TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

30.— UM ÍCONE: PARA DESPEDIR SETEMBRO.


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Uma pergunta para abrir uma blogada: Por que hoje é oDia da secretária’, ‘Dia do tradutor’ e o ‘Dia do bibliotecário’? Uma resposta erudita (que oportuniza uma classificação recorrente que recebo neste blogue, carola): hoje é dia do celestial patrono dos três importantes (e correlatos) grupos profissionais: Jerônimo de Estridão. Convenhamos, uma resposta quase hermética, mesmo que acrescentasse que este patrono na Umbanda foi sincretizado como Xangô, orixá da justiça, do relâmpago, do fogo, da pedreira.
Todavia, se disser que hoje é dia de são Jerônimo, por extensão, entre algumas denominações cristãs, o Dia da Bíblia, acredito que já tenha migrado, um pouco, do esoterismo ao exoterismo, até porque não sei quanto dos meus leitores viajam com esta informação ao começo do medievo para encontrar, então, a operosa e variada vida do patrono de município da região metropolitana de Porto Alegre, que assiste o encontro do Taquari com o Jacuí.
Hoje é dia festivo de um dos santos que tem uma muito significativa produção. Veja-se as três importantes profissões pós-modernas, que ele abençoa, e que as desempenhou com garbo há 1.600 anos antes do presente.
São Jerónimo (português europeu) ou Jerônimo (português brasileiro), nasceu em Estridão na Ilíria (= Terra dos Livres, na região da Dalmácia, hoje Croácia), entorno do ano 347 e morreu em Belém, em uma cela monástica, junto à gruta onde teria nascido Jesus, em 30 de setembro de 420. Nascido como Eusébio Sofrónio Jerónimo (em latim: Eusebius Sophronius Hieronymus; em grego: Εσέβιος Σωφρόνιος ερώνυμος). Foi um padre e apologista cristão. Sua família era rica, culta e de raiz cristã. Na ilustração: São Jerônimo, por Domenico Ghirlandaio, da Wikipédia.
Após a morte dos pais, com a herança que lhe coube Jerônimo foi morar em Roma. Lá, estudou retórica e oratória, com os melhores mestres da época.
Apesar de vir de uma família cristã, Jerônimo ainda não tinha sido batizado. Só aos vinte e cinco anos ele tomou uma decisão e pediu o batismo. Foi batizado pelo Papa Libério. Então, sentiu o chamado para a vida monástica dedicada à oração e ao recolhimento e ao estudo. Foi quando encontrou monges que viviam na Gália, atual França, para onde se transferiu. Incorporou-se a uma comunidade dedicada ao estudo da Bíblia e das obras de teologia.
Jerônimo tinha um temperamento forte e radical. Por isso, foi procurar o deserto. No deserto, entrava num ritmo de orações e jejuns tão rigorosos que quase chegou a falecer. Tempos depois de se fortalecer no deserto, ele foi para Constantinopla, segunda capital do império romano. Lá, se encontrou com São Gregório. Este lhe encantou com o estudo das Sagradas Escrituras.
Então Jerônimo decidiu dedicar sua vida ao estudo da Palavra de Deus, para transmitir o cristianismo em sua máxima fidelidade, ao maior número de pessoas passível. Por esta causa estudou hebraico e grego. Seu objetivo era compreender as escrituras nas suas línguas originais.
A fama da cultura e sabedoria de Jerônimo se espalhou e chegou até Roma. O Papa Damaso o chamou e o fez seu secretário pessoal e lhe deu a missão de traduzir a Bíblia para o Latim, a língua ainda corrente entre o povo no Império Romano.
A realização desta tradução de Jerônimo, conhecido como a Vulgata, pois era acessível ao povo, exigiu vários anos, pois ele procurava, em cada versículo, a tradução mais fiel possível aos textos originais. Essa tradução se tornou a base da tradução bíblica da igreja romana. Foi aprovada como a palavra de Deus, mais de mil anos depois no Concílio de Trento (1545 a 1563), para marcar diferenças com traduções feitas por Lutero, em decorrência da Reforma Protestante de 1517.
Terminado o extenso trabalho de produção da Vulgata, Jerônimo foi morar em Belém onde retomou uma vida de reclusão. Morreu com quase 80 anos.
Trancrevo um excerto do que escrevi, há 20 anos, na p. 104 de A ciência através dos tempos acerca de São Jerônimo: “Considerado o maior conhecedor de latim de seu tempo (além de grego e hebraico), fez de sua versão da Bíblia algo agradável de ser lido, podendo ser considerado, na difusão de obras escritas, um ‘proto-Gutenberg’.” Hoje, sem diminuir minha admiração, talvez o chamasse de um ‘proto-Lutero.’

