TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

domingo, 15 de julho de 2012

15.- MULHERES OLÍMPICAS



Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2174
E já estamos no terceiro domingo julino... e as ditas ‘férias de julho’ são apenas recordações de tempos idos. Nesta domingueira, associo a um dos assuntos do momento — Olimpíadas — algo que menciono quando interrogo: A Ciência é masculina? Sim, mas não apenas a Ciência, mas muitas outras produções humanas, entre ela os esportes.
Eis um exemplo bastante prosaico. Quando, na década de 40 do século passado, o Brasil vivia sob a ditadura getulista, o futebol foi proibido às mulheres, por decreto do Estado Novo, com argumentos como ser exacerbador do espírito combativo e da agressividade, qualidades incompatíveis como temperamento e o caráter feminino e também pelos perigos que pudesse causar à futura maternidade. O Decreto-Lei 3.199, de 1941, do Ministério da Educação, em seu artigo 54, dizia: “Às mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Em 1965, o Regime Militar ratificou a proibição do futebol feminino e de outros esportes para as mulheres, medida que só foi revogada em 1979, ainda na ditadura militar.
 Um exemplo desta hegemonia masculina pode ser visto quando se observa a relevância conferida a dois campeonatos mundiais de futebol: o masculino (que não precisa ter o gênero assinalado) e feminino. Aquele quase ‘para’ o Planeta, este tem uma discreta menção na imprensa.
Em junho de 2003, a imprensa deu destaque a um evento futebolístico envolvendo mulheres, com chamada em primeira página antes e depois do jogo: pela primeira vez, uma partida de futebol, da divisão principal do campeonato brasileiro, foi dirigida por um trio de arbitragem (a juíza e as duas auxiliares) formado por mulheres. Não faltaram, então – e isso tem continuado –, locutores esportivos que fizeram / fazem gracinhas relacionadas com o acontecimento; claro que essas não são pelas marcas do inusitado, mas sim caracterizadas pelo afloramento do machismo.
Nesta semana tivemos uma notícia muito repercutida: A Arábia Saudita concordou em enviar pela primeira vez atletas mulheres para disputarem uma Olimpíada, nos Jogos de Londres que começam neste mês, informou o Comitê Olímpico Internacional (COI) nesta quinta-feira.
A judoca Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani vai lutar na categoria +78kg, e a corredora Sarah Attar vai participar da prova dos 800 metros rasos no atletismo.
O conservador reino islâmico é um dos três únicos países que nunca enviaram atletas mulheres aos Jogos. Mas os outros dois, Brunei e Catar, anunciaram meses atrás que incluiriam representantes femininas em suas delegações.
Há exatos cento e doze anos, em 11 de julho de 1900, a primeira mulher recebia um ouro olímpico. Foi a britânica Charlotte Cooper, vencedora nas finais de simples e duplas mistas nos Jogos de Paris. De lá para cá, a presença feminina só tem aumentado. Elas representavam 1,4% dos atletas na Olimpíada parisiense (16 pioneiras  — contra 1.076 homens).
Nessa expansão feminina, o esporte apenas acompanhou a sociedade em geral, recebendo os efeitos das mudanças históricas. Exemplo: nos anos 20, as mulheres ampliaram sua participação olímpica (de 2,4% para 9,6% do total de atletas), ao mesmo tempo em que ganhavam direito a voto em vários países.
Outro exemplo: nas décadas de 60 e 70, quando surge e ganha força o movimento feminista, os Jogos têm novo "boom" de mulheres (de 10,1% em Roma-1960 para 20,6% em Montreal-1972).
Mas esse caminho foi complicado, afinal, o próprio fundador do movimento olímpico, o francês Pierre de Coubertin (1863-1937), era reticente à ideia de senhoritas competindo. Elas começaram atuando em esportes alternativos do programa olímpico, como o tênis, o golfe e o tiro com arco. Só entrariam nas chamadas ""modalidades nobres" mais tarde: na natação, em 1912, e no atletismo, só em 1928.
Na primeira Olimpíada moderna, Atenas-1896, as mulheres foram proibidas de competir, repetindo um velho costume grego, afinal, nos Jogos da Antiguidade, elas eram barradas até para entrar nos estádios das competições.
Naqueles, então, só entravam as sacerdotisas de Hera (mulher de Zeus), damas solteiras que se encarregavam da chama olímpica na cerimônia de abertura. Tanta restrição só foi relaxada após um episódio curioso: em 744 a.C., o boxeador Peisidouros levou ao local da luta sua mãe, Pherenice, fantasiada de técnico. Ela própria se denunciou, comemorando efusivamente quando o filho venceu. Foi presa, mas, no julgamento, argumentou ter obedecido às leis por amor maternal.
Assim, elas até ganharam uma versão feminina da Olimpíada, a Heraea, que acontecia também a cada quatro anos. 

4 comentários:

  1. Caro Chassot,
    uma belíssima aula sobre as Olimpíadas. Sempre soube do machismo que as cercava, mas desconhecia a trajetória das conquistas femininas pela participação nos esportes. Obrigado!

    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir
  2. Meu querido Attico,

    trazes luz ao cenário olímpico ao expor um lado normalmente afastado do foco das matérias jornalísticas.

    Impressiona que em nossa sociedade dita moderna ainda existam tantos casos de machismo em tal proporção de significância.

    Grande abraço.

    PAULO MARCELO

    ResponderExcluir
  3. Caro Chassot,
    Vivemos num mundo machista, as mulheres representam mais da metade da humanidade, são responsáveis pela gestação de todos os seres humanos e ainda assim são barradas em muitas atividades pelo simples fato de serem mulheres. Que coisa mais grotesca! Abraços feministas, JAIR.

    ResponderExcluir
  4. Acredito que o machismo na realidade seja uma reação mascaradora de instintos homossexuais. Ou seja todo machão, no fundo é um homossexual incubado. Não que eu tenha alguma coisa contra os homossexuais, professo que respeitar as diferenças é o principio básico para se conviver em sociedade.Porém a agressão desmedida dos machões ao dito sexo frágil demonstra uma necessidade insana de posicionamento como macho alfa, dominador, provedor, senhor, ditador...
    No fundo tais indivíduos sentem raiva de suas entranhas femininas, afinal todos as temos, e no sofrimento espiritual da má convivência na não aceitação do "eu" feminino, o machista ataca, diminui, despreza e segrega.

    Abraços

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir