TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

domingo, 30 de setembro de 2012

30.- GAUCHISMO: COMO CLAUSURA SETEMBRINA



Ano 7*** Porto Alegre ***Edição 2251
Esta blogada domingueira abre referindo três dos tópicos de sábado ontem anunciados. Pela manhã, a sessão do seminário “Educação e Inclusão” do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão incorporou-se ao V Colóquio de Pesquisa da História do Metodismo no RS, que teve como foco a presença das mulheres na Igreja. Ao almoço tive a presença querida de Enrique del Percio, da Universidade de Buenos; as três que estivemos juntos foram curtas para dois amigos que não se viam deste julho. À noite, 10 colegas do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA confraternizaram aqui; a chuva alterou planos, pois os jardins não puderam ser curtidos plenamente.
Se na edição da última segunda-feira destaquei que um Secretário Municipal de um dos mais importantes municípios do Rio Grande do Sul perdeu o cargo por chamar a Semana Farroupilha de uma ‘babaquice’ eis um contraponto triunfalista (que parece quer fazer conversos, impedindo que alguns de nós sejamos expulsos do solo gaúcho), publicado na mesma data e jornal onde estava a notícia que assuntei na edição dia 24, com o qual encerro o ciclo das comemorações setembrinas:
PAMPIANAS Carta aos intelectuais do jornalista Giovani Grizotti
Apesar de estar expressando minhas ideias neste espaço, dedico este artigo a quem não vive o tradicionalismo. Para os adeptos do CTG, nada do que escreverei aqui soará estranho.
Venho de uma intensa cobertura jornalística da Semana Farroupilha, com reportagens de TV, textos em um blog do G1 e vários projetos especiais, entre os quais, a inédita chegada da Chama Crioula ao estúdio do Jornal do Almoço. Neste mês de setembro, o Estado se uniu em torno de uma tradição. Não houve cidade que não celebrasse a cultura de nosso Estado. O Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre, espera reunir 1 milhão de pessoas até este domingo, quando encerra as atividades. Uma tradição que se espalhou pelo país. Emissoras afiliadas da Globo na Bahia e em Rondônia deram cobertura às festividades nos seus Estados. A Chama Crioula foi acesa, em cavalgada, até na Esplanada dos Ministérios.
Mas há um porém. Há quem diga que se trata de um fenômeno temporal, ou seja, restrito ao mês de setembro. Engano. E os números confirmam: anualmente, quatro dos maiores grupos de baile animam cerca de 500 fandangos em clubes e CTGs. São aproximadamente 280 rodeios por ano, reunindo cerca de 1,2 milhão de pessoas, entre desportistas e visitantes, segundo cálculos do MTG. Mas pouco disso aparece nas agendas culturais.
Artistas nativistas como César Oliveira & Rogério Melo lotam CTGs e, acreditem, até casas noturnas voltadas ao pop e ao rock. Não raro, esses músicos conquistam prêmios nacionais. E segmentos da mídia com isso? Não se sabe. Aliás, o que é mesmo tradição gaúcha? Coisa de “gauchinho”, expressão que, não raro, costumo ouvir de alguns colegas. Ou, quem sabe, um “circo”, como me escreveu, esses dias, um desses músicos intelectuais da cultura, reagindo a um texto que publiquei no G1.
A intensa movimentação cultural tradicionalista nos 12 meses do ano não deixa dúvidas: é preciso rever esses conceitos. Afinal, antes de sermos do mundo, temos de ser regionais.

