sua lealdade com Genebra. Em 1532, o bispo católico da cidade foi obrigado a abandonar a sua residência, para nunca mais voltar. Em 1536, os genebrinos se declararam protestantes e proclamaram sua cidade uma república. 
O líder protestante João Calvino residiu em Genebra de 1536 até sua morte em 1564 (exceto no período de seu exílio de 1538 a 1541) e se tornou o líder espiritual da cidade. Genebra tornou-se um centro de atividade protestante, produzindo obras como o Saltério de Genebra, embora houvesse muitas tensões entre Calvino e as autoridades civis da cidade. Embora a cidade propriamente dita permanecesse um reduto protestante, uma grande parte da diocese histórica retornou ao catolicismo no início do século 17. Na ilustração o Mural aos reformadores.
Agora algo contemporâneo: Ainda, na semana passada, quando já estávamos aqui, cerca de quarenta chanceleres participavam de Genebra difíceis negociações de paz para conflito sírio. Isto nos faz sentir um pouco como se fôssemos parte da história e das muitas decisões históricas são tomadas em Genebra.
A cidade suíça de fato tem uma forte tradição quanto o assunto é negociar a paz. Após os horrores da Primeira Guerra Mundial, Genebra foi escolhida - com pequena margem sobre Bruxelas - como sede da então recém-criada Liga das Nações, órgão cuja missão era impedir a eclosão de um novo conflito.
As expectativas quanto à Liga eram enormes na época, explica David Rodogno, historiador no Instituto Graduado de Genebra. “(Isso) porque muitos líderes internacionais achavam que a 1ª Guerra seria a última. Então 1919 e 1920, os primeiros anos da Liga, eram certamente anos de esperança."
Tradição de Genebra em negociações remete à época em que cidade abrigou a Liga das Nações. Mas o órgão não conseguiu impedir a Segunda Guerra. Em vez disso, tornou-se a "casa" da ONU na Europa, e as negociações de paz se tornaram frequentes.
Os motivos são variados: a neutra Suíça é um país-sede aceito por todos; e, numa questão mais prática, o voo para Genebra é fácil tanto de Moscou como de Washington.
Negociadores comemoram acordo nuclear iraniano em Genebra, em novembro de 2013. Por conta disso, é raro encontrar um diplomata que não tenha se hospedado em hotel genebrino em algum momento da carreira. "(Henry) Kissinger, (Andrei) Gromyko, (Ronald) Reagan, (Mikhail) Gorbachev... e mais recentemente, os diálogos sobre o programa nuclear iraniano", diz um gerente de hotel. "Se essas paredes falassem, teriam muito a dizer."
Como uma importante cidade global, Genebra com quase 200 mil habitantes é, ao lado de Nova York, o centro mais importante da diplomacia e da cooperação internacional em razão da presença de inúmeras organizações internacionais, fazendo de Genebra sede de diversos departamentos e filiais das Nações Unidas, da Cruz Vermelha e da UNESCO — fazendo com que a cidade tenha a alcunha de "Cidade da Paz", uma vez que lá foram assinadas diversos tratados em prol da paz mundial, incluindo, o durante a Convenções de Genebra que dizem, sobretudo respeito ao tratamento de não-combatentes de guerra e Prisioneiros de Guerra.
Genebra é considerada um dos mais importantes centros financeiros do mundo, estando, segundo estudos de 2010, à frente de Tóquio, Chicago, Frankfurt e Sydney segundo empresa especializada, e em terceiro lugar na Europa, depois de Londres e Zurique. Um exame feito por agência de consultoria em 2009 a classifica como a terceira cidade com maior qualidade de vida no mundo (e na Suíça, superada somente por Zurique). Em 2011, foi considerada a quinta cidade mais cara para se viver no mundo. E nesta Genebra que viveremos um pouco nesta segunda-feira.

