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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

27AGOSTO2021.- CADÊ A SALA DOS PROFESSORES?

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EDIÇÃO

138I

Esta já é a última edição de agosto. Nossas esperanças desvanecem.  Parecem que não terão vez: as três vacâncias traumáticas ocorridas na presidência da república em agostos (1954 suicídio de Getúlio / 1961 autogolpe de Jânio/ 2016 Impeachment “constitucional” de Dilma) neste 2021 não terão uma quarta tétrica edição. Talvez, a quartelada possa ocorrer no dia 7 de setembro, quando um rei momo desmascarado anuncia que vai botar o bloco na rua em São Paulo, com policiais aposentados patrocinado pelo voraz agro. Aguardemos.

Mais de uma vez aqui, já comentei as significativas modificações que houve, quando na segunda quinzena de março de 2020, todos os brasileiros de diferentes estratos sociais se tornaram subitamente com expertise em educação à distância. Dentre todas as modificações que houve, em diferentes maneiras de se fazer diferentes serviços (por exemplo, o home office), nenhuma sofreu tantas modificações como educação. A Escola (quando grafo escola com letra inicial maiúscula estou me referindo a qualquer estabelecimento faça educação — da educação infantil à pós-graduação) nos tempos pandêmicos teve usurpados pelo menos dois espaços tradicionalmente importantes, que desapareceram na nova maneira de fazer educação no Brasil: não existem mais a sala dos professores e nem espaço de recreio ofertado aos alunos.

A sala dos professores era (sim! o tempo verbal é passado) o local onde se comentava política, religião, futebol, namoros... especialmente os professores comentavam acerca dos alunos. Assim como no futebol, os 15 minutos secretos de intervalo entre o primeiro e o segundo tempo podem mudar um jogo, também o espaço privilegiado da sala dos professores podia mudar a aula que seria dada após o recreio. Não raro professores e alunos se transmutavam no sempre breve tempo de recreio.

Mas sabemos ser alternativos. Importamos uma excelente prática da educação infantil (que eu curtia espiar, quando meus filhos estavam nessa etapa da escolarização): a hora da rodinha. Esta é catapultada desde o Jardim da Infância à pós-graduação. Os resultados têm sido excelentes. A hora da rodinha passa a ser excelente antidoto para necessidades que alunos e professores têm de conversar com aqueles que são seus pares na sala de aula ou nas sessões de orientação. Contar que foram vacinados, falar de uma mãe levada a óbito ou da tia infectada com covide-19. Ou narrar a receita ensinada pela avó para eliminar pragas de piolho ou contar do filme ou do livro que está lendo ou comentar a série. Tudo isso em breve tempo (menor 20 a 30 minutos) antes de anunciar ‘o assunto da aula de hoje, como vocês têm anunciado no plano de ensino é...’ Isto, antes de cada aula tem sido boa solução para situações de alunos que por exemplo estão lado a lado na foto e nunca se viram pessoalmente. Agora há espaços para quaisquer assuntos.

Há não muito, um doutorando disse que essa tal de hora da rodinha é só para falar mal do governo. Uma boa maneira de calá-lo é oferecer-lhe a oportunidade de falar bem do governo.

Nas aulas (em qualquer nível da escolarização) e mesmo nas sessões de orientação a hora da rodinha (individuais ou coletivas) a hora da rodinha é exitosa. Experimente e verás resultados. Se quiser narrar sua experiência aqui há espaço;

Parece que devolvemos à Escola algo da sala dos professores e da hora do recreio. Isto parece ser excelente. Por tal, experimente.

Faço desta edição um ofertório à profa. dra. MANUELLA VILLAR AMADO do EDUCIMAT do IF Espírito Santo, que assumiu comigo uma parceria em um seminário com hora da rodinha do curso de doutorado

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

20AGOSTO2021.- UM PAÍS DE FAMINTOS, DE NOVO!

