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quinta-feira, 31 de maio de 2012

31.- AINDA SOBRE O FOGO


Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2129
No prelúdio da noite de ontem compareci, a convite de minha nora Tatiana, com meu filho André, à Escola de Educação Infantil Cinco Estrelinhas para envolver-me, com meu muito querido neto Pedro, no movimento mundial em prol do Brincar, em cuja semana estamos. Este busca alertar a pais, educadores e cuidadores a respeito da importância do brincar.
Este movimento surgiu na contramão da cultura de massa veiculada para a infância cultura tecnológica, virtual, de consumo, de agendas superlotadas, estímulos inadequados, multiplicidade de informações e exigências, cultura dos brinquedos eletrônios, cultura que se deteve no pensar e não no sentir e na fala dos corpos; cultura de vínculos 'descartáveis', cultura de tempos sem tempo.
Foi muito bom ver alegria do Pedro com brincar junto comigo. Encantou-me também o significativo número de pais e avós que curtiam, sob o olhar atencioso das professoras, as brincadeiras. Estes dulçores do avonar geram sensações de muito conforto.
Os seis leitores (entre quase 200 visitantes) que honraram a edição de ontem com doze comentários fazem ao fogo referências calorosas. Obrigado ao Hendney, Norberto, Jair, Sílvia, Mario e Cícero por enriquecerem a edição, mesmo que um, buscasse desqualificar uma evidência científica que corroboram a idade do Planeta muito maior que estipulam leituras mais fundamentalistas. É significativo como os paleontólogos Silvia e Mario foram vigilantes no desmistificar. Agradeço, também, ao meu colega Martin Sander, que como biólogo disseminou a edição de ontem pelo Facebook.
Na blogada contava que, na esteira de uma aula de História e Filosofia da Ciência na noite de terça-feira acerca da Revolução Lavoisierana comentava que o mais antigo uso do fogo pela humanidade batera um novo recorde: 1 milhão de anos atrás. A prova disso foram restos de ossos e plantas queimados achados em uma caverna na África do Sul.

Os comentários de meus atentos leitores catalisaram a revisitação de capitulo de um livro “O fogo catalisador de guerras que já são milenares que escrevi junto com Vândiner Ribeiro, minha orientanda de mestrado na Unisinos e hoje quase doutora pela UFMG, onde é professora. Revisitar nossos textos enseja descobertas saborosas. Já antecipo, aqui e agora, a próxima dica sabática: História da Ciência no Cinema 2: O retorno., onde o artigo faz parte de uma coletânea.

Como junho já nos espia, por aqui vestido de frio e neste as festas juninas têm a marca das fogueiras, a blogada de hoje se faz aquecida.
A conquista do fogo trouxe mudanças muito significativas à vida humana. Permitiu ao homem proteger-se de animais selvagens, aquecer-se, cozinhar alimentos, o que, aliás, impedia muitas contaminações, criar instrumentos etc.
Não é sem razão que o fogo, ainda hoje, é tão marcadamente presente em muitas de nossas realidades, especialmente naquelas religiosas ou nas que fazem (ou tentam fazer) a nossa ligação com o transcendente. No judaísmo, onde são vedadas representações de Deus, ele se visualiza a Moisés como uma sarça ardente. No cristianismo os apóstolos recebem o Espírito – uma das pessoas da Trindade divina – sob forma de línguas de fogo. Recordemos que na maioria das denominações religiosas as velas estão presentes nos mais variados cultos. Entre os romanos, as vestais[i] tinham que permanecer virgens para poder guardar o fogo sagrado. Na Pérsia a religião era inteiramente ao deus fogo e ainda hoje vivem na Índia comunidades descendentes dessa religião, que perseguidos pelo islã migrara para a Índia, onde são chamados de persis[ii]. Índios da América do sul têm uma lenda que narra que a onça deu aos primeiros humanos seus olhos de fogo em troca de uma esposa humana.

Também quanto às explicações buscadas pela Ciência restam ainda muitos mistérios que surgem quando se tenta explicar o que ocorre na ‘simples’ análise de uma chama. Talvez esteja na contemplação da chama de uma vela um bom exemplo das inúmeras diferenças entre olhá-la com os óculos da Ciência ou da Religião. Uma e outra oferecem uma gama muito grande de prováveis explicações e também fazem restar, cada uma delas, um bom número de interrogações.
Quanto deleite na contemplação da chama bruxuleante. Faltar luz, diferentemente de hoje, na minha infância era algo desejado. Podemos imaginar quanto exercício de criatividade e imaginação havia na simples distração de brincar de teatro de sombras com a chama de uma vela.
Quanta poesia, em uma noite fria, sentar-se diante de uma lareira, que prende de tal maneira a atenção, que quase não conseguimos nos dedicar, então, ao prazer da leitura. Aventuramo-nos parodiar Heráclito, dizendo que nunca enxergamos a mesma chama, ao invés de dizer que nunca conseguimos nos banhar no mesmo rio. É provável que um dos atrativos de se fazer churrasco esteja na visualização mais direta da ação do calor, obtido pela feitura (com rituais) do fogo.
Aliás, algo que a moderna tecnologia nos privou, nas atuais cozinhas quase assépticas, foi o fogão a lenha, artefato doméstico, que não era apenas central da cozinha, mas de toda a casa[iii] no definir as rotinas diárias e de ser o ponto agregador de transmissão da história familiar. A propósito de modernas tecnologias, parece que se possa afirmar que a quase inodora lareira a gás, não tem a poesia e os ‘espíritos odoríficos’ de uma lareira a lenha.
Estes devaneios parecem que desejam, aqui, dar boas vindas ao inverno. Assim, adeus maio, que venha junho!


[i] As vestais eram as sacerdotisas da deusa Vesta, a significativa deusa dos lares, que zelava sobre a família.
[ii] Essa denominação se deve porque vieram da Pérsia, antigo nome do atual Irã. Também são conhecidos como zoroastrianos, pois o profeta fundador da religião chamava-se Zoroastro ou Zaratustra.
[iii] No capítulo 8 de Alfabetização científica: questões e desafios para Educação (Chassot, 2010, p. 177-189) há reminiscências da cozinha de minha infância onde se narra um pouco acerca dos rituais de preparar o fogo.
  

quarta-feira, 30 de maio de 2012

30.- FOGUEIRA HÁ UM MILHÃO DE ANOS



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2128
Na noite de ontem, um pouco antes desta postagem, na aula de História e Filosofia da Ciência analisávamos a Revolução Lavosierana. Então se comentava as dificuldades que houve para se abandonar as concepções que explicavam a queima dos corpos pela presença do flogisto. A reação de combustão centralizou a discussão e como se trata de uma turma de biólogos, associar a combustão à respiração foi um passo muito significativo.
Mas falar em combustão é algo que faz parte dos mitos e da religiosidade da humanidade. O filme “Guerra do Fogo’’ esteve no cenário e uma notícia muito recente, que adito a seguir, foi objeto de análise.
"A Realidade Oculta" O mais antigo uso do fogo pela humanidade bateu um novo recorde: 1 milhão de anos atrás. A prova disso foram restos de ossos e plantas queimados achados em uma caverna na África do Sul.
Provar o uso de fogo em data tão antiga é delicado. O fogo poderia ter tido origem natural ou poderia ter sido deixado no local pelo vento ou pela água em data posterior.
Para tentar evitar esses possíveis erros, os autores do estudo usaram técnicas de microestratigrafia. Na geologia, a estratigrafia trata do estudo das camadas de rochas depositadas ao longo dos anos. Na sua versão "micro", as formas (micromorfologia) e a composição química ("microespectroscopia") do material são analisadas em grande detalhe.
Isso permitiu à equipe do arqueólogo Francesco Berna, da Universidade de Boston, EUA, analisar sedimentos de 1 milhão de anos atrás na caverna Wonderwerk, na África do Sul, e achar indícios de que antigos ancestrais faziam fogueiras. Restos de plantas incineradas e de ossos no mesmo lugar deixam claro que era uma fogueira para preparo de comida.
Em vez de lenha ou carvão, esses primordiais cozinheiros pré-históricos usavam folhas, grama e arbustos como combustível. A análise dos ossos e sedimentos mostrou que eles foram queimados a uma temperatura de no máximo 700 graus Celsius, consistente com esse tipo de fogueira. E os indícios mostram que o uso do fogo era recorrente, sinal de que era "controlado" pelos homens pré-históricos.
O ancestral humano que botou fogo no pedaço era o Homo erectus, uma espécie mais primitiva do que o homem de hoje, Homo sapiens.
Como os cientistas sabem a identidade do antigo cozinheiro? "Ferramentas pré-históricas e o momento no tempo", disse Berna à Folha. Contudo, "nenhum fóssil humano foi achado até agora em Wonderwerk." E o que havia no cardápio? "O estudo é preliminar. A fauna inclui roedores, equinos e bovinos", diz.
FOGO E EVOLUÇÃO "A habilidade de controlar o fogo foi crucial na evolução humana", escrevem os autores na revista científica "PNAS". "Essa é a mais antiga evidência segura de fogo em contexto arqueológico."
O motivo de essa habilidade ter sido importante foi teorizado pelo pesquisador Richard Wrangham, da Universidade Harvard, autor de um best-seller em que defende que cozer os alimentos foi um passo fundamental na evolução, pois a energia extra permitiu o aumento do cérebro: "Catching Fire: How Cooking Made Us Human" ("Pegando Fogo: Como Cozinhar nos Tornou Humanos").
Até agora não havia evidências fortes das habilidades gastronômicas do Homo erectus no registro fóssil. Wrangham e colegas fizeram outro estudo no ano passado, analisando dentes molares e massa corporal de espécies humanas extintas, de primatas modernos (como chimpanzés) e do homem moderno para demonstrar como surgiu o "processamento" dos alimentos via cocção.

