TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

31.- DIA DA ESCOLA: POR QUE?


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J U I Z D E F O R A - MG
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Hoje encerro minha atividade na ‘Manchester Mineira’ com a segunda sessão da Oficina História e Filosofia da Ciência catalisando propostas transdisciplinares. À tarde, viajo a Sorocaba, em São Paulo, para participar do 16º Seminário Internacional de Educação promovido pela Prefeitura Municipal de Sorocaba (SP).
Hoje — Dia da Reforma — é feriado em alguns municípios do Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e, provavelmente, em outros estados. Vibro quando religiões não hegemônicas conseguem algum feriado. Feriados religiosos nacionais, estaduais e municipais são em sua maioria católicos.
 Um carinho especial à Elzira, leitora diária de uma das cidades onde hoje é feriado: a simpática Maravilha, no Oeste catarinense.
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero (Eisleben, norte da Alemanha, 1483-1546), um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia afixa nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a venda de indulgências. Na pintura cena da afixação com uma das teses.
Há — no período mais fértil do Renascimento — uma meia dúzia de propostas de eventos, que decretaram modificações significativas na Europa, para marcar o fim da Idade Média. Assim, para o seu término são propostos os seguintes eventos (aqui citados em ordem cronológica): 1439: invenção da imprensa // 1453: queda de Constantinopla // 1453: fim da Guerra dos 100 anos // 1492: descoberta da América // 1517: Reforma Luterana // 1534: Reforma Anglicana.
Não há sentido de fazermos um plebiscito entre estes eventos e eleger o lapidar. A escolha daquele que foi mais relevante ou mais revolucionário vai muito de opiniões.
Mesmo que eu não seja historiador, se tivesse eleger um, a minha escolha seria, em primeiro lugar, a Reforma Luterana, desencadeada por Martinho Lutero. Se fosse eleger outro, seria a invenção da imprensa, reconhecendo-a tão importante, quanto o invento da Internet, talvez, a criação mais revolucionária do Século 20.
Talvez um dos feitos mais significativos de Lutero foi traduzir toda Bíblia para o alemão, em uma edição de 1534. Antes houve outras traduções parciais (especialmente dos evangelhos) em diferentes idiomas.
A Bíblia de Lutero se torna referência na manutenção da ortodoxia nas igrejas reformada. Ela confere ao alemão o status de língua culta e com isso fortalece o emergente conceito de ‘Estado nação’. Há que mostre que a língua alemã e mesmo a Alemanha seja gerados pela existência da Bíblia traduzida por Lutero.
Importância mais significativa desta tradução foi que agora a Bíblia estava acessível a todos (que soubessem ler). Aqui, vale destacar uma ação muito significativa: para ajudá-lo na tradução Lutero fez incursões nas cidades próximas e nos mercados para ouvir as pessoas falando. Ele queria garantir que sua tradução fosse a mais próxima possível da linguagem contemporânea. A tradução de toda a Bíblia em outras línguas (nos anos seguintes surgiram edições em francês, espanhol, tcheco, inglês, neerlandês) foi considerada um divisor de águas na história intelectual da Humanidade.
Os cultos nas igrejas reformadas passaram a ser no vernáculo (nome dado à língua nativa de um país ou de uma localidade), pois além da Bíblia os hinos foram traduzidos (ou produzidos) na língua local. Ocorre que essa inovação não pode ser fruída pela população, que era em sua maioria analfabeta. Criaram-se, então, escolas junto a cada igreja reformada para se ensinar a leitura, assim o povo poderia ler a Bíblia e ler os hinos nos cultos. Assim, ao lado de ser hoje o Dia Reforma, poderíamos celebrar, nesta data, o ‘Dia da Escola’ o grande presente do Renascimento ao mundo Ocidental.
Na educação, o pensamento de Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna. Seus reflexos se estenderam pelo Ocidente e chegam aos dias de hoje.
A ideia da escola pública e para todos, organizada em três grandes ciclos (fundamental, médio e superior) e voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de Lutero. “A distinção clara entre a esfera espiritual e as coisas do mundo propiciou um avanço para o conhecimento e o exercício funcional das coisas práticas”.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

30.- O PAPA É ‘um pouco’ CRIACIONISTA!