sábado, 29 de setembro de 2012

29.- PARECE FICÇÃO CIENTÍFICA



Ano 7*** Frederico Westphalen / Porto Alegre ***Edição 2250
Depois de um dia extenso em Frederico Westphalen [orientações, reunião de colegiado envolvendo 3 campi por vídeo conferência e uma dupla jornada de aulas] quando esta postagem iniciar a circular, terei percorrido minha primeira meia hora das 6,5 h que me separam de Porto Alegre, onde pela manhã tenho aulas no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. No começo da tarde recebo meu amigo Enrique del Pércio, da Universidade de Buenos Aires, minha bibliografia quando discuto ‘indisciplinaridade’. À noite, a Morada dos Afagos será cenário de confraternização de docentes dos dois mestrados do Centro Universitário Metodista do IPA.
Nesta edição sabatina, dia de falar em leituras, primeiro um registro de homenagem recebida de um leitor: Bruno Peixoto de Oliveira, da Universidade Estadual do Ceará, residente em Itapipoca, CE, escreveu no Facebook: "Não consigo passar um dia sem ler suas blogadas. Obrigado por todo o conhecimento repassado mestre Attico Chassot."
Hoje a dica de leitura é inusual. Apresento um livro que não li. A matéria Em busca da eterna juventude de Léo Gerchmann, publicada no último domingo em Zero Hora muito me impressionou de tal maneira, que antecipo o comentário à leitura do livro.
Livro relata busca de cientistas do III Reich por fórmula científica que evitasse o envelhecimento. O diálogo a seguir é assustador pelo conteúdo e também pela proximidade territorial. Deu-se na Argentina e consta no livro A Fórmula da Eterna Juventude e Outros Experimentos Nazistas (240 páginas, Civilização Brasileira), do historiador Carlos de Nápoli:
– (...) Quando começaram os bombardeios aliados sobre Auschwitz, no verão de 1944, os projetos experimentais principais se descentralizaram. O do rejuvenescimento continuou perto do spa de Solahuette. Um grupo de mulheres foi instalado ali (...).
– Vinte mulheres.
– Sim, talvez restassem 20 mulheres.
– A senhora participou dessas experiências ou foi utilizada nelas?
– Não nessas, já que era jovem demais e não servia para isso (...).
Quem indaga é o próprio historiador argentino, autor e protagonista do seu thriller incrivelmente verídico. Quem responde é a dinamarquesa Frieda Sorennsen, ainda hoje radicada no sofisticado bairro portenho da Recoleta e descrita pelo estudioso como “uma bela septuagenária com aspecto de uma mulher de 40 anos” – se você desconfiou, sim, o livro mais adiante dirá que Frieda, apesar da relutância inicial em reconhecer, foi uma das tais mulheres submetidas aos experimentos narrados no diálogo acima.
O que está por trás dessa conversa? No trecho a seguir, fica bem claro do que se trata:
“Como contraface do assassinato em massa de soviéticos, judeus e ciganos (...), registra-se o empenho dos médicos do Führer em conseguir rejuvenescimento humano, em particular o de seu chefe supremo, uma descoberta politicamente imprescindível para o líder sem descendentes do Império dos Mil Anos. Não se tratava, nesse caso, das complicações sempre um pouco grotescas das sucessões monárquicas: depois de Hitler não havia nada. O doutor Mengele, conhecido em Auschwitz como o Anjo da Morte, foi o mestre dos mestres na experimentação com produtos dessa natureza, mas não foi o único. Karl Peter Vaernet, capitão da SS, médico em campos de concentração, continuou praticando suas artes na Argentina, em seu próprio laboratório na rua Uriarte, no bairro de Palermo, em pleno coração da cidade de Buenos Aires. O desconhecido bioquímico alemão Ernesto Oton Timmermann foi, por sua vez, sócio de Mengele na Fadrofarm SCA, a maior unidade na Argentina dos laboratórios secretos de Hitler.”
De Nápoli passou 30 anos pesquisando o assunto. Morreu no ano passado. O livro, escrito três anos atrás, chega agora ao Brasil.
Em síntese, o autor assegurava que cientistas nazistas desenvolveram, na II Guerra Mundial, um método de rejuvenescimento destinado a prolongar o período fértil das alemãs que gerariam arianinhos para a posteridade – e, especialmente, a vida do próprio Adolf Hitler.
Autor vê nas experiências o surgimento da aids Estudioso do nazismo, autor de diversas obras a respeito, De Nápoli respalda suas tenebrosas conclusões nos documentos encontrados em uma casa de Buenos Aires, onde o médico nazista Joseph Mengele viveu.
O texto límpido que dá forma a informações surpreendentes se arrisca a cogitar que ali se originava a aids. Os documentos de Mengele relatam: testículos de macaco enxertados em humanos, algo próprio dos experimentos nazistas, “produzia um rápido rejuvenescimento, embora seguido muitas vezes por uma doença desconhecida que levava à morte em questão de meses”.
Seriam os primórdios da aids? De Nápoli acreditava nessa possibilidade.
Documentos acumulados pelo autor mostram como os nazistas, no afã de chegar à chamada “fórmula da eterna juventude” e até de “curar” a homossexualidade, trancafiaram mulheres-cobaias em um spa próximo a Auschwitz. Rejuvenesceram-nas em cerca de 30 anos, à base de hormônios e rígidas dietas constituídas de vegetais, torradas de centeio, geleia real e carne magra.
De onde sairiam tais hormônios? Eram extraídos dos milhões de sacrificados nos campos de extermínio. Terrível, mas real.
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