terça-feira, 29 de maio de 2012

29.- AGRICULTURA DE PRECISÃO



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2127
Na noite da última quarta-feira, após minha fala na UFSM, como contei aqui, jantava com um grupo de colegas. Em dado instante, alguém referiu que em mesa próxima a nossa, jantavam cientistas de vários países da América do Sul e da Europa que participavam, em Santa Maria, de um evento científico acerca de “Agricultura de precisão”. Surpreso, disse que que desconhecia completamente o assunto. Recebi algumas informações.
Momentos depois, um dos cientistas da UFSM veio a nossa mesa e aditou explicações. E entendeu, por ser um assunto muito restrito, que eu desconhecesse está significativa área de pesquisa.
Embalado pelo pretencioso mote deste blogue ‘fazer alfabetização científica’ trago algo que aprendi então, acrescido de outros conhecimentos disponibilizados pelo prof. Google. A Wikipédia em português tem um elaborado verbete “Agricultura de precisão” que foi coadjuvante na tessitura desta edição. O mesmo assunto está em mais uma dezena de idiomas.
Agricultura de Precisão [Precision farming / precision agriculture] é uma prática agrícola na qual se utiliza tecnologia de informação baseada no princípio da variabilidade do solo e clima. A partir de dados específicos de áreas geograficamente referenciadas, implanta-se o processo de automação agrícola, dosando-se adubos e defensivos.
Livro da Embrapa sobre Agricultura de Precisão tem mais de 4,5 mil acessos. Para um tema que ainda é considerado novo no Brasil, o número de acessos ao livro “Agricultura de Precisão – Um Novo Olhar” surpreendeu os editores, somado ao fato de que a publicação foi lançada oficialmente no final de abril. São mais de 4.500 mil acessos (Dados de 16/05/2012), cerca de 100 por dia. Isso representa quase cinco vezes a tiragem impressa do livro, que foi de mil exemplares.
Agricultura de Precisão ~AP~ é toda prática de interferência a fim de estabelecer condições ideais às espécies cultivadas na agricultura, seja ela química, física ou biológica, utilizando-se da Geoestatística, que é a analise de dados de amostras georreferenciadas.
Esse método parte da premissa de que cada ponto de amostra é único e procura a correlação entre as amostras vizinhas. As estatísticas geradas eliminam o pensamento de blocos ao acaso e o estabelecimento de média, utilizado pela estatística clássica.
A AP tem por objetivo a redução dos custos de produção, a diminuição da contaminação da natureza pelos defensivos utilizados e logicamente o aumento da produtividade.
As ferramentas que possibilitaram o desenvolvimento deste tipo de agricultura foram os microprocessadores e os aparelhos de posicionamento global por satélite GPS, que acoplados a colheitadeiras, semeadoras e outros implementos agrícolas, permitem o levantamento de dados, sua tabulação cumulativa e a aplicação dosada e localizada de insumos.
Outro tipo de ferramenta fundamental para a agricultura de precisão são os softwares de SIG - Sistema de Informação Geográfica. Inicialmente utilizaram-se sistemas SIG genéricos. Nos anos 1990 surgiram softwares SIG especializados no uso agrícola. Hoje existe grande gama de opções, comerciais e acadêmicas, destinadas a diferentes perfis de usuários, com diferentes níveis de funcionalidades e complexidade de uso.
Os primeiros relatos acadêmicos de técnicas que buscavam lidar com a variabilidade espacial de características do solo datam da década de 1920. No Brasil, a Agricultura de Precisão foi introduzida em meados da década de 1990. A indústria de máquinas agrícolas teve uma participação importante nessa fase, com a introdução de conceitos como o mapeamento da produtividade das lavouras de grãos e de aplicações de georreferenciamento na agricultura. A introdução ocorreu com tecnologia totalmente importada, principalmente por empresas multinacionais.
No meio acadêmico, a Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz/USP esteve entre as pioneiras, organizando em 1996 o primeiro Simpósio sobre Agricultura de Precisão. No início dos anos 2000, no Rio Grande do Sul surgiu o Projeto Aquarius, desenvolvido pela UFSM em parceria com empresas privadas. Neste mesmo período, outras instituições de pesquisa como a UFV também tiveram iniciativas pioneiras em outras regiões.
A nova fase AP avançou para além dos equipamentos e das culturas de milho e soja, aplicando-se a todos os sistemas de produção que apresentem variabilidade. Assim, as demandas atuais para a AP tem se voltado para a gestão da variabilidade espaço-temporal, ao entender que ao tratar com respeito os diferentes atributos inclusive espaciais da lavoura aumenta o retorno econômico e minimiza os danos ao meio ambiente. Esse enfoque apresenta grandes desafios às tecnologias e aos conhecimentos disponíveis sobre sistemas de produção anteriormente considerados uniformes, pois as técnicas de manejo até então não consideravam a grande variabilidade da produção e da qualidade hoje detectadas. A Embrapa contribui com o desenvolvimento da Agricultura de Precisão no país organizando uma Rede de Pesquisa com mais de 200 pesquisadores e 19 Unidades de Pesquisa e diversos colaboradores de universidades, institutos de pesquisa e empresas. A Rede Agricultura de Precisão tem 15 áreas experimentais distribuídas no Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul do país, cobrindo culturas anuais (milho, soja, trigo, arroz irrigado e algodão) e culturas perenes (eucalipto, uva, pastagem, cana-de-açúcar, laranja, maçã e pêssego).
A disseminação e o avanço da agricultura de precisão fizeram surgir novas técnicas que levam os mesmos conceitos para novas aplicações além das análises de solo com finalidade de aplicação variada de insumos. São exemplos destas novas técnicas a disseminação da medição da compactação do solo, análise de lavouras com uso de equipamentos medidores de (em inglês) NDVI, mapas de clorofila feitos com clorofilômetros, mapas de infestação de pragas e outros.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