domingo, 29 de setembro de 2013

29.— É TRISTE... DESIGUALDADES AUMENTAM

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Um domingo para pré-despedir um setembro que passou voando. Tenho programada uma blogada especial para ‘o último dia setembrino’. Aguardem. Esta domingueira sabe a ressaca de um sábado movimentado.
Já era 01h quando cheguei de minha maratona amazônica encerrada com dois trechos Manaus/Confins/Porto Alegre de 3h45min+2h30min, tendo no último um papo original com uma doutora em gafanhotos.
Depois das aulas da manhã era natural que tarde houvesse uma sesta reparadora. Esta foi sucedida por amável convite para um café feito pelo Bernardo e Carla, onde curti muito a Betânia quase fazendo nove meses.
Mas, num sábado chuviscoso, depois de três dias ausente, exige leituras de jornais. Nestes o destaque foi para a divulgação de pesquisa do IBGE resultante dos resultados da PNAD/2013 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Os indicadores não dão azo a euforias.
A pesquisa anual que investiga as características socioeconômicas dos brasileiros detectou que a queda do analfabetismo e a desigualdade, conquistas marcantes nas últimas duas décadas, foi interrompida em 2012. A melhora na distribuição de renda foi estancada porque a remuneração dos mais ricos cresceu num ritmo superior à dos mais pobres. Alguns analistas interpretaram o dado como um sinal de que as políticas de transferência de renda estejam próximas do esgotamento, tese refutada pelo governo.
Também chamou a atenção a constatação de que a diferença entre os salários de homens e mulheres voltou a crescer no país.
O levantamento, feito pelo IBGE, também mostrou que a taxa de analfabetismo parou de cair após 15 anos. Isso aconteceu principalmente entre os brasileiros com mais de 40 anos. O envelhecimento da população, segundo especialistas, deve tornar a redução dos analfabetos uma tarefa mais difícil. A boa notícia é que essa taxa é cada vez mais baixa entre jovens. Outro dado positivo foi aumento dos anos de estudo desse mesmo grupo.
A PNAD também traz importantes revelações dos hábitos de consumo das famílias. A mais curiosa: já são maioria no país os domicílios que usam o celular como o único telefone de casa. Outro destaque foi o aumento das famílias que possuem carro, num momento em que pega fogo o debate sobre o transporte público.
Trouxe aqui apenas um amargo aperitivo resultado de algumas miradas da PNAD/2012. Os jornais de ontem são pródigos em análises. Também em www.ibge.gov.br há detalhadas informações. Esta aí um boa pedida para este dito primeiro domingo de primavera 2013.

sábado, 28 de setembro de 2013

28.— BARREMOS MURDOCH!

