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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

30.- QUALIFICAÇÃO: UM NOME BEM POSTO



Ano 7*** FREDERICO WESTPHALEN ***Edição 2012
Hoje é uma sexta-feira muito especial: ela encerra novembro — onde me fiz 7.3 —, um mês frutífero em termos de ações acadêmicas. Além de minhas aulas regulares no Centro Universitário Metodista do IPA e na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, participei em eventos com falas em Lajeado, Tubarão, Gaspar, Amargosa, Campina Grande, Manaus, Boa Vista, Bonfim e Lethen (Guiana). Foram 16 falas em nove cidades de seis estados e uma no exterior.
Mas esse 30 de novembro é especial, pois esta manhã estou em duas bancas de qualificação no Programa de Pós Graduação em Educação da URI. O curso de mestrado que começou no segundo semestre do ano passado vem tendo, desde começo de novembro, suas primeiras qualificações.
Tenho dito — e nisso não sou original — que nos distintos rituais da academia, são as qualificações dos projetos de tese de mestrado e doutorado (e a prática já começa a estar presente nas monografias de especializações e mesmo nos Trabalhos de Conclusão de Curso em Graduações) os eventos que tem o nome mais bem posto e também o mais importante (mesmo se comparado com a defesa final). É neste momento que a banca concorre para realmente qualificar a proposta, e por isto pode/deve fazer críticas, que não lembram em nada uma sessão da universidade medieval .
Acerca da difícil arte de fazer crítica algo anedótico. Este ano entre várias defesas que tive na Universidade do Estado do Amazonas, houve duas em agosto, em Paritins. Uma delas concorridíssima — uma plateia de mais de uma centena de pessoas — onde o candidato era o diretor do Centro de Formação Professores da UEA, pessoa queridíssima. Como aportar, então, críticas, sem cair no desagrado do público? Comecei contando uma situação que me ocorrera em março. Estava na defesa de dissertação de um jovem biólogo reconhecido. No auditório estava seu avô, alienígena na Academia. Fiz alguns comentários/ sugestões na busca de aprimorar a versão final. Passada a defesa perguntei ao neo-mestrando: “Guy, o que teu avô achou da defesa?” “Ele disse que tu parecias um técnico de futebol querendo ensinar o Neimar a jogar futebol!” Completei, então, pois hoje sou aqui alguém que vai ensinar o Diretor a ‘jogar futebol’.
Queria trazer dois breves comentários sobre as duas qualificações. A primeira especial, pois é de uma orientanda minha. A outra de um ex-aluno muito querido, que se destaca como reconhecido professor de Filosofia na região.
A primeira é a de Camila Guidini Camargo e estão comigo na banca os professores Leonel Piovezana – UNOCHAPECÓ e Neusa Maria John Sheid – URI, Santo Ângelo. Aqui um significativo registro lateral: o professor Leonel, atestando o significado de uma qualificação traz de Chapecó nove alunos para acompanhar a sessão.
Camila reconhece o quanto o mestrado vem contribuindo significativamente para sua formação como pesquisadora, historiadora e docente. Destaca vivenciar um momento muito importante em sua vida com a busca desta qualificação do projeto de mestrado e com o muito recente ingresso, por concorrido concurso público, no magistério público do Estado do Rio Grande do Sul. A tudo isso agrega à caminhada profissional na URI.
Ela apresenta uma proposta que envolve busca de respostas às indagações que se fazem presentes nos espaços acadêmicos, com a inclusão de indígenas no Ensino Superior. A pesquisa propõe o estudo sobre a temática indígena em espaços escolares e a promoção de diálogos interculturais, partindo das vozes de acadêmicos que fazem parte de grupos indígenas, que vivenciam as duas esferas: culturas e saberes da comunidade indígena a qual pertencem e cultura e saberes da comunidade acadêmica, na perspectiva de perceber como ocorrem as relações e interações no espaço acadêmico, abrindo novas alternativas pela construção e respeito aos diálogos interculturais.
A segunda banca da manhã é de Fernando Battisti onde tenho a companhia dos professores Cláudio Dal Bosco – UPF e Arnaldo Nogaro, o Orientador.
O Fernando tem graduação em Filosofia pela URI e em paralelo ao mestrado cursa Direito. Professor da Escola Básica e no Ensino Superior da URI em várias licenciaturas, Professor no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e na Escola Técnica José Cañelas. Casado com Marcieli, mora em Seberi-RS.
A pesquisa do Fernando surge das indagações sobre a importância da teoria de Kant no pensamento moderno, marcada pela presença de uma revolução copernicana kantiana. Há uma tentativa de se fazer uma analogia da revolução copernicana kantiana com a Educação tendo em vista a pesquisa sobre a Tendência da Escola Tradicional e Escola Nova e os pressupostos de mudança no ponto de vista da construção do conhecimento.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

29.- NÚMERO DE DUNBAR: ¿O que é isso?