28.- PARECE QUE NÃO SEI MAIS FÍSICA!



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2126

Estudei Física durante três anos no curso científico (denominação de uma das modalidades do ensino médio); sabia mecânica, estática, dinâmica, cinemática e os problemas de ótica e eletricidade do Salmeron eram parte de meus domínios na preparação do vestibular. Durante minha licenciatura em Química tive dois anos desta ‘matéria’ e mesmo sendo um ensino totalmente asséptico — era uma Física sem graxa —, tinha-me por competente no assunto; ainda repousam na minha biblioteca dois volumes do Halliday & Resnick e dois do Sienko. Tempos depois, estudei um semestre de especialização em Física Moderna no livro do Beiser, que também jaz na minha estante intocável há muito.
Na docência, no mestrado e no doutorado Aristóteles, Copérnico, Galileu, Newton, Einstein... são parceiros muito presentes que me encantam nos meus divagares acerca de História e Filosofia da Ciência. Aliás, eles, então, quase nada participaram de minha aprendizagem. Hoje quando leio alguns textos de Física, me sinto incompetente. Muitos assuntos são muito diferentes do que aprendi, há quase meio século.
Neste último domingo de maio, Hélio Schwartsman, em um artigo publicado na p. A-2 da Folha de S. Paulo, confortou-me. Talvez meu desconforto intelectual seja partilhado por algum outro leitor. Assim, para ele transcrevo o texto referido, com votos de uma boa semana.
Quão real é a física? Não são poucos os que acusam a física contemporânea de estar criando um universo de abstrações matemáticas intestáveis. Para esses críticos, a disciplina estaria se aproximando perigosamente da metafísica e da religião.
Acaba de ser lançado no Brasil o excelente "A Realidade Oculta"#, em que Brian Greene, um dos profetas dessa nova física, defende sua filosofia. Greene descreve de modo quase compreensível nada menos que nove versões de multiverso, isto é, da ideia de que existem realidades paralelas.
De acordo com alguns desses modelos, há mundos em que diferentes versões de você leem agora esta mesma coluna; em outros, seu eu alternativo está lendo a coluna, mas ela fala de escultura. O número de realidades pode ser infinito, ou, ao menos, absurdamente grande, abarcando todas as possibilidades concebíveis que não violem as leis da física.
Em outros modelos, universos paralelos brotariam como bolhas de sabão, resultado de flutuações quânticas submetidas à inflação cósmica. Combinações desses nove tipos não estão descartadas. Algumas propostas são tão complexas que até religiões parecem mais lógicas.
Dá para acreditar nessas coisas? Essa é a polêmica entre realistas e instrumentalistas. Para os primeiros, a resposta é sim. Universos paralelos existem e devemos crer neles porque é aonde as equações nos levam. Lembram que não havia ideia mais estranha que a de que a Terra se move em altíssima velocidade pelo espaço. Afinal, o que vemos é o Sol cruzando os céus e não sentimos movimento algum. Foi a matemática de Copérnico que nos levou ao paradigma heliocêntrico, hoje inconteste.
Já para os instrumentalistas, a realidade é, no fundo, incognoscível. Tudo o que a ciência pode oferecer são previsões corretas e é a elas que devemos nos ater. Em termos rigorosos, não sabemos ao certo nem se a matemática e a lógica são reais.
Façam suas apostas.
#GREENE, Brian. A realidade oculta - Universos paralelos e as leis profundas do cosmo [Original: The hidden reality] Tradução: José Viegas Filho. Capa: Mariana Newlands. 16.00 x 23.00 cm. 456p. 698 g. R$ 59,00. São Paulo: Companhia das Letras ISBN 978-85-3592-080-2