28.- LESMA: ANIMAL OU/E PLANTA?



Ano 7***      Frederico Westphalen      ***      Edição 2249
Esta edição é postada em Frederico Westphalen, onde ontem vivi produtivas rodadas de orientações com minhas quatro orientandas do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI. Hoje tenho as 3ª e 4ª sessões do Seminário ‘Teoria do Conhecimento’ e ainda uma reunião do Colegiado do Programa pela manhã.
Antes do assunto desta sexta-feira, um comentário acerca da muito concorrida edição de ontem —quase 300 acessos em 12 países—. Um excerto de uma ‘escaipada’ ocorrida na madrugada ao chegar ao hotel:
[Leitor] O blog de hoje não me sai da cabeça — e do coração. ADOREI!!!
[Achassot] Quando escrevia aquilo ontem pensava: "Não posso esperar o livro ser publicado!”
Esse excerto é trazido para alertar quem não leu a carta de Paul-Jacques Curie, irmão de Pierre, na defesa de sua cunhada Marie, quando uma história de amor, em 1911, era execrada.
A matéria de hoje foi publicada no Jornal Ciência da SBPC [http://jornalciencia.com/meio-ambiente/animais/448-elysia-chlorotica] Antes um alerta: este texto é impróprio aos que não aceitam o evolucionismo. Recomenda-se a não leitura do que segue:
Uma incrível vida é encontrada, sendo considerada intermediária entre o reino animal e vegetal. Trata-se de uma lesma marinha, o primeiro animal encontrado capaz de produzir o pigmento clorofila das plantas. A lesma Sneaky parece ter "roubado" genes que permitem esta habilidade incrível a partir de algas que ela comeu. Com estes genes vindos de algas, as lesmas podem realizar a fotossíntese - processo pelo qual as plantas usam energia solar e a convertem em glicose, produzindo assim, o seu próprio alimento.
"Eles podem fazer suas moléculas com energia solar sem precisar comer absolutamente nada", disse Sidney Pierce, um biólogo da Universidade do Sul da Flórida. Pierce estudou estas criaturas únicas, oficialmente chamadas de Elysua chlorotica por cerca de 20 anos. Ele apresentou seus resultados mais recentes somente agora, na reunião anual da Sociedade para Biologia Integrativa e Comparativa em Seattle. A descoberta foi relatada pela primeira vez na Science News.
"Esta é a primeira vez que os animais multicelulares têm sido capazes de produzir clorofila", disse Pierce à Livescience. Essas lesmas do mar vivem em "pântanos" de água salgada na Nova Inglaterra e Canadá. Os genes necessários para fazer a clorofila bem como os cloroplastos (organelas celulares vegetais) foram totalmente "roubados" de algas e incorporados ao DNA do animal.
Estes seres podem ser mantidos em aquários por um mês sem nenhum alimento. Enquanto tiver luz sobre eles, 12 horas por dia, eles sobrevivem sem necessidade de comer absolutamente nada.
Os investigadores usaram um marcador radioativo para ter certeza que as lesmas são realmente produtoras de clorofila, ao invés de apenas roubar o pigmento pré-fabricado pelas algas. Na verdade, as lesmas incorporaram totalmente o material genético, e essa incorporação se deu de modo tão perfeito que a característica ímpar foi transmitida para os descendentes.
Apesar disso, os bebês das lesmas "ladras de clorofila" não podem fazer fotossíntese imediatamente quando nascem, precisam comer bastante alga para ativar algum mecanismo interno, para então produzirem o seu próprio alimento, como as plantas e algas.
Agora os cientistas sabem com total certeza que o DNA de uma espécie diferente pode ser incorporado em outra, já que as lesmas têm provado isso, mas os mecanismos de "transferência de genes" de uma espécie diferente para outra é ainda desconhecido.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