Ano 7*** PORTO ALEGRE / FREDERICO WESTPHALEN ***Edição 2311
Quando esta edição entrar em circulação já terei percorrido uma das seis horas que são consumidas para fazer os 460 km que separam Frederico Westphalen de Porto Alegre. Esta viagem bimensal, há um ano, faz parte de minha rotina, desde que estou vinculado ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI. Desta vez a jornada se estende por quinta e sexta feiras. Na semana que vem vou a última vez em 2012. A viagem de hoje impediu-me de aceitar o convite de Lasier Martins para participar na TV Com, do ‘Conversas Cruzadas’. Não lamento, pois me desagrada debater rankings.
Antes de entrar ao assunto que se faz título — Número Dumbar—, apenas um comentário vestibular. Na edição de sábado, comentava não sem uma ponta de orgulho, que fizera uma palestra para 700 alunos na Guiana. Ontem, à tarde, escaipava [quando uso estes neologismo, lembro de Saramago que implicava com deletar, checar...] com meu filho Bernardo em Las Vegas, que assistia a uma palestra para seis mil pessoas de sessenta países. Em tempos de realidades virtuais, há ainda encontros materiais.
Esta semana superei 1700 “amigos” no Facebook, onde estou há cerca de dois anos. Parece-me muito natural ver o numero de “amigos” crescer depois que estou em um evento, pois hoje o tietar envolve em postar fotos.
Este comentário, vem a propósito, de algo que aprendi na terça-feira, com Zygmunt Bauman [Isto não é um diário, p.116, Rio de Janeiro: Zahar, 2012]: estudo da Universidade de Oxford divulgado recentemente levantou uma possível importância que o Número de Dunbar tem na relação social entre humanos.
Para a Wikipédia o “Número de Dunbar define o limite cognitivo teórico do número de pessoas com as quais um indivíduo pode manter relações sociais estáveis. Nesse tipo de relação o indivíduo conhece cada membro do grupo e sabe identificar em que relação cada indivíduo se encontra com os outros indivíduos do grupo.” Segundo a pesquisa, o cérebro humano é capaz de administrar em redes sociais, no máximo, 150 amigos.
Robin Dunbar (foto), antropólogo evolucionista da instituição e autor da pesquisa, conseguiu pela primeira vez comprovar no mundo on-line a teoria que defendia na década de 90. Na época, o cientista concluiu a partir de observações de vários grupos que a capacidade de manter círculos sociais não passava do número 150, independente do grau de sociabilidade de cada pessoa.
Na web, a teoria já foi questionada. Em fevereiro, o sociólogo Cameron Marlow descobriu que um internauta comum consegue estabelecer uma relação estável com o próximo com no máximo 120 contatos em perfis no Facebook. Russerd Bernard, da Universidade da Flórida, concluiu que, nos Estados Unidos, os laços de amizade de uma pessoa podem chegar a 290.
Essas limitações existem devido a capacidade do neocórtex cerebral, que não se desenvolveu durante a evolução do homem. Em pouco tempo, o registro foi tão valorizado na internet que já existiram redes sociais que o adotavam para definir critérios de ingresso às plataformas participativas.
A construção do mito de que as novas tecnologias poderiam superar tal limitação não é o único fato que mais chama atenção. O estudo corrobora a premissa de que o internauta, hoje, reforça mais laços construídos de forma offline (cotidiano) do que propriamente criar novas amizades virtuais.
Não posso ampliar aqui a discussão de Bauman. No mesmo livro, na página 221, há uma frutuosa análise: “Sobre o Facebook, intimidade e extimidade”. Acerca desta extimidade do Facebook acompanho uma situação, que se chegar a bom termo, há de merecer uma blogada especial.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

