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sexta-feira, 28 de junho de 2019

28.—Oriente <> Ocidente

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EDIÇÃO
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Depois de 33 dias (12 em Marabá +7 em Manaus + 10 no Rio de Janeiro + 4 em Marabá) retornei esta tarde à Porto Alegre. Nas três edições anteriores deste blogue se comentou os três primeiros segmentos. Hoje trago uma amostra de uma das produções do quarto segmento.
Durante nove semanas, com 2x4 horas em dois dias, a Profa. Alessandra Rezende e eu desenvolvemos no Programa de Pós Graduação de Educação em Ciências e Matemática da UNiFESSPA o componente Curricular: História e Filosofia da Ciência.
Na tarde de ontem, os mestrandos trouxeram uma análise crítica de um dos capítulos de livro {Decolonialidades na educação em ciências / Bruno A. P. Monteiro... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : Editora Livraria da Física} lançado nesta semana no ENPEC, em Natal, RN.
A trazida da análise crítica, no último encontro do seminário oportunizou um profícuo debate de encerramento do componente curricular. Como amostra se traz a seguir, devidamente autorizado por escrito pela autora, um dos 17 textos produzidos.
ANÁLISE CRÍTICA DO CAPÍTULO “O OCIDENTE ‘CONSTRÓI’ O ORIENTE PARA COLONIZÁ-LO”, Attico Chassot.
Eude Léia Gonçalves Ramos Mendes – Mestranda PPGECM/UNIFESSPA
RELATÓRIO DE LEITURA
O autor amplia a discussão acerca da colonização europeia abordando a relação entre o Ocidente e o Oriente, o que é inovador, pelo menos do ponto de vista latino americano. Para isso, parte do pressuposto de que o Oriente é uma ‘criação’ do Ocidente que delimita não apenas o espaço geográfico, mas também a noção de“externo”e, portanto, passível de dominação.
Com a intenção de responder à pergunta ‘por que não houve revoluções científicas no Oriente?’, o autor faz um apanhado na história da Ciência ocidental e cita as principais mudanças paradigmáticas ocorridas nos últimos cinco séculos. Ao longo do texto, constrói e desenvolve a hipótese de que a influência da ortodoxia das religiões monoteístas dominantes no Ocidente exigiram da Ciência uma postura também dogmática para garantir seu espaço. Por outro lado, “as filosofias orientais moldaram um pensamento que não necessitava buscar explicações (mecanicistas) para o mundo natural”, o que justificaria a ausência de revoluções científicas no Oriente.
CONSIDERAÇÕES
1. As auto-citações estão bastantes presentes no texto e, no Referencial Teórico, há mais títulos do próprio autor que de outros autores. Explica-se que as citações estão devidamente datadas e identificadas, o que não caracterizaria auto-plágio. No final do resumo está posto: “Este capítulo, por ser escrito quando seu autor inicia sua octogésima volta em redor do sol, se reveste de uma mirada crítica a uma parte da produção intelectual do mesmo”...Sugere-se reforçar essa afirmação no corpo do texto como forma de apresentar a utilização de referenciais já publicados pelo autor, demostrando o contínuo aprofundamento de ideias.
2. Embora não seja o foco principal da discussão o autor aponta a Reforma Luterana como um evento crucial para o surgimento da escola tal como conhecemos hoje e cita outros benefícios dela decorrentes: “Talvez outra dádiva da reforma foi fazer a igreja abandonar muito de suas posturas monacais e assumir-se mais inserta no mundo, preocupada com a realidade terrena, e não sonhar expectante com a futura vida celestial”. Diante da afirmação destacada, sugere-se considerar que tais mudanças talvez não tenham tido tamanha proporção, visto que o objetivo da educação proposta, em princípio, seria justamente possibilitar o acesso à vida eterna através do conhecimento das Escrituras.
3. O título sugere o processo pelo qual o Ocidente impôs sua dominação ao Oriente. Numa tentativa de responder a pergunta “Por que no Oriente não houve revoluções científicas?”, aponta-se a ausência dos textos sagrados que garantem a ortodoxia às religiões e a própria filosofia oriental que não busca explicações para os fenômenos naturais. O autor esclarece, inclusive, que esta pergunta “tem sido respondida, há cerca de um século”. Assim, a dominação do Ocidente parece não se evidenciar, pelo menos no que se refere à religiosidade oriental, o que configura a ideia como um paradoxo ao título.
4. O texto impressiona pela erudição da escrita, com destaque para o vocabulário que remete à ideia de uma composição musical. Além disso, a temática envolvente e instigante deve, sem dúvida, fazer parte dos processos formativos de quem se envolve com educação em Ciências. Observo a amplitude da discussão acerca dos processos de colonização que, para nós, latino-americanos, muitas vezes, restringe-se à relação Europa/Continente Americano. O texto também aborda, de forma bastante pertinente, as discussões sobre a “decolonialidade na Educação em Ciências”, por destacar as relações de poder presentes nos processos de aculturação, seja por meio da imposição da língua, da religião ou da ciência dominantes.
A ilustração de Joaquín Torres-García (1874-1949) pintor, desenhista, escultor, escritor e professor uruguaio, não está inserida no livro referido. Sua presença aqui é provisória. 