ANO
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J U I Z   D E   F O R A - MG
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Estou, uma vez mais, em Juiz de Fora. Esta já é a segunda vez neste 2014 e, em anos mais recentes, já estive algumas vezes. Nesta quinta participo da II Semana da FACED da Universidade Federal de Juiz de Fora. À noite estou em uma Mesa-Redonda: Experiências Inter e Multidisciplinares com Prof. Dr. Rogério de Almeida (USP); Prof. Dra. Iduina Chaves (UFF) Comentadora: Prof. Dra. Cristhiane Cunha Flôr (UFJF). Nas manhãs de hoje e de amanhã me envolvo com a Oficina História e Filosofia da Ciência catalisando propostas transdisciplinares no Programa de Pós Graduação em Educação da UFJF.
Quando cheguei ontem à Campinas recebi: Chassot, pensei que você iria postar algo sobre o grande passo que o Vaticano deu ontem no sentido de avalizar as conquistas da ciência. Respondi assim para um dos mais apreciados comentadores deste blogue: Jair, no voo POA/VCP minutei algo. Só tomara conhecimento na imprensa de hoje. Será assunto do blogue de amanhã desde Juiz de Fora. Cumpro o prometido.
Eis uma síntese da notícia que movimentou a imprensa da cristandade: O papa Francisco afirmou nesta segunda-feira a acadêmicos que as teorias do Big Bang e da Evolução são reais, não contradizem o cristianismo e fazem parte dos planos divinos. “O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige”, disse. "O desenvolvimento de cada criatura não contrasta com o conceito de criação, pois a evolução pressupõe a criação de seres que evoluem."
No discurso foi proferido na Pontifícia Academia das Ciências, em Roma o pontífice criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis e entendem que Deus agiu “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”. “A criação do mundo não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo que cria por amor.”
Noticias mais apressadas manchetearam: O Papa Francisco é evolucionista. Estou longe de aderir a esta tese. Diria o papa fez profissão de fé na proposta acientífica do ‘design inteligente’.
Claro que se fez outras leituras: O sentido bíblico é simbólico. O Papa tem coragem. Há quem diga que a Bíblia é livro científico, que a interprete literalmente. Ele diz que não, que é de catequese, que passa mensagem, nos campos poético e simbólico — analisa o padre jesuíta Attilio Hartmann, mestre em Ciências da Comunicação. O Papa explicar a realidade, explicar às famílias é algo novo em 2 mil anos de cristianismo. Concordo com meu ex-colega de Unisinos, na Zero Hora de ontem, quanto ao detalhe de a Bíblia ser livro que traz historias míticas. Logo não deve concorrer para leituras fundamentalistas.
Há interpretações mais ufanistas: o católico de formação e referência como cientista, o cardiologista Fernando Lucchesi, no mesmo jornal festeja: É um papa com o pé na realidade. Não há como evitar a evolução científica. A Bíblia é uma parábola, uma forma de expressar a condição humana, não um livro científico. Foi uma atitude corajosa. Não adianta rasgar a realidade. Se esse papa tivesse vivido em 1500, Galileu teria sido absolvido bem mais cedo. Estou cada vez mais encantado com esse Papa. Para mim, já é o homem do século.
Repito: o papa fez profissão de fé na proposta do ‘design inteligente’. Como tal, ele mostrou no mínimo uma singular coerência. Como pastor máximo de uma igreja monoteísta, não deixou, também, de fazer inequívoca profissão de fé criacionista, apresentando um Criador. Ou seja: jogou para as duas torcidas: criacionistas e evolucionistas. Pode parecer pretensioso, mas lembro que não se pode acender vela para dois senhores. Ou como recomenda o evangelho: Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro” (Lucas 16:13).
Em 2012 a Sociedade Brasileira de Genética publicou importante manifesto. Dele fiz uso continuado em aulas e palestras. Seu texto na íntegra está neste blogue como o anunciado ao lado. Trago um pequeno excerto aqui:
Esta manifestação da SBG visa comunicar de forma muito clara à Sociedade Brasileira que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas (incluindo o Design Inteligente) que têm sido divulgadas em algumas escolas, universidades e meios de comunicação. Entendemos que explicações baseadas na fé e crença religiosa, e no sobrenatural podem ser interessantes e reconfortantes para muitas pessoas, mas não fazem parte do conteúdo da pesquisa ou de disciplinas científicas nas áreas de Biologia, Química, Física etc.
Houve avanço nas posturas da Igreja? Sim. Ele tirou o chão dos fundamentalistas cristãos. Viva! Mas salvo outra interpretação, falta muito para Francisco aceitar Darwin. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

