ANO
8 |
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EDIÇÃO
2524
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Nesta última
segunda-feira de agosto — quinto dia consecutivo de frio e chuvas no Rio Grande
do Sul — Porto Alegre tem uma presença excepcional. Paul Singer, o defensor dos
animais, fala esta noite no Salão de Atos da Reitoria da UFRGS.
Filósofo que
tem posições firmes sobre alguns dos mais controversos temas da atualidade fala
sobre direitos animais, mudança climática e ética aplicada. Pode soar exagerado
afirmar que um intelectual seja capaz de provocar reações tão apaixonadas
quanto as de um político ou de um líder de massas, mas no caso do filósofo
australiano Peter Singer, o convidado desta noite no ciclo Fronteiras do Pensamento, a afirmação não está longe da verdade.
Singer já foi definido como o “mais perigoso homem vivo” por ativistas europeus
e já foi proibido de falar em público em território germânico.
Tudo isso
porque, aos 67 anos, o autor é um filósofo moral à moda antiga: um pensador que
acredita que seu trabalho deve ser debater na arena pública as questões de seu
tempo. E, por meio de uma lógica racional que aplica como sistema ético, Singer
não foge do debate em pontos polêmicos como eutanásia, aborto, aquecimento
global, pobreza, desenvolvimento sustentável. Seu trabalho lançou as bases
políticas do movimento pelos direitos animais hoje presente em praticamente
todo o mundo. Suas formulações de ética aplicada provocam críticas e glosas
apaixonadas: libertário para uns, desumano para outros. Singer tem formação em
Direito, Filosofia e História, ele é, há 15 anos, o responsável pela cátedra de
bioética na Universidade de Princeton (EUA).
Por telefone,
de Melbourne, na Austrália, Singer concedeu a seguinte entrevista a Carlos
André Moreira de Zero Hora, publicado no caderno de Cultura deste sábado, junto
com outros artigos. Para esta blogada escolhi respostas a três perguntas. Na
edição de amanhã pretendo um espraiar nas convicções do protetor dos animais do
século 21:
Zero Hora – O senhor poderia antecipar os temas
de sua conferência?
Peter Singer – Vou falar sobre o que,
penso, são as principais questões éticas do presente século, como justiça
global, que tem relação com o problema da pobreza global, e as mudanças climáticas.
Vou também levantar questões sobre as relações entre animais humanos e não
humanos, e o tanto de sofrimento que é imposto a eles pela nossa atuação no
mundo não humano.
ZH – O senhor está chegando a um Estado
em que o uso de extensas áreas para a pecuária não é apenas uma realidade
histórica, mas é parte da identidade cultural, bem como o consumo em larga
escala de carne bovina. O que o senhor teria a dizer a este público?
Singer – É claro que entendo essa questão,
uma vez que estou falando da Austrália, onde também passei boa parte da minha vida,
um país que construiu muit da sua economia com base na criação de rebanhos
bovino e ovino, ambos ruins do ponto de vista da emissão de gases causadores do
efeito estufa. Acho que é necessário que essas culturas mudem, e infelizmente
isso é difícil, não acontecerá do dia para a noite. Mas é essencial que as
pessoas percebam que o tamanho dos rebanhos é um dos fatores que mais
contribuem para as mudanças climáticas, e Brasil e Austrália são muito
dependentes do clima para a sobrevivência de sua população. Penso que o mundo
está se tornando ciente dos danos provocados pelas alterações climáticas. Está
para sair o relatório internacional do Intergovernmental Panel on Climate
Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ainda não foi
publicado, deve sair em setembro, mas pude ler o relatório preliminar, que
sugere que estamos nos encaminhando para um aumento de 5ºC na temperatura do
planeta, o que excede o que os cientistas haviam previsto em anos anteriores.
Temos que perceber que essa é uma questão muito urgente, e mesmo que ela
signifique uma mudança cultural dramática, ainda há algo que possamos fazer.
ZH –Seus críticos afirmam que é uma
incoerência ser, ao mesmo tempo, favorável à vida animal e ao aborto. Como o
senhor responde a isso?
Singer – Minha visão a respeito dos animais
não se baseia em se é certo ou errado matá-los, mas no sofrimento que
infligimos a eles durante seu tempo de vida para que possamos ter alimentos e
produtos. Quando falo de aborto, no período em que a maioria deles costuma ser
realizado, abaixo de 24 semanas de gestação, o feto não é capaz de sofrer.