sexta-feira, 21 de junho de 2019

21--- É um ponto de outra galáxia



ANO
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Usualmente, as pessoas dizem que Escola SESC de Ensino Médio é ponto fora da curva na educação brasileira. Discordo. É um ponto em uma outra galáxia.... porque tudo aqui é tão diferente do que nós temos mesmo nas melhores escolas brasileira. A afirmação talvez coubesse se estivéssemos na Finlândia ou na Coreia do Sul, mas não na América Latina e muito menos do Brasil. Já falei aqui dessa escola muito especial quando eu estive pela primeira vez aqui, em agosto do ano passado. Agora, estou desde a sexta-feira, 14JUN ficando até a tarde de domingo. Tenho o privilégio de conviver aqui por 10 dias numa experiência que me leva a dizer a toda hora “pena que a maioria (quase a totalidade) dos estudantes jamais terá algo nem assemelhado!”
Esta é a terceira de quatro etapas de minha mega jornada junina. Depois de 12 dias em Marabá e 7 dias em Manaus os 10 dias aqui são antecedidos pelos quatro dias que fico em Marabá a partir desta segunda-feira.
Depois deste preâmbulo, esta blogada constará primeiro de breve relato sobre a escola, apoiado em texto que escrevi em agosto de 2018. É preciso lembrar que na internet, especialmente no YouTube, há vários filmes que melhor descrevem a escola do que eu posso fazer aqui. Basta colocar como busca Escola SESC de Ensino Médio. Após farei a transcrição do meu diário de bordo dos 10 dias.
(Foto da página da escola)   A Escola SESC de Ensino Médio se caracteriza por oferecer uma educação efetivamente integral para uma comunidade de alunos e alunas que representa a vasta diversidade cultural brasileira. Os estudantes vêm de todos os estados do Brasil (selecionados dentro da cota de vagas para cada uma das 27 unidades da federação) para formar, juntamente com a equipe de educadores, uma comunidade de aprendizagem. Instalada em um campus de 131 mil metros quadrados em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A instituição conta com uma privilegiada estrutura de ensino, com Espaço Cultural, teatro, laboratórios, biblioteca, ateliês de arte, complexo esportivo, restaurante, além das vilas residenciais para quase 500 alunos e alunas dos três anos do Ensino médio. Dos cerca de 80 professores a metade mora em vilas especiais para professores no campus. As salas de aula foram projetadas para atender até 15 estudantes.
Estudar na Escola Sesc de Ensino Médio confere a todos os alunos e alunas direito ao material pedagógico (incluindo um notebook), uniformes, moradia, alimentação, assistências médica e odontológica.
A oportunidade de viver a experiência da residência é uma das faces mais ricas do projeto da Escola SESC de Ensino Médio. Viver como residente traz a possibilidade do profundo desenvolvimento da autonomia, estimula trocas entre jovens oriundos de todas as regiões do país, aproxima professores e alunos, e permite a construção de valores de cidadania. O principal objetivo da Escola é a efetiva transformação da vida dos jovens, que se desenvolvem sob todos os pontos de vista e concluem o Ensino Médio prontos para seus projetos de vida.
É preciso responder a uma natural pergunta: quando universidades, institutos federais e escolas públicas de redes das diferentes esferas então à míngua de onde vem essa abundância de recursos para esta Escola? A resposta é fácil! Milhões de empregados no comércio (e em serviços assemelhados) descontam uma vez ao ano 1% da contribuição previdenciária que se destinam a organizações do sistema S (Sesi, Sesc, Senar...). Claro que o Drácula da Economia brasileiro já avisou quanto ele vai chupar de sangue para o seu domínio. Isto é (quase) trágico.
A Escola de Ensino Médio do Rio de Janeiro é um dos exemplos dos muitos que se poderia fazer aumentando o número de escolas do SESC Já para todos os Estados da Federação.