ANO
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EDIÇÃO

1380

Na edição de 13AGOSTO2021 posterguei comentários acerca do triste retorno do Brasil ao mapa da fome em consequência dos desmandos dos governos Temer e Bolsonaro. Busco, agora, cumprir aquela agenda. A edição de agosto do Extraclasse —jornal mensal do Simpro RS — apresenta uma entrevista com a economista e doutora em Saúde Pública Tereza Campello, professora visitante da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e titular da cátedra Josué de Castro, voltada a sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.

Trago excertos da entrevista — a íntegra merece leitura em www.extraclasse.org.br — que avalia o atual quadro de insegurança alimentar que, em diferentes graus, atinge 121 milhões de brasileiros. “É um paradoxo nós sermos um grande produtor de alimentos e voltarmos à fome, mesmo expandindo a produção. O Brasil aumenta os seus lucros com a exportação de arroz e falta arroz no prato dos brasileiros. Tem o agronegócio com uma lucratividade esplendorosa e um desemprego gigantesco no país!” É importante dar-nos conta que a situação é dramática e tem que ser enfrentada. Segundo a entrevistada há dois equívocos: o primeiro deles é que, em geral, se atribui o retorno do Brasil (ao Mapa da Fome) à tragédia do coronavírus. Isso está errado.

O Brasil já tinha voltado ao Mapa da Fome em 2017, 2018, no governo Temer, por conta do desmonte e da desorganização de um conjunto de políticas públicas. A primeira medida do governo Bolsonaro foi extinguir o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar). O segundo erro crasso é tratar da fome e, ato contínuo, falar da filantropia, da solidariedade; fazer chamamentos para que a sociedade, a população, doe alimentos. Essa solidariedade, principalmente entre iguais – porque, em grande medida, tem sido prestada pela população pobre, da periferia – seja importante e deve ser louvada, nós não resolveremos nem 1% do problema da fome no Brasil, que é gigantesco, com solidariedade e filantropia. Somente políticas públicas são capazes de enfrentar uma mazela desse tamanho.

Tereza Campello afirma: Nós estamos falando de cerca de 50 milhões de pessoas que não comem o suficiente por dia. Que só conseguem uma refeição por dia, ou só comem arroz ou só comem farinha. É uma Argentina inteira que precisa ser alimentada. Dessa população, 20 milhões, provavelmente 25 milhões hoje, em situação de fome. Temos dados somente de dezembro de 2020. Hoje, a situação deve estar bem mais grave porque passamos praticamente quatro meses sem nenhum suporte do governo: isso não é resolvido com filantropia e solidariedade. Somente com políticas públicas continuadas, permanentes, com escala e com abrangência nacional.

Por que o país voltou ao Mapa da Fome? Para entender por que nós voltamos para o Mapa da Fome, há que entender por que nós saímos. Não foi natural a nossa saída do Mapa da Fome. O Brasil saiu graças a um conjunto de políticas públicas que permitiram que se enfrentasse a pobreza e a fome. A FAO lista cinco dessas políticas que foram estratégicas. A primeira delas é garantir prioridade no orçamento para essa agenda de soberania, segurança alimentar e combate à fome. Então, não é uma política, não são duas políticas. É um conjunto e o governo todo, inclusive estados e municípios, dedicados a isso. Outra questão é que o Brasil é um histórico produtor de alimentos, exporta, é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. No entanto, convivia com este país e voltou a conviver com este país que produz e exporta alimentos uma população gigantesca que passa fome. Não é por falta de potencial ou capacidade de produzir alimentos. É porque o povo não tinha acesso a esses alimentos. Acesso significa renda. Acesso significa outras formas de se chegar a esses alimentos. [...] É um grande paradoxo nós sermos um grande produtor de alimentos e voltarmos à fome, mesmo expandindo a produção. O Brasil aumenta cada vez mais os seus lucros com a exportação de arroz e falta arroz no prato dos brasileiros. Você tem o agronegócio com uma lucratividade esplendorosa e um desemprego gigantesco no país. Se tem a impressão do PIB melhorando. Mas está melhorando para quem? Somente para um setor que não gera empregos hoje e que não alimenta a população. A população não se alimenta de soja, de milho e de açúcar, que é o que, em grande medida, nós produzimos no agronegócio brasileiro. Os mais variados discursos sustentam que a economia do Brasil é salva pelo agronegócio. Quem produz a comida que os brasileiros come é agricultura familiar. Esta diferentemente do agronegócio produz empregos.

