ANO
9 |
EDIÇÃO
2864
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Dou sequência,
hoje, à análise acerca da primazia que a Escola e da Universidade tiveram a como
ensinantes. Antes, propus aqui o estabelecimento da ‘territorialidade’ — leia-se:
a civilização europeia — na qual
aprendemos, ou melhor, o local onde a Escola e a Universidade ensinaram/ensinam.
Agora, circunscrevamos o
segundo indicador: o tempo. Trago
dois limitadores para este quando. Para
iniciar o tempo de soberania ddos dois artefatos culturais citados enquanto transmissores
do conhecimento. Escolho para iniciar o começo do século 16 e estendo
temporalmente até a virada do século 20/21. Justifico um e outro dos
balizadores extremos. Para essa mirada trago hoje acerca da do período que
proponho como o inicial.
Coloquei como ponto partida o
término da Idade Média. Justifico. Quando nos referimos à Idade Média, parece
natural nos perguntarmos por sua certidão de nascimento e seu atestado de
óbito. Todavia, mesmo que se reconheça cidadania histórica à Idade Média, não
existe nenhum registro batismal ou um dado funeral para um período de cerca de
mil anos da história da humanidade (ocidental).
Hilário Franco Junior (1994),
no apreciado A Idade Média: o nascimento
do Ocidente, diz que “se utilizássemos numa conversa com homens medievais a
expressão Idade Média, eles não teriam ideia o que isso poderia significar.
Eles, como todos os homens de todos os períodos históricos, se viam vivendo na
época contemporânea. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma
rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de darmos nomes aos
momentos passados” (p. 17).
Em A ciência através dos tempos escrevi: “A Idade Média é o milênio
transcorrido entre o término da Idade Antiga (identificado com a queda do
Império Romano do Ocidente, em 476) e o surgimento do Renascimento (ou a tomada
de Constantinopla pelos turcos, em 1453, ou, ainda, a descoberta da América, em
1492). Este período já foi chamado de "Idade Obscura" ou "Noite
de Mil Anos", e o adjetivo "medieval" (ou "medievo"),
às vezes, quer significar retrógrado ou obscuro, mesmo que se faça outra
leitura desse milênio, principalmente do seu final” (Chassot, 2014, p. 101).
Não vou fazer, aqui e agora,
uma listagem de legados da Idade Média. Chiara Frugoni (2007) escreveu um
apetitoso “Invenções da Idade Média:
Óculos, livros, bancos, botões e outras inovações”. Dar-nos conta que
Universidade, que já tem mais de 800 anos, é um legado do medievo é suficiente
para expurgar a conotação de obscurantismo para o adjetivo medieval.
Volto em outro momento para
continuar esta análise. O medievo é muito mais sedutor que muitos imaginam.
FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média:
o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1994.
FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade
Média: Óculos, livros, bancos, botões e outras inovações. Rio de Janeiro: Zahar,
2007.
Vejo a Idade Média com um olhar diferente. Vejo pessoas vivendo de forma simploria porem mais dignas. O carpinteiro ao preparar uma cadeira, certamente tinha em seu pensamento a figura de quem iria usa-la, entre outros exemplos. Haviam barbaries? Sim, certamente sempre houveram e haverão, mas o consumismo que nos domina nos dia de hoje parece-me um mal sem precedentes.
ResponderExcluirUm tempo diferente, um tempo lento. Vivia-se uma grande servidão? Certamente. Domínio do dogmatismo, supremacia do teocentrismo. Uma sociedade imóvel. Mas....talvez,.....mais feliz que o homem moderno!
ResponderExcluirQue o "medievo" é sedutor não tenho dúvidas.
Aguardando ansiosa pela continuação.
ResponderExcluirAbraços, Professor!
Um mol deles!!
=]
(...saudades...)
Excelente texto. O medioevo é minha época favorita. Somente assusto-me ao perceber grãos de areia que são um joio vindo no vácuo da ampulheta inexorável que traga tudo e todos entre futuro e passado. Lamento que nunca saberemos qual nome ganhará a horrenda épica na qual respiramos... Abraços feudais
ResponderExcluirépoca*
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