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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

29.— Sonhando com a ubiquidade


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Recordo, que no catecismo — o livro de perguntas e resposta que estudei em preparação da primeira comunhão — havia ensinamentos acerca dos atributos ou, talvez fosse acerca das qualidades ou dons de Deus. Lembro pelo menos de três: onipotente, onisciente e onipresente.
Pois na pretérita quinta-feira, à noite, quisera ter pelo menos o dom da ubiquidade. E não vou concorrer com Deus que pode estar simultaneamente em todos os lugares; bastava-me apenas estar dois lugares simultaneamente: Porto Alegre e Erechim.
Justifico meu devanear. Quando registrei as oito palestras do Fronteira do Pensamento de 2017, ao invés de registrar a conferência de Thomas Picketty no dia 28, fi-lo no dia 25. Justificativa de meu equívoco: as palestras do Fronteiras são sempre às segundas. Mas esta, considerada a palestra heliocêntrica do ano, pois é aquela que se recebe um convite para levarmos um convidado, não só era no Auditório Araújo Vianna, com 4.000 lugares (o dobro do auditório da Reitoria da UFRGS) mas estava marcada para uma inusual quinta-feira.
Só me dou conta, a menos de uma semana, que tinha para a mesma quinta do autor de ‘O Capital no Século XXI’ três atividades, uma em cada turno, no Campus de Erechim da Universidade Federal da Fronteira Sul. Não havia indecisão para escolha. À meia-tarde de quarta-feira, numa viagem de mais de seis horas de ônibus, fui a Erechim.
No turno da manhã falei em uma atividade de formação de 14 (dos 15) professores do Grupo de Pesquisa envolvidos com a formação de professores que fazem Educação do Campo na IFFS, em Erechim. À abertura mencionei que ir à Universidade onde está um ex-orientando de mestrado ou doutorado se assemelha a visitar a casa de um filho. Essa sensação a vivi, desde a noite de quarta e durante toda a quinta-feira, vendo a importância das ações do Denílson Silva, que catalisou meu estar em Erechim.
À tarde, foi a aula inaugural do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza, marcada pela acolhida na UFFS de 40 novos acadêmicos, dos quais cerca de 87% são indígenas, recepcionados por professores, corpo técnico e alunos de mais duas turmas (2016/1 e 2015/2). Minha fala que buscou destacar as exigências de estar em um (novo) mundo da Academia hoje. Esta aula compartilhei com o vice-reitor da UFFS, professor Antônio Inácio Andrioli, que entre outras significativas trazidas fez a apresentação da instituição e do curso aos novos estudantes. Foi muito bom estar nesta atividade com meu ex-orientando Antônio Valmor de Campos, professor da UFFS, campus de Chapecó.
Ao final da tarde participei do desvelamento de um painel construído coletivamente com milhares de sementes evocando a realização do III SIFEDOC - III Seminário Internacional de Educação do Campo que ocorreu 29 à 31 de Março de 2017. Na foto o Denílson e eu, na cerimônia.
À noite, para mais de 200 participantes, fiz a palestra em atividade mediada pelo Professor Jerônimo Sartori, “Das disciplinas à indisciplina’ dentro da semana da Pedagogia da qual participaram professores e alunos da Pedagogia e de outras licenciaturas e mestrandos dos três cursos de pós-graduação.
Muitos autógrafos e muitos fotos foram apetitosa sobremesa a tão sumarenta quinta-feira. Não tendo, pelo menos por ora, a sonhada ubiquidade, não me arrependo da escolha. Ante os comentários que acolhi de participantes da palestra do Fronteiras do Pensamento, vejo que tenho que terminar de ler o livro do Picketty.
Agora já embalo expectativa para próxima semana onde terei seis palestras em cinco cidades de dois estados. Que venha outubro.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

22.— Mais uma vez falando de livros.