domingo, 26 de janeiro de 2014

26.— ACERCA DE UM SÁBADO IMPREGNADO DE TURISMO

ANO
 8
ANNEMASSE FRANÇA

EDIÇÃO
 2664

Um domingo para narrar algo acerca de ontem — último sábado de janeiro — dia frio e com sol brilhante. Nele a Gelsa e eu incluímos uma jornada turística memorável. Já que estamos na região de Savoia fomos conhecer Annecy, que dista cerca de 40 km de Annemasse, em grande parte bordejando a fronteira suíça.
Annecy é a capital do departamento francês de Alta Saboia e conta com uma população de cerca de 50 mil habitantes e uma aglomeração urbana de mais de 130 mil habitantes.
Estabelecida às margens do Thiou, um rio efluente do Lago de Annecy que juntamente com o Vassé e o canal Saint-Dominique percorrem a cidade, Annecy é frequentemente chamada de Veneza dos Alpes. Em 18 de março de 2009, Annecy foi escolhida após uma votação do comitê olímpico francês para representar a França na tentativa de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018.
Annecy está situada a 448 metros acima do nível do mar, na ponta norte do Lago de Annecy no norte dos Alpes franceses entre Genebra e Chambéry — onde vivemos a virada 2004/2005. Annecy ocupa uma posição estratégica nas rotas entre Itália, Suíça e França.
Como Annecy está localizada entre Genebra e Chambéry, boa parte da sua história — que começa com povoado anterior a era cristã — foi mais tarde fortemente influenciada por essas duas cidades, entre os séculos 10 e 19. No século 12, uma casa fortificada foi construída em uma pequena ilha no meio do rio Thiou, edificação hoje conhecida como Palais de l'Ile (Palácio de l'Isle), no qual estivemos ontem.
Com o avanço do Calvinismo, em 1535 tornou-se um centro para a Reforma-Católica e a sede episcopal de Genebra foi transferida para lá. Este período foi marcante na história de Annecy porque várias comunidades religiosas católicas vieram a reforçar as características religiosas da cidade, fator este que deu o apelido a cidade de "Roma da Saboia" e "Roma dos Alpes". Francisco de Sales (hoje santo da igreja católica) nasceu no castelo de Sales, nas proximidades, em 1567. Ele foi o bispo de Annecy de 1602 a 1622. Seus restos mortais repousam na Igreja da Visitação, em Annecy.
Durante a Revolução Francesa, a região da Saboia foi conquistada pela França e Annecy foi anexada ao Departamento de Monte Branco, cuja capital era Chambéry. Depois da restauração bourbónica, em 1815 a cidade retornou à Casa de Saboia. Ao ser anexada pela França em 1860, tornou-se a capital do novo Departamento da Alta Saboia.
Faço dois destaques, que determinam valer a pena visitar Annecy: O centro histórico e o lago Annecy.
 Junto a uma cidade moderna com arquitetura muito bonita, há um extenso centro histórico com muitos prédios preservados alguns datados do fim da idade média. Deste se destaca o Castelo da Ilha. Foi nesta parte da cidade que almoçamos, saboreando produtos típicos da cidade (morcilhas com maçãs, salsichões dom polenta. É preciso não fazer confusão com Annecy-le-Vieux, uma outra populosa comuna da Saboia, distante 3 km, do Centro de Annecy.
O lago de Annecy (em francês: Lac d'Annecy), em cuja margem norte esta a cidadã homônima, é famoso por ser um dos lagos mais limpos do mundo. É o segundo maior lago de França, depois do Lago de Bourget.
Formou-se há cerca de 18.000 anos, durante o degelo dos grandes glaciares alpinos. É alimentado por vários pequenos rios, nascidos nas montanhas próximas e por uma potente fonte submarina, o rio Boubioz, que nasce a 82 m de profundidade.
O lago eflui a sua água pelo rio Thiou e pelo canal de Vassé, que se unem e alimentam o rio Fier, a 1.500 m a norte de Annecy, que finalmente se une ao rio Ródano.
É um lugar turístico muito atrativo, conhecido pelas suas atividades náuticas e pela rica biodiversidade e as margens dos quais fizemos longas caminhadas, pela manhã, curtindo um sábado de férias.