O exemplo de uma Educação gratuita e de qualidade destinada a estudantes do ensino médio oriundos de famílias cuja renda não é maior que três salários mínimos deve frutificar.
Agora, excerto do diário de bordos de cada um dos 10 dias de minha sumarenta residência.
01*SEX14 Era cerca de 20 horas quando procedente de Manaus, via Brasília chegava ao Aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro. Era de maneira muito atenciosa esperado pelo professor Gustavo de Paula, coordenador da área de Ciências da Natureza da Escola SESC de Ensino Médio. No trecho até a escola preparamos a semana de residência organizando programas e falando de expectativas dos dois lados. Quando eu cheguei a escola no bairro Jacarepaguá mais uma vez eu me encantei com o campus magnífico que conhecera em agosto.
Estou instalado em um apartamento no bloco 7 Vila dos Professores. Havia frutas, sucos e biscoitos para comer. Muito conforto, são três dormitórios, dos quais 2 são suítes equipamentos inclusive impressora filtros etc. Estou mais uma vez encantado com a escola. Era quase meia-noite quando fui deitar
02*SAB15 O meu sábado começou comigo perdendo o café que encerrava às 8 horas, pois não encontrava o restaurante. Pela manhã o professor Fred foi um anfitrião incansável, resolvendo problemas de internet e outras conexões. Passeamos pelo Câmpus com um carro elétrico para conhecer algumas das muitas dependências almoçamos juntos ao meio-dia a tarde eparei a primeira das falas da semana. À noite fui à residência do professor Gustavo onde sua esposa Melissa e seu sogro Mister Mark me receberam para muito saboroso jantar no qual me encantei com os gêmeos Samuel e Cecília de cinco anos. Foi uma noite de excelente conversação.
 03*DOM16 Pela manhã todo domingo dediquei à preparação de duas falas para semana e um texto para os alunos da Unifesspa em Marabá. À tarde com professor Fredi e o professor Claudinho e 8 alunos da Escola fomos ao Museu de Astronomia e Ciências Afins junto Observatório Nacional. Assistimos entre o material de exposição permanente a uma exposição temporária comemorativa ao Eclipse de Sobral, onde foram os ratificados algumas teorias de Einstein. Foi uma tarde altamente científica vendo os meus conhecimentos de astronomia ainda são muito poucos.
 Jantei na simpática companhia da Alana, uma aluna do segundo ano proveniente de Rondônia; surpreendeu-me a sua sagacidade e seu conhecimento de história.A uma filha de borracheiro usufrui aqui uma escola de excelência e sabe aproveita-la.
04*SEG17 Depois de uma noite insone consegui preparar a fala da tarde que foi para 150 alunos e cerca de 10 professores. O assunto: assestando óculos para olhar o mundo foi muito apreciado tanto pelos professores como pelos alunos. A noite, ao retornar da janta aconteceu um fato pitoresco: eu me perdi no Campus e não achava como chegar no meu apartamento; de repente um aluno veio ao meu auxílio e me orientou onde era. Então ele depois disse: “me disseram que o senhor é o Einstein brasileiro” Eu disse ao David, de Brasília, podes então contar que tu mostraste a direção da casa ao Einstein brasileiro que estava perdido.
Quase 24 horas depois de ter postado o texto que precede correspondente a edição de 21JUN2019, complemento com estes extratos de meu diário de bordo a presente edição. Peço aos meus leitores que relevem o atraso.
05*TER18 A terça-feira, dia do Químico, certamente foi o dia com a programação mais extensa. Pela manhã foi a inauguração da passarela Caminho das Ciências: em cada canto um canto Nesta passarela foi inaugurada também uma galeria com os nomes com fotografias de vários cientistas e eu surpreendi-me com uma foto minha próxima às homenagens Copérnico e Marie Curie.
