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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

31.- O testemunhar da História

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1854

Não vou repetir, aqui e agora, quando vejo agosto de 2011 esvair-se: tempus fugit. Quando olho que comecei este mês em Saint Petersburgo, realizando um dos meus sonhos de turista e tudo que me envolvi desde então, parece que evocações como a da imagem que colhi quando passeava em dos canais da Veneza setentrional, está distantes há meses e não apenas 4 semanas. Imagens como esta parecem próximas e distantes.


Na Rússia tive dias de rigoroso verão (vivi temperaturas de 42ºC) e aqui um dos agostos que bateu recordes em números dos dias de chuvas neste século e também com o maiordias onde houve temperaturas negativas.

Um agosto onde nesta terça-feira já dei a quinta das 18 aulas do semestre de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa para turmas de Ciências Biológicas, Educação Física, Música e Pedagogia. Um mês em que me entristeço ao saber dos problemas de saúde de meus colegas e amigos Roque e Edni, como já contei aqui. A propósito de saúde também eu fiz mais de uma dezena de exames médicos numa (quase) rotina. Tive a fortuna de receber os melhores resultados.

Neste mês, por conjugação de vários fatores, olhamos aqui muitas vezes a História. Quando foi a recordação do aniversário de minha mãe, visitei sua cozinha. No dia dos pais, evoquei o meu pai carpinteiro da Viação Férrea.

Comentamos aqui o Movimento da Legalidade e também a expansão da indústria automobilística no ABC paulista e também as lideranças surgidas no sindicato dos metalúrgicos. Falamos do suicídio do Getúlio e da renúncia do Jânio.

No ir-se deste agosto chama-me a atenção a necessidade de olharmos de maneira continuada a História, inclusive para dar imortalidade àqueles que queremos. Então vejo que estas miradas têm dimensões muito diferentes. Lia, há dias um livro sobre o ano 1000 e como era a humanidade então. Temos poucas informações. Agora, há momentos que conhecemos melhor. Vejo que nós, leitores deste blogue, somos todos mulheres e homens do século 20. Dá virada do 19/20, sabemos das certezas da Ciência pelos relatos de outros. Ninguém de nós viveu, então. Todavia todos nós fomos testemunhas da comemorada virada do 20/21 acompanhando a chegada do novo milênio em diferentes geografias.

Poucos de nós acompanhamos ocorrências da Segunda Guerra Mundial, Alguns de nós recordamos de fatos relacionados com o Movimento da Legalidade, mas aqui leitores que só conhecem aquele movimento por terceiros. Todavia, todos se recordam do memorável (e badalado) 11 de setembro de 2011.

Assim olhar a História, quando os dias parecem ser cada vez mais acelerados, te dimensões temporais diferentes. Mas há Historia se fazendo aqui e agora. Está as vezes quase passa desapercebida, mesmo que um dia, talvez passados muitos anos, diremos como anciãos da tribo: “Meninos, eu vi!”

Trago um exemplo dos noticiosos que é um feito muito original da história do Século 21, que nossos avós sequer poderiam imaginar.

Mulheres fazem 1º casamento gay direto em São Paulo: O Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Hortolândia realizou sábado, dia 27 de agosto, o primeiro casamento civil homossexual direto do Estado de São Paulo e o terceiro no Brasil. Até então, o Judiciário só havia autorizado conversões de uniões estáveis em casamentos.

A auxiliar de produção Kátia de Albuquerque, de 37 anos, e a motogirl Ednéia Rodrigues de Souza, de 32, casaram-se em regime de comunhão parcial de bens. O pedido de casamento foi aceito pelo Ministério Publico e a cerimônia, autorizada pelo juiz do Foro Distrital de Hortolândia, Luiz Mori Rodrigues.

Em um trecho da justificativa da sua decisão, o magistrado refutou argumentos contrários de ordem religiosa e afirmou que considera "natural" a união. "A atração por pessoas do mesmo sexo, do ponto de vista psíquico, excluídos os preconceitos e razões de ordem religiosa, é tão natural quanto a atração por pessoas do mesmo sexo", escreveu.

