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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

UMA LIVE MUDA UMA VIDA

ANO 16  ***28/12/2022 ***   EDIÇÃO 2030

Algo inserto, de maneira imprevista no recesso, foi elaborar o relatório do terceiro ano (2021) da bolsa CAPES de Professor Visitante Nacional Sênior na Amazônia (PVNS-Amazônia). A tarefa era árdua. Busquei os relatórios do primeiro (2019) e segundo ano (2020). Então uma constatação: no primeiro ano não existe nenhuma menção à palavra live. No segundo, esta mesma palavra aparece como uma mega-estrela. Este novismo já marca o relatório de 2020, especialmente ao narrar o significado de uma data 13MAIO2020. Então, saboreava minha primeira live. Eu atendia convite da III Semana de Química da Universidade Federal do Cariri, câmpus Brejo Santo: transformar a palestra que fora agendada como presencial em uma fala virtual. Acolho o convite sem qualquer preocupação. Com muita antecipação envio a apresentação. Sou despreocupado. Cumpriria uma rotina... apenas quebrando um jejum de dois meses de vacuidade de aulas ou palestras. À véspera parece que cai a ficha (metáfora que nos remete a algo agora démodé: quando num orelhão ouvíamos cair a ficha se estabelecia a ligação). Agora, estou mais mexido.

Chega a quarta-feira. À madrugada insone. Tenho a sensação que estarei em Brejo Santo de maneira presencial. Nego à pandemia a autoridade de nos transmutar em seres virtuais. O dia se esparrama imenso.Tentava fazer de uma porção de minha biblioteca lócus que me permitisse estando aqui... estar lá. Tudo parecia exótico. O horário aprazado — 18 horas — não chegava nunca. Depois de dezenas de minutos, que pareceram horas, chego ao Cariri. Sinto-me um alienígena. 

Então uma sensação inusual: chegam comigo à UFCA mulheres e homens de todo Brasil. Foi uma sensação fantástica ‘ver’ conhecidos e desconhecidos, que identificavam sua pertença a Universidades e a Institutos Federais de todo Brasil.  Mais de meio milhar. Então não era mais um alienígena. Era, agora, um indígena na minha tribo. E logo me dizia ter vivido minha primeira live.

Lanço redes na internet e ratifico sensações: a
livecização deu certo. Mas agora o 'gostinho' se tornou uma nova realidade e as lives fizeram, então, diferente o meu fazer Educação, já de quase 60 anos. 

Na tabela que segue, se pode observar que em maio, depois da live inaugural, houve mais três. Já em junho, julho e agosto houve 12, 14 e 15. Terminava o pandêmico 2020 com 88 lives realizadas. Os números da terceira linha são os subtotais de cada um dos meses. Em 2020 a média mensal é 11. 

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

OUT

NOV

DEZ

00

00

00

00

04

12

14

15

09

11

14

09

00

00

00

00

04

16

30

45

54

65

79

(88)

 

Na tabela seguinte estão os números das 75 lives (e os subtotais) em 2021:

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

OUT

NOV

DEZ

01

03

09

04

04

08

04

08

10

06

08

10

89

92

101

105

109

117

121

129

139

145

153

163

A média mensal em 2021 ficou em 6,2. Isto é quase metade da média mensal de 2020. Parece não ser difícil explicar a redução de 11 para 6,2: primeiro os três meses (Jan/Fev/Jul) usuais de férias. Em 2020 as lives eram novidades e havia muitas ofertas (de muitos nomes famosos). Também posso referir que 2020 os meus títulos solicitados ficam disponibilizados em dois canais no YouTube. Estas lives podem ser acessadas, a qualquer dia e hora, para visualizações individuais ou para uma aula. Sei que parece ser diferente estar sendo assistido ao vivo ou em uma gravação. Isto vale para quem assiste e para quem fala. Eu recordo pelo menos uma ou duas vezes, em um mega-congresso, gravei minha fala só com uma pessoa da área técnica; a palestra depois assistida por mais de 1200 pessoas. Para mim teve diferença, pois parece ser diferente.

Contar em 31/12/2021, com 163 lives realizadas em 20 meses (cerca de 8 lives por mês ou duas por semana) é uma contribuição significativa na formação de homens e mulheres mais críticos, envolvidos na construção de um Planeta Terra mais justo.  Para plasmar este propósito trago, como prefácio e posfácio de todas as lives que participo, excertos da encíclica Encíclica Laudato Si'  que se fazem como antídoto a políticas ambientalistas, que são agressivas aos cuidados necessários do Planeta Terra, nossa casa comum.  

Qual a situação em 2022? Nesta segunda-feira, encerro janeiro com Zero lives. Vivo uma abstinência que me faz saudoso. Credito a meu recesso (de 18DEZ a 16JAN) e, mais especialmente, a tradição de janeiros feriais. 

Na terça-feira, 01FEV se reinauguram as ‘minhas’ lives: ‘estarei’ em Guaratinguetá, na EE Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes, discutindo Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Para um reinício de recuperar saudades, terei mais duas lives, na primeira semana de fevereiro: na quinta-feira, dia 3, falo desde a Universidade Federal de Viçosa, no Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Formação de Profissionais da Educação (GEPPFOR) para dialogar com a Prof. Dra. Rita Márcia Andrade Vaz de Mello sobre Para que(m) é útil o ensino? título do livro que narra minha tese doutoral. Na quinta-feira, dia 3, na Universidade Federal de São Paulo, em Diadema dialogarei com o Prof. Dr. Thiago Antunes de Souza, acerca da defesa de uma Alfabetização científica: direito universal.