domingo, 27 de maio de 2012


27.- ROGAÇÕES
Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2121
Tenho um bom assunto adequado a uma ligeira blogada dominical: rogações. Tenho tido alguns retornos de leitores que estão viajando comigo nas Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. Então me assaltam interrogações: disto não falei.
Aqui, algo de mais de 60 anos que aflora e não comentei no livro. No Rio Grande do Sul estamos vivendo dias de dolorosa seca. A foto (Zero hora 26MAI12) que ilustra esta edição é um triste exemplo. Isso me faz evocar uma procissão de rogações [períodos litúrgicos de penitência e oração pelas necessidades dos homens, especialmente pelos frutos do campo e do trabalho humano, celebrados por altura das mudanças das estações do ano. Tudo leva a crer que resultaram da cristianização de cultos pagãos relacionados com a produção agrícola(www.revjbs.com.br)] que participei em minha infância, caminhando talvez uma dezena de quilômetros pedindo chuva.
Hoje quando me vejo torcendo por chuva (lembro sempre que torcer é uma forma agnóstica de rezar), dou-me conta quanto sou/ somos, ainda, ferreteados pelo pensamento mágico.
E, isso é muito bom. Mesmo que torcer por chuva ou por um time de futebol — salvo que vá campo urrar para impulsionar os jogadores — adianta zero.
Ainda assim, torço para que cada uma e cada um de meus leitores tenha um bom domingo. E... tomara que chova!

sábado, 26 de maio de 2012

26.- MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2124
Uma (ex)(in)tensa semana se encerra. A frutuosa estada na UFSM e o ‘avivar saudades’ na Universidade do Adulto Maior, dois seminários nas turmas de Música e na Educação Física na disciplina de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa e ainda na noite de ontem uma oficina de escrita no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão foram alguns pontos da agenda.
Tive na curtição do avonar ter ficado, ontem, por um tempo, com a Carolina, que na próxima sexta-feira faz ½ ano, enquanto minha filha Clarissa cumpria compromissos, próximos à minha casa. A estada da Carolina catalisou um almoço com a Clarissa na Morada dos Afagos. Foram momentos gostosos.
Mas encontrei a sugestão sabática em uma aula de História e Filosofia da Ciência nesta semana na turma de biologia, ao falar em Antonie van Leeuwenhoek (Delft, 24 de outubro de 1632 - Delft, 26 de agosto de 1723) foi um comerciante de tecidos, cientista e construtor de microscópios, dos Países Baixos. Ele é conhecido pelas suas contribuições para o melhoramento do microscópio, além de ter contribuído com as suas observações para a biologia celular (descreveu a estrutura celular dos vegetais, chamando as células de "glóbulos").
Utilizando um microscópio que ele mesmo construiu (possuía a maior coleção de lentes do mundo, cerca de 250 microscópios), foi o primeiro a observar e descrever fibras musculares, bactérias, protozoários e o fluxo de sangue nos capilares sanguíneos de peixes.
Mas como chego à dica de leitura de hoje. Ocorre que Leeuwenhoek era amigo do pintor Vermeer, figura importante na dica de hoje, que pode não ser inédita, mas numa semana como esta que termina, terei a indulgência de alguns leitores, por trazer um café requentado.
CHEVALIER, Tracy. Moça com brinco de pérola, Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2004, 6ªed. 240p. Original: Girl with a pearl earring. ISBN 85-286-0957-X.
Moça com brinco de pérola é uma saborosa possibilidade de conhecermos mais o mundo da pintura holandesa no século 17, penetrando nos emaranhados da vida de Vermeer, conduzidos por Trancy Chevalier, uma escritora que parece usar a palheta para pintar palavras.
É provável que muitos dos leitores deste blogue, como eu, nunca tenham estado em Delft. Ao terminar a leitura de Moça com brinco de pérola, a histórica cidade holandesa nos será familiar, pois junto com Griet percorremos suas ruas, atravessamos praças, margeamos canais e vamos aos mercados e à igreja e também a acompanhamos em seus encontros furtivos com o namorado em becos mais discretos.
Em Delft passamos a viver muito na casa de Jan Vermeer (1632-1675) um dos maiores pintores do século 17 e o acompanhamos a criação de alguns se seus 35 quadros, que hoje se constituem num dos maiores acervos do barroco holandês. Numa trama sagaz entre ficção e realidade, Tracy Chevalier nos envolve com um importante personagem da História da Ciência, frequentador da casa do pintor: Antonie van Leeuwenhoek, referido na abertura e que também figura na lista das 100 pessoas que mais influenciaram na humanidade segundo Michael Hart [As 100 maiores personalidades da História, Difel, 2002], que já como assunto para uma próxima blogada.
Griet - a heroína do livro - é uma menina contratada para ser uma das empregadas, deixando sua família protestante para viver entre católicos - quando as condições de trabalho de uma criada se assemelhavam quase à escravatura - e se torna, então, modelo do pintor, sendo retratada em famoso quadro, que dá título do livro. Ter usado os brincos de Catherine, mãe dos 11 filhos do pintor, atrai a ira da esposa e traz ao romance desfecho imprevisível.
O romance de Tracy Chevalier foi adaptado para o cinema, com filme homônimo, dirigido por Peter Webber, com três indicações ao Oscar 2004 (Direção de Arte, Fotografia e Figurino) numa produção de Luxemburgo e do Reino Unido.
A Moça com brinco de pérola nos leva pela imaginação de Tracy Chevalier - uma estudiosa de Delft e da obra de Vermeer - a viajar ao século 17, tão pleno de interrogações que ainda se fazem atuais nos dias de hoje. A magia da leitura me entusiasma a recomendar a fruição de uma viagem a Delft nesse romance empolgante. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

25.- EMISSÕES DE CO2 ATINGEM RECORDE EM 2011



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2123
Quando em 9 de maio publiquei aqui o apelo para que aderíssemos ao “Veta Dilma” — referido na edição de ontem, um colega me enviou esta mensagem: “eu também sou a favor do veto da Presidente, mas gostaria que tu desses uma olhadinha no vídeo do Programa do Jô do dia 02MAIO12:  http://www.youtube.com/watch?v=winWWplmyMk Neste endereço de um ‘renomado’ pesquisador dizia que ‘isto de aquecimento global era balela’. Minha revolta produziu a seguinte resposta: Meu caro, ouvi as baboseiras do Professor de Climatologia da USP. Parecia estar ouvido piadista do mesmo nível do histriônico e fanfarrão entrevistador. Este, usualmente. convida seus homólogos para o show guardar coerência. Fazia anos que não o via. Obrigado, ac
Enquanto esperamos, talvez para hoje o veto da Presidente Dilma, ontem surgiu, no cenário internacional uma revelação inquietante, que ratifica avaliação que fiz do ‘pesquisador. Eis notícias do G1, com informações da Reuters: Emissões de CO2 atingem recorde em 2011, diz agência.
As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) pela queima de combustível fóssil aumentaram 3,2% no ano passado, atingindo um recorde de 31,6 bilhões de toneladas, informou um balanço preliminar publicado ontem, quinta-feira (24MAIO12). O Planeta está febril.
O levantamento foi feito pela Agência Internacional de Energia (AIE), uma organização autônoma sediada em Paris, que tem como objetivo pesquisar fontes de energia confiáveis, baratas e limpas para seus 28 países membros — o Brasil não faz parte do grupo.
A China foi a principal responsável pela alta nas emissões globais. Ela sozinha aumentou suas emissões em 720 milhões de toneladas – o aumento absoluto global foi de 1 bilhão de toneladas. Percentualmente, o país, que é o principal emissor de CO2 do mundo, teve aumento de 9,3%. No entanto, o relatório ressalta que a China tem adotado medidas para aumentar sua eficiência energética, e que as emissões estão crescendo menos que a economia, o que é positivo.
Índia também teve um aumento significativo. O país emitiu 140 milhões de toneladas a mais que em 2010, um crescimento relativo de 8,7%.
Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo que inclui EUA, Canadá, Austrália, Japão e a maioria dos países europeus, houve redução de 0,6% das emissões.
As emissões estadunidenses caíram 1,7% em 2011, principalmente pela substituição de usinas a carvão para gás natural e também por um inverno mais brando que reduziu a demanda por aquecimento, segundo a AIE.
Apesar dos números, as emissões per capita dos dois países mais populosos do mundo ainda está bem abaixo dos países ricos. Cada chinês emitiu, em média, 63% do que emitiu um morador dos países da OCDE. Na mesma comparação, um indiano emitiu 15% da média da OCDE.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