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Quando o sábado estiver começando, estarei finalizado minha viagem de retorno à Porto Alegre, para nesta manhã envolver-me no seminário Reabilitação e Educação no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA. Esta edição foi prepostada ainda em Manaus, ao encerrar mais uma produtiva jornada amazônica que envolveu a tarde de quarta-feira, a quinta-feira e a manhã de sexta-feira, com palestras e orientações.
Nesta edição sabática cabe uma densa reflexão: Dentro de algumas horas, importantes cientistas do mundo vão divulgar o mais importante estudo das últimas décadas: ele prova, de uma vez por todas, que as mudanças climáticas são uma enorme ameaça, mas que uma ação dos nossos governos ainda pode impedir a catástrofe. É um alerta para salvar o nosso planeta, mesmo quando as grandes petroleiras e empresas de energia têm um aliado que está impedindo a verdade de vir à tona.
Rupert Murdoch, o barão da mídia, é dono de centenas de veículos de comunicação, incluindo a rede ultra-conservadora de notícias Fox News e o Wall Street Journal. Ele está usando sua influência sobre os meios de comunicação para ajudar seus parceiros na indústria petroleira a impedir que governos diminuam os lucros destas empresas. Somente nos EUA, cerca de 80% — um índice absurdo — das notícias sobre mudanças climáticas em jornais de Murdoch induzem os leitores ao erro no que diz respeito ao aquecimento global! Agora ele quer fazer o mesmo com esse estudo inovador.
Batalhas estas são vencidas ou perdidas no tribunal da opinião pública. Esta sendo produzida uma petição global de proporções gigantescas em apoio à verdade no debate das mudanças climáticas.
Vamos apelar a Murdoch agora e persuadi-lo a recuar em seu ataque contra a ciência e publicar apenas a verdade. Vamos nos unir uma vez mais ao Avaaz e espalhar esta campanha.
O estudo do IPCC, escrito por 2 mil cientistas, vai ser a maior prova do aquecimento global dos últimos anos. Ele afirma que o aquecimento global é, de forma inequívoca, provocado pela humanidade e que é preciso que os governos ajam imediatamente para evitar o impacto que essas mudanças podem causar na Terra por meio de secas, tempestades, aumento do nível do mar e derretimento do gelo e das calotas polares. As mudanças climáticas vão afetar tudo, começando pelos recifes de corais e passando por nossas safras de alimentos, os mares, as cidades costeiras, tudo!
Vamos fazer com que a imprensa global publique a verdade, acabe com o falso debate em torno das mudanças climáticas e comece a batalha para por um fim ao aquecimento global. Vamos assinar a petição e desmascarar Murdoch:
Se nos unirmos, conseguiremos calar os absurdos que estão sendo divulgados e salvar o futuro dos nossos filhos e netos, mas precisamos vencer a batalha agora mesmo.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

26.—DUAS SINGULARES UNIVERSIDADES AMAZÔNICAS

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M A N A U S — A M
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 2545