29.- ACERCA DA ARTE DE BEM MORRER


ANO
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A G E N D A  em www.professorchassot.pro.br
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Na manhã desta quinta viajo para Campinas, para a seguir ir a Goianá. Meus leitores já viajaram comigo a esta cidadezinha da Zona da Mata mineira, com cerca de 3,6 mil habitantes. Ali está o aeroporto que serve a cidade de Juiz de Fora. A cognominada ‘Manchester Mineira’ tem uma população quase 200 vezes maior que cidadezinha que lhe empresta o aeroporto. Amanhã e sexta, tenho compromissos na Universidade Federal de Juiz de Fora. Com esta saída quebro uma longa abstinência de viagens de duas semanas, algo inédito este ano.
A edição de hoje traz um comentário acerca de um livro que faz sucesso nos Estados Unidos. Ele ainda não está traduzido para o português. Li algumas resenhas. Porém, meu inglês exige que espere uma tradução. Sirvo-me hoje do abalizado comentário que Hélio Schwartsman, bacharel em filosofia, publicou na p. A2. na Folha de S. Paulo de sexta, 24. O autor de ‘O Segredo de Avicena’ nos faz desejoso de conhecer a obra completa.
A ARTE DE MORRER "Being Mortal" (sendo mortal) é um livro de não ficção sobre o tema mais deprimente que se pode imaginar: a decadência física e mental que precede a morte. Ainda assim, nós o lemos com a mesma avidez com que se devora um romance de mistério. O fato de sabermos a priori que os protagonistas morrerão nem chega a atrapalhar.
A principal razão é que seu autor, Atul Gawande, cirurgião, professor em Harvard, escritor e jornalista da "New Yorker", tem amplo conhecimento do assunto e sabe como ninguém cativar o leitor. Ele se vale de casos de idosos e de pacientes terminais, incluindo tocantes experiências autobiográficas, para mostrar que, no Ocidente, nós perdemos o que os medievais chamavam de "ars moriendi", a arte de morrer bem.
O problema central, diz Gawande, é que a medicina obteve sucesso em tantas esferas que acabamos delegando a ela também os cuidados com o envelhecimento e a morte. Só que a maioria dos profissionais de saúde não está preparada para lidar com esses dois processos, que são irreversíveis.
O resultado é que criamos uma estrutura que esvazia de sentido os momentos finais. Para evitar que idosos se machuquem, roubamos-lhes o que ainda têm de autonomia, confinando-os a asilos e hospitais. Para tentar prolongar a vida de pacientes de câncer, submetemo-los a tratamentos com pouca chance de sucesso e que acabam com a qualidade da vida que lhes resta.
Obviamente, não há solução para esses problemas. A perda de autonomia faz parte do envelhecimento e o câncer mata de forma muitas vezes cruel. Ainda assim, é possível estabelecer as prioridades de cada paciente e tentar atendê-las, deixando com que tenham o máximo de controle sobre seu destino. Gawande mostra não só como isso pode ser feito mas também o impacto positivo que tem sobre o bem-estar de pacientes, familiares e do sistema de saúde.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

28.- BLOGUE UM ARTEFATO CULTURAL PARA (DES)POLITIZAR.