28 – DUAS HORAS SEM GOOGLE



Ano 7*** PORTO ALEGRE in Morada dos Afagos ***Edição 2310
Há jornais brasileiros, por exemplo, a Zero Hora de Porto Alegre, que publicaram nesta terça-feira notícia em primeira página, com destaque em página interna: “Duas horas sem Google”. Parece que notícia foi superdimensionada.
Os serviços do Google ficaram nesta segunda-feira, 26 de novembro, inacessíveis por quase duas horas. O maior site de pesquisa do mundo da internet esteve fora do ar para alguns usuários entre as 16 horas até próximo às 18 horas.
Mas não somente o site de buscas do Google ficou fora do ar e também outros recursos da companhia também estiveram inacessíveis, entre eles: Google Maps, Gmail, You Tube e outros. O problema do Google chegou a ser um dos mais citados no Twitter.
Já a assessoria do maior site de buscas do mundo, informou que a falta de acesso ocorreu devido a problemas de rota entre seu provedor e os servidores do Google, mas que muitas pessoas continuaram com acesso normal. Porém diversos portais anunciaram que o Google em si estava com problemas, que de fato, parece que não foi o que ocorreu. Houve sites até criando posts com ferramentas alternativas ao Gmail e ao próprio buscador.
Na esteira do que foi aqui assuntado ontem: ficar algumas horas sem o ‘Professor Google’ ou o ‘Médico Google’ ou mesmo o ‘Pastor Google’ não é trivial. Já disse que gosto muito de ler agradecimentos de dissertações e teses e mesmo de livros e vejo que há merecedores de homenagens sempre olvidados: os robôs do Google. Eles hoje são os ‘escravos’ que mais colaboram em nossas pesquisas.
A missão declarada da Google desde o início foi "organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil" e o slogan da empresa é “Don't be evil” em inglês e “Não seja mau” em português.
É quase imaginável o que o Google oferece: softwares de produtividade online, como o software de e-mail Gmail, e ferramentas de redes sociais, incluindo o Orkut, o Google+. Os produtos do Google se estendem à área de trabalho, com aplicativos como o navegador Google Chrome, o programa de organização de edição de fotografias Picasa e o aplicativo de mensagens instantâneas Google Talk.
Não sem surpresa, vejo que o Google também lidera o desenvolvimento do sistema operacional móvel para smartphones Android, usado em celulares como o Nexus One e o Motorola Droid. O Alexa classifica o Google como o website mais visitado do mundo. O Google também foi classificado pela revista Fortune como o quarto melhor lugar do mundo para se trabalhar e como a marca mais poderosa no mundo pela BrandZ.
A posição dominante no mercado dos serviços do Google levou a críticas da sociedade sobre assuntos como privacidade, direitos autorais e censura. Por exemplo, não é invasão de privacidade eu (ou qualquer pessoa) poder identificar árvores no meu jardim?
O nome para o Google, proveniente de um erro ortográfico da palavra "googol", o número um seguido por cem zeros, que foi criado para indicar a quantidade de informação que o motor de busca podia processar, o nome também reflete a missão de organizar uma quantidade aparentemente infinita de informações na web.
Mesmo que alguns o satanizem, em seu favor cito um texto apócrifo dos evangelhos: “Usemos os excrementos do demônio, para adubar as vinhas do Senhor!”

terça-feira, 27 de novembro de 2012

27.- INTERNET ROUBA-NOS HORAS DO DIA



Ano 7*** PORTO ALEGRE/MORADA DOS AFAGOS ***Edição 2309
Parece ser senso comum, que neste século 21, nós lemos — em suporte papel — menos e também reduzimos em muito nossos momentos de lazer. Já comentei aqui, em mais de uma vez, a rapidação da passagem do ‘tempo Cairós’ quando estamos conectados. E mais, se não vemos lá no canto inferior direito o sinal de conexão, parece qua não sabemos trabalhar.
Lembro, quando meus filhos eram crianças e tinham que fazer alguma representação de seu pai, em mais de uma oportunidade, me desenhavam numa rede com um livro. Bons tempos. Hoje são raros, um melhor, muito raros os momentos de curtir uma rede com um livro. É provável que meus netos me representem no computador.
"Será que vivemos num mundo muito melhor só porque podemos fotografar a comida no prato e postá-la para todos os nossos amigos antes de começar a comer?". Com essa provocação, o escritor estadunidense Jonathan Franzen (nascido em 1959) questiona a influência que as mídias sociais têm tido na cultura contemporânea. O comentário está na p. E4 da Folha de S. Paulo de ontem.
Apesar de se confessar um "viciado em e-mails", que não fica mais de duas horas sem checar a caixa postal, Franzen expôs seu mau humor acerca do "vício planetário" com relação à internet, ao falar no sábado, primeiro dia da 26ª edição da Feira do Livro de Guadalajara, que acontece até dia 2 de dezembro na cidade mexicana.
"Se a internet for a droga definitiva, estamos bem. Mas ninguém sabe ainda se será. Até outro dia, era o cigarro. E, de repente, as pessoas pararam de fumar num domingo e na segunda começaram a clicar compulsivamente em seus smartphones. Quem sabe não vamos nos cansar disso em algum momento?"
E reforçou que vê os livros hoje como produtos de consumo de uma minoria cada vez mais reduzida. "Os livros sempre foram para poucos. Agora a disputa é muito mais intensa, e o desafio do escritor é maior. A diferença é que, quando saímos da internet e entramos num livro, percebemos que, na realidade, temos muito mais horas em nossos dias."
Para sobrar mais tempo para leitura de verdade, faço uma edição mais curta. Tomara sobre tempo para curtir um livro nesta última terça-feira de novembro.    

