TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

31.- ESPECIALMENTE PARA DIZER OBRIGADO.


ANO
 9
AGENDA 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3001

E... já passaram quatro dias da histórica blogada número três mil. Primeiro devo dizer que de maneira aparente, estou resistindo bem às crises de abstinências. Não tive nenhum sintoma de recaída.
Parece que a decisão que anunciei aqui na última edição foi acertada. Sinto-a aprovada, de maneira muito empática por 19 comentários de meus queridos leitores. Isso é gratificante, especialmente se considerar a edição no dia de sua postagem teve recorde de acessos dezembrinos [(434); 203 a mais que no dia 24, por exemplo] para um sábado no ciclo natalino, época usualmente mais fraco em termos de acessos a blogues e assemelhados. A última edição, além dos 434 acessos no dia 27 teve ainda 346 (dia 28) + 301 (dia 29) + 258 (até às 20 horas de ontem), assim com mais de 1,3 mil acessos.
Há comentários comoventes. Claro que muitos massagearam meu ego. Há soneto acróstico e há a edição especial de um blogue. Há amigos solidários que são muito presentes aqui. Há singelas afirmações de desconhecidos que dizem muito em meia dúzia de palavras: Não acredito, porém entendo, e que assim seja. Também há muitos exageros: fica uma lacuna nos artefatos culturais que fazem a alfabetização científica.
Mas esta edição de hoje não é apenas para matar a saudades e dar uma blogadinha. Afinal prometi que, de vez em vez, o mestrechassot.blogspot.com daria sinal de vida. Afinal, em 100 meses (quase 8,5 anos) houve cerca de um milhão de acessos. Isso não se apaga com um palavrório como o contido na edição do último sábado, dizendo tchau.
Assim, aqui e agora neste ocaso de 2014, agradeço a parceria em cada uma nas edições deste ano. Não vou oferecer destaque, mas houve edições históricas, nas quais realmente fizemos juntos um significativo adensamento da alfabetização científica. Por tudo isso: muito obrigado.
Para sonorizar esse agradecimento, cinco minutos de uma muito original apresentação de Tchaikovsky: http://www.youtube.com/embed/tzwWskM4hN8?rel=0
Vale ver e ouvir. Faz bem para a alma.
Os votos para 2015 serão trazidos em uma edição especial do ano internacional da Luz, amanhã.

sábado, 27 de dezembro de 2014

27.- ATÉ... OUTRO MAIS LER


ANO
 9
AGENDA 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3000

Hoje se completam três mil edições deste blogue (isto é algo como cerca de 30 livros de 250 páginas!). Mesmo que entenda que números redondos pedem celebração, não vou fazê-lo. Até aproveitarei o número 3000, que não tem nada de cabalístico (¡e não é capicuo, muito menos primo!) para um anúncio. Como este não é nada trivial, preciso de preliminares.
Quase se completam 8,5 anos de blogares. Comecei em 30 de julho de 2006. Com exceção de um período, entre maio e outubro do ano passado, este blogue foi diário. Naquele período fui estimulado a parar. Era preciso proteger a saúde, diziam.
Defini um aperiodismo. Tive crises de abstinência. Primeiro escrevia uma vez ou duas por semana. Depois três ou quatro, a seguir cinco ou seis. Não aguentei... logo voltei a ser diário, como anteriormente.
Agora, eu defini que sairei de circulação. Decisão difícil? Sim. Maturada? Muito.
Ninguém me estimulou a tal. Muito menos apoiou. Até porque existem algumas poucas pessoas as quais antecipei meu propósito. Não foi/é uma decisão fácil. Também não consigo fazer uma síntese das muitas reflexões que fiz nestas últimas quatro semanas de dezembro, marcadas por um dicotômico: paro/não paro.
Mas, decidi. Vou parar!
Não sinto a sensação de fracasso ou impotência. A rapidação no sistema de absorver e de disseminar o conhecimento determinada pela Internet é galopante. Em 2006, quando comecei, ter blogue era estar na vanguarda. Hoje, apenas oito ou nove anos depois parece algo anacrônico. Poderia trazer meia dúzia de exemplos. Cito um: quando comecei a blogar, ninguém lia em smartphone. Hoje poucos usam as plataformas de então. A diagramação, a extensão do texto e até o assunto requerem outras estratégias. Ainda há pouco, vi um anúncio de um smartphone, para ser pago em 24 meses com a garantia de que em 12 meses de teria crédito para trocar por um novo. O desenfreado consumismo é veraz... e é voraz. Ele valoriza a informação. Desprestigia o conhecimento.
O acesso mestrechassot.blogspot.com não desaparece. De vez em vez, talvez coloque algo. Logo no começo do ano estarei partindo para o exterior em férias. É provável que surjam algumas anotações extraídas do diário de um viajor.
A decisão maior: o blogue diário desaparece. O escrevinhador continua com garra. Estou escrevendo um livro. Disse-me que precisava das horas em que blogava (veja-se, o tempo é passado) para dedicar-me a esta escrita. Bom mesmo será quando eu aprender a só usar correio eletrônico e assemelhados apenas umas duas horas por dia. Isso é uma meta AC 2015.
Obrigado a cada uma e cada um das centenas de leitores que amealhei. Um agradecimento muito especial aos meus estimados comentadores. Vocês foram sustentáculos. Agradeço por serem inspiração. Obrigado por não me fraudarem.
Termino lembrando uma maneira de dar tchau de minha infância: tocava-se a aba do chapéu, às vezes imaginária, se dizia: “Até um mais ver!”. Assim: até outro mais ler!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

26.- EINSTEIN E A RELIGIÃO


ANO
 9
AGENDA de 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2999

Na sexta (19) e na segunda (22) comentei aqui sobre a trilogia de livros que me envolveram em leituras muito significativas neste final de ano: li Infiel que em dois momentos receberam aqui comentários 16NOV e 19DEZ; Zelota resenhado em 22DEZ; e com a trazida hoje de comentários de Einstein e a religião encerro a tríade.

