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sábado, 31 de maio de 2014

31.- UMA RESPOSTA SIBILINA

31.- UMA RESPOSTA SIBILINA
ANO
 8
M A N A U S — AM
EDIÇÃO
 2790

Um sábado de despedir Manaus. Foram três dias preciosos. Ontem a agenda foi cumprida: pela manhã a exitosa qualificação da proposta doutoral da Célia, que foi assuntada ontem aqui. À tarde, concorrida palestra na Universidade do Estado do Amazonas. Muitos autógrafos e muitas fotos. Antes e depois da palestra, promissoras sessões de orientação com Célia.
Quando a madrugada estiver terminando, estarei indo ao aeroporto. É a desejada volta para casa.
Recebi nesta quarta-feira a mensagem seguinte:
Assunto: Aos alunos do IFSP - Campus Guarulhos
Boa noite, Professor Chassot!
Primeiramente, exponho a minha gratidão por me aceitar no site Facebook. Imagino que o senhor tenha muitos compromissos e, por isso, não tenha lido as mensagens que postei.
Estamos realizando apresentações no IFSP - Campus Guarulhos sobre a matéria História da Ciência e Tecnologia (HCT), baseadas em seu livro "A ciência através dos tempos".
O professor enriqueceria muito o nosso trabalho se enviasse uma mensagem sobre a vossa leitura de mundo no que refere aos tempos que hão de vir.
Seria um oportuno recado aos novos alunos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do 1º semestre, todos com muita curiosidade em conhecer o que o mestre tem a dizer sobre o futuro da área da informática e, também, da ciência nesta área, com a vossa experiência conhecimento.
Aguardo o vosso retorno.
Atenciosamente, Claudio Kobashigawa.
Estimado Cláudio e demais discentes e docentes da disciplina História da Ciência e Tecnologia (HCT) do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de São Paulo - Campus Guarulhos.
Preliminarmente dois agradecimentos: primeiro, agradeço a mensagem, que me oportunizou algumas reflexões; segundo, sou grato pelo privilégio de com A ciência através dos tempos fazermos juntos uma parceria para entender como se deu /dá / dará a construção da Ciência.
Li, reli, tresli a mensagem. Pincei um dela um pedido: uma mensagem sobre minha leitura de mundo no que refere aos tempos que hão de vir. Em mais de 53 anos como professor amealhei saberes. Acredito que a afirmação de Martin Fierro no clássico gauchesco “O diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo” é, de maneira usual, muito válida. Todavia, nesses anos ainda não fui agraciado com o dom da profecia. Talvez, porque nunca o pedisse até por nunca o desejei.
O pedido de vocês faz-me remontar a uma anedota histórica. Na antiguidade, soldados antes de ir para guerra consultavam oráculos, magos e adivinhos para saber seu destino. A frase resposta que recebiam: Ibis redibis non morieris in bello ou Irás voltarás não morrerás na guerra é um modelo de respostas dada por uma Sibila a um soldado que havia consultado a pitonisa acerca do êxito de sua missão. Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana. São descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo. Na ilustração Dafne, a Sibila de Delfos: afresco de Michelangelo na Capela Sistina.
A frase, como todas as respostas oraculares, é propositalmente ambígua - ou sibilina. Dá margem à dupla interpretação conforme a pontuação que se queira utilizar. Se for colocada uma vírgula antes de "non" (Ibis, redibis, non morieris in bello), o significado da resposta é "Irás, retornarás, não morrerás na guerra". Portanto, a missão terá êxito. Se porém a vírgula for deslocada para depois da negação (Ibis, redibis non, morieris in bello), a frase terá sentido oposto: "Irás, não retornarás, e morrerás na guerra".
A frase resposta poderá ser sibilina: os alunos do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de São Paulo - Campus Guarulhos em tempos que hão de vir, viverão realidades jamais sonhadas. Para as vivências de cada uma e cada um de vocês qualquer previsão se esboroará em realidades muito diferentes dos dias atuais.
Rejeito a hipótese de um mundo catastrófico, que cabe na sibilina resposta. Opto pela possibilidade (desejada) de um mundo fantástico. Quando escrevo esta resposta, ouço acerca do lançamento de automóveis elétricos para duas pessoas que dispensam condutor.
O mundo dos bisavós de vocês diferiu muito pouco do mundo dos avós e este foi quase igual aos dos pais de vocês. Comparem o que os pais de vocês não conheceram quando tinham a idade de vocês: telefone celular, internet, armazenamento de dados nas ‘nuvens’... e muitos inventos mais. Assim assistimos uma modificação do mundo que vivemos marcada pela rapidação. Um exemplo apenas: um bebê nascido há dois anos tem outra relação com um tablete do que uma criança de cinco anos. Isto me parece de realismo quase fantástico.
Fiquem apenas na profissão que vocês elegeram: o que fazia um analista de Sistemas há dez anos comparado com o que faz hoje. Vejam como o desenvolvimento de Sistemas há 20 anos faz o nosso século 20 parecer dinossáurico.
Assim, encerro com minha resposta sibilina: os alunos do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de São Paulo - Campus Guarulhos em tempos que hão de vir, viverão realidades jamais sonhadas.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