Entre as várias atrações houve a presença de 28 alunos do 9º ano de uma escola pública municipal dos arredores do campus de uma vieram, a convite, à Escola SESC. Estes foram convidados a fazer duas oficinas uma delas sobre laboratório e cozinha preparando refrigerante, sorvete e uma salada que buscava uma variedade de elementos químicos. Uma segunda oficina foi acerca de energia e luz com várias experiências muito significativas que os estudantes visitantes não só podiam admirar mas realizar os experimentos. Após estas atividades, fiquei emocionado como o convite de 8 monitores (que orientaram os estudantes visitantes) para almoçar junto com eles, quando no cardápio havia bobó de camarão. Mas, mais que admirar o cardápio saboreei nossa conversação na qual me senti muito homenageado.
À noite Prof. Dr. Jorge C. Messeder, Coordenador do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e o Eduardo, vieram de Niterói para celebrar o Dia do Químico. Fomos a fino shopping Barra da Tijuca. Jantamos em um restaurante argentino e Baco foi homenageado vinhos cuidadosamente selecionados pelo Messeder, que nisso tem expertise.
06*QUA19 Quarta-feira pela manhã atendi o convite para assistir a apresentação de algumas propostas de intervenção dos estudantes do 1º ano, como encerrameda Natureza. Gostaria de reforçar o convite e que seria uma honra tê-lo conosco. Os relatos foram das intervenções que fizeram no sentido da melhoria no curso do Rio Fundo lindeiro ao Câmpus um trabalho muito significativo e com posturas políticas agradavelmente surpresas.
A tarde fiz uma palestra acerca da integração dos saberes para professores das diversas áreas mostraram-se muito entusiasmados com as análises que fiz. Após fui para um café com alguns professores no mezanino do teatro. Mais agradáveis surpresas pelas posturas políticas dos meus colegas.
 À noite, em companhia do professor Fredi e da Ana, sua esposa e do filho Eduardo fomos a jantar no subúrbio do Rio de Janeiro no bairro Cachambi. Foi uma noite muito agradável na qual olhamos histórias e tecemos expectativas.
07*QUI20 O feriado de Corpus Christi foi muito bem aproveitado, pois religiosos ou não, celebramos a folga. Liderados Professor Fredi, Ana e Dudu, nas atenciosas companhias do Luis e da Luisa e com a preciosa companhia da professora Inah, uma das fundadoras da Escola SESC Ensino Médio, hoje aposentada, fomos ao Pavilhão de São Cristóvão onde fica o Centro de Tradições Nordestinas aproveitando bastante da festa junina e almoçamos muito bem, previamente abençoados pelas muitas imagens do Padre Cícero. Ao retornar ao Câmpus declinei do jantar, tal meu cansaço.
08*SEX21 Na manhã de sexta-feira me dediquei a preparar as duas falas que teria a tarde. E assim foi: das 15h às 16h horas falei para um grupo de alunos que fazem iniciação científica discutimos alguns assuntos interessantes sobre Ciência. Não foi sem emoção que na manhã de sábado um aluno veio dizer-me que gostou das propostas de Feyerabend que eu apresentara. Das 16h às 18h fiz uma palestra mais ampla sobre o livro A ciência é masculina? É, sim senhora. As duas atividades tiveram manifestações de muito agrado. À noite jantei com a Tainara da Paraíba que me fez durante a janta perguntas de uma entrevista que ela desenvolve.
 09*SAB22 Na manhã de sábado fiz a fala: Para formar jardineiros para cuidar do Planeta para cerca de 30 monitores do grupo ciência e meio ambiente, liderados pelo professor Fredi. Deixei um tema para casa: Pesquisar acerca da Encíclica Laudato Si’.
Após almoçar com um grupo de professores, por mordomia oferecida pelo Fredi, saímos do Câmpus para ele me mostrar que o Rio de Janeiro ainda tem mar. Vi os espaços olímpicos de quando o Rio sediou as Olimpíadas e eu conheci varias praias muito lindas.
10*DOM23 Para a tarde de domingo está previsto o meu retorno a Marabá. Assim, junto aos 12 dias que estive em Marabá, na última semana de mais e primeiro de junho, os 7dias em Manaus e estes 10 dias de Escola SESC de Ensino Médio, mais a estada de segunda à sexta-feira em Marabá, para em 28 de junho voltar a Porto Alegre.
  

