Ano
6*** BUENOS AIRES ***Edição 2184
Na madrugada desta quarta-feira, a Gelsa e eu iniciamos o
retorno a Porto Alegre. Foram três dias muito especiais. No meio da manhã
devemos estar chegando a Porto Alegre.
Nos relatos de um viajor, para ontem cabem dois movimentos:
um Mosteiro que se faz descoberta
inesperada e uma aula para cerca 50
alunos do curso de doutorado em Direito da Faculdad de Derecho de la
Universidad de Buenos Aires. Falo primeiro da aula e depois do Monastério.
Na aula mostrei para brasileiros (em sua maioria), chilenos
e colombianas que ¿Es la Ciencia
masculina? ¡Así es, señora!... Foi muito impressionante a atenção que
mereci e os pedidos que prosseguisse nesta quarta-feira minha exposição. Só em
Buenos Aires, esta foi a quarta vez, em três Universidades diferentes, que fiz
esta mesma fala. Certamente esta foi aquela das quatro que me saí melhor. Sou
muito grato ao Prof. dr. Enrique del Percio, que me convidou para esta
atividade e ainda me brindou com uma charla de quase duas horas como ‘el postre’
da tarde-noite.
Uma referência a Faculdad de Derecho da UBA, que tem 54
mil alunos na graduação e 2 mil alunos no doutorado. O prédio da Faculdade não
é apenas o ícone da UBA, como também é representação física da criação do
peronismo de universidade gratuita para todos, algo odiado pela aligarquia que
queria Universidade apenas para os possuídos.
Mas quero
contar, como encerramento, um prêmio porteño que recebi no final da manhã de
ontem. Ao deixar uma excelente livraria na Galeria Pacífico, deparo-me, por
acaso com o Monasterio de las Catalinas, ou Mosteiro de Santa Catarina de
Siena, em anexo à Igreja de Santa Catarina de Siena, próximo a rua Córdoba, no
Retiro.
Visitei, então,
aquele que foi o primeiro mosteiro para mulheres na cidade de Buenos Aires. Uma
das mais antigas e prestigiadas obras da arquitetura religiosa da cidade,
durante sua época colonial e está intimamente ligada à história do país. A igreja
e o convento, sem ser ainda concluídos, foram inaugurados em 21 de dezembro de
1745.
Li algo acerca
da história, como por exemplo, para entrar no convento das normas estabelecidas
pelo Conselho de Trento (1545-1563) exige vocação de vida e costumes
morigeradas [o Priberam ensinou-me que: Que tem
bons costumes ou vida exemplar] pelo menos quinze anos de idade, aptidão
física para observar as regras, não ter pertencido a uma outra ordem, não ser
casado, a legitimidade de nascimento, limpeza
do sangue e do pagamento de um dote.
Vale ver o
elitismo (= racismo) da Igreja para a limpeza
ou a pureza de sangue. Havia uma
capital necessidade para ser admitido como professo ao monastério: não ser
escravo ou mulato ou mestiço, não ter ascendência muçulmana ou judia e não ter
hereges na história familiar.
Se
posteriormente fossem verificadas estas condições, o hábito e a profissão eram
considerados inválidos. As poucas exceções foram admitidas como: os pais eram
espanhóis e solteiros no momento da concepção.
O dote era uma
soma de dinheiro que a candidata à freira deveria entregar ao mosteiro antes de
fazer profissão. Dotes das freiras eram para ser pagos em prata e a soma era de
500 pesos para o véu branco e variava entre 1500 e 2000 pesos no caso de véu
preto. E, ainda, mais de 300 pesos para o uso de uma cela individual. O valor
do dote era aplicado a uma taxa de 5% e a renda produzida é utilizada para
vestuário, calçado, alimentação, despesas médicas (farmácia, sangrador) e
capelão. Este era remunerado para ouvir em confissão — no Monastério podem-se
ver os confessionários com grades pelas quais as freiras não podiam ver o
capelão-confessor.
Na alegria de
ter cada uma e cada um como leitores neste breve périplo porteño. Amanhã nos
lemos de Porto Alegre, pelo menos nossos próximos quatro dias. Até, então.
Um breve comentário, me parece que a figura do "sangrador" era comum na antiga medicina que a tudo curava com as famosas sangrias. Inclusive relata-se que Napoleão tinha aquele aspecto pálido devido a muitos destes procedimentos terapêuticos.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirPenso comigo: que sorte eu tenho
Em viagens, Chassot mostra empenho
Em pintar um mural
Com pincel cultural
Desta vez um belo quadro portenho.
Hoje é dia do Escritor, parabéns Chassot!
ResponderExcluirMuito caro Jair,
ResponderExcluirno meu calendário hoje é o dia do colono, inclusive feriado em municípios de colonização alemã.Também, dia do Motorista, por ser dia de São Cristóvão.
Eis que tu poeta e escritor aditas uma nova celebração: dia daqueles que como tu, qual agricultor disseminas a palavra e qual motorista a transporta pelo mundo real e virtual.
cumprimentos por este teu fazer,
attico chassot
Arguro Mestre Chassot,
ResponderExcluiracompanhei seus diários de Savador e Buenos Aires. Sou novo aqui, mas a edição de hoje, na parte do Monastério, é uma aula de Historia da Igreja e seu elitismo,
Com admiração.
Catulo Paraense
Caro Chassot,
ResponderExcluirinfelizmente a discriminação sempre fez parte dos recintos religiosos e não eram exclusividade do catolicismo.
Um abraço,
Garin