24- CHICO BENTO APELA À PRESIDENTE DILMA



Ano 6*** SANTA MARIA ***Edição 2124
A breve estada em Santa Maria foi agradavelmente produtiva. Fui atenciosamente acolhido por docentes e discentes da UFSM. A professora Martha Bohrer Adaime — reitora em exercício — aguardava-me na rodoviária de Camobi. 15 minutos depois de desembarcar iniciava minha fala para um muito atento auditório de estudantes de nove cursos de graduação. Foi emocionante, quase duas horas depois, receber os aplausos de cerca de 200 participantes da 11ª Semana Acadêmica Integrada do Centro de Ciências Naturais e Exatas.
Após autografei vários exemplares de meus diferentes títulos. Para esta sessão, com muitas fotografias e acarinhamentos, foi preparado um artístico banner que relaciona as capas dos sete livros, com detalhes de cada obra.
Acompanhado da Jane, Luís, Marcia e Martha fomos jantar e um pouco antes da 01h de hoje os quatro colegas me despediam na Rodoviária para partir à Porto Alegre. Foi muito bom ter estado em Santa Maria. Na foto de Jane Dalla Corte da Assessoria de Comunicação do CCNE, estou com a Prof. Martha, diretora Centro de Ciências Naturais e Exatas, junto ao banner referido.


Este blogue em mais de uma oportunidade — mas de uma maneira muito especial no dia 09 de maio com a edição: 09.- UNAMOS-NOS AO " VETA PRESIDENTE DILMA" quando se fez coleta de assinaturas —aderiu à campanha pedindo que a Presidente Dilma vete o Código Florestal aprovado na Câmara dos deputados. Nesta mesma direção, se traz hoje entrevista que foi publicada na imprensa local ontem, que merece ser divulgada, pela objetividade que o tema é tratado.

“Com o Chico Bento, sou mais uma voz que chega a Brasília” Mauricio de Sousa tem uma farta equipe de desenhistas para produzir suas histórias em quadrinhos. Mas o apelo de Chico Bento à presidente Dilma Rousseff, divulgado terça-feira, Mauricio fez questão de desenhar de próprio punho. Aos 76 anos, o criador da Turma da Mônica atendeu ZH por telefone:
Zero Hora – Por que o senhor aderiu à campanha Veta, Dilma?
Mauricio de Sousa – Desde que criei o Chico Bento, 50 anos atrás, participo de um movimento permanente a favor de qualquer coisa que defenda a natureza, as florestas, os mangues, a água. No caso do Código Florestal, houve um avanço de ameaças. Não são apenas as florestas, as praias ou os mangues que serão prejudicados. Tudo isso está ameaçado por uma legislação cheia de remendos. Com o Chico Bento, sou mais uma voz que chega a Brasília.
ZH – Quais são os principais os problemas do texto aprovado na Câmara?
Mauricio – Um deles é terrível: é a liberação da atividade agrícola em áreas próximas aos rios. As praias são importantes para a reprodução das espécies marinhas. Nossas matas ciliares e nossos manguezais jamais poderiam ser ameaçados. Temos que deixar a natureza como veio nesses locais, até para o bem dos seres humanos.
ZH – O projeto proíbe a agricultura em uma distância de até 15 metros à margem de rios com até 10 metros de largura. Para rios mais largos, segundo o texto, os Estados devem criar suas próprias legislações.
Mauricio – Quinze metros é muito pouco. Sempre entendi que, à margem dos rios, deveria haver grandes superfícies arborizadas naturalmente. Muitas árvores teremos de replantar. Mas sempre achei que, para um rio, uma pequena moldura de vegetação é insuficiente. O Brasil tem terra para tudo o que as pessoas precisam. Não é necessário invadir essas áreas sagradas.
ZH – Os deputados retiraram o trecho que previa nas cidades uma área verde de 20 metros quadrados por habitante nas novas expansões urbanas. Isso compromete o novo código?
Mauricio – Lógico que sim, isso é um absurdo. Precisamos aumentar as áreas verdes, tão necessárias ao ser humano. Precisamos manter essa proteção, senão teremos desertos no futuro, além de fome e saudade da natureza. Não teremos o que mostrar aos nossos netos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