27.- PAUL-JACQUES CURIE: UM EXEMPLO



Ano 7*** Porto Alegre/Frederico Westphalen ***Edição 2248
Esta é mais uma edição em trânsito em uma de minhas repetidas viagens entre Porto Alegre e Frederico Westphalen. Quando esta entrar em circulação já terei percorrido cerca de 1/6 das 6,5 horas de viagem. Hoje e amanhã tenho atividades na URI.
Já contei aqui, mais de uma vez, que escrevo mais de um texto simultaneamente. Esta produção é vergastada por atenciosos (mas, exigentes) colegas que, de vez em vez, recordam que a data se aproxima. Para os primeiros dias desta primavera, que agora se trasveste de rigoroso inverno, há dois capítulos de livro prometidos. Na terça-feira celebrei a entrega de um. Agora, vivo há quase terminação de outro que se arrasta já há mais de dois meses.
Neste escrevo um capítulo de um livro sobre História da Química coordenado por meu colega Euzébio Simões, da UFRPE. Escolhi fazer um recorte da biografia de Marie Curie (detalhei isso em 11 de agosto) onde narro a sucessão dos três calvários que sabem a fel: 1.-A morte trágica de Pierre Curie em 1906. 2.- A perda do acesso à Academia de Ciências da França, por um voto em 1911. 3.- A exploração, em 1911, pela imprensa francesa do romance de Mme. Curie com Paul Langevin (1872-1946)
Ontem ao me dedicar a este terceiro episódio, encantou-me a solidariedade que Marie recebe de Paul-Jacques Curie foto (Paris,1855 —1941) um físico francês irmão de Pierre Curie. Foi professor de mineralogia na Universidade de Montpellier. Com o irmão estudou a piroeletricidade; este estudo levaria à descoberta de alguns dos mecanismos da piezoeletricidade.
Pareceu-me significativo antecipar aqui — esperar pelo livro, protelaria a meus leitores conhecer algo que me comoveu — o apoio do cunhado quando Marie era vítima de difamação chegando-se pedir sua expulsão da França. Ele a defendeu, evocando a esposa leal e querida que fora para seu irmão e nora dedicada ao pai de Pierre e Jacques.
Para Marie ele escreveu quando de uma das reportagens: “...que ralé, que porcos, que porcos imundos”. Para o jornal escreveu:
Morando nas províncias, soube com certa surpresa que algumas pessoas ficaram espantadas com meu silêncio em relação ao odioso ataque contra minha cunhada, e que usaram isto para negar o afeto que sinto por ela e que sempre sentimos por ela em minha família.
Nem preciso dizer em que medida os ignóbeis artigos escritos contra ela provocaram minha indignação: este é o sentimento unânime de todas as pessoas honestas, e as cartas dos Srs. Poincaré, Borel e Perrin manifestam exatamente a opinião que temos a esse respeito... Em nome da família Curie, pode-se dizer que minha cunhada sempre foi, em sua vida particular, tão perfeita e notável quanto se distinguiu, tanto do ponto de vista científico como de forma geral.
Ela foi a felicidade de meu irmão, durante dez ou onze anos de seu casamento, até a morte dele. É impossível imaginar duas naturezas que se entendessem mais.
Ela foi a felicidade de meu pai durante os últimos aos de sua vida, que ele passou sozinho com ela e suas filhas. A afeição que sentiam um pelo outro era real e completa.
Quanto a mim, a ligação que sinto por ela é tão profunda como sentiria com uma verdadeira irmã. Creio que posso dzer que temos plena confiança um no outro, do fundo de nossos corações, e que nada, no futuro, nos separará jamais.
A mim comoveu este exemplo da generosa solidariedade de Paul-Jacques Curie. Quis comparti-lo com cada uma e cada um de meus leitores. É muito bom fazê-lo