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

26.- NA SEMANA DO ADVENTO DE DEZEMBRO, UMA VEZ MAIS, QUE ‘DEUS SEJA LOUVADO’



Ano 7*** PORTO ALEGRE/MORADA DOS AFAGOS ***Edição 2308
Estamos na semana de despedir novembro. Sábado já será dezembro, então os de fé cristã começam o tempo litúrgico do advento. E logo será natal.
O domingo foi dia de acertar, literalmente, o fuso. Ele começou com janta com Cléria, Lucinha, Edinalva e Ana Maria e depois me acompanharam ao aeroporto, até acessar a sala de embarque. O retorno ao horário de Brasília se deu em três voos: BVB/MAO: 60 min + MAO/RIO: 250 min + estada de 2 horas no Galeão + RIO/P0A: 120 min. Então Porto Alegre, e um pouco depois das 14 estava na Morada dos Afagos, aonde os peixes chegaram ainda congelados.
Além de sesta revigorante, havia muitos jornais para receberem espiadelas. Ao entardecer recebi uma visita querida meu filho André, minha nora Tatiana com o queridíssimo Pedro. Foram espaços físicos de reinserção familiar. Os virtuais ocorreram no Galeão e em Porto Alegre, com a Gelsa em Aalborg.
Na esteira do debate trazido na segunda-feira anterior: a presença de uma laudação a Deus nas cédulas, que catalisou vários comentários, dou voz acerca do tema a Carlos Heitor Cony um dos mais destacados escritores brasileiros. Ele é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances. O texto a seguir foi publicado na Folha de S. Paulo, do domingo anterior, dia 18NOV2012, na p. A-2.
Deus seja louvado Querem tirar das cédulas do nosso real a breve citação carregada de ironia machadiana: "Deus seja louvado". O argumento é pífio: o Brasil é um Estado laico, qualquer alusão a divindade é uma afronta, o país tem diversas religiões e, inclusive, tem razoável porcentagem de ateus ou agnósticos de carteirinha, entre os quais o cronista se inclui, apesar de sua formação ter sido feita com valores de determinado credo.
Os Estados Unidos não cultivam uma religião oficial, mas nas cédulas de um dólar, com a cara de Washington, há a frase "In God we trust". Há também na mesma cédula um símbolo maçônico: a pirâmide interrompida, tendo em cima o olho que em muitas religiões representa o olhar de Deus. Que também comparece nas caixas de fósforos, simbolizando o "Fiat lux".
O hino oficial inglês também invoca Deus: "God Save the Queen" — ou King. E voltando aos Estados Unidos, o "God Bless America", de Irving Berlin, funciona como hino alternativo, mais ou menos como "Aquarela do Brasil".
Poderia citar outras invocações oficiais ou oficiosas da divindade. Barack Obama, que me parece meio muçulmano, em breve prestará seu juramento para o segundo mandato com a mão em cima da Bíblia --base do judaísmo e do cristianismo.
A invocação na cédula do real não discrimina nem faz apologia de qualquer religião. Até mesmo os cultos afro-brasileiros têm seus orixás e nossos índios invocam Tupã.
O Império brasileiro tinha uma religião oficial que foi abolida com o advento da República. A bandeira que consagrou o novo regime tem até hoje a influência do positivismo, que para muitos de seus adeptos funciona como religião. O dístico ("Ordem e Progresso") é redução do lema fundamental de Auguste Comte.

domingo, 25 de novembro de 2012

25.- ADEUS, AMAZÔNIA! TALVEZ ...ATÉ JANEIRO



Ano 7***        BOA VISTA RR       ***Edição 2307
Quando esta edição entrar em circulação (00h em Brasília/ 22h aqui) estarei deixando ao hotel para com alguns colegas celebrar despedidas. Em seguida vou ao aeroporto, de onde devo partir para Manaus e depois daí voar ao Rio de Janeiro e após para Porto Alegre, onde devo chegar quase 14h.
Era mais de 17h, quando deixava a UFRR, depois de duas sessões de minicurso. Era a sétima atividade, começada com a fala em Manaus na quarta-feira, seguida da fala na quinta-feira em Boa Vista, mais as três de sexta-feira e as duas de ontem, Destas destaco como a mais emocionante a da Guiana, que relatei no blogue de sábado.
Ontem no encerramento depois de muitas fotos e autógrafos de livros, recebi da SBQ-RR, um livro que me encantou: ‘Isto não é um diário’ de Zygmunt Bauman (2012).
Ele começa este livro afirmando o quanto a escrita tem para ele um papel fundamental. “Não consegui aprender outra forma de ganhar a vida a não ser escrevendo. Um dia sem escrita parece um dia perdido ou criminosamente abortado, um dever omitido, uma vocação traída”. Com esse espírito, ele se sentou em uma madrugada na frente do computador. O sociólogo não tinha ideia do que sairia da tela em branco, mas prosseguiu. O resultado está sendo considerado o melhor livro do autor depois do best-seller Amor líquido (2004).
Em termos de fidalguias devo registrar que levo alguns quilos de filhotes do Rio Branco, graças os préstimos da Ivanise, que repete gentilezas que me fez em 2010.
Para 2012, esta é última viagem. Não estou contando ainda duas idas a URI-Frederico Westphalen, que fazem de minha rotina, Tenho já pré-agendados eventos em Janeiro em Manaus e Boa Vista.
Encerro esta blogada dominical oferecendo uma palhinha daquela que é a única capital brasileira localizada ao norte da linha do Equador.
Boa Vista é a capital e o município mais populoso de Roraima. Concentrando cerca de dois terços dos roraimenses, situa-se na margem direita do rio Branco. Moderna, a cidade destaca-se entre as capitais da Amazônia pelo traçado urbano organizado de forma radial, planejado no período entre 1944 e 1946, lembrando um leque, em alusão às ruas de Paris, na França. As principais avenidas do Centro da cidade convergem para a Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se concentram as sedes dos três poderes. Além de pontos culturais (teatros e palácios), hotéis, bancos, correios e catedrais religiosas.
O município de Boa Vista formou o primeiro povoamento caracteristicamente urbano da região do atual estado de Roraima. Foi fundada em 1830s. Originou-se de uma das inúmeras fazendas de gado situadas ao longo dos rios que compõem a bacia do rio Branco pertencente à jurisdição da então vila de "São José da Barra do Rio Negro", atual Manaus.
Em 1858 a povoação foi elevada a categoria paroquial com a denominação de freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco e em 9 de julho de 1890 a freguesia foi elevada à categoria de vila, sede de um novo município denominado Boa Vista do Rio Branco. A área municipal da vila de Boa Vista foi desmembrada do antigo município amazonense de Moura. Dois dado acerca de extensão teritoria que são significativos. Boa Vista tem uma área de 5.117,9 km² (que corresponde a 2,54% do estado). Por outro lado são áreas indígenas 1.447,35 Km² do município (o que corresponde à 25,33% do território total).