JAMMER, Max. Einstein e a Religião: Física e Teologia. Título original: Einstein and Religion: physics and theology. Tradução: Vera Ribeiro; revisão técnica: Ideu de Castro Moreira. Rio de Janeiro: Contraponto. 224 p. 2000, Brochura, Peso 360 g. ISBN 978-858-5910-37-2
Esta resenha parece-me valorizada, se conhecermos primeiro algo do autor do livro: Max Jammer (1915—2010) foi um físico israelense e filósofo da física. Ele nasceu em Berlim, Alemanha. Jammer estudou física, filosofia e história da ciência, primeiro na Universidade de Viena, depois de 1935, na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde fez doutoramento em física experimental em 1942. Após servir no exército britânico ate o fim da 2a guerra mundial, Jammer voltou a Universidade Hebraica, onde foi professor de história e filosofia da ciência, até mudar-se em 1952 para a Universidade de Harvard. Posteriormente, tornou-se professor e colega próximo de Albert Einstein na Universidade de Princeton, lecionando, também, em outras universidades estadunidenses, antes de, em 1956, tornar-se professor de Física na Universidade de Bar-Ilan, em Israel, onde mais tarde também foi reitor. Ele também foi co-fundador do Instituto de Filosofia da Ciência da Universidade de Tel Aviv, e foi presidente da Associação para o Avanço da Ciência, em Israel. Foi professor visitante no Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Zurique, na Universidade de Göttingen, o Institut Henri Poincaré, na França, na Columbia University, da Universidade Católica da América em Washington, DC, e de outras universidades nos Estados Unidos e no Canadá
Para escrever este livro, Max Jammer se debruçou em profundidade num lado de Einstein que é ignorado pela maioria das pessoas - a religiosidade. Releu seus textos e consultou papéis inéditos, guardados em Jerusalém e na biblioteca da Union Theological Seminary de Nova York. O resultado deste esforço é ''Einstein e a Religião'', onde pela primeira vez são tratados de forma conjunta e abrangente as concepções einstenianas de Deus e o impacto da Teoria da Relatividade sobre a Teologia.
César Benjamin escreveu acerca do livro na página da Editora, que Albert Einstein é, sem dúvida, o maior cientista do século 20 e, possivelmente, de todos os tempos. Sobre ele, no entanto, o romancista e dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt afirmou: "Costumava falar tanto de Deus, que tendo a acreditar que fosse um teólogo disfarçado."
O livro começa recuperando a atmosfera cultural que cercou a infância de Einstein, filho de uma família judia que, embora sem renunciar à sua ascendência, não observava com rigor os ritos tradicionais do judaísmo nem frequentava serviços religiosos em sinagogas. Vemos então, passo a passo, o desenvolvimento intelectual de um jovem que se tornou irreligioso aos doze anos de idade, justamente quando se preparava para fazer o bar mitzvah, e depois, sob a muito significativa inspiração da filosofia de Spinoza# (ver nota ao final0, desenvolveu a ideia de uma "religião cósmica" que muito influenciou sua conduta e sua concepção de mundo, mas na qual não havia lugar para um Deus pessoal. Por isso, Einstein foi muitas vezes acusado de ateu. Porém, suas cartas, artigos e conferências, bem como um sem-número de registros de conversas pessoais, não deixam margem a dúvida de que foi um homem dotado de forte sentimento religioso, sempre em busca do sentido profundo da existência e consciente da relação íntima que liga religião e ciência.
No último capítulo do livro (o mais complexo do livro), Max Jammer discute com erudição as implicações teológicas da Teoria da Relatividade. A revolução realizada por Einstein em conceitos fundamentais, como os de espaço e de tempo, bem como a criação da cosmologia científica, que seus trabalhos inauguraram, deram início a um debate de altíssimo nível, que se estende até hoje, sobre a compatibilidade das visões de mundo professadas por cientistas e teólogos contemporâneos. A apresentação desse fascinante debate encerra "Einstein e a religião", deixando o leitor mais próximo das questões essenciais da existência.
#Baruch de Espinoza [Chamado pelos pais de Bento, chamou-se Baruch, enquanto judeu e finalmente utilizou Benedictus (Benedito Espinoza) para assinar a sua Ethica; em hebraico: ברוך שפינוזה, transl. Baruch Spinoza] (24 de novembro de 1632, Amsterdã — 21 de fevereiro de 1677, Haia) foi um dos grandes racionalistas do século 17 dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

25.- AOS QUE CREEM E AOS QUE NÃO CREEM


ANO
 9
AGENDA 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2998
Esta blogada é apenas para desejar alegrias pela data aos que creem e aos que não creem.
Aos primeiros, os votos são de alegria pelo poder da fé na crença de um Deus que se encarna. Acredito que não deva haver mistério de fé maior do que este: um Deus fazer-se homem.
Aos outros, — tenho sempre dúvidas acerca da existência real destes — que possam curtir o recesso laboral catalisado pela maior data religiosa do mundo ocidental. A alegria de se associar aos que creem sem discriminação é uma das vitórias de nossos tempos.
Desejo, também, muita alegria pelas festas que têm a magia de congregar, sem distinção, crentes e não crentes.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