ANO
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3317
Esta é a quarta blogada setembrina e ocorre sob a nova concepção de uma edição por fim de semana. Hoje, como nas anteriores o mote é falar de um livro. Para inaugurar a primavera, ofereço a fruição um livro que, após longa gestação, recém é dado a lume: “Histórias da Química”. O singular artífice da concepção, gestação e parição desta coletânea é José Euzébio Simões Neto, um pernambucano, professor doutor vinculado ao Departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Euzebio concebeu este livro durante os quatro anos que se envolveu com formação de professores em Serra Talhada.
O livro, em quase trezentas páginas, amealha dez artigos, em sua quase totalidade, escritos por homens do estado de Lampião. Flavia Cristiane Vieira da Silva, professora da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da UFRPE faz uma apresentação de cada uma das dez muito variadas histórias.
Há histórias de três titãs da Química moderna (Maria Curie, Pauling e Butlerov); há histórias de tópicos da Química (alquimia, núcleo, substância, transformação da matéria e teoria dos radicais); e, ainda, há histórias acerca de perspectivas epistemológica e do ensino de Química, nível superior.
Ainda não li todasas dez histórias, mas qual coruja elogiando os seus filhotes dou destaque a Marie Curie: três dolorosas estações de um calvário glorioso, onde em três dezenas de páginas, trago três momentos da mulher genial que durante mais de 60 anos foi a única cientista que teve duas láureas de prêmios Nobel de Ciências: de Física (1903, com seu marido Pierre e Henry Becquerel) e de Química (1911, sozinha). Assim, ela foi a primeira mulher que ganhou um Nobel (1903) e também primeira mulher que ganhou o prêmio sozinha (1911).
A proposta do texto que escrevi para o livro é apresentar três recortes da vida de Marie Curie. Assim, não há a pretensão de fazer uma biografia, como fez com muita competência Paulo Marcelo Pontes — o significativo catalisador do Euzebio na produção deste livro — com sua muito bem urdida tessitura: Um cientista de olhos azuis brilhantes: Linus Pauling.
Vou trazer três dolorosas estações de jornada cruenta desta excepcional polonesa que é considerada como a mulher mais importante do século 20. Usualmente, temos das pessoas públicas, narrados só de momentos gloriosos. Mas também para eles a vida não é monótona.
Assim, o capítulo, que destaco nesta blogada, se tece em cinco segmentos: 0.- O prelúdio se apresenta um histórico da Ciência da década que marca a virada do Século 19 para o 20 (1895/1905). 1.-A morte trágica de Pierre Curie em 1907, quando Marie tinha 40 anos, aos 12 anos de seu amoroso casamento com Pierre. 2.- A perda do acesso à Academia de Ciências da França, por um voto em 1911, na maior evidência de um machismo, pois a emancipação das mulheres era vista, na França do início do século 20, como indicação de decadência nacional e até como sintoma de emasculação ou desvirilização dos homens; há também a não aceitação de uma estrangeira (talvez, de ascendência judaica) na Academia. 3.- A exploração, em 1911, pela imprensa francesa do romance de Mme. Curie, com 44 anos, com Paul Langevin (1872-1946), um muito renomado físico francês.  4.- Um posfácio, sobre o que narra algo de Marie Curie, após a sucessão dos três calvários que sabem a fel.
Está aí uma amostra de um dos dez capítulos que estão no livro aqui destacado.

SIMÕES NETO, José Euzebio. Histórias da Química. Curitiba: Appris, 2017, 291p. ISBN 978-85-473-0531-4 em www.appris.com.br edição suporte papel R$ 51,00 (3 x 17,00); e-book 23,00. Disponível, em parte, no Google Books.