sábado, 15 de junho de 2019

15.— Dias manauaras na REAMEC



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Inicialmente uma observação: esta edição do blogue, em razão de viagens, deixou de ser publicada ontem, sexta-feira, seu dia usual, para só circular na manhã de sábado. Ontem à noite cheguei ao Rio de Janeiro, depois de jornada de 12 dias em Marabá e 7 dias em Manaus. Iniciei, então, a terceira etapa de minha maratona, que será de 8 dias no Rio de Janeiro, quando farei uma residência na Escola SESC de Ensino Médio.
É heliocêntrico nesta edição um breve narrar da minha estada em Manaus. Fiz, lateralmente, três falas na UFAM (na tarde de sexta 7, para alunos do curso de Ciências Biológicas; na manhã de terça-feira, duas falas para acadêmicos de Medicina). Vim a Manaus para participar do Seminário 2 da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática/REAMEC.
A REAMEC realiza uma missão quase profética: Os nove estados amazônicos [Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins] com três polos: em Belém (UFPA), em Manaus (UEA) e em Cuiabá (UFMT), num pool de 26 Instituições de ensino superior (10 universidades federais, 08 Institutos federais, 06 universidades estaduais e 02 universidades privadas) oferece o Curso de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática – no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECEM), funcionalmente localizado na UFMT e avaliado com nota 5 (num máximo de sete) na última avaliação (2017) quadrienal da CAPES.
A organização da rede, que teve seu início em 2011, tem como uma das metas formar 200 doutores até 2022 na Amazônia Legal, por meio de ação acadêmica colaborativa entre as IES e os doutores existentes na Região, da área e de áreas afins. Até o final de 2018 já foram formados quase dois terços de doutores previstos na meta antes referida.
No seminário 2, além de duas conferências magistrais, os doutorandos, no terceiro ano de estudos, fazem a segunda apresentação (a primeira fora feita no ano anterior) de seu projeto de tese. Isso ocorre em presença de professores e alunos na linha de pesquisa, na qual dois doutores e um doutorando se constituem em banca de arguição e avaliação. Eu, na linha de pesquisa Formação de Professores assisti de segunda à quinta-feira, a 15 projetos, dos quais em dois eu pertencia a banca e em um terceiro era o projeto de minha orientanda Patrícia Rosinke.
Na proposta Patrícia, Professora da UFMT, Campus Sinop, MT, examina o quanto são tênues os limites entre o sagrado (religião) e o profano (ciência) - ou entre ensino de ciências e ensino religioso. Quase como um estudo de caso - uma situação aparentemente exótica: na catedral católica romana de Sinop, há 4 entre 7 painéis (8 x 6,5 m) recorrem a representações iconográficas dos quatro elementos alquímicos (água, ar, fogo e terra) para se fazer a representação do sagrado marcando não apenas o tetramorfo dos quatro Evangelistas (Lucas, Mateus, Marcos e João), localizado cada um em um dos quatro pontos cardeais, mas também quatro dogmas marianos cada um deles apresentados como proposta icônica de cada um dos quatro elementos por Mari Bueno, uma renomada artista sacra. Nessa Tese se traz algo original ou pelo menos não muito usual em teses doutorais: é senso comum que uma tese é uma construção coletiva envolvendo o doutorando e o orientador, neste projeto isto é muito marcado. Se faz uma assemblage (na autoria de textos) que garante um ineditismo (implicando numa postura feyerabendiana), oficializando o trabalho feito pela doutoranda e pelo orientador. Parece, ainda, não existir nenhuma produção acadêmica acerca dos quatro elementos em espaços sagrados, também parece não haver nenhuma pesquisa acerca dos painéis da catedral de Sinop, MT. Assim, já nos primeiros olhares estamos a confirmar a nossa tese: são muito tênues os limites entre o sagrado e o profano, ou entre a religião e a ciência.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