30.- SABERES PRIMEVOS TRAZIDOS À ESCOLA

ANO
 8
M A N A U S — AM
EDIÇÃO
 2789

Antes de referir ao que é central de minha estada em Manaus: a qualificação doutoral de uma orientanda minha, faço um registro do lançamento hoje do Dicionário Crítico de Educação (convite na lateral) onde sou o autor dos verbetes: SABER ACADÊMICO / SABER ESCOLAR / SABER PRIMEVO.
Acerca do dia de ontem devo registrar as emoções das duas falas “Alfabetização científica e cidadania” que fiz à tarde e à noite na UFAM. Encantou-me a atenção e manifestações de agrado. Autógrafos e muitas fotos. Nesta tarde tenho uma fala na UEA.
Nesta manhã ocorre a banca de qualificação da tese de doutorado da Célia Maria Serrão Eleutério. A Célia é professora de Química da UEA, no campus de Parintins e faz doutorado na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática.
 Em sua tese a Célia procura estabelecer diálogos entre Saberes Primevos e Saberes Escolares mediado por Saberes Acadêmicos. Estudos teóricos e trabalhos de campo foram marcados com dois propósitos: 1) salvar Saberes Primevos do risco de extinção que estão sujeitos especialmente por serem desvalorizados pela Escola serem detidos por pessoas mais velhas; e 2) enriquecer Saberes Escolares pois estes são, usualmente, assépticos e descontextualizados do lócus onde está a Escola.
A proposta de que os saberes do caboclo da Amazônia são tão relevantes quanto os saberes da academia e que precisam ser estudados numa perspectiva de reflexão sobre um currículo que direcione o olhar para a escola amazônida, conhecer seus sujeitos, suas complexidades e seus fazeres. Foi necessário indagar sobre as condições concretas dessa escola, sua história, sua organização interna para que esta possa lidar pedagogicamente com a diversidade cultural existente nesse contexto.
A ilustração de Renan
Vieira das Neves, retirada da proposta de tese apresenta um dos saberes primevos estudados. O lócus da pesquisa foi o Distrito de Mocambo do Arari onde foram realizadas quatro Oficinas Temáticas com colaboração de artesãs, agricultores familiares, caboclos extratores de produtos de subsistência, professores e estudante do ensino superior e educação básica. O estudo envolveu 60 estudantes da formação inicial, cinco professores do Curso de Química da Universidade do Estado do Amazonas, Campus Parintins e nove professores da educação básica. Os dados foram obtidos por meio de observação in loco e abordagens diretas, entrevistas semiestruturadas realizadas durante as visitas de campo no período compreendido entre 2011 a 2014 onde foram contatadas aproximadamente 30 pessoas mais antigas de três comunidades e uma agrovila.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

29.- PINGOS & RESPINGOS


ANO
 8
M A N A U S – AM
EDIÇÃO
 2788

Mais uma vez esta postagem ocorre desde Manaus. Houvesse as chamadas ‘horas úteis’ como há os ‘dias úteis’ e estas fossem as diurnas, nesta quarta-feira passei grande parte de minhas horas úteis a bordo e foram uteis pois revisei uma dissertação de mestrado de uma orientanda. Pulularam, também, propostas de pauta. Resolvi, então, propor uma edição modelo patchwork. Assim, a seguir, alguns pingos e respingos.
1.- Há meses ouvimos falar em preparativos para a copa. Isto sempre foi sinônimo de tapumes para ocultar obras. Chegou a se dizer que a finalidade principal dos tapumes era para esconder a ‘paralização’ das obras. Ontem, tive a mais agradável surpresa. O aeroporto Eduardo Gomes é um dos que fui muito frequente nos últimos três anos. Não apenas para minhas diversas vindas aqui neste período, mas também, quase uma dezena de vezes, em trânsito para ir e vir de Boa Vista e Parintins. Na tarde de ontem, pareceu-me que o voo tinha errado o destino. O desembarque do aeroporto de Manaus é agora um muito lindo e amplo jardim. Um sensação de um espetáculo, para quem nesse aeroporto já teve até de usar máscara para fugir a gases tóxicos produto de um incêndio. Estou curioso para no sábado ver o embarque.
2.- Ainda na esteira da copa ontem tive uma outra surpresa. Desmente-se uma tese que eu seja um bom observador das realidades do cotidiano. Trago uma evidência empírica que é o contrário. Ouvia uma roda de jornalistas onde se comentava o desentusiasmo da população com a copa. Alguém disse então que fez um levantamento. Em mais de uma centena de carros em certo estacionamento, nenhum carro tinha bandeirinha ou qualquer adorno com as cores da seleção. Até aí nada de surpresa. Mas quando ouvi a justificativa, pasmei. A falta do adereço pátrio nos automóveis se dá porque estes não têm mais antena de rádio. Não sei quanto tempo dura esta ‘desantenação’, mas confesso que não sabia que isso ocorrera.
3.- Mais um pingo da copa. Prometo ser o último. Na última segunda-feira abri aqui minha torcida. Vivo, uma vez mais, a tradição de torcer sempre pelo mais fraco. Assim nesta copa minha torcida é pela ordem: Costa do Marfim, Nigéria e Camarões, representam países de menores índices de qualidade de vida. Aceito parceiros para irmanar-se comigo. Tive uma honrosa adesão. O Jair, que quase a cada dia brinda aos leitores com poemas como comentários, nesta segunda-feira publicou um harmonioso soneto À frente África. Vale conferi-lo. A primeira estrofe está aqui:
    Costa do Marfim, Nigéria e Camarões
    Sou eu o parceiro irmanado contigo
    Torço desde criancinha por azarões
    Junto-me agora com Chassot amigo.
4.- Nesta quinta-feira, por dois momentos, à tarde e à noite, profiro a palestra: ”Alfabetização Científica e Cidadania” para dois grupos de calouros da área de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Será uma oportunidade de estar mais uma vez no campus da universidade que ostenta o título de mais antiga do Brasil. A UFAM tem aqui em Manaus um lindo campus imerso dentro de uma reserva da floresta amazônica. Nesta atividade atendo convite das professoras Ana Cláudia Dutra Maquiné e Irlane Maia de Oliveira, esta minha orientanda de doutorado na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática. Amanhã tenho uma fala na Universidade do Estado do Amazonas. A UEA tem o título da universidade brasileira que tem mais campis, cerca de sessenta, dos quais alguns a dias de viagem da sede. Também na UEA, amanhã ocorre a banca de qualificação da tese de doutorado da Célia Maria Serrão Eleutério. Mas isso é o assunto de amanhã.
5.- Por último o pingo mais importante: agradeço a cada uma e cada um dos que entraram de carona comigo, na outorga que me fez o José Carneiro. Vibrei com título, mesmo que com razão se disse que me subornou a imodéstia. Vez ou outra, podemos deixar de ser violetas. Isso não é um pecado capital. Da dezena de comentário sou empático aquele chegou desde Niterói: Todas belas e merecidas palavras, mas confesso que como pai que sou, o elogio dos teus filhos me levaram as lágrimas. Nada mais reconfortante e balsâmico do que ouvir um mimo de um filho. Abraços do Antônio Jorge Furtado. Nada a acrescentar. Apenas para dizer ao Bernardo e a Clarissa, que vibrei muito por se orgulharem de seu pai. A recíproca é verdadeira.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