Uma colorida primavera a cada uma e cada um (ou dourado outono a possível leitor do Hemisfério Norte) onde este “Histórias da Química”.  pode ser uma sugestão de leitura. Vale saboreá-lo, pois sabe a histórias significativas.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

15.— Conjectura de Goldbach


 

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Preparo o texto para a edição que circula neste fim de semana, nesta sexta-feira, durante o primeiro trecho dos voos Cuiabá/Congonhas/Porto Alegre. Na viagem de vinda, na terça-feira, o trecho Congonhas / Cuiabá se fez fugaz pala ‘muito útil’ conversa com o advogado porto-alegrense Aquiles Nuñes. Nestas quarta e quinta feiras vivi dois dias sumarentos em Cuiabá, no Campus Boa Vista do IFMT na IV Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão. Na noite de quarta, fiz a palestra ‘Acerca da utilidade dos saberes inúteis’ muito inspirado no que relato na blogada anterior. Foi emocionante ser aplaudido longamente por mais de 500 pessoas que se puseram de pé — dentre as quais muitos alunos ensino médio.
Na tarde de ontem houve uma enriquecedora Roda de Conversa com mestrando do Programa de Pós-Graduação UniC/UFMT acerca de alfabetização científica.
Na noite de ontem, ne mesmo cenário da noite de quarta, para o mesmo público e com mesmo brado ‘fora Temer’ com o punho esquerdo cerrado e levantado fiz a palestra ‘Para formar jardineiros para cuidar do Planeta’ que foi tão ou mais aplaudida como a da noite anterior.
Nas três falas houve autógrafos em livros, muitas fotografias e gostosa confraternização com alunos, funcionários e professores do IFMT. Valeu ter estado já a quarta vez no Mato Grosso este ano e aguardar estar, uma vez mais, na primeira semana de outubro.
Depois deste preâmbulo o assunto que está na manchete.
Quando criança, no grupo de amigos e especialmente entre os irmãos havia um não explicito ‘código de ética’. Claro que não conhecíamos tão imponente denominação. Um dos pontos que vigia solene e irrefutável era: “Promessa é dívida! ”
 Nas duas últimas edições acenei promessa de comentar aqui o excelente Tio Petros e a Conjectura de Goldbach do escritor grego Apostolos Doxiadis. Hoje, desejo honrar minha dívida.
Quando leio livro, uma pergunta recorrente é acerca da eleição de minha leitura. Agora estou lendo, o massudo e instigante Sapiens: uma breve história da humanidade. Atualmente é livro de não ficção mais vendido no Brasil. A primeira edição brasileira é de 2015, a minha é a 25ª. De vez em vez estou agradecendo a indicação da Carla.
Tio Petros e a Conjectura de Goldbach foi uma excelente sugestão de Luís Rafael Santos, chefe do Departamento de Matemática da UFSC Campus de Blumenau, quando no aeroporto de Navegantes comentava minha preferência por números primos.
A história começa em 1742, na correspondência entre Christian Goldbach e o famoso matemático suíço Leonhard Euler, foi formulada a seguinte questão: "Todo número inteiro par, maior que 2, pode ser representado como a soma de dois números primos".
Hoje, mais de 250 anos depois, a Conjectura de Goldbach tornou-se um dos problemas mais intrigantes da Matemática. Mesmo já tendo sido testada empiricamente até 1014, ninguém jamais conseguiu provar que a afirmação é válida para todos os números inteiros maiores que 2 e, recentemente, até um prêmio de 1 milhão de dólares foi oferecido a quem for capaz de demonstrá-la.
DOXIADIS, Apostolos, Tio Petros e a Conjectura de Goldbach – um romance sobre a história da Matemática. (Tradução de Cristiane Gomes de Riba) São Paulo, Editora 34,168 p. 14 x 21 cm, 2001 - 1ª edição; 2010 - 2ª edição ISBN 978-85-7326-197-4