Numa agenda ainda em construção (e com disponibilidade), neste fevereiro ainda estarei no IFMG no Campus de São João Evangelista, na abertura do III Colóquio de Ensino e Tecnologias Educacionais propondo uma  Alfabetização científica pré-requisitada por alfabetização digital um direito Universal.

Que tenhamos muitas lives com muitos interrogantes. Estou em oitiva, expectante.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

AGORA UMA ÁGORA RETORNA ANO 16 ***21/01/2022 *** EDIÇÃO 2029

Nosso último encontro, aqui, foi em 17 de dezembro, quando 2021 já avançava célere à reta final. Prometia-me férias até 17 de janeiro. Embalava sonhos nos reencontros familiares. Era tempos de fruição, para pensar em paradas para descansos. A agenda de lives se reinicia apenas em 01 de fevereiro. 

Em 18/12, reuni na Morada dos Afagos, depois de mais de dois anos, filhas, filhos, noras, genros, 4 netas e 4 netos. Foi um sábado memorável. Nas luminosas noites de 24 e 31 de dezembro aquietei-me para guardar distanciamentos para fazer abstinência do Covid-19.

Os dias planejados para vagabundear foram traspassados por onerosa semana dada a fazer o relatório do 3o ano como Professor Visitante Nacional Sênior no Programa de Pós Graduação de Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) na UNIFESSPA e também propostas de ações para um 4o ano.

Se em março de 2020 dizia, aqui, que deveria aprender a chorar, hoje posso dizer que não aprendemos o suficiente. Houve/há muitos mortos a chorar. E não aprendemos nunca a chorar. Já disse que há duas dimensões de perdas: as familiares e as acadêmicas. Quando nossa ágora estava silenciada, houve três perdas daquelas da segunda dimensão. Trago-as aqui menos pela dimensão universal, mas mais pela dimensão pessoal.  Aquelas tiveram adequados comentários. As dimensões pessoais são trazidas porque adensam saudades. Optei pela ordem cronológica.

Lya Luft (1938-2021) nasceu em Santa Cruz do Sul, de descendência alemã, e faleceu em Porto Alegre. Tradutora e escritora de renome. Conheci Celso Pedro Luft, enquanto Irmão Arnulfo, marista. Parece que CPL deve ter sido da última ‘safra’ de membros de diversas ordens religiosas católicas que trocavam os nomes civis por nomes religiosos (e, com o Vaticano 2o retornavam aos nomes civis). Fui colega do casal LL & CPL na FAPA, onde na sala dos professores, comentávamos as crônicas semanais acerca do mundo das palavras. Depois dos anos setenta não tive mais contatos pessoais com uma ou outro.

Amadeu
Thiago de Mello (Barreirinha, 30/03/1926Manaus, 14/01/2022) foi um poeta e tradutor brasileiro. Foi considerado um dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional. Talvez seu texto-ícone seja o poema o Estatuto do Homem, que serviu de mote na instalação da assembleia parlamentar que gerou a Constituição de 1988. Muito atual nestes penosos tempos pandêmicos. Meu momento pessoal é singular. Numa viagem Manaus/Guarulhos, Thiago Mello e eu estávamos assentados, lado a lado, em poltronas da primeira fila. Nos apresentamos e a conversação se fez madrugada. Ele escreveu no meu diário e convidou para visitar sua casa em Barreirinha. Foi um dos melhores presentes do acaso. 

EUCLIDES REDIN (1939 /2022) Nesta segunda-feira, dia 17, morreu o Mestre em Educação pela PUC/RJ (1975) e doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP (1985). Foi professor titular da UNIJUÌ/RS; da UFV/MG; da UNISINOS/RS. Com expertise na área de Educação atuou com temas: Infância, História da Criança, Educação Infantil, Políticas para a Infância, Ludicidade e Infância, Cidadania e Educação, Cidade educadora; Gestão e Orientação Educacional. Artigos publicados em revistas, jornais e livros. Autor do livro: “O espaço e o tempo da criança-se der tempo a gente brinca”, 5ª Edição, Editora Mediação Porto Alegre (2004). Era marcadamente o professor das crianças. Minha ligação com o Redin foi muito densa. Primeiro, éramos coetâneos, isso sempre faz laços. Segundo, por mais de 10 anos, nossas salas eram geminadas no Programa de Pós-graduação em Educação; isso determinava saberes partilhados. E em terceiro lugar: éramos parceiros políticos; isso nos autorizava entre-ajudas em nossas ações. Vez ou outra, ele e sua companheira Marita, minha colega no curso de pedagogia, me convidavam para irmos  a casa deles para almoçar. Ele, que fora padre, dizia que eu era o ateu mais religioso que conhecia. É fácil imaginar a tristeza que me fez encharcar a noite quente desta segunda-feira. 

Penso nos muitos colegas que perdemos nessa pandemia. Eles farão muita falta quando voltarmos a povoar as salas de professores, por ora fechadas.