23.- UMA VEZ MAIS EM SANTA MARIA



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2121
Nesta tarde+noite faço 2 x 300 km no percurso Porto Alegre/Santa Maria/Porto Alegre para na UFSM — uma das grandes universidades brasileiras, com cerca de 27 mil alunos — preferir palestra para alunos de nove cursos de graduação.
Recordo quando em 1959/60 trabalhava no restaurante da Reitoria a UFRGS, quando havia reunião do Conselho Universitário — que aumentava muito o serviço — vinham os diretores de faculdades de Santa Maria e Pelotas que pertenciam a UFRGS. Estas ‘unidades do interior’ foram sementes que se transformariam nas UFSM e UFPel.
Foi neste Conselho Universitário, 32 anos mais tarde, que o guri serviçal do balcão, já professor, ouviu a notícia dada pelo já falecido Reitor Prof. Tuiskon Dick que ele acabara de assinar minha aposentadoria da UFRGS.
A UFSM se orgulha, com razão, de ter sido em 1960, a primeira universidade federal brasileira de uma cidade não capital de estado. Na foto o Campus em Camobi. É, nesta época, com o sucateamento das ferrovias, que a cidade mais central do estado tem seu título de capital ferroviária deslustrado para ser conhecida como ‘Metrópole universitária’.
Voltar a Santa Maria me oferece evocações. Há razões históricas que me ligam a esta cidade e a sua Universidade.
Sou nascido em Estação Jacuí, filho de ferroviário, e o mundo de minha infância tinha nesta cidade o polo maior. Santa Maria foi a primeira cidade que conheci. Era aqui que vínhamos em busca de médico e aqui era um ponto de atração para a família ferroviária, no tempo que esta cidade era o grande centro geo-ferroviário do Estado.
Lembro da emoção que tive quando acompanhei minha mãe a uma Romaria da Medianeira, talvez há 65 anos. Foi pela primeira vez que vi sorvete. Recordo que a pessoa que comia o sorvete ao final atirou o copinho fora e eu ia juntá-lo — me DNA de lixeiro manifestou-se precocemente, mas minha mãe proibiu, pois este caíra sobre estrume recém-excretado por um cavalo. Ouço, ainda hoje, o barulho ritmado das ferraduras dos cavalos ao contato com as pedras do calçamento em época que não existia asfalto.
Tenho uma história médica anterior que não lembro, mas sempre foi muito contada. Quando tinha em torno de um ano caí em uma lata que fora transformada em vaso. Fiz um corte sob o olho direito, cuja marca é ainda atestado de uma peraltice que conservo. Imagino a dor de meus pais, para conseguir carona em um trem para me levar a Santa Maria para levar pontos.
Os trens eram meu sistema de referência e estes ou vinham ou iam para Santa Maria. Os trens regulavam nossos horários. E a expressão “atrasado como paulista” se devia ao fato de que o trem que vinha de São Paulo chegava invariavelmente atrasado. Também conhecíamos as máquinas. Tinha a 812, 847 e 904. A grande disputa era ser proprietário das milionárias, que chegaram ao final de nosso morar em Jacuí. Sei que a 1011 era minha. O trem de maior sucesso, e o mais esperado, era o trem pagador. O salário vinha dentro de envelopes, onde estava descritos os débitos e os créditos. Havia uns vales que substituíam as moedas divisionárias.
Em Santa Maria era a matriz (com filiais em outros núcleos ferroviários do estado) da Cooperativa dos ferroviários — uma potência então — de onde consumíamos praticamente toda a nossa alimentação como também remédios, pois a cooperativa tinha uma rede de farmácias. Elaborar a lista do rancho mensal e aguardá-lo era um ritual. No dia 19 de cada mês as filas na cooperativa eram extensas, pois então os débitos ‘corriam para o outro mês.
A cooperativa mantinha em Santa Maria a escola de Artes e Ofícios Hugo Taylor. Meu finado irmão José Maria teve um período internado nesta escola. A cooperativa subsidiava as mensalidades em estabelecimentos particulares em outras cidades.
Também foram fortes, em anos bem mais recentes, minhas ligações com o curso de Química da UFSM e com as licenciaturas das áreas de Ciências em geral. Juntos organizamos aqui o 3º, o 9º e 21º Encontro de Debates de Ensino de Química na UFSM e em 2009, 29º EDEQ na UNIFRA.
Participei, também, como representante da UFRGS, em ações conjuntas que envolviam docentes desta e de outras universidades de um programa para a educação de professoras e professores de Ciências. Também já fiz nesta cidade várias palestras e participei de bancas de dissertações.
Portanto, hoje farei um retorno prenhe de ‘avivar saudades’. Nele vou tentar responder um grande interrogante: O que é Ciência, afinal?  Volto a Porto Alegre quando a quinta-feira estiver começando.