A primeira autorização para casamento civil homossexual direto em São Paulo foi concedida em 20 de julho, em Cajamar, mas a cerimônia só acontece em 8 de outubro. Os noivos, Wesley Silva de Oliveira e Fernando Júnior Isidorio de Oliveira adotarão a comunhão parcial de bens. Em seu deferimento, a juíza Adriana Nolasco da Silva, da 1.ª Vara do Foro Distrital de Cajamar, elogiou a decisão do Supremo Tribunal Federal, que em maio considerou que casais homossexuais têm os mesmos direitos e deveres que a legislação brasileira estabelece para os casais heterossexuais: "O STF (...) acabou por prestigiar o princípio da dignidade humana, possibilitando ao cidadão a oficialização de sua relação afetiva, qualquer que seja sua orientação sexual."

O próximo casamento gay no Estado ocorre em 17 de setembro, em Jardinópolis, entre Josy Borges, de 29 anos, e Natália de Almeida, de 20. Pedidos semelhantes foram negados em Jundiaí, Franca e Santa Bárbara d’Oeste (IHU On-line/ Unisinos).

Aqui está algo da história deste agosto. E, agora, nos leremos ‘Quando setembro vier!’. Que para cada uma e cada um, aqui possa ser – também – um ponto de encontro para dois dedos de prosa.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

30.- Mais machismo preconceituoso


Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1853

A cruenta história trazida ontem mereceu a seguinte resposta a um dos comentários: "encantei-me com tua proposta e seria dado a abrir manchete: ‘Teólogo, propõe a canonização de Severina’. Seria edificante: a mulher que pagou para matar o pai, reconhecida como ‘modelo de santidade’. Não deixaria de se significativo invocar Santa Severina, como exemplo de mulher que tendo perdido ‘o pai-protetor’ o descartou enquanto ‘pai-agressor’. Realmente é pertinente a pergunta: ¿por que homo sapiens, quando temos estas cruentas provas do homo bestialis?

Se ontem tivemos um exemplo do machismo que impera dolorosamente em alguns lares – e talvez, mais extensamente do imaginamos –, hoje trago um machismo muito presente na academia e denunciado repetidamente nas palestras e no livro A Ciência é masculina? É, sim senhora!

A propósito, apresento a nova capa da 5ª edição de A

Ciência é masculina? É, sim senhora. No sábado, na Fundação Santo André, foi a primeira ‘circulada’ da nova edição. A edição tem nova cor na capa e foi revisada e ampliada, passando de 110 para 134 páginas. O ISBN agora é 978-85-7431-448-8. A resposta à pergunta título esta agora na capa. Na dedicatória onde antes dizia “Para Maria Antônia, minha neta que, afortunadamente, será mulher em novos tempos” tem agora esta redação: “Para Maria Antônia e Maria Clara, minhas netas que, afortunadamente, serão mulheres em novos tempos”. Esta dedicatória continua a mesma na segunda parte: “Para Gelsa, minha companheira, cujo fazer acadêmico, ajuda a chegada destes novos tempos”. Renovo aqui, meu reconhecimento à Editora Unisinos, especialmente ao esmero e a competência de seu editor professor Carlos Alberto Gianotti.

Em www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna foi publicado Mulheres não se interessam por ciências exatas devido ao romance, diz estudo e a explicação para isso estaria nos papéis tradicionalmente associados aos gêneros. Eis mais uma maneira rasa de se justificar preconceitos:

Um estudo da University at Buffalo, dos Estados Unidos, apontou que, quando uma mulher está interessada em romance, ela se distancia dos estudos acadêmicos e perde o interesse em atividades relacionadas a ciências, tecnologia e matemática. As informações são do site Eureka Alert.

A pesquisa foi conduzida para determinar por que as mulheres, que têm conquistado grande espaço nos campos da educação e do mercado de trabalho, ainda não se destacam nas ciências exatas. Os resultados são descritos em artigo a ser publicado no próximo mês, no periódico especializado Personality and Social Psychology Bulletin.

Segundo o estudo, se os interesses românticos da mulher são despertados, seja por questões sociais ou pessoais, ela se volta mais para as artes e as línguas. O comportamento não foi identificado nos homens pesquisados.

A coordenadora do estudo, a professora de psicologia e PhD Lora Park, explica: “Uma razão para isso pode ser o fato de que buscar objetivos em campos masculinos, como as ciências exatas, entra em conflito com objetivos românticos tradicionalmente associados aos gêneros.”