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
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Por oito dias, eleições foi assunto exclusivo aqui. Abertura do tema foi na outra segunda, com a blogada 20.- MUDAR, PARA NÃO MUDAR que bateu todos os recordes de compartilhamentos (para usar uma palavra da moda) com o maior número de acessos dentre as quase 3 mil edições nestes mais de oito anos de meus blogares. Houve, talvez mais de 2 mil acessos; em 20/OUT foram 561; seguiu sendo ainda mais intensamente acessada toda a semana. Mesmo que houvesse dado os créditos de parte do texto, em mais de uma oportunidade, fui considerado como autor de inteiro teor. A propósito: o gráfico da reconfiguração da pirâmide de classes sociais no Brasil, que foi chamada por alguns de a ‘pirâmide do chassot’ não é de minha autoria. Disse, em mais de uma vez, que a fonte foi a Folha de S. Paulo.
Preciso destacar que destas oito edições fiz chamada no Facebook o que dá outra dimensão aos acessos. Houve edições inteiras compartilhadas.
Pretensiosamente acreditei que se fez aqui alfabetização política, na dimensão brechtiana. Na blogada de domingo publiquei um texto de Bertold Brecht sobre o analfabetismo político. A série eleições concluiu seu ciclo ontem com 27.- UM BANQUETE COM TEMPEROS DESAGRADÁVEIS Agradeço a cada uma e cada um dos meus leitores a tolerância daqueles que aceitaram nestes dias uma leitura de posições antípodas às suas. Sou grato especialmente àqueles que divergindo trouxeram, aqui, comentários substantivos. Agradeço não ter tido o destino de Anaxágoras.
Acredito que independente de distanciamentos de diferentes matizes políticos dos leitores cumpriu-se a proposta. Sei que alguns textos foram levados a salas de aula ara discussões. Isto ganhou mais sentido porque houve edições que não trouxeram nenhuma marca partidária, apenas análises políticas.
Nesta terça, por exemplo, discuto com meus alunos da disciplina Ética, Sociedade e Meio Ambiente a questão: descriminalizar o aborto: sim ou não? O texto que foi publicado no dia 21, terça, é uma das sugestões de leitura para em favor do sim.
Este comentário mais extenso acerca das últimas oito blogadas, talvez seja intempestivo. Afinal, já foram muitas as blogadas que tiveram matiz político. Também estas de agora não serão as últimas. É provável que esta postagem de hoje, se justifique pela dimensão do momento e pela adesão, mais contextualizada, ao momento histórico do Brasil. Talvez, ela seja produto de uma ressaca inebriante (ou, seria entorpecente) das tensões de todo esta semana, mais precisamente de ontem, onde as horas de 17 às 20 foram para quase enfartar. Amanhã nos lemos noutro tom. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

27.- UM BANQUETE COM TEMPEROS DESAGRADÁVEIS


ANO
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LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
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Bom Dilma!
Uma vez mais, a inspiração para uma blogada vem do deus Janus, marcado pela mitologia romana. Janus era o deus a quem os romanos diziam chorar e rir ao mesmo tempo. Choro a perda do governo, e vibro, como aconteceu em outubro de 2002, quando Lula, pela primeira vez se elegeu Presidente. Dilma foi reeleita Presidente. Isso é muito bom.
A democracia pode ser um banquete ao modelo daquele da festa de Babete. Mas, de vez em vez, oferece pratos com condimentos que causam — pasmem — até vômitos. O que foi a baixaria da Veja abrigada pela liberdade de imprensa que vige no Brasil. Também irrita as análises que ouvimos dos resultados das eleições.
Fomos derrotados fragorosamente (61x39) nas pretensões de continuar mais quatro anos no governo do Rio Grande do Sul, que tem aprovação em suas realizações. Aqui há uma tradição, com marca grenal, de não reeleger governados. O Estado, que se blasoneia ser o mais politizado do Brasil, poderia seguir o exemplo de Minas Gerais e de Pernambuco.
Não sou analista político. Aventuro-me a uma análise, talvez reducionista. O Tarso não soube comunicar suas excelentes propostas. Sua linguagem exotérica, marcada por recorrentes análises econômicas. Já o vitorioso Sartori, em uma fala por ele mesma rotulada como a de ‘um gringo da colônia’ foi palatável aos eleitores.
Chorando pelo Rio Grande do Sul e de alma lavada pelo Brasil, agradeço a parceria especial na nervosa semana que passou. Agora, quando tudo (re)começa, votos de cada vez melhor (e saborosa) democracia.
https://www.youtube.com/watch?v=3k8YQCSs8es

domingo, 26 de outubro de 2014

26.- A PRIMEIRA ELEIÇÃO NÃO SE ESQUECE


ANO
 9
Um bom DILMA!
EDIÇÃO
 2938

Chegou o domingo nervosamente esperado. Parece que se pode crer que mesmo com assomos de tempestades há estrelas nos céus do Brasil — inclusive — no do Rio Grande do Sul.
Desde segunda até ontem, houve um assunto exclusivo neste blogue: alfabetização política. Vale sempre lembrar Brecht: O pior analfabeto é o analfabeto político.
O assunto eleições continua, mas hoje com evocações históricas. No domingo que passou, José Carneiro, conhecido dos leitores deste blogue, publicou em O Liberal de Belém do Pará um texto com título que fiz capitular desta edição. Junto com o artigo, meu amigo enviou-me uma pergunta. Transcrevo a seguir alguns excertos do mesmo. Ao final respondo a questão.
 A PRIMEIRA ELEIÇÃO NÃO SE ESQUECE Lembro-me muito bem, como se tivesse sido ontem, do meu primeiro voto, poucos meses depois de ter completado dezoito anos de idade, em outubro de 1965. Seria a primeira eleição direta para governador do estado após o golpe militar de 1964. Foi ainda a última eleição com a participação dos partidos políticos oriundos da redemocratização de 1945, os quais logo depois seriam substituídos pelo capenga e casuístico bipartidarismo brasileiro, que trouxe para a cena politica a Arena governista e o MDB oposicionista, que duraram até o final da década de 1970.
Enquanto ansiava pelo primeiro voto demarcador da minha idade adulta, recebi surpreso a convocação da Justiça Eleitoral para atuar como secretário em uma seção eleitoral instalada no interior do município. Podem imaginar o interior de um município paraense há cerca de 50 anos, em grande isolamento? Até aqueles idos, os integrantes das mesas eleitorais, evidentemente em número menor que os de hoje, costumavam trabalhar sempre trajando o paletó completo. Era um costume arraigado em todo o país. Meu pai era um deles, fazendo questão de ressaltar o caráter de civismo daquela missão, que o orgulhava muito em seus rígidos preceitos de cidadania. E por isso me convenceu (quase me obrigando) a seguir o seu exemplo, usando também o paletó completo. O costume do traje na época deu origem a um chiste, de se perguntar a alguém de paletó se estava indo votar. Obediente, segui os passos, já anacrônicos, de meu pai e me arrependi amargamente. Ao me dirigir para o ponto de encontro com os colegas de trabalho, fiquei atônito ao percebê-los todos de roupa esporte, inclusive o presidente da seção eleitoral. Mas o pior estava por vir, pois naquele mesmo momento chegou o transporte que levaria os mesários para as seções do interior e, para surpresa geral, era um dos caminhões apelidados de “pau-de-arara”, sem acomodações para conduzir passageiros. Subimos para a carroceria e lá fomos todos, sacolejando e em pé, em direção aos locais de votação. Minha seção eleitoral localizava-se numa vila perdida chamada Barro Branco, onde foi difícil até encontrar um casebre para instalar a mesa eleitoral.
E o pior: durante todo o dia, menos de 30 eleitores compareceram, motivo pelo qual ficamos sem nada para fazer ou ver naquele local ermo. Para completar, o transporte só nos recolheu em torno das 20 h, quando retornamos sob chuva, com parcos votos recolhidos e com meu terno completamente ensopado. Depois disso, trabalhei em várias eleições como presidente de seção, mas nunca em situação tão esquisita como aquela. Sob todos os aspectos, jamais esquecerei essa minha primeira eleição.
Eis minha resposta:
Meu querido amigo José, li mais um texto no qual o colega abre o baú rotulado como ‘saudades’, Cativou-me a expressão ‘paletó completo’ desconhecida nestas plagas. Faz-me triste ver quanto se apequena o número de regionalismo. Aqui, diríamos ir de terno ou de fatiota. Não sei como se diz hoje. Talvez, terno com gravata.
Perguntas-me se lembro meu primeiro voto. Esboço uma resposta.
Como sou bem mais velho que o amigo, votei muitos anos antes. Minha estreia como eleitor é em 3 de outubro de 1958, votando no Clube dos Gondoleiros, que fica(va) na avenida Eduardo (Presidente Roosevelt) em Porto Alegre. Era o meu primeiro ano na Capital. Nesta mesma rua ficava, também, o local de meu primeiro emprego: o Bar Caçula (este, na esquina da Ernesto Fontoura). Era próximo a igreja dos poloneses, onde cinco dias depois de minha primeira votação, toquei sinos em dobre de finados pela morte de Pio 12, pois o capelão (talvez, Padre João Pithon) era companheiro de carteado de meu tio Arnaldo Junges, proprietário do bar Caçula, que funcionava em prédio próprio da comunidade polonesa.
Os pioneiros poloneses de Porto Alegre, no fim da década de 1890, espalharam-se pelo antigo Quarto Distrito, fornecendo mão de obra para a indústria local. Profundamente religiosos, faziam suas devoções nas igrejas da cidade. Até que, em 29 de abril de 1934, foi realizada a primeira missa na Igreja Nossa Senhora de Monte Claro — padroeira da Polônia (Nossa Senhora de Częstochowa ou a virgem negra, da qual há uma imagem vinda da Polônia na capela), na Avenida Eduardo.
Depois de minha incursão religiosa volto às eleições. Minha primeira ação como eleitor — com título novinho — foi nas eleições estaduais de 1958. Leonel Brizola (engenheiro, prefeito de Porto Alegre), candidato da coligação PTB / PRP foi eleito governador derrotando Walter Peracchi Barcelos (coronel da Brigada Militar). Para senador o vitorioso foi Guido Mondin do PRP. Este partido fez uma inusitada aliança com o Partido Trabalhista Brasileiro, com o qual tinha mais divergências programáticas do que afinidades. Mondin concorreu, então, ao cargo de senador, sendo eleito e ocupando a vaga que foi de Alberto Pasqualini. Brizola sucede (também antecede no governo do RS) a Ildo Meneghetti. Este foi sucedido por Peracchi Barcellos (antes derrotado por Brizola) nomeado governador pela ditadura. Eis uma evocação de minha primeira eleição.
Apenas uma contextualização: Veja-se que há mais de 50 anos já se fazia alianças esdrúxulas como agora, quando Michel Temer vem ao Rio Grande do Sul fazer propaganda contra Tarso, do PT, partido com o qual é candidato a Vice-presidente. 