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

26.- UMA DECISÃO HISTÓRICA



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2246
Abro esta edição com um ponto de minha agenda desta noite. Vou ao Campus do DC-Navegantes do Centro Universitário Metodista do IPA para fazer uma fala na Semana Acadêmica dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharias e Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
 O título que me foi proposto é Ciência como chave para competitividade e vou aproveitar muito do que falei para um grupo de pesquisadores na manhã de segunda e contei ontem aqui.
Mas o assunto central desta edição — algo inédito na história republicana — está sintetizado em chamada de várias agências noticiosas:
 Justiça retifica registro de óbito de Vladimir Herzog; causa da morte deverá ser "por lesões e maus-tratos" Eis texto veiculado ontem pela Agência Brasil:
Imagem mostra Vladimir Herzog no Dops, em SP O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), determinou nesta segunda-feira (24) a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, para fazer constar que sua “morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)”.
O magistrado atende, assim, a pedido feito pela Comissão Nacional da Verdade, representada por seu coordenador, ministro Gilson Dipp, incumbida de esclarecer as graves violações de direitos humanos, instaurado por solicitação da viúva Clarice Herzog.
Em sua decisão, o juiz destaca a deliberação da Comissão Nacional da Verdade “que conta com respaldo legal para exercer diversos poderes administrativos e praticar atos compatíveis com suas atribuições legais, dentre as quais recomendações de ‘adoção de medidas destinadas à efetiva reconciliação nacional, promovendo a reconstrução da história’, à luz do julgado na Ação Declaratória, que passou pelo crivo da Segunda Instância, com o reconhecimento da não comprovação do imputado suicídio, fato alegado com base em laudo pericial que se revelou incorreto, impõe-se a ordenação da retificação pretendida no assento de óbito de Vladimir Herzog”.
Pedido
A Comissão Nacional da Verdade encaminhou o pedido à Justiça paulista no dia 30 de agosto para que o documento de óbito do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 durante a ditadura militar, fosse retificado.
A comissão atende a um pedido da família de Herzog, que pedia que fosse retirada da causa da morte a asfixia mecânica, como está no laudo necroscópico e no atestado.
A solicitação foi decidida por unanimidade pelos membros da comissão. Além da recomendação, a comissão também enviou à Justiça paulista cópia da sentença da ação declaratória, movida pela família Herzog, e de acórdãos em tribunais, que manteve a sentença de 1978 de que não havia prova de que Herzog se matou na sede do DOI-Codi de São Paulo, órgão subordinado ao Exército, que funcionou durante o regime militar.
“Quando a sentença rejeita a tese do suicídio exclui logicamente a tese do enforcamento e, então, a afirmação de enforcamento - que se transportou para o atestado e para a certidão de óbito - encobre a real causa da morte, a qual, segundo os depoimentos colhidos em juízo indicam que foi decorrente de maus tratos durante o interrogatório no DOI-Codi”, diz o parecer da comissão. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

25.- UM ALIENÍGENA FORA DE SUA TRIBO



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2246
A fala de ontem no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento localizado no extenso e lindo parque industrial da Souza Cruz teve marcas de ineditismo. Se apenas no segundo semestre de 2012, já fiz 26 palestras, esta foi a única na qual deixei o ambiente escolar, para falar numa empresa (que fabrica cigarros).
O cenário externo (jardins e reserva ecológica) e interno é faustoso. Não foi sem razão, me senti um alienígena. Não só não estava na minha tribo — falei para pesquisadores e técnicos altamente treinados nas mais variadas áreas de conhecimento, como: Química, Engenharia Química, Bioquímica, Farmácia, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Materiais, Estatística, Administração, entre outros, muitos dos quais com mestrado e doutorado — como estava em um muito fino auditório (onde o fumar não proibido, mas ninguém fumou) distante da ‘pobreza’ que predomina no chão da Escola.
Há que registrar que o produto fabricado, mesmo com os conhecidos e repetidos alertas acerca de sua sabida periculosidade é disponibilizado ‘generosamente’ dentro da empresa. Problemas éticos, provavelmente, devem aflorar de maneira permanente entre os funcionários.
Minha fala foi a abertura do 1º Congresso Científico do Product Center Américas que se desenvolve até a tarde da próxima sexta-feira. Os continuados aplausos ao final pode ser um indicador de uma muito boa avaliação à minha fala. As duas fotos do evento — uma com o quarteto organizador do evento — são do fotógrafo Anderson Escouto, que ao enviá-las, manifestou o quanto a palestra lhe agradou.
O PC Americas possui 19.800 m² de área construída, composto por cinco blocos integrados de laboratórios (5.400 m2) nos mais modernos conceitos de arquitetura, construção e operação existentes para laboratórios e centros de pesquisas, de acordo com os mais altos padrões internacionais e uma planta piloto (5.800 m2), destinada ao desenvolvimento de amostras de cigarros e novos processos de fabricação. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

24.- SEMANA FARROUPILHA: UMA BABAQUICE?


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Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR  ***Edição 2245
Começa uma das semanas mais densas para mim e na sua abertura, um ponto de agenda inusitado (e já criticado por pessoas que me são próximas): O que é Ciência, afinal? para pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Souza Cruz em Cachoeirinha, esta manhã.
Meu argumento de aceitação do convite está em texto apócrifo do evangelho: “Usemos os excrementos do demônio para adubar as vinhas do Senhor”. Mesmo que, às vezes, os excrementos possam ser ofertados com parcimônia.
Na edição do feriado gaúcho de 20 de Setembro verberei, aqui, contra o cada vez mais exagerado gauchismo. Encontro algo na mesma direção, com consequências no mínimo prosaicas, onde se ferreteia aqueles que não aderem ao fanatismo dos cultores do ‘tradicionalismo’. Eis o que está na página 3 da Zero Hora de sábado. Antes duas dicionarizações do Priberam:
BABAQUICE
BABACA Duas de quatro acepções.
s. f.
1. [Brasil, Informal] Dito ou ato de quem é tolo ou babaca. =IDIOTICE
2. [Brasil, Informal] O que não desperta interesse (ex.: os críticos consideram aquele filme uma babaquice).
adj. 2 g. s. 2 g.
1. [Brasil] Que ou quem é muito ingênuo. = BOBO, BOBOCA, TOLO
2. [Brasil] Que ou quem tem pouca inteligência ou capacidade de decisão. = BOBO, BOBOCA
adj. 2 g.
3. [Brasil, Informal] Que não é estimulante, interessante ou relevante (ex.: personagem babaca). = DESINTERESSANTE, IRRELEVANTE, SUPERFICIAL
Injusta guerra: “Babaquice” foi a palavra que derrubou o secretário de Governo de Cachoeira do Sul. Loir de Oliveira Filho não roubou, não se omitiu em seu trabalho, nem agrediu ninguém fisicamente. O crime que gerou a queda: externar uma opinião no Facebook. “A Semana Farroupilha é uma babaquice.”
Um ponto de vista não é uma verdade. Não gostou? Recrute argumentos, dispare teses, mire no alvo da razão.
No meio do entrevero, o golpe baixo: um representante do movimento tradicionalista sugeriu ao ex-secretário que fosse morar em outro Estado. Como assim? Lotaremos trens de carga e mandaremos para Santa Catarina os que pensam diferente de nós?
“A Semana Farroupilha é uma babaquice.” Eu não concordo, [diz o titular da página 3] a imensa maioria dos gaúchos não concorda. Mas se houver apenas um entre nós que pense assim, deve ter ampla liberdade para dizê-lo. Não é favor. É direito.
O ex-secretário não é agressor. É vítima. Vítima solitária e idefesa. Socorro, precursores da liberdade! Cioso do seu patrimônio político e eleitoral, o prefeito de Cachoeira se apressou em isolar o doente contagioso: “A opinião não reflete o pensamento da administração”. Se, na hora, tivesse lembrado a letra do hino do Rio Grande, o prefeito teria insistido para que seu ex-colaborador ficasse no cargo. Povo que não tem virtude acaba por ser escravo. Escravo de si mesmo, às vezes. 