A edição hebdômada que circula as quintas-feiras é, uma vez mais, postada de Manaus. Este blogue, em mais de sete anos já foi postado de 25 das 27 unidades federadas (não estive ainda no Acre e no Amapá) e, entre todas as capitais, excetuada Porto Alegre, é Manaus a cidade mais recorrente. Ainda este ano estarei aqui nos meses de outubro e novembro.
Deixei o frio dos pampas para viver um pouco do úmido calor amazônico de quase 40ºC. Vim em um voo prático: Porto Alegre/Confins/Manaus. Mesmo que por cerca de sete horas se fica confinado em assento apertado, há vantagens de não se precisar trocar de aeronave. No segundo trecho, com duração de três horas, vencendo leis físicas acerca da ocupação de lugar dos corpos no espaço, consegui organizar as duas apresentações de hoje, no notebook. Ainda na tarde de ontem tive orientações ligadas a Rede Amazônica de Ensino de Ciências.
Hoje falo nas duas mais importantes universidades amazônicas: Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a tarde na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
A UFAM ostenta um título conhecido de pouco: é a instituição de ensino superior pública, considerada a mais antiga do Brasil, pois se originou da Escola Universitária Livre de Manáos, criada em 17 de janeiro de 1909. Mesmo com a extinção da Escola, permaneceu a Faculdade de Direito, que deu continuidade à atual UFAM. O fato foi registrado em 1995 no Guinness Book, o livro de recorde. A maior universidade do estado do Amazonas e da região norte do Brasil tem 65 cursos de graduação. Com campi em lugares distantes e/ou de difícil acesso como Parintins, Coari, Itacoatiara, Benjamin Constant, Humaitá. Pelo menos dois destaques ao campus de Manaus: um dos maiores e mais lindos, pois incrustrado na floresta amazônica e outro a grande extensão de sua área territorial.
É neste lindo recorte de floresta que hoje, uma vez mais, vivo o privilégio de falar, em uma atividade dos estágios das licenciaturas.
A tarde na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) estarei em mesa-redonda com Deputado José Ricardo Wendling (presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Amazonas) e a Prof. Dra. Carolina Brandão para discutirmos a disseminação da alfabetização científica. O evento ocorre no 3º SECAM (Simpósio de Educação em Ciência na Amazônia). Em 2011 fiz a fala de abertura da 1ª edição do SECAM. Esta atividade ocorre em uma das universidades estaduais mais dinâmicas que conheço no Brasil: a UEA, uma instituição de ensino vinculada ao Governo do Estado do Amazonas. 
A UEA oferece mais de 30 cursos distribuídos em dezessete cidades amazonenses (Manaus, Parintins, Presidente Figueiredo, Itacoatiara, Carauari, Tabatinga, Tefé, Lábrea, Boca do Acre, Coari, Eirunepé, Humaitá, Manicoré, Manacapuru, Novo Aripuanã, Maués e São Gabriel da Cachoeira). É a maior universidade brasileira multicampi. No segundo semestre de 2012 foi apresentado o projeto da Cidade Universitária da Universidade do Estado Amazonas que agregará todas as unidades acadêmicas em um único Campus, a Cidade Universitária será construída na Cidade Iranduba, na região Metropolitana de Manaus, sob uma área de 13.000m² e alojamento para 2 mil alunos vindos do interior do Estado, e ainda residenciais, shoppings, comércio, serviços públicos, eixos viários, áreas de lazer e de turismo, entre outros elementos.
Na convivência com docentes e discentes da UFAM e da UEA — duas singulares universidades amazônica se tece minha quinta-feira.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

25.— POR QUE SONHAMOS?


