Ano
6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2174
E já estamos no terceiro domingo julino... e as ditas ‘férias
de julho’ são apenas recordações de tempos idos. Nesta domingueira, associo a
um dos assuntos do momento — Olimpíadas — algo que menciono quando interrogo: A
Ciência é masculina? Sim, mas não apenas a Ciência, mas muitas outras produções
humanas, entre ela os esportes.
Eis um exemplo bastante prosaico. Quando, na década de 40
do século passado, o Brasil vivia sob a ditadura getulista, o futebol foi
proibido às mulheres, por decreto do Estado Novo, com argumentos como ser
exacerbador do espírito combativo e da agressividade, qualidades incompatíveis
como temperamento e o caráter feminino e também pelos perigos que pudesse
causar à futura maternidade. O Decreto-Lei 3.199, de 1941, do Ministério da
Educação, em seu artigo 54, dizia: “Às mulheres não se permitirão a prática de
desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Em 1965, o Regime
Militar ratificou a proibição do futebol feminino e de outros esportes para as mulheres,
medida que só foi revogada em 1979, ainda na ditadura militar.
Um exemplo desta
hegemonia masculina pode ser visto quando se observa a relevância conferida a
dois campeonatos mundiais de futebol: o masculino (que não precisa ter o gênero
assinalado) e feminino. Aquele quase ‘para’ o Planeta, este tem uma discreta
menção na imprensa.
Em junho de 2003, a imprensa deu destaque a um evento
futebolístico envolvendo mulheres, com chamada em primeira página antes e
depois do jogo: pela primeira vez, uma partida de futebol, da divisão principal
do campeonato brasileiro, foi dirigida por um trio de arbitragem (a juíza e as
duas auxiliares) formado por mulheres. Não faltaram, então – e isso tem
continuado –, locutores esportivos que fizeram / fazem gracinhas relacionadas
com o acontecimento; claro que essas não são pelas marcas do inusitado, mas sim
caracterizadas pelo afloramento do machismo.
Nesta semana tivemos uma notícia muito repercutida: A
Arábia Saudita concordou em enviar pela primeira vez atletas mulheres para
disputarem uma Olimpíada, nos Jogos de Londres que começam neste mês, informou
o Comitê Olímpico Internacional (COI) nesta quinta-feira.
A judoca Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani vai lutar
na categoria +78kg, e a corredora Sarah Attar vai participar da prova dos 800
metros rasos no atletismo.
O conservador reino islâmico é um dos três únicos países
que nunca enviaram atletas mulheres aos Jogos. Mas os outros dois, Brunei e
Catar, anunciaram meses atrás que incluiriam representantes femininas em suas
delegações.
Há exatos cento e doze anos, em 11 de julho de 1900, a
primeira mulher recebia um ouro olímpico. Foi a britânica Charlotte Cooper,
vencedora nas finais de simples e duplas mistas nos Jogos de Paris. De lá para
cá, a presença feminina só tem aumentado. Elas representavam 1,4% dos atletas
na Olimpíada parisiense (16 pioneiras — contra
1.076 homens).
Nessa expansão feminina, o esporte apenas acompanhou a
sociedade em geral, recebendo os efeitos das mudanças históricas. Exemplo: nos
anos 20, as mulheres ampliaram sua participação olímpica (de 2,4% para 9,6% do
total de atletas), ao mesmo tempo em que ganhavam direito a voto em vários
países.
Outro exemplo: nas décadas de 60 e 70, quando surge e
ganha força o movimento feminista, os Jogos têm novo "boom" de
mulheres (de 10,1% em Roma-1960 para 20,6% em Montreal-1972).
Mas esse caminho foi complicado, afinal, o próprio
fundador do movimento olímpico, o francês Pierre de Coubertin (1863-1937), era
reticente à ideia de senhoritas competindo. Elas começaram atuando em esportes
alternativos do programa olímpico, como o tênis, o golfe e o tiro com arco. Só
entrariam nas chamadas ""modalidades nobres" mais tarde: na
natação, em 1912, e no atletismo, só em 1928.
Na primeira Olimpíada moderna, Atenas-1896, as mulheres
foram proibidas de competir, repetindo um velho costume grego, afinal, nos
Jogos da Antiguidade, elas eram barradas até para entrar nos estádios das
competições.
Naqueles, então, só entravam as sacerdotisas de Hera
(mulher de Zeus), damas solteiras que se encarregavam da chama olímpica na
cerimônia de abertura. Tanta restrição só foi relaxada após um episódio
curioso: em 744 a.C., o boxeador Peisidouros levou ao local da luta sua mãe,
Pherenice, fantasiada de técnico. Ela própria se denunciou, comemorando
efusivamente quando o filho venceu. Foi presa, mas, no julgamento, argumentou
ter obedecido às leis por amor maternal.
Assim, elas até ganharam uma versão feminina da
Olimpíada, a Heraea, que acontecia também a cada quatro anos.
Caro Chassot,
ResponderExcluiruma belíssima aula sobre as Olimpíadas. Sempre soube do machismo que as cercava, mas desconhecia a trajetória das conquistas femininas pela participação nos esportes. Obrigado!
Um abraço,
Garin
Meu querido Attico,
ResponderExcluirtrazes luz ao cenário olímpico ao expor um lado normalmente afastado do foco das matérias jornalísticas.
Impressiona que em nossa sociedade dita moderna ainda existam tantos casos de machismo em tal proporção de significância.
Grande abraço.
PAULO MARCELO
Caro Chassot,
ResponderExcluirVivemos num mundo machista, as mulheres representam mais da metade da humanidade, são responsáveis pela gestação de todos os seres humanos e ainda assim são barradas em muitas atividades pelo simples fato de serem mulheres. Que coisa mais grotesca! Abraços feministas, JAIR.
Acredito que o machismo na realidade seja uma reação mascaradora de instintos homossexuais. Ou seja todo machão, no fundo é um homossexual incubado. Não que eu tenha alguma coisa contra os homossexuais, professo que respeitar as diferenças é o principio básico para se conviver em sociedade.Porém a agressão desmedida dos machões ao dito sexo frágil demonstra uma necessidade insana de posicionamento como macho alfa, dominador, provedor, senhor, ditador...
ResponderExcluirNo fundo tais indivíduos sentem raiva de suas entranhas femininas, afinal todos as temos, e no sofrimento espiritual da má convivência na não aceitação do "eu" feminino, o machista ataca, diminui, despreza e segrega.
Abraços
Antonio Jorge