sábado, 25 de outubro de 2014

25.- UM ARGUMENTO, APENAS...


ANO
 9
Um bom DILMA!
EDIÇÃO
 2937

É amanhã. Ao anoitecer do domingo poderemos fazer previsões mais concretas acerca dos próximos anos. Não disse apenas dos próximos quatro anos, mas, talvez, para vinte anos.
Na segunda escrevi, na blogada mais acessada dentre as quase três mil postadas neste blogue, em mais de 8 anos: Impressionam-me certas razões para votarem num candidato. “Eu acho a Dilma antipática” é justificativa de pessoas de quem eu supunha poder esperar no mínimo, uma avaliação política. Há avaliações marcadas por um automático antipetismo, construído pela mídia e que a muitos capturou. Houve, então, quem me interrogasse (ou pedisse exemplo) do que seria uma avaliação consistente para votar na Dilma.
Quem olhar o vídeo recomendado aqui na quinta encontra pelo menos 13 razões para votar na Dilma amanhã. Se eu tivesse que escolher apenas uma, voltaria a considerar a redistribuição dos distintos estratos sociais desenhada na ilustração que mais de uma vez postei, nos últimos dias. Repito aqui:
A diminuição de 3% dos muito ricos (= 6 milhões, destes passaram para a classe média alta) e a ascensão à classe média de 6% de excluídos (vale recordar que são cerca de 12 milhões de pessoas). A classe média intermediária aumentou em 15% (= 30 milhões de pessoas). Se tivesse alguma dúvida em quem votar, esses números seriam convincentes. Essas alterações na configuração dos estratos sociais têm repercussões não somente para os diretamente beneficiados, mas para toda a sociedade. Isso porque uma sociedade mais igual é garantia de menos violência, de mais segurança para todos. 
Se me fosse solicitada uma segunda razão, elegeria algo que também já repeti aqui muitas vezes: Nos últimos semestres, mais da metade dos alunos (às vezes, turmas inteiras) são da primeira geração que chega à Universidade. A Universidade brasileira, nos últimos anos, mudou de cor. Agora há alunos negros,indígenas, pobres... E, aqui, um lembrete especial aos gaúchos: foi Tarso Genro, enquanto Ministro de Educação do governo Lula, que criou e implantou o ProUni. Este ano o vice-Reitor da UFFS (com campi em PR, RS e SC) disse-me que 87% dos alunos de sua Universidade são os primeiros de suas famílias que chegam a Universidade. Em breve mudará também a cor do corpo docente. 
Há razões sobejas para amanhã votar no 13. Se o leitor ou a leitora ainda não estiver convencido e precisa de mais argumentos: assista ao vídeo produzido de maneira independente por artistas do Rio Grande do Sul: