Ano
6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2172
A uma
sexta-feira, 13, apetece revirar baús. Especialmente aqueles labelados com saudades [labelado = com forma de lábio;
mas, baús assim não existem; labelado está aqui como uma destas palavras
criadas na fértil área internética: rotulado ou etiquetado, tendo como raiz label (inglês) = etiqueta; rótulo]. Não há melhor pedida para uma sexta-feira
hibernal: envolver-se com o colecionar.
Ao
encerrar a edição de ontem, dizia que a blogada se alongava e minhas evocações
de colecionismo ainda afloravam úberes. A extensão e o bom senso recomendavam
finalizar. Afiancei em outro momento continuar.
Faço isso agora. [Redigindo o diário]
De minha
infância à minha adolescência lembro-me de alguns de meus colecionamentos:
caixas de fósforos, a época que estas se tornaram suporte de propaganda; lápis,
onde me recordo de um que tinha uma circunferência talvez com uns dois
centímetros de diâmetros e era o rei da coleção; estampas Eucaloli,
onde aprendi muita mitologia, geografia e história; flâmulas de clubes e
colégios, que enchiam uma parede do meu quarto; figurinhas de bala, quando
quase completei um álbum que ainda tenho; possuo um engradado com miniaturas de
garrafinhas de Coca Cola, trocadas por tampinhas marcadas (agradeço ao meu hoje
cunhado Otelo, filho do seu Beto, distribuidor da Coca-Cola em Montenegro, a
facilitação de algumas trocas por aulas particulares); santinhos, de uma série
que era identificada por sigla misteriosa AR/depZ, que me fazia mexer nos
devocionários das beatas à cata dos números que faltavam; e, evidentemente,
selos, considerando-me um filatelista estudioso, que ainda na idade adulta, já
professor, religiosamente - ou para guardar o tom:
maniacamente -, ia aos Correios nos dias de
lançamento para conseguir carimbo do primeiro dia de circulação.
Ainda hoje,
coleciono (=guardo) alguns suplementos de jornais ou edições significativas de
algum jornal. Não vou referir aqui as coleções de cartas de amor, que a cada
desenlace de um caso iam para a fogueira como os livros na Inquisição. Minha
mãe se encarregou de vasta incineração no forno de fazer pão, quando namorei
uma menina luterana.
Talvez devesse
mencionar outro ‘objeto’ de colecionismo muito recente, como fazemos a
armazenagem de mensagens eletrônicas. Ao lado daquele número muito grande que
colocamos no lixo, há muitas que ficam arquivadas em diferentes pastas. Só a
leitura de algumas mensagens, acumuladas já há um quarto de século, daria para
recordar algumas histórias. E a produção e coleção de um blogue diário, não é
colecionar? Mas por enquanto, parece que se está envolvido em coleções
materiais.
[Curtindo coleção de livros]
Minha biblioteca, já muitas vezes comentada aqui é a minha maior coleção, há em
torno de 3,2 livros catalogados. Nela há um setor de livros raros e preciosos,
onde um alcorão manuscrito do século 17, comprado em um antiquário em
Istambul, é meu maior tesouro, junto com o livro vermelho de Mao,
adquirido em um sebo da China e algumas primeiras edições de livros importantes
ou livros que usei em meus anos de formação, como a Seleta em Prosa e Verso
e os livros de latim das quatro séries do ginásio: Ludus Primus, Ludus
Secundus, Ludus Tertius e Ludus Quartus. Tenho um Ari Quintela,
do 3º cientifico, que foi o livro que usei para preparar a minha primeira aula
de Matemática, que ministrei em 13 de março de 1961.
Há quem diga
que colecionismo é uma mania muito espanhola, presente também em Portugal,
associada à compra de jornais. O que é esta mania? Esta ‘mania’ é muito
bem aproveitada, ou melhor, estimulada, ou melhor ainda, explorada, pelos
grandes jornais, especialmente para fidelizar leitores de segunda a
sexta-feira. E há coleção de tudo que acompanha os jornais: modelos de
automóveis ou de aviões, de miniaturas de sapatos ou de instrumentos musicais,
bonecas de todo o mundo e roupas históricas. Há também aquelas coleções
destinadas ao público infantil. Acompanhei na Espanha o desaparecimento da
centenária peseta; isso determinou o lançamento de pelo menos duas coleções de
quarenta diferentes bilhetes monetários, reproduzidos com apurada técnica e
distribuídos “gratuitamente” por dezesseis semanas por um dos principais
jornais. Também se cativa muito especialmente leitoras, para formar livros de
receitas culinárias partindo da coleção de fascículos; ou leitores, na coleção
de livros de jardinagem. No Brasil a prática não é inédita, quando os jornais
‘distribuem’ com suas edições coleções de livros, CDs de músicas ou filmes
famosos em DVD.
Como acredito
que (todas as minhas manias de) colecionismo no amealhar diários é uma ação das
mais permanentes. Assim, parece que tenha justificado o que era a tese: fazer diários é uma modalidade de coleção.
i No texto Episteme. v.10. n.20 p.55-70, 2005, já referido como nota 1 na edição de ontem, há uma detalhada
descrição das estampas do sabonete Eucalol.
Caro Attico,
ResponderExcluiro transcorrer da existência é repleta de coleções. Umas, fazemos deliberadamente, outras sem perceber, como é o caso dos nossos textos. Conservo mais de uma centena de "sermões" que escrevi no decorrer do ministério pastoral ativo que durou mais de 36 anos. O que me falta é a competência para organizar sistemática e catalogadamente.
Com admiração,
Garin
JOSÉ CARNEIRO escreveu
ResponderExcluirCaro amigo prof. Chassot:
Serei recorrente ao dizer que, mesmo não tendo enviado mensagens, leio diariamente o seu cada vez mais precioso blogue. As últimas, bem memorialisticas, foram fascinantes, sobretudo a das coleções. O filatelismo lembrou-me uma anedota que gosto muito: uma senhora, recentemente instalada numa cidade, estava recebendo as novas amigas em sua residência. A certa altura, uma delas perguntou: e o que faz o seu marido? E ela respondeu: ele é sifilítico. Ao que o marido, lá de dentro da casa, gritou: filatélico, mulher!!!
Sobre o seu livro de memórias, estou curtindo-o gradativamente. Ao final, tecerei comentários mas antecipo sinceros elogios pela empreitada. Um belo e criativo repositório do passado.
Segue em anexo um texto de despedidas de um amigo, que publiquei por aqui e não comprovei se já havia lhe enviado. Segue também uma foto do lançamento do meu livro, com o Abilio, meus filhos e as netas.
Grande abraço,
José Carneiro
Belém PA
Caro Chassot,
ResponderExcluirComo eu disse ontem, sou colecionista. Vejo que partilhamos essa agradável e educativa mania. Desde sempre coleciono e vou continuar afazê-lo até quando minha saúde permitir. Abraços colecionistas, JAIR.
Professor!
ResponderExcluirparabéns pela belíssima coleção. A minha iniciei este ano. Graças ao Mestrado em Educação e aos professores maravilhosos que tive.
abraços