domingo, 23 de setembro de 2012

23.- MORREU ARNALDO CAMPOS, O BIBLIÓFILO



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR    ***Edição 2244
Esta edição dominical se tece com luto. Ontem li uma  notícia que me fez triste:
Morre o escritor Arnaldo Campos
O ambiente porto-alegrense das letras perdeu, na manhã de quinta-feira, um de seus principais expoentes. O escritor e livreiro carioca Arnaldo Campos morreu em Gramado, aos 80 anos. Arnaldo sofria de Alzheimer, passou os últimos quatro anos em uma clínica na cidade serrana.
Com a mudança para Porto Alegre na década de 50, fui colega do Arnaldo no curso cientifico noturno do Júlio de Castilhos em 1959/60. Lembro dele chegando em aula com pasta de amostras de remédios depois de cumprir jornada como representante de laboratório farmacêutico. Tínhamos outro colega que exercia o mesmo ofício Brutus Gemignani. Arnaldo e Brutus, os dois mais velhos da turma eram referências: nos intervalos, ouvíamos os dois.
Arnaldo sempre esteve intimamente ligado aos livros, trabalhando com eles e por eles. Quando ele publicou “Breve História do Livro” em 1994, fui a Porto do Livro, então, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conversar sobre sugestões que ofereci e ele aceitou. Na entrada da Porto do Livro havia dois atrís [não sei este é o plural de atril ou leitoril] um com a Bíblia e outro com o Manifesto Comunista. E, Arnaldo, o livreiro tinha assunto com todos.  
Ele foi dono das livrarias Vitória (depois rebatizada de Coletânea), na Rua da Praia, onde me reencontrei com ele depois dos tempos do Julinho, da Atualidade, na Galeria do Rosário, da Porto do Livro, primeiro na UFRGS, que mais tarde mudou-se para o 5ª Avenida Center, onde o conversei com ele a última vez. A Vitória foi um importante ponto de encontro de militantes de esquerda durante a ditadura.
Além de ter presidido a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), foi diretor do Instituto Estadual do Livro e titular da Coordenação do Livro e Literatura, da prefeitura de Porto Alegre.
Na Zero Hora de ontem, o escritor Charles Kiefer avalia que a morte do amigo também é uma perda que ultrapassa a literatura: Perdemos um escritor interessante e um homem que atuou na política, que trabalhou em gestões de diferentes partidos.
Entre o fim dos anos 80 e o início dos anos 90, Campos assinou a coluna Biblioteca do Tempo, no Segundo Caderno de Zero Hora. Além de Maria, deixa os filhos Poti e Bartira, ambos do primeiro casamento, com Iara da Silveira.
Agora, lembro de papos que não ocorrerão mais. Perdemos um polímata e  um bibliófilo. 

sábado, 22 de setembro de 2012

22.- FELIZ PRIMAVERA/OUTONO



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR    ***Edição 2243
Se diz que “não se fazem mais estações como antigamente”. Realmente parece que estamos desformatando as estações, mas hoje às 11h49min começa astronomicamente a primavera.
Assim, é natural que, neste sábado a edição seja de celebração e votos de feliz Primavera/Outono para cada uma e cada um dos leitores dos Hemisférios Sul/Norte.
Aqui a chamada estação das flores. Lá as árvores se vestem de um amarelo dourado. Lá e aqui período de climas mais agradáveis, se confirmarem o previsível.
em separado augúrios para aqueles e aquelas que vivem na linha do Equador (leitores de Belém, Bragança, Manaus, Boa Vista, Teresina...) que não têm diferenças significativas nas quatro estações, desejo ventos suaves e frescos para abrandar o sol que faz clima mormacento.
Do ponto de vista da Astronomia, a primavera do Hemisfério Sul inicia-se no equinócio de setembro e termina no solstício de dezembro, no caso do Hemisfério Norte inicia-se no equinócio de março e termina no solstício de junho.
Hoje, dia do equinócio, o dia e a noite têm a mesma duração. A cada dia que passa, o dia aumenta e a noite vai encurtando um pouco, até 22 de dezembro,
E como esse dia equinocial coincide com dia de letras aqui, honro a tradição de sabatinas literárias com três brindes a meus leitores. E com eles a renovação de meus votos.
"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira."
Che Guevara
"Primavera"
Sandro Botticelli (1445- 1510) um dos pintores Renascentista que tive o privilégio de admirar na Galeria di Uffizi em Florença.
Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

21.- JESUS FOI CASADO? PORQUE NÃO!