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Esta quarta-feira se anuncia gélida e úmida. Há previsão de neve para algumas regiões do Rio Grande do Sul. Uma vez mais, há uma dissonância — algo bastante comum — nos calendários planetário (este diz ser primavera) e o meteorológico (que reedita dias invernosos). Esta semana, ao iniciar minhas aulas, constrangi-me no formular votos de ‘feliz primavera’ aos meus estudantes.
Mas não é fugar do frio que me faz voar esta manhã cerca de 4,5 mil quilômetros. Deixo Porto Alegre às 6h30min e às 12h (= 13h BSB) devo estar chegando em Manaus, já com atividades previstas para a parte da tarde. Amanhã pela manhã tenho uma fala na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a tarde na Universidade do Estado do Amazonas. Deixo Manaus na tarde de sexta-feira. O relógio já terá avançado no sábado  quando chegar a Porto Alegre.
A edição deste blogue de 4 de setembro foi apoiada no livro que está sendo lançado na Inglaterra The 20 big questions in Science, anunciado pelo The Guardian# de Londres.
Permito-me trazer, uma vez mais as vinte questões apresentadas novo livro que são realmente instigantes:
1 De que é feito o universo?
2 Como a vida começou?
3 Será que estamos sozinhos no universo?
4 O que nos torna humanos?
5 O que é a consciência?
6 Por que sonhamos?
7 Porque existem coisas?
8 Existem outros universos?
9 Onde é que vamos colocar todo o (dióxido de) carbono?
10 Como é que vamos conseguir mais energia do sol?
11 O que há de tão estranho sobre números primos?
12 Como é que vamos vencer as bactérias?
13 Podemos ter computadores cada vez mais rápidos?
14 Será que algum dia se poderá curar o câncer?
15 Quando poderei ter um robô como mordomo?
16 O que há no fundo do oceano?
17 O que há no buraco negro?
18 Podemos viver para sempre?
19 Como é que vamos resolver o problema da população?
20 É possível viajar no tempo?
Destas questões já trouxe especulações acerca de duas: a número 18, na referida edição de 4 de setembro. No dia 6, se comentou aqui acerca dos estranhos números primos.
Nesta segunda-feira, recordamos 74 anos da morte de quem lançou algumas pistas a respostas da pergunta número seis: Por que sonhamos? E em homenagem a Sigmund Freud, um dos homens mais importantes de nosso século 20, falecido a 23 de setembro de 1939, trago o comentário (em tradução livre) e ‘simplificada’ do The Guardian a referida pergunta:
Passamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo. Considerando quanto tempo fazemos isto, poderia se pensar que nós sabemos tudo sobre o sono (e os sonhos). Mas os cientistas ainda estão à procura de uma explicação completa do porquê nós dormimos e sonhamos. Os adeptos dos pontos de vista [de uma primeira interpretação] de Sigmund Freud acreditavam que os sonhos eram expressões de desejos insatisfeitos — muitas vezes sexual — enquanto outros se perguntam se os sonhos não são nada mais que emissões aleatórias de um cérebro dormindo. Os estudos em animais e os avanços nas imagens cerebrais nos levaram a um entendimento mais complexo: sugere-se que sonhando poderíamos ativar ações na memória, como o aprendizado e as emoções. Os ratos, por exemplo, parecem capazes de reproduzir em vigília sonhos, onde realizam experimentos que os ajuda a resolver tarefas complexas, como navegar labirintos.
Há muitas explicações para buscar para desvendar o nosso sonhar. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