 Este romance é a história de Petros Papachristos, um genial matemático grego, que dedicou sua vida a desafiar o enigma. Olivier Sacks, muitas vezes presente neste blogue, fez uma admirável síntese, que está na quarta capa do livro: "Uma conjectura matemática insolúvel por dois séculos; um tio gênio que enlouqueceu tentando resolvê-la; uma relação ambígua com seu sobrinho aspirante a discípulo; e uma acurada observação do ser humano fazem de Tio Petros um romance engraçado, encantador e, para mim, irresistível."
Sir Michael Atiyah, matemático vencedor da Fields Medal (equivalente ao Prêmio Nobel da Matemática) assim sintetizou o livro na mesma quarta capa: "Um livro brilhantemente escrito, uma história de detetive de grande charme, que realmente capta o espírito da pesquisa matemática." Já John Nash, Prêmio Nobel de Economia bem define Tio Petros: "Um retrato fascinante de como um matemático pode cair numa armadilha mental ao devotar seus esforços a um problema demasiadamente difícil."Quando leio algo da biografia de Apostolos Doxiadis um escritor grego nascido em 1953 (64 anos) em Brisbane, na Austrália mas criado na Grécia. Aos 15 anos, com um trabalho original de Matemática, foi aceito na University de Nova Yorkdou me conta da validade de minha defesa que a ‘história dos autores dá vida aos seus textos’. Fez pós-graduação na École Pratique des Hautes Études; mais tarde voltou-se para o cinema e a literatura.
Outro detalhe que influi em mim é ter conhecido pessoalmente os cenários descritos. Assim, Doxiadis com sua sumarenta narrativa, me fez voltar gostosamente à Grécia, pela segunda vez, no último abril.
Avalizado por estas experiências arvoro-me fazer sugestão a meus leitores: conheçam tio Petros, chamem o sonho com a busca dos dois números primos da conjectura de Goldbach. Desrecomendo buscar prova-la.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

09.— Uma iguaria calabresa


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Reconheço-me devedor de uma resenha. Na última edição fiz promessa aqui do excelente Tio Petros e a Conjectura de Goldbach do escritor grego Apostolos Doxiadis. Mas urge dar ouvido ao Poeta: “Cesse tudo que a antiga musa cantam pois valor maior se levanta!”
Na última segunda-feira, 04/09, atendo sugestão recebida na edição de fim de semana de Zero Hora e vou no fim da tarde à UFCSPA para participar de parte da programação do II Encontro de Educação e Humanidades nas Ciências da Saúde: a Utilidade dos Saberes Inúteis. Sugestão que se converteu em uma noite premiadíssima.
Primeiro, retornar à Católica de Medicina, como chamávamos a Faculdade da Santa Casa, gérmen de cristalização da hoje viçosa “Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, com uma sigla quase impronunciável e nesse retorno rever amigos que há um tempo não encontrava: Bombassaro, Maura, Alfredo...
O momento maior foi a conferência de abertura: A utilidade dos saberes inúteis proferida pelo cientista italiano Nuccio Ordine. Talvez, das melhores conferências que já assisti.