07.— Visita à Aldeia Parkatêjê



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3406
A primeira blogada junina de 2019 ocorre desde Manaus, aonde cheguei esta manhã vindo de 12 dias em Marabá, onde na tarde se quarta-feira participei de concorrida manifestação comemorativa ao 6º aniversário da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
Venho à capital amazônica para participar, durante a próxima semana, do seminário da Reamec. Fui queridamente acolhido pela minha ex-orientanda de doutorado Irlane Maia. Esta tarde, na UFAM, dei aula para os alunos do curso de Ciências Biológicas a convite da Professora Ana Cláudia Maquiné, presente também a minha chegada. Na manhã de terça-feira, na mesma Universidade, falo para acadêmicos de Medicina a convite da Professora Lúcia Makaren, que participou também do ‘café’ que celebrava o meu retorno à Manaus.
É significativo registrar a chegada, no limiar do domingo da Danila. Ela quer aproveitar, também, para conhecer, até o começo da terça-feira, um pouco da linda capital manauara.
A edição de hoje trás duas leituras acerca de um mesmo artefato cultural. A primeira é leitura da visita à aldeia indígena Parkatêjê (dos Gaviões) feita pelo mestrando do Programa de Pós Graduação de Educação em Ciências e Matemática Iran Medrada da Silva. A segunda leitura é a de minha visita com o Mestrando à mesma aldeia. Aqui e agora: convite à leitura de uma e outra da mesma visita.
PRIMEIRA LEITURA No dia 01/06/2019, eu, Iran Medrada, e o professor Dr. Attico Chassot, fomos fazer uma visita à comunidade indígena Parkatêjê. A comunidade está localizada na BR 222, km 30, em área co município de Bom Jesus do Tocantins. A aldeia Parkatêjê, situa-se na Terra Indígena Mãe Maria, na aldeia Kupjipôkti, que significa “no meio dos brancos/pessoas não indígena” tem, hoje, mais de 500 habitantes. Além dos Parkatêjê, residem indígenas de outras etnias como Krahô, Tebé, Akrãtikatêjê, Akrâtikatêjê e kup(não indígena) que tem relações conjugais ou parentescos com a comunidade. Minha auto-avaliação: Foi feito uma visita na aldeia indígena Parkatêjê, cheia de conhecimentos históricos deste povo indígena, bem como os mecanismos por eles utilizados para a construção de sua identidade cultural. Para a exposição da história dos Parkatêjê foi feito através de falas das lideranças indígena e membros desta comunidade.
Como a história da comunidade contribuiu e contribuí para a formação da identidade do povo Parkatêjê?
•        Se esses ensinamentos históricos são ensinados na escola da aldeia?
•        Como ele, uma liderança jovem, via a importância desses ensinos?
•        Dentre outras perguntas que contribuíram para o dialogo corrente.