sábado, 24 de novembro de 2012

24.- UMA JORNADA AMAZÔNICA NA FRONTEIRA



Ano 7***     BOA VISTA – RR         ***Edição 2306
Mesmo que minhas atividades deste sábado aqui em Boa Vista se resumam em minicurso acerca de História e Filosofia da Ciência pela manhã e pela tarde na UFRR, numa promoção da SBQ, Regional RR, esta blogada sabatina precisa narrar as emoções fortes de ontem.
Na viagem de 125 km de Boa Vista a divisa guianesa, com a Profa. Cléria Mendonça de Moraes, Secretária da SBQ, de RR fizemos uma parada na Comunidade Indígena Jaboti. Ao chegarmos a posto de fronteira erámos aguardados por uma delegação de professores da Escola Estadual Argentina Castello Branco (ACB) de Bonfim, que nos acompanharam a visita protocolar ao prefeito de Lethen, na Guiana.
A primeira impressão impactante ao se cruzar a fronteira é ver, de repente, a rodovia converter-se em mão inglesa = ‘conserve sua esquerda!’. O impacto se traduz pela continuada impressão que os carros que vem em sentido contrário estão na contramão ou ainda carros sem motorista no banco esquerdo.
Depois de acolhidos no país pelo prefeito em uma conversação agradável, fomos a Saint Ignatius Secundary School, onde éramos aguardados pela direção. Logo nos impressionou que todas as crianças estavam uniformizadas: os meninos alguns com gravata e as meninas de saia com meias e jaqueta. Todas tinham os cabelos presos (para evitar a transmissão de piolho) com destacado tope de fita verde.
Soube que faltara energia elétrica, logo a apresentação em PowerPoint, em inglês que preparara, não poderia ser exibida. Sorte minha e das cerca de 700 crianças, talvez, 15-17 anos, que se comprimiam em pé dentro auditório onde parecia não caber mais ninguém.
Não me aventurei a falar em inglês; fi-lo em português e fui traduzido para o inglês com competência pelo jovem Wanderson Jackson, aluno da ACB, do programa Jovem Embaixador. 


Soube ser adequadamente breve, no entusiasmar para usar a Ciência para entender e transformar para melhor o Planeta, a um muito atento auditório. Ao terminar a fala, houve saudações da Diretora e uma aluna. Logo dezenas de alunos subiram ao palco para tirar fotos comigo e pedir autógrafos, a maioria deste em suporte muito original: o braço dos solicitantes.
Vencida esta etapa voltamos ao Brasil e fomos a cidade de Bonfim, mais precisamente a Escola Estadual Argentina Castelo Branco. Na entrada havia um imenso cartaz com a frase: “ Devemos ensinar Ciências  para permitir que o cidadão possa interagir melhor com o mundo.” (Chassot)
A mesmas frase em português e inglês estava em folders que trazia a programação do I Intercâmbio Intercultural das Escolas da Fronteira Brasil-Guiana, atividade liderada pelo prof. Paulo Ricardo Pinheiro de Andrade.
Na ACB por primeiro participei de um lanche com os professores da casa, antecedido de uma oração, mesmo sendo uma escola estadual. Após fiz a palestra “A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza” para cerca de 60 professores de diversas escolas da região, atividade iniciada com oração. Só durante o hino nacional, recebi um sinal do prof. David, que me trouxe à zona de conforto: conseguira abrir a apresentação que eu trouxera em outro computador. A palestra foi apreciada, mesmo que feita com muito suor devido ao forte calor. A falta de energia não conseguiu abortá-la,
Após um almoçarmos tambaquis linda e saborosamente recheados, voltamos a ACB, onde a diretora Ednialva Vieira (na foto como o cartaz) ensina-me que Argentina Castelo Branco foi esposa do primeiro presidente pós-golpe militar Humberto Castelo Branco. Pude ver um cartão manuscrito por ele de 1967, enviando a escola ‘[...] três sinetas, que ganhei no Rio Grande do Sul para chamar os alunos após o recreio da escola que leva o nome de minha saudosa esposa...’
A tarde fiz palestra ‘A Ciência é masculina? É, sim senhora!’ para cerca de 120 alunos do 2º e 3º anos do ensino médio e seus professores, onde era significativo ver o auditório da biblioteca lotado com jovens se abanando para aliviar o calor.
Após esta atividade ainda autografei livros para alunos e professores e tirei muitas fotos com os mesmos. A despedida foi com pedidos que voltássemos breve. Já era mais de 18 h quando estava de volta à Boa Vista, muito feliz com a jornada.
Agora é dar conta de sábado com minicurso, tendo no horizonte a madrugada de domingo para começar a voltar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