Antes houve uma série de acepipes protocolares (as falas da Reitora, da Chefe do Departamento, da Coordenadora do evento...). Uma desta me traz surpresas e muita alegria. A Prof. Dra. Ana Boff de Godoy, que dividia a mesa com o conferencista (foto), ao fazer a apresentação do evento, narrou a história do mesmo, dizendo que lapso de seis anos entre o primeiro, em 2011 e este segundo agora, se devia que o conferencista de abertura de então — Professor Attico Chassot —  apontara entre as exigências para que recém fundada UFCSPA se constituísse plenamente em uma Universidade estava em uma muito forte presença nas Ciências Humanas. Ressaltou que, as exigências formuladas em 2011 se vêem cumpridas, oferecendo destaque a criação do Departamento de Educação e Humanidades. Talvez, eu não tenha sido fiel às palavras da Ana, pois me embarguei emocionado.
 A fala do Prof. Nuccio Ordine (nascido em 1958, Professor da UNICAL - Università della Calabria, Itália) foi, como já referi, excepcional. Ele é crítico literário e conhecido internacionalmente como árduo defensor dos saberes humanistas; seus livros estão traduzidos em cerca de 25 países. No Brasil merecem destaque: A cabala do asno e A utilidade dos saberes inúteis (Zahar, 2016).
Nuccio Ordine, evidenciando uma muita densa cultura, falou sobre o tema de seu livro "A Utilidade do Inútil" e por primeiro mostrou a um auditório lotado e sequioso por saber quais são os saberes inúteis: nos dias atuais, parecem inúteis todos aqueles saberes que não geram dinheiro. Eis uma situação até bastante usual: Um aluno que termina o ensino médio de uma maneira brilhante e decide o que quer estudar na Universidade: Filosofia ou História da arte; Língua latina ou aprender a tocar cítara ou algo similar. Qual, interrogação mais frequente dos pais ou dos amigos e até dos professores: Mas, por que não fazer Engenharia ou Medicina? Filosofia e outras opções profissionais são considerados saberes inúteis pois não garante um apreciável retorno financeiros.
O empolgado e empolgante calabrês afirmou, repedidas vezes, não há como se comprovar a "utilidade" das ciências humanas, porque as ciências humanas não são palpáveis, não visam a produção de bem durável, mas o saber pelo saber: "O utilitarismo está causando danos terríveis para as nossas vidas pessoais. Tudo é reduzido ao valor econômico".
O conferencista criticou a hiperespecialização dos saberes e o utilitarismo. Enfocou que saúde e educação são os pilares de uma sociedade, que é preciso nutrir corpo e mente. Segundo Nuccio, os governos deveriam parar de pensar a educação como uma fonte de lucros, mas como uma fonte de desenvolvimento: "Uma população saudável e instruída pode favorecer um crescimento econômico sustentável", destacou.
A palestra teve ainda a marca de ser hiperpolitizada e contextualizada especialmente nas crises de corrupção vividas pela Itália e Brasil. Ordine referiu também que algumas pessoas poderiam achar estranho o fato de ele, um professor de literatura, palestrar em uma universidade da saúde. Segundo ele, não deveria ocorrer esta estranheza, dado que os conhecimentos das diferentes áreas conversam entre si.