24.- Talvez, hoje a data mais memorável de minha infância


ANO
 9
AGENDA 2015 em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2997

Dei-me conta que este já é o nono blogar destinado a celebrar com minhas leitoras e meus leitores aquela que para mim a data mais evocada. Quando remexo no baú etiquetado com a palavra saudades as noites de 24 de dezembro afloram. Quando escrevia no meu lapKopf o texto que compunha esta edição, imaginava que nas oito vezes anteriores escrevera algo que se assemelhava com o texto que projetava.
Num matar saudades, resolvi revistar os 24 de dezembro desde 2006. Enganara-me nas previsões. Há singularidades, a começar pela primeira, em 2006. Nem lembrava uma blogada simples escrita desde Sofia, num natal búlgaro que teve visitas memoráveis a monastérios.
Houve tempos de nossa infância e mesmo da pré-adolescência que a noite de 24 de dezembro era a mais esperada do ano. À medida que os dias passavam, no começo de um novo ano, parece que o natal ficava mais longe. Depois dos finados, havia a impressão que o calendário quase parava. Hoje parece que tudo passa tão rápido. Nossas agendas, então, eram tênues e os dias custavam a passar. Hoje, são muito densas e quase sem nos darmos conta: “... logo ali já é natal!”
Em 2010 amealhei algumas lembranças desta data na minha infância: No dia 24, já em Montenegro, quando estava com uns 10 anos, eu tinha o privilégio – talvez por ser o mais velho – de ajudar minha mãe na montagem do presépio. Uma peça da casa era interditada aos demais. Ali se realizava, em espaço que cobria uma área bem significativa, a montagem da vila de Belém, que recebia as mais fantásticas intervenções no seu cenário. Talvez nenhum belemita reconhecesse sua vila. Aliás, isso é traduzido pela miríade de representações de cenas do nascimento de Jesus que existem. Afinal: imaginar não é fazer imagens!
Recordo que em um ano a gamela que era usada durante o ano para a lavação dos pés quando vínhamos da rua transmutou-se em um lago, onde nadavam patinhos de celuloide. Havia uma queda d’água que fazia girar uma roda que tracionava um moinho. Tinha também uma fogueira (uma lâmpada revestida de celofane vermelho coberta por carvões) onde se aqueciam pastores. Havia duas angolistas que moviam os pescoços, que se comparadas às ovelhas em suas dimensões deveriam ser maiores que dinossauros. Duas formas destas para assar pão recebiam terra, onde arroz germinado, já há duas semanas, imitavam uma pastagem onde estava um pastor com um rebanho de ovelhas.
A gruta, feita de barba de pau – conseguida semanas antes em longas caminhadas até o Faxinal – tinha José e Maria com o berço vazio, este só receberia o menino, à noite, durante o canto de ‘Noite Feliz’ – que fora ensaiado a cada dia nas semanas que antecediam a grande noite. Só então ocorria a entrega dos presentes.
Recordo que quando foi montado pela primeira vez o presépio (talvez, em 1946! Ainda, em Jacuí) que a mãe comprara em Cachoeira ou Santa Maria, na se sabia que havia algo imitando um cocho para ser o berço do menino Jesus. Meu, como hábil marceneiro, preparou uma caminha que terminou não usada.
Lembro que um ano, montei atrás da gruta uma caixa de madeira, com sua boca coberta por um papel de seda azul, onde eu havia colado estrelas e uma lua de papel prateado, e dentro da caixa uma lâmpada acoplada a um pisca-pisca. Um sucesso tecnológico para os anos 1950s.
Minha primeira desconfiança acerca da veracidade do papai-noel (este legado mercadológico da Coca Cola). Primeiro devo dizer que este entrou tardiamente em minha infância. Minha avó materna – Bárbara Volkweis – falava sempre em São Nicolau ou Heilige Nicklas ou ainda que quem dava os presentes era o Chriskinder ou Menino Jesus. Tínhamos que varrer o pátio, para o burrinho de são Nicolau encontrar o pasto que lhe cortávamos e que desaparecia durante a noite, se nos comportássemos com dignidade para receber presentes.
 Mas meu primeiro descrédito a tudo isso surge muito cedo: a letra A do meu nome era exatamente como lindo e original A que só minha mãe fazia tão lindo. Quando via aquele A usado por outrem, considerava uma traição. Minha mãe acalmou minha desconfiança dizendo que ela ajudava o Papai Noel. E eu acreditei?
Amealhei algumas evocações. Poderia encher páginas principalmente das ameaças de vara do chamado ‘bom velhinho’.
Mas tudo isso sendo fantasias, ainda esperamos a noite de hoje. Que ela seja frutuosa, a cada uma e cada um. Vale curti-la