sábado, 25 de janeiro de 2014

25.— UMA ASSAMBLAGE FRANCO-SUÍÇA

ANO
 8
ANNEMASSE França

EDIÇÃO
 2663

A edição deste primeiro sábado desta série de relatos de um bloguista curtindo as férias-2014 é uma assamblage. Aprendi essa palavra em rótulos de vinhos. No Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explicou-me que consiste de vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas. Aqui a assamblage se faz com dois pequenos recortes desta jornada ferial.
Aproveito meu estar nesta conurbação franco-suíça para evocar cada um dos dois países, cujas fronteiras, aqui, são quase obliteradas. Da França vem um relato pessoal de ontem e o flavor suíço traz a repercussão de manifestação planetária.
Um dos atrativos de nossas viagens são sempre mercados e feiras. Mais uma vez há que encontrar marcas da história ancestral da humanidade, onde estes artefatos foram/são formadores de espaços culturais. Por mais de duas horas vivemos na feira ao céu aberto das sextas-feiras de Annemasse.
Sintetizar emoções amealhadas então é difícil. Talvez, o destaque principal é uma identificação que faz a maioria dos pontos de venda distinguidos: Agricultura biológica. Mesmo sabendo da imprecisão da expressão (equívoco igual à expressão usual no Brasil: Agricultura orgânica), pois toda a agricultura (mesmo com sementes transgênicas ou com defensivos tóxicos) é orgânica ou biológica.
Aqueles que vendem produtos marcados etiquetados como de Agricultura biológica têm, na maioria das vezes, mais duas características que são muito significativas: uma, os comerciantes são os próprios produtores; outra, são alimentos para localívoros [detalhe na edição desta terça-feira]. Isto me fez evocar meu filho André que se envolve na produção de alimentos por meio de uma Agricultura saudável.
Frutas, hortaliças, temperos, embutidos e queijos estão entre os produtos mais ofertados e em todos há referências à procedência. Há variedades de diferentes produtos: por exemplo, de batatas, tomates (conheci o chamado ‘coração de boi’), alfaces. Há dezenas de tipos de queijos (se diz que a França tem mais de 300 variedades desta sua iguaria típica), inclusive um famoso queijo da Abadia de Tamié produzido monges trapistas desde 1132. A Abadia Notre Dame de Tamié, que fica perto Albertville, na Savoia, na distante de Annemasse.
Dentre o muito que poderia destacar da feira algo que também me impressionou foi a qualidade das caminhonetes usadas pelos produtores para trazer e expor seus produtos.
Ainda deste meu dia em Annemasse uma emocionante referência: conheci, em monumento público, um pouco da história de Miguel Servet (Villanueva de Sigena, Espanha, 29 de setembro de 1511 — Genebra, 27 de outubro de 1553). Ele foi teólogo, médico e filósofo aragonês, humanista, interessando-se por assuntos como astronomia, meteorologia, geografia, jurisprudência, matemática, anatomia, estudos bíblicos e medicina. Servet foi o primeiro europeu a descrever a circulação pulmonar. Participou da Reforma Protestante e, posteriormente, desenvolveu uma cristologia não-trinitariana. Condenado por católicos e protestantes, foi preso em Genebra e queimado na fogueira como um herege por ordem do Conselho de Genebra, presidido por João Calvino. Já agendei um blogue especial sobre Michel Servet.
A composição suíça da assamblage é mais inóspita e amarga. Paradoxalmente, mesmo estando aqui, não estou mais perto da estação turística de Davos, que meus leitores brasileiros que acompanham mais uma edição do Forum Econômico Mundial. Talvez, até mais longe, pois meu acesso a jornais franceses se faz de maneira penosa para mim, por limitações idiomáticas, mesmo que o francês fosse a língua de meus antepassados, que migraram do cantão suíço de Friburgo para serem agricultores no vale do Caí, no Rio Grande do Sul.
Mas alguns informes que também circulam em jornais brasileiros merecem ser trazidos: Apenas 85 pessoas no mundo detêm 46% de toda a riqueza produzida no planeta, segundo um novo relatório, divulgado no Fórum Econômico de Davos. O documento realça a incapacidade de políticos e líderes empresariais em deter o crescimento da desigualdade econômica.
Em outro relatório, divulgado na semana passada, o Fórum Econômico Mundial já abordava a desigualdade e a concentração de renda no mundo como o mais sério risco de danos políticos e instabilidade na próxima década. Na segunda década do século 21 confirma-se, integralmente, a Lei Geral da Acumulação Capitalista formulada assim em O Capital, do economista Karl Marx: “À medida que diminui o número dos potentados do capital que usurpam e monopolizam todas as vantagens deste período de evolução social, cresce a miséria, a opressão, a escravatura, a degradação, a exploração, mas também a resistência da classe operária”.
A Organização Internacional de Trabalho (OIT), em linha com a miséria causada por um sistema global intrinsecamente injusto, mais de 200 milhões de trabalhadores estão desempregados no mundo. Apenas a União Europeia tem mais de 30 milhões de pessoas sem emprego e 127 milhões vivendo na pobreza extrema. Na França, mil empregos são destruídos por dia e cinco milhões estão sem trabalho. Na América Latina e Caribe a taxa de desemprego entre os jovens é de 13,7%, ou 22 milhões; na Espanha, 56%, e na Grécia, 61%. Ainda de acordo com a OIT, 73 milhões de jovens estão desempregados e este índice continua crescendo.
Na Alemanha, um dos maiores exportadores do mundo e país mais rico da União Europeia, 30% da população vivem abaixo da linha de pobreza e 7,45 milhões de trabalhadores têm “miniempregos”, nos quais o trabalhador recebe 450 euros (R$ 1.200) por mês. Caso esses trabalhadores fossem somados à população desempregada, o desemprego pularia de 7% para 24%.
Na principal cidade dos Estados Unidos, Nova York, 50 mil trabalhadores moram em abrigos porque seus empregos são de baixa remuneração e na Espanha, até junho de 2013, 20 mil famílias foram despejadas de suas casas.
Esta evocação a Davos, não só traz um sabor amargo, mas faz evocar as lutas de “Um outro mundo é possível” das edições da última virada do século do Fórum Social Mundial. Parece somos perdedores...