23.— NÃO SÓ A CIÊNCIA É MASCULINA

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Já circula a sexta edição de A Ciência é masculina? É, sim senhora! Para comemorar brindo a meus leitores com o texto Por que as mulheres legitimam a dominação masculina? que o filósofo Antonio Ozaí da Silva, professor da UEM, publicou neste 22 de setembro no muito apreciado blogue: http://antoniozai.wordpress.com
…é ainda mais surpreendente, que a ordem estabelecida, com suas relações de dominação, seus direitos e suas imunidades, seus privilégios e suas injustiças, salvo uns poucos acidentes históricos, perpetue-se apesar de tudo tão facilmente, e que condições de existência das mais intoleráveis possam permanentemente ser vistas como aceitáveis ou até mesmo como naturais” (Pierre Bourdieu)[1]
Sou do tempo em que era comum guardar páginas e recortes de jornais e revistas. Hoje, organizamos arquivos em pastas no computador. Ainda assim, mantenho o hábito de guardar textos das revistas que recebo para leitura posterior. Termino por aumentar a pilha de papéis, pois o envolvimento com a rotina e a urgência de outras prioridades fazem com que a tarefa fique relegada ao futuro incerto. Não obstante, na minha desorganização organizada encontro tempo para dar conta das pendências. Então, termino por me surpreender com as coisas que guardo: umas nem fazem mais sentido, pois eram conjunturais e o tempo anulou a motivação; outras, simplesmente deixam de despertar o interesse – o que me faz pensar no tempo que consumimos com algo que nos parece muito interessante em determinados contextos da vida, mas que, passado o momento, dilue-se e torna-se descartáveis. Mas, há aqueles assuntos que, infelizmente, permanecem atuais. Seria melhor que também eles tivessem perdido o sentido de ser. A realidade, contudo, teima em persistir.
Manuseio os papéis empilhados sobre a mesa e deparo-me com uma matéria da revista Retrato do Brasil cujo tema é a situação das mulheres na Arábia Saudita. O título chama a atenção: “Elas querem a direção”.[2] Inicio a leitura e fico abismado! O texto informa que naquele país, em pleno século XXI, as mulheres são proibidas de dirigir automóveis! A segregação sexual é a norma na sociedade, as mulheres não podem comparecer aos tribunais e o direito ao divórcio depende de uma declaração do marido. Além disso, toda mulher é tutelada por um homem (pai, irmão ou marido). Tais “guardiões” influenciam suas escolhas em todas as esferas da vida.
Fico ainda mais perplexo ao ler o depoimento de mulheres que apoiam a tutela masculina – o que ilustra bem a complexidade da questão de gênero, na medida em que lá, como aqui, as mulheres introjetam os valores considerados machistas e reproduzem-nos como esposas, mães, etc. Em reportagem no The New York Times, publicada em maio de 2010, a jornalista Katherine Zoepe relata a história de Rowdha Yousef: “Com 39 anos, divorciada, mãe de três filhos, ela atua como conselheira voluntária em casos de abusos domésticos. Na conversa com a jornalista, Rowdha se mostra ativista contra as ideias libertárias. Com 15 outras mulheres, ela iniciou na internet a campanha denominada “Meu guardião sabe o que é melhor para mim”, que, em dois meses, conseguiu uma petição solicitando ao rei “punição para aqueles que pedem por igualdade entre homens e mulheres, mistura de homens e mulheres em ambientes mistos e outros comportamentos inaceitáveis”. Rowdha diz que as mulheres que querem acabar com a tutela têm problemas pessoais com os homens. “Se ela está sofrendo por causa de seu guardião, pode recorrer à corte da Sharia [código de conduta religiosa] e pedir a substituição por alguém mais digno de confiança”.[3] Noura Abdulrah, a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial na Arábia Saudita, também defende a tutela masculina: “Como mulher saudita, quero ter meu guardião. Meu trabalho requer de mim ir a diferentes regiões da Arábia Saudita e, durante minhas viagens, sempre levo meu marido ou meu irmão. Eles não solicitam nada em troca – eles somente querem estar comigo”.[4]
Estamos no século XXI, mas as trevas de regimes políticos conservadores-teocráticos persistem como se fossem naturais. A fusão do Estado com uma concepção estreita e intolerante da religião são os pilares que sustentam a exclusão das mulheres e perpetuam a dominação masculina. Mas também devemos considerar os valores e costumes arraigados na sociedade, cuja influência é tão forte que conquista a legitimação até mesmo das mulheres. Como explicar isto? O que diz o multiculturalismo e o feminismo? A realidade social é bem mais complexa do que os nossos ismos!
[1] BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. RJ: Bertrand Brasil, 2005, p. 7.
[2] Ver SARTORI, Armando. “Elas querem a direção”. Retrato do Brasil, nº 49, agosto de 2011.
[3] Idem, p. 18.
[4] Idem, p. 19-20.

domingo, 22 de setembro de 2013

22.—FELIZ PRIMAVERA/OUTONO

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Hoje, em dimensões planetárias, ocorre algo igual no Hemisfério Sul e no Hemisfério Norte, que só acontece duas vezes a cada ano. No Planeta Terra o dia e a noite, hoje, têm a mesma duração: 12 horas. Nós aqui vivemos o equinócio (= noite e dia de igual tamanho) de Primavera, enquanto no Hemisfério Norte ocorre o equinócio de Outono.
Aqui, a partir de amanhã, cada dia vai escurecer mais tarde e clarear mais cedo. No Hemisfério Norte ocorrerá o contrário, a cada dia, as horas de sol serão menores e as noites maiores. Isto acontecerá até 23 de dezembro, quando teremos: nós o dia maior, e no Norte a noite maior, para a partir de então haver uma inversão, até 23 de março, quando teremos novo equinócio (de outono no Sul; de primavera no Norte).
Calendários astronômicos marcam para este domingo, às 17h40min o inicio da primavera/outono em cada um dos dois hemisférios.
Este sábado de chuvas continuadas na região sul não prognostica um dia primaveril para manhã. Isto é os calendários meteorológico e astronômicos são dissonantes. Não foi sem razão que na noite deste sábado, tivemos uma curtição de lareira para despedir a última noite de inverno de 2013. Este foi, por aqui dos mais inclementes que se tem registro.
Esta edição dominical apresenta um ensaio fotográfico tomado nos jardins da Morada dos Afagos, com destaque para três situações que a primavera já teve floridos anúncios.
A primeira são duas vistas da azaleia, que mesmo florescendo no 8º piso, encanta já na Mariante, antes da Castro Alves. Há uma amostra da brotação atemporã das videiras, na segunda situação. 
A terceira, registrada ainda em agosto mostra a amoreira, que agora está carregada de frutos, que este ano precocemente escondeu sua nudez, cobrindo-se de linda folhagem verde.
A estas imagens adito votos de feliz outono aos leitores do Hemisfério Norte e feliz primavera aos do Hemisfério Sul.