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

23.- MARGARET LUCAS CAVENDISH (1623-1673)


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2996

Quando em 22NOV2014 falava na II Mostra Científica do Instituto Estadual de Educação Paulo da Gama, em Porto Alegre, destacava que estávamos em um evento marcado por homenagear mulheres. Recordava Hipátia do século 4º como a homenageada da 1ª edição e agora, na edição de 2014, Marie Curie, do século 20, Dizia que há uma vacuidade de mulheres nos 16 séculos que medeiam a presença das duas.
Hoje este blogue revela uma figura excepcional: MARGARET LUCAS CAVENDISH, Ela uma das figuras mais excepcionais do século 17, Com muito orgulho trago aqui, talvez, o primeiro texto em língua portuguesa sobre a primeira cientista do Reino Unido.
Margaret Lucas Cavendish (1623-1673) foi uma das primeiras mulheres autora de obras científicas. Cientista e escritora prolífica escreveu aproximadamente 14 livros científicos. Ajudou a popularizar algumas das ideias mais importantes da revolução científica, incluindo as filosofias naturais vitalistas e mecanicistas concorrentes e atomismo. Foi uma das figuras mais importantes do Século 17.
Margaret Lucas nasceu em uma família abastada, perto de Colchester, Inglaterra, em 1623, como a caçula de oito filhos de Sir Thomas Lucas. Ela foi educada informalmente em casa. Com a idade de dezoito anos, ela deixou a casa paterna para se tornar dama de honra de rainha Henrietta Maria, esposa de Charles I. Acompanha, então, a rainha para o exílio na França, após a derrota dos monarquistas na guerra civil. Lá, ela se apaixonou e se casou com William Cavendish, o Duque de Newcastle, um viúvo de 52 anos, que tinha sido comandante das forças monarquistas, no norte da Inglaterra. Reunindo-se a outros monarquistas exilados em Antuérpia, o casal alugou a mansão do artista Rubens.
Margaret Cavendish organizou, pela primeira vez, uma reunião cientifica informal do "The Newcastle Circle," que incluía os filósofos Thomas Hobbes, René Descartes e Pierre Gassendi. Foi nessa época que Cavendish ganhou reputação por vestir-se de maneira exótica, bem como por sua beleza e sua poesia bizarra. Cavendish se orgulhava de sua originalidade, destacando que suas ideias foram os produtos de sua própria imaginação, e não derivado dos escritos de outros.
A primeira antologia de Cavendish, Poems, and Fancies (Poemas, e fantasias), de 1653, incluía a versão mais antiga de sua filosofia natural. Embora a teoria atômica inglesa no século 17 estivesse em seus primórdios, ela tentou explicar todos os fenômenos naturais como matéria em movimento e em sua proposta filosófica todos os átomos continham a mesma quantidade de matéria, mas diferiam em tamanho e forma; assim, os átomos de terra eram quadrados, os da água de água redondos, os átomos do ar eram longos e os oo fogo eram como lâminas afiadas. Isso a levou a propor uma teoria humoral da doença, em que esta era devida a combates entre átomos ou uma superabundância de uma forma atômica.
No entanto, em um segundo volume, Philosophical Fancies (Fantasias filosóficas), publicado no mesmo ano, Cavendish já havia repudiado a sua própria teoria atômica. Em 1663, quando publicou Philosophical and Physical Opinions, (Opiniões filosóficas e físicas), ela propôs que os átomos fossem ‘matéria inanimada’ para em seguida afirmar que eles teriam ‘o livre-arbítrio e liberdade’ e, portanto, estariam sempre em guerra uns com os outros e incapazes de cooperar na criação de organismos complexos e minerais. No entanto, Cavendish continuou a ver toda a matéria como sendo composta por algo inanimado inteligente, em contraste com a visão cartesiana de um universo mecanicista.