Ano 7***                 CAMPINAS                     ***Edição 2242
Esta postagem é ainda de Campinas. Devo deixar Viracopos às 6h15min.
Ontem pela manhã, dividi uma mesa-redonda acerca das ‘Ciências Exatas nas Ciências Humanas’ com meu colega Dario Fiorentini— coordenador do maior Programa de Pós Graduação em Educação do Brasil [cerca de 130 professore e quase 700 mestrandos e doutorandos]. Ele em sua fala referiu o quanto foi significativa minha participação na sua transição de ‘um matemático que passa fazer educação com a matemática. Fiquei comovidamente surpreso. Dei ao meu segmento o mote ‘do eSoterismo ao eXoterismo’. Acredito que tenha ajudado a responder a pergunta que foi recorrente na fase de preparação do evento: "Educador(a), que form[a]ção é essa?" Esta interrogação também esta na camiseta que me foi presenteada pelos organizadores.
Almocei com quatro professores da Unicamp: Dário, Pedro da Cunha. Heloisa Rocha e Inês Rosa. As discussões da manhã prosseguiram. Também o RUG assuntado aqui ontem mereceu severas análises.
À noite por mais de três horas cumpri a segundo parte do minicurso. Mais uma vez fui acarinhado pelos estudantes.
Para esta blogada não ficar com o tom exclusivo de ‘diário de viagem’ algo da imprensa desta semana, que tem como manchete: DESCOBERTA POLÊMICA. A tese trazida não é nova. A hipótese é muito provável, se nos dermos conta como as mulheres foram apagadas na história do cristianismo. Eis a notícia:
Um fragmento de papiro que provavelmente data do ano 350 da Era Cristã retrata Jesus usando a expressão “minha mulher”. Segundo a historiadora da Universidade de Harvard (EUA) Karen King, responsável pela análise do texto antigo, que ela apelidou de “Evangelho da Mulher de Jesus”, o fragmento não traz informações confiáveis sobre a figura histórica de Cristo, já que a narrativa quase certamente teria sido composta séculos depois da morte dele.
O que o texto mostra, no entanto, é o intenso debate sobre os prós e contras do sexo e do casamento nos primeiros séculos do cristianismo – uma controvérsia que ainda deixa marcas em temas como o celibato dos padres ou a ordenação de mulheres, por exemplo.
O “Evangelho da Mulher de Jesus” vem a público com uma aura de mistério, além da inevitável polêmica que o tema do fragmento traz. Sua procedência exata é desconhecida. Sabe-se apenas que, em 2010, um colecionador de antiguidades (cuja identidade está sendo preservada) mandou um e-mail para Karen King, especialista em cristianismo antigo da Escola de Teologia de Harvard.
O colecionador queria ajuda para traduzir o fragmento – uma única folha de papiro, medindo oito centímetros de largura por quatro centímetros de comprimento. O texto foi escrito em copta, idioma descendente da língua dos faraós que era falado pela maioria dos egípcios na época do Império Romano (e ainda é usado na liturgia dos cristãos do Egito).
A pesquisadora pediu a ajuda de outros especialistas em papiros e na língua copta e acabou por decifrar o que restou do texto. A descoberta foi anunciada pelo jornal The New York Times. Os fragmentos dizem, entre outras coisas, “Maria (Madalena?) é digna disso” e, logo depois da menção a “minha esposa”, “ela será capaz de ser minha discípula” e “eu habito com ela”. Dá para esperar um debate acadêmico feroz em torno do manuscrito. Entre os especialistas que revisaram o artigo da revista especializada The Harvard Theological Review no qual está a análise do manuscrito, dois chegaram a questionar a autenticidade do material.