23.-- UMA PITADA DE SAUDADE EM MAIS UMA JORNADA AMAZÓNICA’


Ano 7*** BOA VISTA- RR ***Edição 2305
Primeiro uma explicação aos meus leitores da primeira hora. Por estar em Roraima (- 2h de BSB) este blogue entra em circulação mais tarde. Escusas aos que buscaram antes a edição de sexta-feira.
Dos meus quatro dias desta jornada amazônica este terceiro é o mais extenso. Vou, patrocinado pela SBQ-RR primeiro a Guiana. Faço uma palestra na Saint Ignatius Secundary School em Linden, segunda cidade mais populosa da Guiana, Também visito a cidade.
A Guiana (oficialmente República Cooperativa da Guiana), anteriormente conhecida como Guiana Inglesa, é um país localizado no norte da América do Sul, entre a Venezuela, o Brasil, o Suriname e o Oceano Atlântico. Culturalmente, é parte do Caribe anglófono. A Guiana foi colônia britânica e neerlandesa. É o único estado-membro da Commonwealth situado no continente sul-americano. Faz parte também da Comunidade do Caribe (CARICOM), cuja sede fica na capital da Guiana, Georgetown. A Guiana ficou independente do Reino Unido em 26 de maio de 1966 e tornou-se uma república em 23 de fevereiro de 1970.
À tarde em Bonfim, cidade fronteiriça brasileira, há duas falas programadas na Escola Argentina Castelo Branco: uma para alunos e outra para professores.
Ontem, quando estive na UFRR nos três turnos falei em uma mesa-redonda no II Colóquio Internacional de Práticas Pedagógicas e Integração, na UFRR junto com Ana Maria Ortiz Colón da Espanha e com o cubano Oscar Tintorer da UERR.
Tive duas importantes administrativas: uma com Marta Maria Pontin Darsia, coordenadora do REAMEC e outra com três colegas da Pós-graduação da UERR. Uma e outra ensaiando futuras parcerias.
À noite participei de um jantar de peixes do rio Branco na sua orla, onde podemos apreciar musica local.
Há uma locução em português: tem tudo/nada a ver, da qual não sou usuário, que aflorou quando soube do grave estado de saúde do reconhecido escritor brasileiro Luis Fernando Veríssimo. Um quase paradoxo: foi a Gelsa que de Aalborg, na Dinamarca, que me contou, estando eu em Boa Vista, RR. Quando os da safra da gente se são golpeados com a doença, somos mais fragilizados. Lembrei-me de algo li, há poucos dias. Na torcida por LF Veríssimo reparto o texto que talvez: tem nada a ver ou : tem tudo a ver. É provável que minha seleção seja marcada por saudades, quando estou distante dos meus.
O texto é de Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa Catarina, onde foi diretor-clínico. Escreve aos sábados na Folha de S. Paulo, na seção 'Saúde' de pincei o que complementa esta blogada amazônica.
 A morte por saudade Tem sido observado em casais de idosos que, pouco tempo após a morte de um dos companheiros, o sobrevivente também morre, independentemente do país ou da cultura.
Os médicos ainda não descobriram a causa disso, mas o escritor italiano Antonio Tabucchi, em um de seus contos, sinaliza que a morte por saudade é uma forma sutil de suicídio.
No último número do "American Journal of Epidemiology", o médico Sunil Shah observa que o aumento da mortalidade entre viúvos ou viúvas, após análise estatística de fichas médicas de 171.720 casais da Grã-Bretanha com no mínimo 60 anos de idade, não tem relação com a situação econômica ou o estado de saúde deles.
Shah destaca que a morte de um dos membros do casal idoso é a causa da morte do sobrevivente, mas não se sabe quais os mecanismos ou fatores que o levam ao óbito.
E, paradoxalmente, bom estado de saúde e elevado nível social podem aumentar o risco de mortalidade após a perda do seu companheiro.
Em outro estudo, J. Robin Mood, da Universidade Harvard, observa que a viuvez leva a um aumento de risco de mortalidade prematura, independentemente da idade ou do gênero.
Esse aumento, segundo Mood, tem sido descrito no primeiro ano após a perda do companheiro, sendo de 41% a estimativa de aumento na mortalidade nos primeiros seis meses. É o que Mood denomina de "efeito viuvez".