Em 1660, Cavendish e seu marido voltam para a Inglaterra com a restauração da monarquia e, pela primeira vez, ela começou a estudar os trabalhos de outros cientistas. Encontrando-se em desacordo com a maioria deles, ela escreveu, em 1664, Philosophical Letters: or, Modest Reflections upon some Opinions in Natural Philosophy, maintained by several Famous and Learned Authors of this Age, Expressed by way of Letters (Cartas Filosóficas ou, modestas reflexões sobre algumas opiniões em Filosofia Natural, mantida por vários famosos e estudados autores destes tempos, expressa por meio de cartas). Cavendish enviou cópias deste trabalho, juntamente com o livro Philosophical and Physical Opinions, por mensageiro especial para os cientistas mais famosos e celebridades as época. Em 1666 e novamente em 1668, ela publicou Observations upon Experimental Philosophy (Observações sobre Filosofia Experimental), como uma resposta a livro Micrographia de Robert Hooke, no qual ela ataca o uso de microscópios e telescópios desenvolvidos recentemente assegurando levara falsas observações e interpretações do mundo natural. Incluído no mesmo volume com observações foi The Blazing World (O mundo ardente) um romance utópico semi-científico, no qual Cavendish declarou-se "Margaret, Primeira".
Convidada para a Royal Society Mais do que qualquer outra coisa, Cavendish ansiava em ter o reconhecimento da comunidade científica. Ela se apresentou às universidades de Oxford e Cambridge, com cada uma de suas publicações e também apresentou seus escritos à Universidade de Leyden, esperando assim que seu trabalho seria utilizado por estudiosos europeus.
Depois de muito debate entre os membros da Royal Society de Londres, Cavendish tornou-se a primeira mulher a ser convidada a visitar a prestigiosa instituição, embora a controvérsia tenha se dividido entre a sua notoriedade e o fato de ser mulher. Em 30 de maio de 1667, Cavendish chegou com um grande séquito de assistentes à Royal Society. Ela viu como Robert Boyle e Robert Hooke pesavam ar, demostravam a corrosividade de ácido sulfúrico e realizavam várias outras experiências. Foi um grande avanço para uma mulher envolvida com a Ciência e um triunfo pessoal para Cavendish.
Cavendish publicou, em 1668 a revisão final de seu já mencionado Philosophical and Physical Opinions, agora intitulado Grounds of Natural Philosophy ((Fundamentos da Filosofia Natural). Significativamente mais modesta do que seus trabalhos anteriores, neste volume Cavendish apresentou seus pontos de vista um tanto tímida e retraída em relação a algumas de suas propostas anteriores, agora menos extravagantes. Cavendish atuou como sua própria médica, e suas prescrições auto-impostas, como purgações e sangramentos determinaram numa rápida deterioração de sua saúde. Ela morreu em 1673 e foi enterrada na Abadia de Westminster, onde posteriormente foram sepultados Newton, Darwin, Rutherford e outros nomes da Ciência.
Embora seus escritos se mantivessem bem fora da corrente principal da ciência do século 17, os esforços da Cavendish foram de grande importância. Ela ajudou a popularizar muitas das ideias da revolução científica e ela foi uma das primeiras filósofas naturais para argumentar que a teologia estava fora dos parâmetros da pesquisa científica. Além disso, seu trabalho e sua proeminência recebeu reconhecimento como primeira cientista mulher da Inglaterra, que contribuiu muito fortemente para a educação das mulheres e o envolvimento das mesmas em atividades científicas. Além de seus escritos científicos, Cavendish publicou um livro de discursos, um volume de poesia, e um grande número de peças de teatro. Vários destes últimos, particularmente The Female Academy (A Academia Feminina), incluído mulheres e argumentos em favor da educação feminina. Um de seus trabalhos mais laboriosos foi uma biografia de seu marido, incluída como um apêndice de seu livro de memórias de 24 páginas, foi publicado pela primeira vez em 1656. Este livro de memórias é considerado como a primeira grande autobiografia secular escrito por uma mulher.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

22.- COMO FAZER DE UM REVOLUCIONÁRIO UM LÍDER PIEDOSO?