ORDINE, Nuccio. A utilidade do inútil um manifesto. Rio de Janeiro: Zahar, 2016, (L’utilità dell’inutile: manifesto, tradução autorizada de Luiz Carlos Bombassaro da 12º edição italiana de Bompiani, de Milão, Itália),  223 p. ISBN 978-85-378-1520-5.  Em www.zahar.com.br estão disponibilizados .pdf de algumas páginas.

A leitura do livro A utilidade do inútil um oportunizará àqueles que não tiveram o privilégio de ouvir calabrês Nuccio Ordine e usufruir as dezenas de historietas e citações trazida na palestra. No livro elas estão mais densamente narradas. Esta é uma sugestão que faço entusiasmado. À leitura, auguri a tuti!

domingo, 3 de setembro de 2017

03.— “Das Disciplinas à indisciplina”: Um anúncio de esperança


 

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Ontem à noite, terminei a leitura de um livro que catalisou significativas reflexões acerca do (meu) fazer acadêmico. Pensava hoje fazer aqui uma resenha. Chega-me, então, um comentário de um leitor que desbancou minha intenção.
Para não parecer por demais vaidoso, pretextei que Tio Petros e a Conjectura de Goldbach (obrigado, pela sugestão, Luiz Rafael Santos, chefe do Departamento de Matemática da UFSC Campus de Blumenau) precisava uma melhor maturação.
Assim, a primeira blogada desta adventícia primavera se faz —autorizado pelo autor — com um texto de Mateus Lorenzon. A ele meus agradecimentos.
CHASSOT, Attico. Das disciplinas à indisciplina. Curitiba: Appris 239 p. 2016. ISBN 978-85-473-0297-9
“Das Disciplinas à indisciplina”: Um anúncio de esperança  As ideias de Attico Chassot são basilares nas práticas pedagógicas que desenvolvo para e com as crianças. Quando eu havia recém ingressado na graduação, foram as leituras de livros de autoria do Mestre, tais como Para Que(m) é Útil o Ensino? (Editora Unijui, 1995) e Alfabetização Científica: Questões e desafios para a educação (Editora Unijui, 2011), que me instigaram a devanear acerca das possibilidades de constituir uma educação comprometida com a transformação social e a dignificação da vida dos sujeitos mais marginalizados.
Passado algum tempo, tive oportunidade de ser avaliado pelo Professor Attico Chassot em minha qualificação. O aceite do Mestre Chassot, em participar daquele momento, despertou certa angústia, visto que falamos de um autor, que além de uma vasta produção bibliográfica, possui larga experiência como docente e é dotado de uma rigorosidade intelectual, que o fazem uma das principais referências para a Educação Científica. Em ocasião de sua visita a nossa instituição, tive oportunidade de assistir a palestra “Das disciplinas à indisciplina” proferida pelo autor e que fazia referência ao seu livro mais atual.
A necessidade de propor um ensino que supere os limites da disciplinares é um tema recorrente nos círculos educacionais. Todavia, parece haver um grande abismo entre o real e o ideal, visto que as práticas escolares não correspondem ao esperado. Essa dicotomia faz com que discursos ingênuos adotem uma postura de culpabilização dos docentes, visto que parece ser somente sua responsabilidade propor mudanças na educação. No livro “Das disciplinas à indisciplina”, Chassot (2016) propõe um caminho inverso, demonstrando, por meio de uma revisão da história da Ciência, que o otimismo científico e a rigidez das fronteiras entre as diferentes ciências são construções históricas que estão arraigadas no modo de pensar (e ser) dos sujeitos ocidentais.
O autor recorre, com extraordinária capacidade de síntese e análise, aos grandes nomes da ciência - Copérnico, Lavosier, Darwin e Freud - demonstrando o quão angustiante a mudança paradigmática e as novas ideias podem ser a aqueles que a vivenciam. A fogueira que consumiu Giordano Bruno ou a repulsa de muitos contemporâneos a Darwin, são aparentes exemplos de predisposição existente ao conservadorismo, frente as mudanças nos modos de pensar. Assim, a emergência do inaudito parece despertar uma perigosa postura nostálgica. Nesse viés, o escrito de Chassot (2016) é, concomitantemente, um anúncio de esperança, uma provocação e um convite. Um chamamento para libertarmo-nos das posturas fatalistas da história, nas quais os modos de pensar a escola e a produção do conhecimento são apresentadas como transcendentais ao homem.
Mario Osório Marques afirmava que quando escrevemos convidamos alguns amigos, interlocutores com os quais conversamos. Os convidados de Chassot são de diferentes áreas, fazendo com que o seu texto seja uma porta para novas leituras. Confesso, que causaria espanto um leitor, concluir o estudo do texto, sem sentir a necessidade de ir com urgência à biblioteca em busca de Prigogione, Chrétein e Skármeta. Assim, os diálogos propostos pelo autor, além de terem uma beleza estética, acabam sendo um convite a mergulhos mais aprofundados na história da ciência, na poesia e na epistemologia.
A leveza da escrita deixa transparecer a humildade do autor e a postura empática com professores da Educação Básica. Poderíamos sintetizar a obra do como um convite a nos comprometermos com a educação indisciplinar e sermos sermos verdadeiros autores em uma revolução paradigmática que demonstra ser necessária.
Por onde devemos começar?
Após a leitura “Das Disciplinas à indisciplina”, esboço uma resposta de que ser indisciplinar implica, não apenas romper as ‘artificiais’ fronteiras que separam as áreas da ciência moderna ocidental, mas sim restaurar o caráter humano ao conhecimento científico, apostar em uma educação que conceba o indivíduo como sujeito integral - sem a separação razão/emoção, corpo/mente, promover a aproximação entre racionalidade e poesia/arte e, sobretudo, buscar um currículo que com olhe com atenção aos saberes primevos, historicamente marginalizados e colonizados pela Ciência.
Mateus Lorenzon
Professor da Rede Pública de Ensino Arroio do Meio – RS
Mestrando da UNIVATES, Lajeado RS