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

22.- O LIXO E FORMAÇÃO JARDINEIROS PARA CUIDAR DO PLANETA



Ano 7*** MANAUS/BOA VISTA ***Edição 2304
Uma etapa de minha jornada amazônica está vencida. Cheguei a uma Manaus, abafada, depois de 1,5 + 3,5 horas, com translado em Campinas, às 13h (15h BSB) e quando esta edição entrar em circulação já estou viajando para Boa Vista. Na capital de Roraima, participo, hoje, estou em uma mesa-redonda no II Colóquio Internacional de Práticas Pedagógicas e Integração, na UFRR com uma colega da Espanha e outro da Venezuela.
Minha fala no entardecer de ontem na XXVI Semana de Química da UFAM foi “Como formar jardineiros para cuidar do Planeta”. Nesta dimensão o que fazer com o lixo é assunto. E lixo tecnológico se faz novidade. A propósito trago um texto de Ruy Castro que esta na p. A-2 da Folha de S. Paulo de segunda-feira, 19NOV12.
Vivendo com o lixo - Há dez anos, dei-me conta de que o aparelho de fax em minha bancada de trabalho só estava servindo para ocupar espaço — suficiente para acomodar os quatro volumes do "Lello Universal", os três do "Webster's Dictionary" e os nove da "História da Literatura Ocidental", de Otto Maria Carpeaux. Sei disso porque foi o que botei no lugar quando me livrei do bicho.
Custei a perceber que há muito ninguém me mandava mensagens por fax nem eu para ninguém. Não havia motivo para conservar o objeto que, apesar de meio úmido de maresia, ainda funcionava bem. Assim, dei-o para minha faxineira, que o aceitou empolgada — até concluir que, também para ela, aquele aparelho já era inútil, derrotado pelo e-mail. Perguntei-lhe outro dia o que tinha feito com o fax. Não se lembrava.
É o que vivo me perguntando: para onde vão esses aparelhos depois que morrem? Com os eletrodomésticos, é diferente: antes de ir para o ferro-velho, um liquidificador pode atravessar gerações, mesmo que bata abacate, amendoim e gelo de hora em hora. Mas celulares, torres, teclados, monitores, notebooks, mouses, baterias, pilhas têm de ser regularmente jogados fora, destino que também já atinge iPods, Kindles, Nooks etc. -esses, não por desgaste, mas por já superados. E para onde vão as embalagens de plástico disso tudo?
Por mais que os órgãos do ambiente lutem para que as empresas que produzem ou vendem lixo eletrônico o recebam de volta e lhe deem um fim adequado — chama-se a isto de "logística reversa"—, parte de seus componentes tóxicos continua entre nós, no ar ou na água. Donde não se espante se, numa dessas, seu café ou limonada vier temperado com mercúrio, chumbo, berílio, cádmio ou arsênico.
Afinal, para onde quer que se mande esse veneno —reciclado ou não, ele não tem como deixar o planeta.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