Esta edição do blogue é dedicada ao meu amigo e colega Edni Oscar Schroeder, o meu herói quando reflito acerca da segurança alimentar



sexta-feira, 13 de agosto de 2021

13AGOSTO2021.- UM CONVITE MUITO ESPECIAL


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EDIÇÃO

1379

Esta já é a segunda blogada de agosto. Uma das razões para este mês ser conhecido como o mês do desgosto: três presidentes da república deixaram o cargo de maneira abrupta. (Vale ver a edição anterior). Seria bom se neste agosto um quarto presidente fosse acrescentado a esta lista.

Já havia assunto agendado para esta edição: o triste retorno do Brasil ao mapa da fome em consequência dos desmandos dos governos temer e bolsonaro. Se alguém perguntasse quando é feita a agenda do blog eu diria, lembrando problema recorrente apresentado por minha mãe depois da janta: não sei o que eu vou cozinhar amanhã! Ter a cada dia comida para alimentar 7 pessoas não era trivial. Quando posto o blogue às sextas-feiras emerge a interrogação: qual será o assunto da próxima edição?

 Ontem, à noite, dei ouvido ao Poeta: cesse tudo que a musa antiga canta, pois valor mais alto se alevanta (Luís Vaz de Camões: Os Lusíadas, Canto I, estrofe 3). Recebi uma mensagem que muito me emocionou e por tal compartilho com leitoras e leitores.

Olá, Professor, tudo bem? Continuo trabalhando na E.E.E.F Marcelo Gama (Jacuí, Restinga Sêca). Neste ano, em razão da pandemia, as aulas vêm sendo realizadas de “forma híbrida”. Na tentativa de utilizar as potencialidades das tecnologias e estratégias de aprendizagem ativa, iniciamos o segundo semestre com um Projeto de resgate da história das localidades da região de abrangência da Escola. Como “produto final” do trabalho, os alunos manifestaram a ideia de registrar e compartilhar histórias e descobertas sobre “o lugar em que vivo”. Ao comentarmos sobre experiências de autoria e as inúmeras possibilidades, me perguntaram se eu “conhecia alguém que já escreveu um livro” e tivemos a ideia de entrar em contato.

Abaixo o “texto coletivo" escrito para enviar por email: “Boa tarde, Professor Attico! Somos Alunos do 4º e 5º Ano, uma turma multisseriada da Escola Marcelo Gama, localizada em Jacuí, Restinga Sêca. Neste ano, alguns colegas vêm para a Escola de forma presencial, outros participam das aulas online pelo Google Meet. Estamos utilizando as tecnologias para aprender de maneira diferente. Já entendemos que, mesmo estudando em lugares diferentes, podemos aprender juntos. Ao mesmo tempo em que vamos conhecendo as diferentes ferramentas, pesquisamos, apresentamos, interagimos e temos muitas ideias. Como atualmente a nossa escola recebe alunos de várias localidades vizinhas, estamos pesquisando sobre as histórias das nossas comunidades e ouvindo relatos de pessoas que viveram em outros tempos por aqui. Ficamos felizes quando a professora nos contou que conhecia um professor, que já estudou em nossa escola, é autor de livros e ainda tem um blog. Mesmo sem lhe conhecer, sua história nos encantou. Nós também gostamos muito de ler e temos o sonho de escrever as nossas próprias histórias. Tivemos a ideia de enviar este email perguntando se o senhor poderia colaborar com a nossa pesquisa contando algumas histórias de Jacuí, enviando algumas fotos... ou compartilhar com a gente um pouquinho da sua experiência sobre como começou a escrever seus livros. Imaginamos que o Senhor tenha muitos compromissos e atividades. Caso não seja possível, entenderemos. Mas, seria uma experiência muito interessante se pudéssemos nos comunicar de alguma forma: por email ou quem sabe uma “roda de conversa” pelo Google Meet? E, claro, será um prazer lhe receber, quando for possível, para uma nova visitinha presencial em nossa escola. "Abraço!” Atenciosamente, Alunos do 4º e 5º Ano e Professora Aline.