Aldeia Kupẽjipôkti, situada na reserva indígena Mãe Maria
Fonte: Pitawã Tembétawã Tembé
Convém destacar que se encontravam no momento, além do Komaitere, mais dois indígenas idosos de apelidos Geraldo e Baixinho (que não falam português) que a todo momento interrompiam a conversa, falando/ explicando a sua história, mais suas contribuições eram descritas na linguagem Parkatêjê.
Ao nos deslocarmos na Aldeia, passamos por uma senhora chamada de Conceição, kup que mora na aldeia há mais de 50 anos, que já foi casada com um indígena e é mãe de 6 filhos indígenas. Ela estava vindo de uma oração na casa de uma indígena pertencente à igreja Assembleia de Deus, religião muito presente no cotidiano desta comunidade.
Em seguida fomos às Escolas de Ensino Fundamental e Médio Pptykre Parkatêjê que funcionam no regimento da secretaria estadual de educação (SEDUC), após fomos conhecer a aldeia, fazendo a visita à casa da senhora Ana Paula, que é kup (= não indígena) casada com um indígena, mãe de duas filhas e professora da escola indígena.
Novamente fomos bem recebidos e foi nos agraciados uma aula de historia oferecida pela professora Ana Paula, que o professor Chassot novamente fizera alguns questionamentos:
•        Como ela via a questão dos ensinamentos dos kup na comunidade?
•        Como ocorria o ensinamento?
•        Se era colocado os ensinamentos culturais do povo indígena na escola que tem o regimento da SEDUC?
•        Para a professora Ana Paula qual era a importância de se ensinar a cultura indígena na escola?
•        Dentre outras que contribuíram para o diálogo.
Para finalizar a prazerosa visita à aldeia, nos dirigimos para a casa do cacique Akroarere (Kwia), que nos recebeu muito bem, ocorrendo novamente uma conversa muito interessante sobre seu povo e a sua história.
Em todos os momentos o cacique falava da importância que seu pai o grande cacique Krôhôkrenhũm teve para o povo indígena Parkatêjê, falando dos seus atos e atitudes que praticou para a sobrevivência e desenvolvimento da comunidade. Assim o professor Attico Chassot, atento as informações fez várias perguntas.
•        Como a história da comunidade contribuiu e contribuí para a formação da identidade do povo Parkatêjê?
•        Se esses ensinamentos históricos são ensinados na escola da aldeia?
•        Como o cacique via os direitos indígenas, visto que é aluno do curso de direito da UNIFESSPA, em Marabá?
•        Como ele, uma liderança jovem via a importância dessa educação?
Dentre outras perguntas que contribuíram para o diálogo corrente.
Por fim finalizou-se visita com trocas de presentes o professor presenteou o cacique com um livro e o cacique presenteou o Professor com uma flecha e com primoroso livro Mikwytekjê ri (isto pertence ao meu povo). Ao chegarmos à aldeia fomos, primeiramente à casa do vice cacique Komaitere, que nos recebeu muito bem, oferecendo-nos café e ficou à disposição para uma pequena explicação histórica referente ao povo Parkatêjê.
 A visita a comunidade indígena Parkatêjê pelo discente Iran Medrada e o docente Dr. Attico Chassot, foi considerada pelo mestrando foi uma aula pratica muito boa, que ocorreu um passeio agradável, onde os indígenas puderam falar a sua história e expressar sua opinião dos assuntos abordados, tendo com isso uma aula agradável dinâmica, que se usou da oralidade. Foi uma atividade que concorreu, e muito, para minha formação (IMdaS).
SEGUNDA LEITURA Minha narrativa acerca de meu fazer na manhã de sábado, 1º de junho, se apropria da leitura feita pelo Iran no segmento anterior e por tal (e também pelo meu desconhecimento das informações já apropriadas) não as repito aqui.
Há um tempo envolvido com estudantes com trabalhos em aldeias indígenas (Foi com a Camila na URI de Frederico Westphalen a minha iniciação). Estivera já em duas aldeias em Roraima, mas quase posso considerar a estada (isto é mais que uma visita) na aldeia indígena Parkatêjê (dos Gaviões) a minha iniciação. Isto também quer significar a minha imensa gratidão ao Iran. O que mais me impressionou foi o carinho do Iran pelos indígenas e o afeto destes para com eles. Ser, emocionadamente, testemunha disto valeu o sábado.
Foto: Iran Medrada da Silva
Tenho significativa dificuldade para destacar que seriam os melhores momentos de minha estrada na aldeia. De maneira indiscutível dialogar em três momentos foi emocionante.
Primeiro com o grupo onde estavam alguns anciãos; neste momento não saber falar o idioma dos Gaviões e eles não falarem Português empobreceu o encontro.
No segundo momento o diálogo com a professora Ana Paula foi significativo. Conversamos como colegas de profissão.
O terceiro encontro foi sumarento. O diálogo com o cacique e também acadêmico de Direito, foi para mim uma aula. Fiquei comovido com a nossa troca de presentes; tocamos livros. Também fui distinguido com um presente especial: uma flecha feita pelos anciãos; tive a fortuna de não ganhar o arco.

É muito importante um registro especial, de algo que já conhecia e que na Aldeia é atestado com evidências, mas não foi por prudência, mencionado.
Há uma relação que não ouso classificar: como TheBigExtractor, uma mega extrativista poluí e degrada as águas, degrada o solo e gera doenças comprovadas. Mas a TheBigExtractor faz algo que se parece muito com as indulgências da igreja católica romana: como reconhece os seus pecados e em troca, como penitência, dá muito dinheiro ás aldeias, hoje constituídas como Institutos com personalidades jurídicas. Este dinheiro penitencial é rateado uma parte entre os moradores e outra parte para a comunidade. Isto explica a presença de carros de alto custo e também a existência de cultivares de hortaliças e outros produtos em hortas mecanizadas.
Outra consequência da presença do dinheiro satânico é seu uso para a aquisição de muitos alimentos (os supermercados agradecem!) do cardápio dos brancos, exótico à comida indígena com duas muito sérias consequências: a) uma alimentação não apenas díspar aos costumes tradicionais e também com menos qualidade nutricional. b) este super consumo de produtos enlatados e outras embalagens gera uma muito grande quantidade de lixo doméstico não transformável em matéria que pudesse recuperar solos degradados. Essas embalagens são jogadas sem cuidado na vizinhança das casas. Os alimentos industrializados aumentam a degradação do solo já envenenado pela TheBigExtractor. Esta é uma muito triste mirada a aldeias indígenas do Pará.


Aldeia Kupẽjipôkti, situada na reserva indígena Mãe Maria
Fonte: Pitawã Tembétawã Tembé