21. MAIS UMA JORNADA AMAZÓNICA E HOMO SAPIENS 1900



Ano 7***  PORTO ALEGRE/MORADA DOS AFAGOS  ***Edição 2303
Esta edição abre com o anúncio de uma jornada amazônica— minha terceira neste semestre — que se inicia hoje. Parto de Porto Alegre no início da manhã e nesta quarta-feira, ao entardecer faço uma palestra na XXVI Semana de Química da UFAM, em Manaus. Amanhã, falo no V Seminário de Integração de Práticas Docentes e II Colóquio Internacional de Práticas Pedagógicas e Integração, na UFRR, em Boa Vista. Na sexta-feira, cumpro uma atividade organizada pela SBQ-RR tenho duas falas em Bonfim, RR e uma Leten na Guyana. No sábado tenho um minicurso na UERR, em Boa Vista. Retorno domingo. Serão um total de seis falas em quatro dias.
Nesta terça-feira, nas aulas da manhã e da noite de Teorias do Desenvolvimento Humano assistimos ao impressionante documentário “Homo sapiens 1900”. Não sei se poderia haver uma melhor comemoração (não foi tal o propósito) do “Dia da Consciência Negra” que propõe, também, reflexões acerca do racismo. Sou muito grato ao meu colega e amigo Geziel Moura — de Belém do Pará, que me enviou o filme, que eu desconhecia.
Homo Sapien 1900 é um documentário, de 88 minutos, do diretor sueco Peter Cohen lançado em 1998 que foi construído a partir de arquivos de fotos e filmes na tentativa de narrar como a Europa na passagem do século 19 para o 20 tentou estabelecer a eugenia e a limpeza racial como formas de aperfeiçoar o ser humano.
Trago, para os interessados um comentário do filme retirado, com reconhecido agradecimento de renanescarlate.blogspot.com.br/2008/04/resenha-do-filme-homo-sapiens-1900.html
O filme “Homo Sapiens 1900” é ao mesmo tempo chocante e esclarecedor. Uma obra prima do já consagrado diretor sueco Peter Cohen, por seu “Arquitetura da Destruição”, o longa aborda o polêmico tema da eugenia desde sua concepção até a expressão máxima durante o regime nazista alemão. Com uma descrição e explicação fantástica do assunto, o espectador envolve-se no tema e perplexo fica ao ver até que ponto pode chegar o homem que objetiva a perfeição do ser, a criação de uma verdadeira máquina irretocável, a partir de um misto de estupidez e insanidade.
Muito diferente do que se imagina o pioneirismo no estudo da eugenia não foram nos regimes fascistas em suas mais famosas versões, o italiano e o alemão. Iniciado no início do século XX na pacata e tranquila Suécia, a prática da eugenia ganhou vários adeptos no mundo, entre eles, Estados Unidos, Rússia e a emblemática Alemanha.
Como Peter Cohen deixa bem claro, a eugenia em si, não é um fato negativo, a partir do momento em que se procura o melhoramento da raça humana. No entanto quando essa prática torna-se obsessiva tendo por objetivo a criação de uma raça humana perfeita, um verdadeiro super-homem indefectível, ela torna-se altamente danosa a humanidade em geral, pois, é posto em prática uma manipulação biológica, que origina para uma limpeza racial.
Repugnante no filme é a forma como a eugenia é vista como uma forma de higienização racial essencial a sociedade moderna, visto que com o desenvolver de um homem superior portador de uma capacidade intelectual de alto nível, a sociedade se harmonizaria proporcionando o aumento da produção industrial. Ainda sobre a criação do homem perfeito, este deve ser encarado como um produto de qualidade, para uma sociedade merecedora e como uma exigência da vida moderna.
Imagens que ficam marcadas para o espectador, são as do micro filme mudo que remonta a eliminação de recém-nascidos portadores de alguma má formação congênita ou qualquer tipo de deficiência. Essa decisão era tomada após a convocação de uma reunião de médicos que tinha o objetivo de decidir sobre o destino do bebê, tão natural quanto uma reunião de negócios. Médicos e biólogos especializados na eugenia viajavam por entre os países europeus e os Estados Unidos pra divulgar e dissipar essa política de extermínio como se fossem as últimas inovações da medicina.
Maior expoente da pesquisa e prática da eugenia e incorporada as suas políticas, a Alemanha cultivou essa busca pela criação do homem ariano perfeito, ou seja, aquela raça já considerada por eles como superior, deveria ter exemplares humanos de uma verdadeira preciosidade biológica. Tamanha loucura, com certeza podemos assim designar, era fruto de uma mente doentia de seu fürher Adolf Hitler. Como marcas desse delírio eram sem dúvida, as casas que os nazistas criaram para abrigar mulheres que dariam à luz ao futuro super-homem. Essas "cobaias parideiras" terminaram criando problemas no próprio seio do nazismo, na medida em que o cruzamento sexual entre machos e fêmeas para a reprodução desse homem ideal entrava em choque com o conceito de família que estava na base do regime.
Mas não eram somente os alemães, que executavam esse artifício. Embora estes tenham emblematizado à questão com a política de eliminação de massas em campos de concentração, a União Soviética, sua principal rival ideológica, não ficava para trás. Embora por caminhos opostos, ambos os regimes totalitários recorreram à eugenia como forma de criar o novo homem que propunham. Na URSS de Stálin, a eugenia tinha como foco o cérebro e o intelecto, também com vistas à criação de um novo homem idealizado, capaz de executar as necessidades e demandas do regime. Na Alemanha nazista, a limpeza racial passava pelo corpo, buscava a beleza e a perfeição física nos moldes que deveriam construir o super-homem ariano, viril, forte, atlético.
Essa manipulação biológica como arma para eliminar todos os que não se adaptam ao padrão racial desenvolvido por um ideal fascista de homem, seja fascista, comunista ou liberal, pode tentar ser explicada de um ponto de vista de um ser humano tido como incompleto. Prevalecia o medo da decadência e a incapacidade do homem em saber lhe dar com o diferente, o feio e o disforme, que segundo as teorias fascistas, seriam frutos do progresso.
Num primeiro impacto o filme é de aterrorizar, isso num sentido de total incompreensão de um subjugar do amor, de saber, ou melhor, de não saber o limite da loucura humana. Cohen soube mostrar a situação como ela era e as perspectivas diferentes, os ideais daqueles que defendiam a eugenia. Embora continuemos espantados com mentes que beiram a demência, percebemos que esse não é um fato já superado e enterrado na história. Os neonazistas do agora e as práticas xenófobas podem ser encarados como uma nova etapa dessa política acima de tudo discriminatória. As incontáveis pesquisas e experiências científicas também nos fazem lembrar o assunto, pois o homem ainda continua na pauta da ciência moderna. O longa-metragem vale a pena ser assistido, sem dúvida, pelo conteúdo.