8.- Um sábado em uma linda Universidade

Ano 6

VIÇOSA

Edição 1890

Estou mais uma vez em Viçosa, ou melhor, na Universidade Federal de Viçosa. Como nas vezes anteriores, estou no hotel da UFV, dentro do Campus, mais uma vez não conheço a cidade.

Minha maratona para chegar aqui não foi trivial. De hotel a hotel (Ponta Grossa / Viçosa) foram quatro etapas (Ponta Grossa/Curitiba/Confins/Belo Horizonte/ Viçosa) de um total de 11 horas, sendo a última de quase cinco horas, por uma estrada morosa que serpenteia montanhas. Comentei com a Professora Fátima, que veio de Portugal para fazer a palestra de abertura, que tivemos quase tempos iguais de viagem, mas depois vimos que, como ela teve o ponto final de sua viagem aérea no Rio de Janeiro, também teve uma extensa parte terrestre.

Mas, enfim era quase 18 horas quando chegava ao magnífico Campus da UFV, que conheci

a primeira vez em 1990. A Universidade Federal de Viçosa, instalada em uma antiga fazenda, originou-se da Escola Superior de Agricultura e Veterinária - ESAV, criada 1922, pelo então Presidente do Estado de Minas Gerais, Arthur da Silva Bernardes. A ESAV inaugurada em 1926, por seu idealizador Arthur Bernardes, então Presidente da República. Em 1927 foram iniciadas as atividades didáticas, com a instalação dos Cursos Fundamental e Médio e, no ano seguinte, do Curso Superior de Agricultura. Em 1932 foi a vez do Curso Superior de Veterinária. No período de sua criação, foi convidado por Arthur Bernardes, para organizar e dirigir a ESAV, o Prof. Peter Henry Rolfs. Também veio, a convite, o Engenheiro João Carlos Bello Lisboa para administrar os trabalhos de construção do estabelecimento.

Desde seus primórdios, a UFV tem se preocupado em promover a integração vertical do ensino. Neste sentido, trabalha de maneira efetiva, mantendo, atualmente, além dos cursos de graduação e pós-graduação, o Colégio Universitário (Ensino Médio Geral), a Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal (Ensino Médio Técnico e Médio Geral), a Escola Estadual Effie Rolfs (Ensino Fundamental e Médio Geral), o Laboratório de Desenvolvimento Humano (4 a 6 anos) e, ainda, a Creche, que atende a crianças de 3 meses a 6 anos.

Por tradição, a área de Ciências Agrárias é a mais desenvolvida na UFV, sendo conhecida e respeitada no Brasil e no Exterior. Apesar dessa ênfase na agropecuária, a Instituição vem assumindo caráter eclético, expandindo-se noutras áreas do conhecimento, tais como Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Humanas, Letras e Artes. Trata-se de uma postura coerente com o conceito da moderna universidade.

A beleza do campus talvez se traduza no convívio harmônico dos prédios da antiga fazenda do século 19, onde havia até uma estação de via férrea com prédios modernos recém construídos, uns e outro em meio de canteiros floridos.

O I SIMPÓSIO MINEIRO DE EDUCAÇÃO QUÍMICA, com mais de 400 inscritos, foi instalado ontem à noite com sessão solene, antecedida de uma apresentação do coral de alunos da UFV, presidida pela Reitora Professora Nilda de Fátima Ferreira Soares, no amplo e moderno Auditório Fernando Sabino.

Este evento busca resgatar importantes discussões que perpassam a prática docente no campo da Química, muitas delas presentes na pauta de debates do antigo ENCONTRO MINEIRO DE ENSINO DE QUÍMICA (EMEQ), que teve a sua terceira edição em 2003, aqui na UFV. Esse encontro traz como proposta discutir a Educação Química e as novas perspectivas para a (re)construção dos saberes na contemporaneidade.

A Conferência de Abertura: História da Química: Um recurso relevante na Educação Científica foi proferida Professora Maria de Fátima Paixão (Instituto Politécnico de Castelo Branco – Portugal). A professora e pesquisadora portuguesa mostrou que é indiscutível que a evolução da Ciência/Química tornou a sociedade dependente dela mas, ao mesmo tempo, esta influenciou-a profundamente. No tempo atual, o ideal da sociedade democrática não prescinde de cidadãos cientificamente cultos, cabendo à escola a maior quota de responsabilidade na sua formação. Os objetivos a que nos propomos pretendem questionar a relevância da ciência escolar; evidenciar a Ciência/Química como uma forma de cultura da sociedade atual; relevar o papel da História da Ciência/Química na Educação em Química; evidenciar recursos e estratégias para integração da História da Química na Educação em Química, seja no ensino ou na formação de professores. Após a conferência houve uma confraternização com um gostoso reencontro com muitos amigas, com alguns de longa data, como o Prof. Per Christian Braathen e outros jovens alunos que participaram comigo dos ‘Diálogos de Aprendentes’ na Universidade Federal de Juiz de Fora. Mais uma vez houve muitas solicitação de fotos. Esta manhã, das 08h às 10h, dou a primeira sessão de dos doze minicursos: A História e a Filosofia da Ciência: Catalisando PropostasTransdisciplinares, que será complementado na manhã de amanhã. Das 10h30min às 12h profiro uma das duas palestras paralelas que ocorrem: A Ciência é masculina? É, sim senhora! Que já fiz aqui na UFV em 2003. Brincava ontem que os mineiros me fazem violar preceitos religiosos das três religiões abraâmicas: não observando a sexta-feira islâmica, o sábado judeu e o domingo cristão. Com as escusas de mais uma vez este diário de viajor se sobrepor a dica de leitura sabática, desejo a cada uma e cada um o melhor sábado. Amanhã nos lemos ainda de Viçosa, queiram assim os deuses que cuidam de nossas agendas.