Park lembra que, na cultura ocidental, há papéis muito definidos sobre como os gêneros masculino e feminino devem agir, quando o assunto é relacionamento. De acordo com a pesquisadora, mulheres que obtêm sucesso em campos "masculinos", como as engenharias, são rechaçadas. Por outro lado, homens que ocupam posições incongruentes a seus gêneros não sofrem o mesmo grau de discriminação.

Temos ainda muito a caminhar. Não somos machistas por acaso. Fomos construídos assim. Pesquisas como estas são passos para trás na sonhada busca por novos tempos. Nestas constatações – nada auspiciosas e muito reducionistas (ou ingênuas) – os votos de uma boa terça-feira e convite para nos lermos amanhã no ocaso de agosto.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

29.- Uma história dolorosa

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1852

Uma segunda-feira que sucede um domingo que para mim foi indoor. Primeiro a chuva que apagou o sol, e depois uma natural ressaca da fabulosa estada no ABC, que faz encolher o fim de semana.

Houve tempo para ler jornais de três dias espalhados gostosamente pelo chão. Vimos, a Gelsa e eu, um filme muito bom (Joana, a Papisa) que ainda desejo ampliar o assunto que está no A Ciência é masculina? É, sim senhora.

Mas a propósito de violência contra a mulher, a pernambucana Severina Maria da Silva, de 44 anos conta sua história dolorosa. Ela foi absolvida pela Justiça de Pernambuco na última quinta-feira, dia 25 de agosto. Ela era acusada de ter encomendado a morte do pai, Severino Pedro de Andrade, de quem engravidou 12 vezes e teve cinco filhos durante os 29 anos em que foi vítima de abusos sexuais e agressões por parte dele. Os assassinos, Edilson de Amorim e Denisar dos Santos, foram presos, julgados e condenados. Mãe de cinco filhos, todos gerados à força com o próprio pai, pagou R$ 800 para que ele fosse assassinado e agora foi inocentada pela Justiça.

Hesitei muito em publicar esta dramática história. Não sei se já tive conhecimento de algo mais doloroso. Junto com os votos de uma boa segunda-feira, peço com antecipação desculpas, se firo a sensibilidade de meus leitores.

A seguir o depoimento de Severina ao jornalista Fábio Guibu, publicada na Folha de S.

Paulo de sábado. Severina ao deixar prédio do Ministério Público em Caruaru

Depoimento: Nunca estudei, nunca tive amiga, nunca arrumei namorado na vida, nunca saí para ir a festa. Até os 38 anos vivi assim e foi assim até quando me desliguei do meu pai, no dia em que ele foi morto.
Meu pai não deixava eu e minhas irmãs fazer nada. Comecei a trabalhar na roça com seis anos.
Aos nove, fui com meu pai para o roçado. No caminho, ele me levou para o mato, amarrou minha boca com a camisa e tentou ser dono de mim. Eu dei uma pezada no nariz dele, e ele puxou uma faca para me sangrar.
A faca pegou no meu pescoço e no joelho. Depois, ele tentou de novo, mas não conseguiu ser dono de mim.
Em casa, contei para minha mãe e ela me deu uma pisa. Fiquei sem almoço.
À noite, minha mãe foi me buscar e me levou para ele, que me abusou. No outro dia, fui andar e não consegui. Falei: "Mãe, isso é um pecado". E ela: "Não é pecado. Filha tem que ser mulher do pai."
A partir daquele dia, três dias por semana, ele ia abusando de mim. Com 14 anos, eu engravidei. Tive o filho, e ele morreu. Eu tive 12 filhos com meu pai. Sete morreram. Seis foram feitos na cama da minha mãe. Dormíamos eu, pai e mãe na mesma cama.
Um dia, uma irmã minha disse que estava interessada em um namorado. O pai quis pegar ela, disse que já tinha um touro em casa.
Eu mandei minha mãe correr com minha irmã. Depois disso, minha mãe não ficou mais com ele. Foram para a casa do meu avô, em Caruaru. Ela e as minhas oito irmãs.
Só ficamos eu e meu pai na casa. Eu tinha 21 anos, e ele sempre batia em mim. Tentei me matar várias vezes, botei até corda no pescoço.
Os filhos nasciam e morriam. Os que vingavam foram se criando. Minha filha estava com 11 anos quando ele quis ser dono dela.
Eu disse para ele: "Se você ameaçar a minha filha, você morre." Meu pai me bateu três dias seguidos.
Um dia, ele amolou a faca e foi vender fubá. Antes, disse: "Rapariga safada, se você não fizer o acordo, vai ver o começo e não o fim." Ele foi para a feira e eu, para a casa da minha tia. Foi quando paguei para matarem ele.
Peguei um dinheiro guardado e paguei ao Edilson R$ 800 na hora. Quando o pai chegou, Edilson e um amigo fizeram o homicídio.
A minha filha, a filha dele, eu salvei. Quem é pai, quem é mãe, dói no coração.
Antes disso, eu ainda procurei os meus direitos, mas perdi. Há uns 15 anos, fui na delegacia, mas ouvi o delegado falar para eu ir embora com o velhinho (o pai), que era uma boa pessoa.
O homicídio foi no dia 15 de novembro de 2005. No cemitério, já tinha um carro de polícia me esperando. Na cadeia, passei um ano e seis dias. Depois do julgamento, fiquei feliz. Agora, quero viver e ficar com meus filhos.