sábado, 21 de setembro de 2013

21.— GAUCHISMOS E OUTROS QUETAIS

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O feriado farroupilha, em um olhar meteorológico, foi gris. Choveu docemente. Todavia verde/vermelho/ amarelo que cantam o exagerado orgulho gaúcho estavam presente nas bandeiras que tremulam nos acampamentos nativistas e nos desfiles gauchescos. Também estão presentes em dezena de anúncios em jornais, alguns de página inteira, que cantam a bravura da gente desta terra, que já viveu sonhos de ser independente do Império brasileiro na primeira metade do século 19. Aliás, chama atenção o quanto marcas multinacionais (por exemplo, nescafé, subway...) assinam os anúncios mais custosos.
Há um aparente paradoxo: os farrapos inscreveram no pavilhão tricolor (aqui é mais cultuado que o nacional) o mesmo lema dos revolucionários franceses de 1795: Igualdade, Liberdade e Humanidade e o mote das peças publicitárias e dos discursos, esquece a Igualdade e exalta exatamente quanto somos diferentes (mais heroicos, mais bravos, mais politizados...). Somos sim, mais ufanistas.
Agradeço a minha querida amiga Conceição Cabral, desde Belém do Pará, trouxe-me evocações com o hino rio-grandense (cantado com mais frequência e emoção que o hino nacional). As belicosas estrofes são presença mesmo em manifestações oficiais em instituições federais. ttps: //www.youtube.com/watch?v=ZD_WnHMv1w8
Devo dizer que a celebração desta data, que se espraia por todo o mês de setembro, cada ano me faz mais sestroso. Sinto-me mais latino-americano que brasileiro. Logo, não me sinto confortável com esse presunçoso gauchismo.
Mas, acolho de bom grado o feriado independente de cultua-lo. Assim como ‘celebro’ o dia da Padroeira do Brasil, a Sexta-Feira Santa ou dia da Virgem Maria do Livramento, ontem fiz dia festivo.
Nesse feriado chuviscoso vivi um pouco a ressaca de meu périplo goiano. Sou tentado, uma vez mais faltar com a modéstia e trazer um registro de ocasião, contrariando aos que viram na última edição laivos narcísicos.
Na tarde de ontem, quando o atencioso e competente motorista do IF-GO do Câmpus de Anápolis levou-me ao aeroporto em Goiânia disse-me: “Professor, aprendi muito na nossa viagem de ontem, com sua conversa com aquele moço. Passei a ver as plantas diferentes.” O seu Roberto, referia-se ao Prof. Dr. André Sarriá, um especialista em ‘comunicação entre plantas’. Ainda acrescentou: “Meu colega do câmpus de Inhumas, que trouxe professores e alunos para sua palestra, assistiu a sua fala, e contou-me muitos assuntos que aprendeu!”
Ao falar em Ciência, se abandonamos o esoterismo e migramos para exoterismo, fazendo alfabetização científica. Também por isso é bom curtir no feriado farroupilha a ida a Anápolis.