Ano 6***
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2171
A semana
passada por cinco dias o assunto aqui foi ‘o escrever’. A publicação da segunda-feira,
dia 2, A escrita e o cuidado
de si de Antonio Ozaí da Silva catalisou uma tríade acerca de diários na
terça, quarta e quinta feira. Encerrava na quinta-feira, afirmando que escrever
diários é uma forma de colecionismo.
Na
sexta-feira, dizia que este um tema que me faz atávico, e já então pretendia me
espraiar nele. Mas, eis que surge uma notícia mancheteada, a rodo, no
mundo inteiro: Avanço da Ciência: partícula de Deus, enfim
e o colecionar, então postergado,
ganha espaço, agora.
Em 2005
ocorreu, numa promoção do Grupo Interdisciplinar História e Filosofia da
Ciência, o I Colóquio
Internacional
Espírito do Colecionismo -
ciência, cultura e arte.
Foi publicado, então, um número temático ‘colecionismo’ da
revista Episteme. Tenho neste número
dois artigos: em um[i],
defendi os diários como uma forma de colecionismo; ele foi construído a partir
de texto seminal mais antigo[ii].
No outro[iii],
defendo que poucos dos
móveis de uma coleção
têm um catalisador
tão forte
quanto o amor .
Talvez colecionar
cartas de amor
seja uma das formas mais
genuínas de colecionismo, fazendo associação
a uma mania obsessiva. Pois
é o meu encantamento
com a coleção
de Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico , 1947-1964, livro que
analiso no artigo, do qual falei aqui na dica sabática de 16JUN2012. Ser
Simone de Beauvoir a autora destas cartas
explica meu entusiasmo .
Lateralmente
devo referir que fiz uma comunicação sobre o que está na nota 1, tendo com
ouvinte muito atento, o conferencista que me sucederia no plenário: José Mindlin
(São Paulo, 8 de setembro de 1914 — São Paulo, 28 de fevereiro de 2010)
empresário e então, talvez, o mais importante bibliófilo brasileiro, que com
seus 91 anos encantou a muitos com sua lucidez e perspicácia. Tive o privilégio
de receber uma manifestação escrita dele em meu diário, que valorizou o ‘meu’
colecionável.
Assim, agora
tento mostrar um pouco de meu viés de colecionista que fui/sou/serei. Por tal, está justificada a
eleição do tema da edição de hoje.
¿Quem
dos leitores, pelo menos uma vez na vida, não foi filatelista? O dicionário
da Língua Portuguesa Priberam [www.priberam.pt] não registra colecionismo. O dicionário eletrônico
Houaiss, define assim colecionismo: prática de colecionar objetos de certo
tipo, por gosto, passatempo, obrigação profissional etc. e tem a palavra
datada pela primeira vez em 1980 (sic). Talvez, nessa dicionarização, o
inusitado seja obrigação profissional, até porque sempre associamos a prática
de colecionar a passatempo ou um deleite pessoal, ou como estudam alguns,
fazendo associação a uma mania obsessiva. Aceitando a acepção posta como obrigação
profissional, um museólogo ou um arquivista, por exemplo, são
praticantes do colecionismo. Seriam então esses e outros profissionais
enquadrados como portadores de uma mania obsessiva?
Logo, falar em
mania de colecionar pode admitir discussões desde a acepção “hábito
extravagante; prática repetitiva; costume esquisito, peculiar; excentricidade” até
aquelas definições caracterizadas como psicopatologia que dizem ser “quadro
mórbido caracterizado por um humor alegre e otimista desmotivado, acompanhado
de sentimentos de bem-estar físico ilimitado, de uma superestima e uma
necessidade de atividade globalmente aumentadas, com frequência gerando
comportamentos incontrolados e desinibidos, aumento de excitabilidade e de
irritabilidade, agitação psicomotora”, mesmo sabendo que na psicopatologia está
abandonada a acepção de mania como “todo e qualquer estado de excitação
psíquica”. No texto referido na nota 2, disponível em www.ilea.ufrgs.br/episteme, faço uma análise destas acepções do
colecionismo como mania, que poupo meus leitores aqui.
A blogada
desta quinta-feira se alonga e minhas evocações de colecionismo ainda afloram
férteis. Para não arengar, ponho, por ora, ponto final, com o afianço de em
outro momento continuar.
i CHASSOT, Attico. Escrever
diários como uma forma de colecionismo. Episteme. v.10. n.20
p.55-70, 2005. ISSN: 14135736
ii
CHASSOT, Attico. Sobre a arte de escrever diários. Entrelinhas, ano 1, n. 1. p.11-15,
março de 2001
iii CHASSOT, Attico. O amor como catalisador de colecionismo.
Episteme. v.10. n.20 p.80-85, 2005. ISSN: 14135736
Caro Chassot,
ResponderExcluirpois eu nunca colecionei selos. Minhas correspondências sempre foram com pessoas próximas e as cartas vinham seladas com selos comuns. Entretanto, por algum tempo, colecionei dinheiro. Não como um certo compatriota que deseja ser o mais rico do mundo, mas de notas antigas. Confesso que minha coleção não passou de uma centena de notas. Faz mais de dez anos que não as manuseio. Um dia pretendo passá-las aos filhos para que façam o que quiserem. De fato, não tenho vocação para o colecionalismo, mas admiro quem consegue preservar determinadas coisas que constituem acervo importante, tanto do ponto de vista da história, quanto afetivo.
Um abraço,
Garin
Caro Chassot,
ResponderExcluirSou colecionista. Sou numismata, coleciono canetas tinteiro, relógios de pulso e já colecionei garrafas de cerveja e até orquídeas. Espero não ser obsessivo, gosto de minhas coleções mas não perco o sono por elas. Abraços colecionistas, JAIR.
PS - Você, pelo que sei, é muito apegado a seus livros, não será um colecionista por isso também?
Acredito que o o que nos impele a colecionar seja a necessidade de preservar o passado distante. Ao contemplarmos uma peça antiga estabelecemos uma ponte no tempo e no espaço viajando, ainda que momentaneamente a época e lugar de onde a peça é oriunda. E mesmo que não conheçamos sua história nosso imaginário junta os fragmentos de nossas poucas informações do tema e criam instantaneamente um mundo mágico levando o colecionador a sonhar e divagar. Cada ítem tem uma recordação, tem uma vida, a do próprio objeto e a de como foi adquirida nascendo assim duplas recordações.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Sempre gostei de fazer coleções.
ResponderExcluirQuando era menor, eu colecionava borrachinhas de todas as cores, tamanhos e até cheiros! Ainda coleciono figurinhas, cartas de baralho e gibis... Sempre foi uma ótima distração para mim, às vezes dedico horas cuidando delas.
Adorei o texto!