domingo, 28 de agosto de 2011

28.- Domingo para olhar a semana

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1851

De novo em Porto Alegre depois de uma saborosa estada no ABC. Nesta o ponto alto foi a palestra “A (a) ventura de ser professor hoje” para cerca de 200 pessoas dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à DocênciaPIBID da Fundação Santo André. Recebi a melhor acolhida da administração superior da instituição e um auditório muito atento acompanhou a fala durante cerca de duas horas.

Tirei centenas de fotos em uma das mais intensas tietagens já recebida. Autografei mais de 30 livros (seriam mais se houvesse trazido mais alguns exemplares de determinados títulos) de meus seis títulos. O registro imagético é de Jéssica Jaxonetti Ydi.

A caminho do restaurante, conheci externamente o imponente campus da Universidade Metodista de São Paulo em São Bernardo do Campo. Após almoçar com um grupo de professores da Fundação Santo André o Alexandre Ydi me trouxe a Guarulhos. Desta vez com um trânsito mais ameno por ser tarde de sábado.

Depois de um voo em uma companhia onde os assentos não reclinam em nenhuma de suas aeronaves (o que tem uma vantagem para usar o notebook) e até a água é paga, um pouco depois das 18 h estava na Morada dos Afagos.

A última edição dominical teve um desenho inédito: uma semana passada a limpo. Em agosto o design editorial caiu a gosto de alguns leitores. Assim, hoje, a proposta é bisada. Então, aqui está um pouco da semana que passou, com destaque aos comentários.

Na segunda-feira o assunto foi a proposta de introdução no currículo da Califórnia de conhecimento sobre contribuição de gays na história da humanidade. Apresentei, então, uma sugestão: o caso de Alan Mathison Turing (Londres, 23 de junho de 1912 - 7 de junho de 1954) um matemático britânico, que cedo se interessou pela ciência. A maior parte de seu trabalho foi desenvolvida na área da solução de mensagens criptografadas. Somente em 1975 – mais de 20 depois de sua morte – veio a ser considerado o pai da informática. Como homossexual declarado, no início dos anos 50 foi humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores, julgado por "vícios impróprios" e condenado a terapias, faleceu após ter comido uma maçã envenenada com cianeto de potássio. A sua morte foi oficialmente considerada como suicídio

Na terça-feira contei, que quando estivera na Rússia, ainda no começo deste mês, me surpreendera com a maciça campanha de desodorantes e assemelhados para uso masculino. Estes não têm ainda tradição de consumo, pois perfumar-se é/era algo muito particular do universo feminino. É preciso criar hábitos de consumo. Esta observação remeteu-me a um texto “Química perfumada” no qual Sabine Righetti conta que uma resumida história das fragrâncias, que envolve a descoberta da destilação, da extração de óleos e pela criação das moléculas sintéticas. Nos comentários, mais de um leitor evocou o excelente romance ‘O perfume’ de Patrice Süsekid. Essas retomadas dominicais ensejam que se tire do ‘porão’ dos comentários preciosidades trazidas pelos queridos e atentos comentaristas.