Não precisei pensar muito: a resposta é um retumbante sim! Quero convidar, para já sonhadas parcerias, à professora Aline e seus alunos quarto e quinto anos da escola onde há 74 anos fui alfabetizado, frequentando-a de março a agosto de 1947.

Prenhe de sonhos há que os gestar virtual e presencialmente. Vamos à Jacuí. Nos encontramos na Marcelo Gama. Expectante.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

06AGOSTO2021.- Em um agosto expectante

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EDIÇÃO

1378

Já é, mais uma vez, uma primeira blogada de agosto. É o mês que saberes populares

souberam — com certo bom gosto — aproveitar uma rima tosca e rotular com adequação: agosto, o mês do desgosto, também na imagem de Renato Fontes.

No Brasil político — não raro de difícil compreensão para nós outros que não ascendemos a palácios do Planalto — há pelo menos três viradas que poderiam ter uma sequenciação no mesmo cargo: 1954— suicídio de Getúlio Vargas/ 1961— renúncia de Jânio Quadros/ 2016— Impeachment de Dilma Rousseff/ 2021— xyz de Bolsonaro.

Vale reler o que nesse blogue se publicava há dois anos: do Extraclasse, publicação mensal do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul Sinpro/RS transcrevia “A mistura de ignorância, obscurantismo, boçalidade e grotesco desafia a própria linguagem para definir Bolsonaro e seu séquito”.

Ainda em 02/AGOSTO/2019 trouxe de Eliane Brum (se tivesse que escolher ler apenas um jornalista, seria ela a escolhida) na edição brasileira do El País: “Jair Bolsonaro é um perverso. Não um louco, nomeação injusta (e preconceituosa) com os efetivamente loucos, grande parte deles incapaz de produzir mal a um outro. O presidente do Brasil é perverso, um tipo de gente que só mantém os dentes (temporariamente, pelo menos) longe de quem é do seu sangue ou de quem abana o rabo para as suas ideias. Enquanto estiver abanando o rabo – se parar, será também mastigado. Um tipo de gente sem limites, que não se preocupa em colocar outras pessoas em risco de morte, mesmo que sejam funcionários públicos a serviço do Estado, como os fiscais do IBAMA, nem se importa em mentir descaradamente sobre os números produzidos pelas próprias instituições governamentais desde que isso lhe convenha, como tem feito com as estatísticas alarmantes do desmatamento da Amazônia. O Brasil está nas mãos deste perverso, que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas. Submetidos a um cotidiano dominado pela autoverdade, fenômeno que converte a verdade numa escolha pessoal, e portanto destrói a possibilidade da verdade, os brasileiros têm adoecido. Adoecimento mental, que resulta também em queda de imunidade e sintomas físicos, já que o corpo é um só”.

E... já é agosto de novo. Nesta semana este blogue fez 15º aniversário. Esta é a primeira edição do ano 16, Nem sei avaliar se o mágico fluir do tempo é moroso ou é rápido. Não raro me desligo de Cronos. Me parece mais tranquilo me entregar Kairós, que na mitologia grega, é o deus do tempo oportuno. Cronos é por demais rigoroso no controlar o tempo e pode, não raro, ser dispensado nestes tempos pandêmicos.

Talvez, agosto nos presenteie com algo de bom gosto. Quando sextarmos de novo será 13 de agosto... Expectante.