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2995

Na sexta contei aqui sobre a trilogia de livros que marcam minhas leituras neste final de ano: li Infiel / Zelota /Einstein e a religião. Naquele dia ratifiquei comentário anterior acerca da importância do livro autobiográfico da moça negra somali que com Infiel desafiou o islã. Hoje quero falar um pouco sobre Zelota. Espero ainda este mês terminar Einstein e a religião para então comentar em uma blogada.
ASLAN, Reza. 1972— Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré. Zealot, the life and the time of Jesus of Nazareth. Tradução de Marlene Suano. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 303 p. ISBN 978-85-378-1152-8
Zelota é por primeiro um livro polêmico. Um iraniano — Reza Aslan — se propõe escrever uma biografia do homem Jesus de Nazaré e descrever seu tempo. Uma boa síntese da proposta de Aslan está no título do livro. Zelota é um membro de um grupo radical de fariseus, que via Deus como único soberano e que se opunha ao domínio romano. Aslan arvora-se em mostrar como o Jesus zelota foi transformado em mensageiro pacífico ao invés do revolucionário, politicamente conscientizado que em verdade ele foi. O mote de trabalho de quem consultou quase duzentos livros e uns cinquenta artigos, pesquisou em universidades em Israel e nos Estados Unidos é mostrar que as leituras canônicas estão equivocada e ele (Aslan) conta como foi. Ele sabe. Ele tem a explicação certa. Ele mostra-se melhor conhecedor. Também tem muitas certezas.
O livro foi sucesso de vendas e de polêmica nos Estados Unidos. Os anúncios dizem ter mobilizado opinião publica estadunidense. Se diz ser um livro contundente e profundamente político, que honra e faz justiça ao Jesus real. Parece-me, no mínimo, propaganda enganosa.
Faço dois comentários. Um de forma (Como?) e outro de conteúdo (o que?).
Primeiro comentário: quando se conclui na p. 233 a leitura do ‘epílogo’, uma surpresa: da p. 234 a p. 281 (quase 50 cinquenta páginas) há centena de notas, em tamanho bem menor que o texto do livro. Há uma dezena de notas para cada um dos capítulos. Estas não são numeradas e, portanto, não tem chamada no corpo do texto. Suspeito ser uma falha da edição brasileira. Não conheço outras edições. Isto representa uma lamentável perda. Vale ler cada uma das notas, mas nem sempre é fácil encontrar conexão com o texto principal. É preciso dizer que não se espera por estas notas, pois o livro abre com uma nota do autor de mais de quatro páginas. Ponto negativo para a Zahar.
Segundo comentário: Aslan narra sua conversão e seu encontro com Jesus. Ter estado no segundo ano da Universidade em um acampamento evangélico, mudou a vida do muçulmano, reconhecendo Jesus salvador, ressuscitado e glorioso. Nada contra uma conversão. Mas a obra que é para ser histórica fica no mínimo suspeita.
O que livro trouxe de mais original para mim? Uma boa descrição da Palestina no primeiro século da era cristã. E, principalmente, o relato detalhado de divergências (leia-se, inclusive brigas físicas) entre o apóstolo Paulo e o apóstolo Pedro e os demais discípulos. A crer em Aslan as distensões foram muito maiores (mas muito, mesmo) que aquelas que eu conhecia.
Outro dado: Aslan nega a autoria que é conferida a textos do Novo Testamento. Isto vale para os evangelhos e outros textos. Por exemplo, das 14 cartas atribuídas a Paulo, afirma que só sete foram escritas por ele. É lugar comum no livro dizer que isso não foi assim, tal é fantasia etc.
Acredito que um teólogo possa ter uma visão mais crítica. Não sei se vale o investimento de tempo na leitura.
Para quem quiser ler algo do livro:
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2013/11/1369777-leia-trecho-de-zelota-a-vida-e-a-epoca-de-jesus-de-nazare.shtml