A edição de quarta-feira foi numa data ferreteada na história: 24 de agosto, que parece ser um dia com memórias aziagas. Enumerei várias lembranças macabras, onde destaquei a noite de São Bartolomeu: matanças, organizadas pela Casa real francesa católica, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 30 mil e 100 mil protestantes franceses (chamados huguenotes). Lembrei que na história do Brasil não é imune a data é carregada data: em 1954, suicida-se o Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, (“Saio da vida para entrar na história”) originando comoção nacional, com quebra-quebras e arruaça em várias cidades brasileiras.

Como em 24 de agosto é comemorado o “Dia de Oxumarê“, data que a igreja católica homenageia “São Bartolomeu“. Oxumaré, símbolo da continuidade e da permanência trouxe algo que parecia ter as bênçãos de Oxumaré: Após tsunami, dinheiro de japoneses encontrado nos escombros retorna a donos. Os moradores das cidades japonesas destruídas pelo terremoto seguido por tsunami de 11 de março passado conseguiram reaver mais de 3,6 bilhões de ienes (cerca de R$ 76 milhões).

No comentário os leitores se dividiram: os japoneses seriam mais éticos que, por exemplo, os brasileiros?

Na quinta-feira, uma vez mais, as polêmicas religiosas foram destaque. O texto de Renato José de Oliveira – que publicou no seu blogue – educacao2010.criarumblog.com – "Elucubrações Agnósticas", catalisou as melhores discussões e em número de comentários – dezoito – foi a blogada recordista da semana. O livro História natural da religião, da autoria do filósofo e iluminista escocês David Hume (1711-1776) catalisou algumas das discussões. A mim sempre parece que os comentários ficam subvalorizado pelos leitores. Permito-me sugerir àqueles que estiverem interessados no tema revisitar os comentários argutos de alguns leitores na quinta-feira.

Na sexta-feira mais um texto de leitor convidado. Quando da discussão, em 19 do corrente: Tripartição do Pará: ¿Sim ou não? A extinção do trema entrou como Pilatos no credo. Entre os maiores saudosistas, Francisco Simões Escritor, Poeta, Professor propôs um texto feyerabendiano de sua autoria: ”Não trema, questione!” Mesmo tendo sido o segundo texto mais comentado na semana, as discussões centraram-se mais em aspecto políticos do (des)acordo ortográfico. Para mim. O trema, como Inês, está morto.

Neste sábado em dois tempos fiz evocações recentes, em dois cenários, da história do Brasil, que testemunhei. Primeiro, por estar no ABC recordei a expansão da indústria automobilística nos anos JK, e como consequência a mais decuplicação da população de

cidades da região em poucos anos. Ainda o surgimento de um sindicalismo forte entre os metalúrgicos com o surgimento de expoentes como ex-presidente Lula.

Outro evento recente recordado foi os 50 anos do “Movimento da Legalidade” que garantiu a posse do vice-presidente como presidente.

Esta uma vista d’olhos em uma semana que foi chuvosa e fria e que teve ainda tristezas de saber dos problemas de saúde do Roque e do Edni, como contei aqui na abertura da edição de sexta-feira.

Com votos de um bom domingo que quase despede agosto e se prepara para para receber o florido setembro, já com os ipês amarelos em flor um convite: leiamo-nos amanhã.

sábado, 27 de agosto de 2011

27.- 50 anos da legalidade

Ano 6

SÃO BERNARDO DO CAMPO

Edição 1850

Escrevo desde o ABC Paulista [Região do Grande ABC ou ABC] o mais significativo polo do Estado de São Paulo (talvez da América do Sul), que pertence a Região Metropolitana de São Paulo. A sigla vem das três cidades, que originalmente formavam a região, sendo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C). Essas três cidades possuíam nomes de santos, dados em ordem alfabética no ato de suas fundações, devido à influência da religião Católica na então Colônia portuguesa.

Cheguei a Guarulhos um pouco antes das 17h, onde era aguardado pelo Alexandre e pela Jéssica (esposo e filha da Simone). É a professora Simone Ydi, coordenadora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à DocênciaPIBID da Fundação Santo André, minha anfitriã nesta viagem. Como ela estava em aula recebi as atenções do Alexandre e da Jéssica. Levamos cerca de 1h40min para fazer um trecho de cerca de 30 km, que foram aproveitados no conhecimento da História e da Geografia da região.

