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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

29.- DAS LEITURAS FUNDAMENTALISTAS


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2880

Recebi, depois de minha fala no ENEQ, esta mensagem esta mensagem de uma colega:
Desde que comecei a reler O Tempo e o Vento, o livro me traz memórias tuas! Primeiro por narrar momentos históricos e personagens da região Sul do país, principalmente do Rio Grande do Sul... É o caso do corregedor Sepé Tiaraju, um dos chefes do exército dos Sete Povos das Missões, e que este ano apareceu em teu Blog, quando dá nome a uma escola. Também lembro porque, em tua belíssima palestra [em Ouro Preto, dia 19], há um momento em que falas sobre o feito de Lutero, de trazer o conhecimento da bíblia para os leigos através do ensino da leitura... O trecho a seguir logo me fez pensar em assuntos que nos propuseste então.
A seguir a Cristhiane, da Universidade Federal de Juiz de Fora que, de vez em vez, nos brinda comentários aqui, transcreve um primoroso excerto de Érico Veríssimo:
" O caso de Inácio - ocorrido havia poucos dias - fora verdadeiramente impressionante. Descoberto por um de seus companheiros no momento em que espiava a mulher dum amigo que tomava banho, nua, fora trazido à presença do cura, que o repreendeu severamente, pintando-lhe os horrores que sofreriam no inferno os que pecassem contra os santos mandamentos. Num dado momento, embriagado pelo próprio fervor, o Pe. Antônio repetiu - e sua voz nesse momento tinha a qualidade de esmeril - o versículo bíblico que diz “Se teu olho te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti". Tamanha fora a eloquência do cura e tão grande o arrependimento de Inácio, que o índio correra para a oficina, tomara de uma pua e com ela vazara o olho esquerdo. Com a cara lavada em sangue, e urrando de dor, procurava vazar o direito, golpeando a própria testa às cegas, quando um irmão leigo e outro índio o subjugaram. O cura teve de usar todo o seu tato para lhe explicar que, conquanto seu pecado fosse muito sério, os versículos bíblicos não deviam ser tomados ao pé da letra. Mais tarde, naquele mesmo dia, dissera a Alonzo à hora da ceia:
— Imagina tu a loucura de Lutero! Dar a Bíblia a ler aos leigos!
Alonzo olhou para Inácio, dirigiu-lhe algumas palavras de conforto e começou a afastar-se dele quando o índio o chamou:
— Padre!
— Que é?
— Quando o índio morrer ele vai para o céu?
— Se seguires os mandamentos de Deus, se fores um bom cristão, irás para o céu.
— E se eu for para o céu, Deus me dá um olho novo?

— Claro, Inácio, claro. Deus te dará um olho novo.
Um curto silêncio.
— Padre, eu quero um olho azul, como o de Pay Antônio.
— Está bem, Inácio. Reza e pede a Deus que te dê no céu olhos azuis como os de Pay Antônio.
O olho são de Inácio tornou a brilhar, mas sua face continuou séria e rígida.

A Cris adita: A arte também imita a vida. E vice versa... A loucura de Lutero, em dar-nos a ler... Ela deixou-me com muita vontade de reler o Érico. Já faz mais cerca de meio século que me emocionei com Bibiana, Ana Terra, Rodrigo Cambará... O excerto evocado ilustra muito bem o embate entre a igreja romana e as igrejas reformadas. O não acesso X o acesso aos textos sagrados.
Sou grato a Cris por me presentear com este exemplo. Parece que essa diferença foi superada, mesma que ainda hoje sejam os protestantes que têm mais acesso (=leem mais) à Bíblia apesar de aos católicos não se fazer mais restrições à leitura da bíblia. Mesmo que possamos assumir a tese luterana, há que convir que o fundamentalismo recrudesce forte entre nós e por tal não como não nos assustar com a possibilidade de Marina vir tornar-se presidente. Bisar uma Rosinha Garotinho em termos de criacionismo x evolucionismo, não está descartado.
Na edição de amanhã uma notícia de um texto aguardado.
Vale conferir. É um anúncio esperado.

3 comentários:

  1. Ola Chassot meu caro...
    Confesso que agora eu também fiquei motivado a rever a obra de Érico Veríssimo. É isso que teu blogue seguidamente tem feito comigo, motivar, mobilizar, mas principalmente, provocar.
    Abraço do JB

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  2. Mestre Chassot,
    como o Jairo sou instigado a reler Érico Veríssimo. Quase não leitura de teu blogue que não me faça instigado a leituras. O que me instigou o livro acerca de uma Ciência “Nunca Pura” de ontem. Este blogue deveria ser leitura obrigatória de todos os professores de Ciências... ele faz mais ‘formação’ que muitas jornadas com este nome.
    Mas a blogada de hoje traz preocupações. E se Marina ganhar... E reconheço que não és adepto de teorias conspiratórias, mas haverá um retrocesso em muitos ganhos mais recentes: questões como aborto, células tronco, relações homoafetivas... Vade retro Marina.
    Michaela

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  3. Amigo Mestre Chassot, realmente a leitura do seu blog suscita a divagações. Confesso que vejo na Marina um voto de protesto da atual sociedade brasileira. Vivemos um cenário de desconforto, atalho estreito para anomia. Reflito muito como diante de um mesmo problema podemos ter opiniões tão díspares. Gostaria que quando oportuno o Mestre discorresse sobre essa temática.

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