Portanto, é perfeitamente coerente afirmar que se pode interromper a vida de um
ser não consciente ou incapaz de sofrer e não infligir dor a seres que têm essa
capacidade.
Meu Caro Mestre Chassot
ResponderExcluirPelo que tenho observado em minhas aulas, e agora quando uma norma regulamentadora de segurança do trabalho (NR 36) tenta reduzir os riscos para quem trabalha em industrias de carnes e derivados, que o publico discente ao tomar conhecimento do ritual operacional que ocorre dentro dos frigorificos, demonstra rejeição aos processos de abate de animais. Quem sabe aí nao esteja um principio de mudança. JB
Estimado colega e amigo Jairo.
ExcluirReconheço tua tese: se os consumidores vissem a tortura a que se submetem os animais diminuiria o consumo de carnes. Mas teu comentário alerta a outra dimensão de ‘sofrimento — que a NR 36 procura minimizar —: a tortura física e psicológica que os animais racionais (= mulheres e homens trabalhadores da indústria de carnes)ç Há muito já li das denuncias que fazes em http://profjairobrasil.blogspot.com.br/ Peter Singer, o defensor dos animais, preocupa-se como tu com os animais racionais.
Obrigado por enriqueceres esta blogada.
attico chassot
Muito pertinentes a blogada do Mestre Chassot e o comentário do Prof. Jairo Brasil. Não consigo imaginar alguém trabalhando durante anos em um matadouro (ou abatedouro, pra usar o eufemismo) e não ficar abalado psicologicamente. Sou um gaúcho carnívoro, minha imagem de um encontro perfeito entre família e amigos (como fizemos ontem) é um churrasco. Mas estou conseguindo diminuir o consumo de carne, primeiro adotando a famosa segunda sem carne, depois a "quinta sem carne" e agora já é dia sim, dia não. Um dia talvez eu consiga parar completamente de contribuir com o sofrimento de animais irracionais e racionais.
ResponderExcluirMuito estimado Juliano,
Excluir(faço cópia ao prof. Jairo)
Belo depoimento de um gaúcho (aquerenciado em Brasília) carnívoro que gradativamente vai se abstendo de produtos oriundo de ‘matadouros de animais’.
Tua alternativa do ‘dia sim/dia não’ traduz um não radicalismo. Há muito abandonei o churrasco e tenho desencadeado campanha contra essa barbárie gaúcha que é o tal de ‘espeto corrido’, Não podemos esbanjar alimento desta maneira quando tantos passam fome.
Obrigado por te fazeres presente com comentário tão educativo.
A admiração do
attico chassot
Obrigado, Mestre! Muito feliz pela sua amizade!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ExcluirPois Singer, cheio de ideias geniais
Vê todos os seres como iguais
Sejamos homens ou bichos
Temos os mesmos caprichos
Afinal, não somos todos animais?
De Paul Singer vale a pena conhecer "Curso de introdução à economia política". Sem a pretensão de imitar o Mestre em suas ricas dicas sabáticas.
ResponderExcluirPaul Singer que você se refere é economista, O Singer acima é Peter, filósofo. O Chassot se enganou.Abraços, JAIR.
ExcluirMuito estimado e atento Jair,
Excluirrealmente o Chassot, se enganou. Das três blogadas destas segunda, terça e quarta feiras, na primeira vez que citei o nome do contestado filósofo australiano Singer, nomeei o como Paul Sinher, num lapso por evocar aquele que é talvez a nossa maior referência em economia solidária: Paul Israel Singer (Viena, 24 de março de 1932),um economista e professor brasileiro nascido na Áustria.
Ao desculpar-me de ti e de meus leitores , nesta errata homenageio um dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Com estima,
attico chassot
Estimado Poeta Jair sÓ agora dei-me conta que vinhas em meu socorro em minha gafe do quase parônimo. Sou um bucÉfalo distraÍdo, achei que falavas com o mestre, minhas desculpas e meus agradecimentos ainda que tardios.
ExcluirEstou pensando seriamente em abolir para sempre o consumo de carne. Em seu lugar já adotei o consumo de ovos. É tanto ovo. Dia e noite. No café, no almoço e no jantar. E no lanche também. Até levanto na madrugada para preparar os...ovos. O que fazer? Minha remuneração salarial me induziu a tal. É do conhecimento de todos que carne, principalmente a vermelha, não é saudável. Grande abraço Mestre.
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