À noite no jantar tive a companhia dos dois e também do Prof. Toshiharu, conhecido de vários eventos e de sua esposa Denise e da filha Tatiana. Foi uma gostosa confraternização, por mais de duas horas, que parecia reunir velhos amigos de há muito. Amanhã falo sobre a “A (a)ventura de ser professor” no encontro do PIBID, em Santo André, razão desta vagem.

Esta blogada ocorre desde São Bernardo do Campo. Esta é uma cidade que teve/tem um marca muito forte na História do Brasil. Ainda nas décadas de 50/60 do século 20, ela recebe o parque automobilístico brasileiro, então em franca-expansão. O parque chega para alavancar de uma vez por todas o desenvolvimento do município, que, de 60.000 habitantes em 1960, passa a ter 740.000 já em 2000 (765.000 em 2010). Desta forma, a indústria automobilística/autopeças passa a designar a cidade como a "Capital do Automóvel".

A expansão da indústria automobilística gerou um movimento sindical metalúrgico muito forte. São históricas suas lutas que fizeram surgir líderes operários históricos, dos quais o ex-Presidente Lula – que mora muito próximo do hotel onde estou – é provavelmente a expressão maior. Não sem emoção que estou pela primeira vez aqui.

Falar em emoções, hoje, faz 50 anos que começou um dos mais significativos movimentos da História do Brasil – e mais particularmente do Rio Grande do Sul – quando se impede um movimento golpista que tentava impedir o vice-presidente João Goulart assumir a Presidência da República, quando da renúncia de Jânio Quadros, há sete meses no governo.

Recordo que no meu primeiro ano de professor acompanhava a ‘voz da legalidade’. Na evocação daquele agosto de 1961, trago uma apimentada crônica escrita pelo Prof. Juremir Machado, que colhi em www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado. Ela substitui com oportunidade a resenha sabática hoje. Para jovens trará interrogações e para os mais anosos fara presente um passado histórico. Para uns e outros, ajudará a curtir o sábado.

Amanhã nos lemos de novo em Porto Alegre, para onde viajo nesta tarde. A agora fiquem com a boa escrita de Juremir Machado.

Ah, agosto Talvez nunca tenha existido agosto como aquele de 1961, quando Brizola, de metralhadora a tiracolo e microfone ao alcance da mão, dobrou os milicos golpistas e levou Jango ao poder. Ah, sim, houve outro agosto ainda mais impressionante, o de 1954, quando Getúlio, com um tiro no coração, saiu da história para entrar no mito e freou o golpismo do Corvo Lacerda, que foi se esconder no vão de uma escada, no meio das vassouras, na Base Aérea do Galeão, antro dos golpistas ligados à UDN. Há meses assim, em que tudo parece acontecer. Os portugueses chegaram ao Brasil em abril. A independência aconteceu em setembro, a República, em novembro, a abolição da escravatura, em maio. A revolução de 1930, em outubro.

Agosto, mês de desgosto, é o mês emblemático do Brasil depois de 1950. Setembro é um mês terrível no mundo nesse mesmo período. Em 1970, houve o “setembro negro”. Morreram entre cinco e dez mil palestinos no confronto entre o exército jordaniano e a OLP. Ninguém esquece um setembro mais recente, há dez anos, o setembro de 2011, o do 11 de setembro que abalou o planeta com os atentados terroristas em Nova York. Diante do horror de setembro, agosto parece pequeno, romântico, provinciano. Mas é uma impressão, uma distorção, uma questão de escala. O agosto de 1954 foi uma derrota para o Brasil. Os episódios de agosto de 1961 terminaram em vitória no começo de setembro. Uma vitória maculada pela solução parlamentarista, que tirou poderes de Jango. Mesmo assim, não foi um empate. No século XX, antes de 1964, o Rio Grande do Sul, como se diz, brilhou no céu da pátria.

Depois, forneceu ditadores, que jamais tiveram as oscilações e a sensibilidade social de Getúlio, que conheceu seu anos de tirano. Qual o nosso pior mês? Do ponto de vista dos nossos índios, certamente abril. É também o mês do golpe de 1964, recuado para 31 de março para tentar enganar os bobos. Estamos em agosto, 50 anos depois do agosto da Legalidade, tentando completar as reformas de Jango, interrompidas pela ditadura, cujos torturadores ainda não foram punidos. Temos uma mulher no poder, quase gaúcha, mostrando que é de faca na bota. A limpeza que Dilma está fazendo nos setores atolados na corrupção é de tirar o chapéu. É incrível como a corrupção brasileira consegue ser suprapartidária. Uau!

Exatamente como em agosto de 1954 e em agosto de 1961, assim como em março de 1964, a direita vocifera contra a corrupção. Lembra os discurso histéricos de Carlos Lacerda e do próprio Jânio Quadros. Sempre que há um governo de esquerda promovendo “reformas de base”, a direita agarra-se a um único recurso: denunciar a corrupção. Só que ela historicamente usa os mesmos estratagemas. Atualmente, é o roto falando do descosido. Dilma está parecendo o Brizola de 1961, sem metralhadora e o mais longe possível dos microfones. É pura atitude. Já enterrou todas as previsões machistas sobre o seu governo. Onde estão os que diziam que ela seria uma mulherzinha a mando de Lula? Estão desesperados tentando aumentar o tamanho da corrupção para se manter vivos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

26.- NÃO TREMA, QUESTIONE

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1849

Ontem visitei, em momentos distintos dois muito queridos amigos, aos quais sou ligado, há muitos anos, pela Educação Química: o que catalisou a visita é que um e outro estão com a saúde menos boa. Num intervalo de 48 anos fiquei sabendo dos dissabores que surpreenderam os dois. Na manhã chuvosa estive no Hospital São Lucas da PUC, onde o Roque Morais foi paciente de uma muito delicada cirurgia. À noite estive na casa do Edni Schroeder que se prepara para iniciar um extenso tratamento quimioterápico. O Roque e o Edni precisam de orações/torcidas/eflúvios e outros quetais para reencontrarem a saúde plena.

Há uma semana, foi assunto aqui a tripartição do Pará. Bateu-se então um recorde histórico em termos de comentários. Ocorre, então, uma curiosidade lateral: o comentário do Prof. Guy Barcellos “espero que a integridade do Pará não tenha o mesmo fim do meu saudoso trema” catalisou manifestações em favor do trema e mais se sugere que este blogue possa ser cenário de discussão sobre o tema. Devo dizer que eu assimilei o acordo ortográfico com muita simpatia e o trema não deixou saudades.

Um paraense, que estreava neste blogue na defesa da não partição, mostrou entusiasmo maior. Francisco Simões [www.franciscosimoes.com.br], também Cidadão Cabofriense, Escritor, Poeta, Professor propõe hoje um texto. Conservei a grafia original, pois não seguir o acordo ortográfico é a proposta feyerabendiana do autor.

Há um convite: ponham lenha na fogueira e (não) queimem o trema. Um bom assunto para fazer esta sexta-feira, mais gostosamente expectante do último fim de semana agostino. Para mim será um fim de semana diferente. Vou, esta tarde, pela primeira vez ao ABC paulista. Estarei hoje à noite em São Bernardo do Campo e manhã faço palestra em Santo Andre. Lemo-nos desde o ABC, então.

Vejam só a que ponto chegamos, discutir nossa língua mãe através do uso ou desuso do trema, ou pior, do comer lingüiça ou linguiça! Barbaridade, e esses doutos senhores levaram 30 anos debruçados sobre livros, tratados, cimeiras, sei mais lá o que, para decidirem o que ninguém lhes pediu que fizessem.

Poderiam ao menos ter a decência de declarar que não pretendiam fazer apenas uma revisão ortográfica, grande mentira. Mas alguns acreditam nisso e até apóiam e justificam. Já li algumas explicações que me deram arrepios pelo excesso de capricho no escrever altamente intelectualizado. Perdão, a mim não impressionam.

Quem mais usa a língua, falando ou escrevendo, é o povo, ou os povos, considerando brasileiros e nossos bravos irmãos lusitanos de Portugal e alhures. Pois eles nem se dignaram a nos ouvir. E somos muitos milhões. Oh gente metida que se apossa do que pertence ao povo há séculos e até em desrespeito às origens do nosso idioma, com aquela pose que o fardão já sugere, meteram suas canetas e disseram: “agora é assim”.

Pois eu, na minha modesta, mas firme oposição, digo que não é não. Já ouviram falar em rebelião silenciosa, sem armas, sem bombas, sem vítimas, porém levada a efeito com seriedade, com “regimentos” de inteligência média, com a palavra como bandeira, com destreza mental no raciocínio e no argumento? Acreditem, entre nós não existem os considerados “inteligência de peru novo”.

Eu já disse em outro texto e confirmo agora esses senhores pretenderam, ou ainda pretendem é unificar a escrita e por conseqüência a fala de brasileiros e portugueses. Devem ter alimentado fantasias delirantes para mergulhar numa utopia dessas. No fundo sei que nem eles, os fardões autoritários da palavra, acreditam no que decidiram, mas não vão dar o braço a torcer.

E pensar que se existem pessoas letradas entre eles, há também alguns “maribondos de fogo” que só lá estão pela influência política. E nós vamos baixar a cabeça inclusive para quem parece ter aposto por último a assinatura no documento e que nem domina o falar, muito menos, o escrever em nosso idioma? Que é isso, companheiros?

Agora vão ter que agüentar a reacção (como dizem e escrevem nossos irmãos portugueses) daqueles para quem suas senhorias manifestaram total desprezo e indiferença. Lembro aqui o que disse um dia o grande Oscar Wilde: "Aos olhos de quem leu a História, a desobediência é a virtude original do homem. A desobediência permitiu o progresso – a desobediência é a rebelião.”


Apesar das inúmeras manifestações que estão acontecendo, muitas de pessoas que não só escrevem nesta internet como na imprensa escrita, percebo, ao ler certas mensagens a mim endereçadas, que alguns torcem o nariz ou disfarçam o mais que podem seu desprezo a quem se posiciona contra a falsa “revisão ortográfica”.

Repito, falsa porque não foi feita exatamente com este objetivo. Alguns querem dourar-lhes a pílula e dizem, até com certa convicção, que foi “muito louvável esta preocupação em unificar nosso falar e escrever”... Será que acreditam em Papai Noel?! Não quero ferir os brios de ninguém, apenas usar o sagrado e inalienável direito de persistir no que acredito e discordar.

Não uso minhas lanças contra moinhos de vento, mas sim no embate pacífico para esta resistência ao que não nos convém. Os acomodados que mantenham suas posições, mas a nossa é mais louvável porque tem uma razão de ser, uma causa, um motivo, e por ele continuaremos a escrever como de há muito o fazemos.

Alguém de minha amizade por quem tenho muita admiração e respeito, que está também contra esta revisão ou reforma ou lá o que seja, fez-me esta observação no domingo ao descobrir algo que lamentou: “Amigo Simões, exatamente como prevíamos o povo está preocupado em entender e usar a reforma ortográfica. Ninguém merece! ...risos... É por isso que eu digo que não adianta brigar porque, infelizmente, o nosso povo sempre se preocupa em seguir o que determinaram! Humildemente!”

Ele me mandara o endereço de certo site onde estão tentando explicar aquilo contra o que nos manifestamos. E afirmam que as suas aulas são preparadas com “muito humor e muita graça”. Parece que julgam estar lidando com um brinquedo e ensinando a crianças!

Minha boa amiga Gui, ao comentar um dos meus últimos textos, escreveu: “TRILHO A PACÍFICA DESOBEDIÊNCIA CIVIL ENSINADA POR GANDHI. NEM QUE O MUNDO TREMA EU ABANDONO O TREMA... MINHA IDÉIA NÃO FICA ÓRFÃ DE ACENTO E O MEU REESCREVER CONTINUARÁ CONSEQÜENTE CONJUGAÇÃO. TALVEZ EU ABANDONE O REELEGER.” -- Parabéns por sua lucidez, amiga Gui.

E encerro sugerindo a leitura de magnífico e recente artigo do poeta, escritor, entre outras muitas qualidades, Vasco Graça Moura, de Portugal, com o título: “Deveras Decepcionado”. Ele tem sido um batalhador incansável contra este malfadado Acordo Ortográfico, que de Acordo não tem nada. Quem desejar ler pode me pedir que o envio. Francisco Simões. (Agosto / 2011) fm.simoes@terra.com.br