28.- PEREGRINO DA CIÊNCIA


ANO
 8
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2787

Na última sexta-feira voltei de Belém. Na madrugada desta quarta-feira, viajo para Manaus (retornando na madrugada de sábado) para duas palestras na Universidade Federal do Amazonas* e uma na Universidade do Estado do Amazonas e um exame de qualificação de doutorado. Há ainda uma palestra prevista para professores da rede estadual, com conflito de agenda. *http://portal.ufam.edu.br/index.php/eventos/2417-alfabetizacao-cientifica-e-cidadania-e-tema-de-palestra-do-prof-attico-chassot-na-quinta-29
Esse recorte de uma agenda, mesmo que excepcional, permite que amigos generosos teçam loas a meus fazeres. Os amigos também são para isso.
Não sem assomar a imodéstia, trago aqui o artigo semanal do jornalista e sociólogo José Carneiro, professor aposentado da UFPA publicado, neste 25 de maio, em O Liberal, de Belém, jornal líder em circulação no estado do Pará, desde 1968. José Carneiro, há três anos publica, a cada domingo, uma crônica refletindo o seu Pará. Estas, de vez em vez, dada a oportunidade do tema, são transcritas aqui. A deste domingo, não sem justificada razão que comparto aqui.
Um peregrino pela ciência Nesta semana esteve em Belém, pela sétima vez (ou mais) nos últimos dez anos, o prof. Attico Inácio Chassot, um químico gaúcho, de nome tão incomum (para nós, nortistas) quanto a vida acadêmica assumida após aposentação da UFRGS: circula por todo o Brasil, e por vezes Brasil a fora, em vilegiaturas rápidas, proferindo palestras, orientando e examinando teses.
Prefiro considerar, mais coloquialmente, que o professor Chassot se transformou num peregrino, integralmente comprometido com a nobre missão de discutir e difundir um dos temas que mais lhe é caro: a ciência. Segundo ele, ensinar a linguagem da ciência foi o que mais se propôs a fazer nos 53 anos de magistério, que nem a aposentadoria compulsória fez refluir. Esse polímata dos pampas, que aos 74 anos de idade continua em sala de aula, já publicou doze livros, entre os quais “A Ciência é masculina?”, já na 6ª edição, proeza de fôlego num mercado editorial tão volúvel e restrito como o brasileiro. O texto busca contribuir para que tenhamos uma sociedade menos desigual quanto às diferenças de gênero. Outro de seus livros, “Alfabetização Cientifica: questões e desafios para a educação”, cujos direitos autorais são doados permanentemente para o departamento de educação do MST, também já está na 6ª edição.
Sua última publicação enveredou pela memorialística ao fazer um ajuste de contas com seu próprio passado, no instigante “Memórias de um professor”, onde ele revisita sua infância (passada entre Santa Maria e Porto Alegre, em ambiente ferroviário) e passeia pela evolução do Brasil, destacando pontos referenciais que nortearam, para o bem ou para o mal, o desenvolvimento ciclotímico de nosso país. Além da divulgação da ciência por meio dos livros, mantém um concorrido blog onde fala de ciência e de outras linguagens que leem o mundo natural e cotidiano.
Em suas blogadas, Chassot tem aprofundado senso crítico a respeito de tudo e de todos – mormente quando o assunto é a politica – e aproveitado para divulgar a diversidade cultural do país, pouco conhecida dos brasileiros. No caso paraense, sua admiração beira a fantasia e seu prazer pela gastronomia alcança, segundo o próprio, a gulodice, embora contida. Mas, paralelamente à admiração pela rica e ameaçada natureza amazônica, o professor Chassot é ácido na avaliação que faz dos gestores despossuídos do zelo necessário em conservar tanta beleza, concebida e desprezada. No caso do campus universitário do Guamá, por exemplo, suas palavras são generosas ao considerá-lo um dos mais bonitos espaços acadêmicos que conhece (e ele conhece muitos, no Brasil e no exterior), misturando natureza e arquitetura num rico espectro. Mas faz ressalva e não deixa passar despercebida a miséria enquistada pela explosão demográfica do bairro que cerca o campus da UFPA.
De todas as capitais brasileiras, o professor Chassot só ainda não conheceu Macapá e Rio Branco, o que poderá acontecer a qualquer momento, tantos são os convites que enchem sua disputada agenda, onde sempre existe uma vaga para frequentes viagens ao exterior, junto com sua Gelsa, companheira de afetos e de ocupação.
Numa de suas visitas ao Pará, fez palestra em Bragança e, durante dois dias, conheceu de perto essa importante região pioneira na colonização do Estado. Nesta atual visita a Belém, o prof. Attico Chassot atendeu convite da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, lotou o auditório e encantou o público. Eis mais um nome expressivo que se encanta e divulga a região amazônica.

terça-feira, 27 de maio de 2014

27.- NOMES DE EDITORA


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2785

Termina uma segunda-feira que foi fria. Tive aulas com quatro grupos distintos nos três turnos. Assim, não é desarrozoada a situação de ser menos fácil editar, agora, esta edição.
Penso que muitos de nós já sonhamos em ter uma editora. Eu não apenas muito acalentei esse sonho. A minha já tem até nome (e nada mais que isso). A excelente crônica de Ruy Castro, publicada no último sábado, na p. A2 da Folha de S. Paulo, tornou evidente que o nome é importante. Ao compartir o texto referido, faço público aqui o nome de minha editora. Já é bom começo;
O nome da editora De todas as profissões que conheço, nenhuma mais delicada que a do editor de livros. O que faz alguém se dedicar a ela? O trabalho é ingrato. Consiste em receber ou disputar originais, lê-los, avaliá-los e, caso aceitos, publicá-los — o que significa contrato com uma gráfica, revisão, provas, seleção do papel e da fonte, criação da capa, texto das orelhas e, meses depois, o lançamento, a distribuição, o silêncio da crítica e, quase sempre, o lento escoar do livro nas livrarias. A única parte divertida do negócio deve ser a escolha do nome da editora.
Do século 19 até há pouco, as editoras tinham o nome de seus proprietários: Paula Brito, Quaresma, Garnier, Francisco Alves, Leite Ribeiro, Costallat & Miccolis, Freitas Bastos, Schmidt, Pongetti, José Olympio, Martins, Vecchi, Ozon, Martins Fontes, Zahar, Rocco, Cosac Naify. Quando os titulares perdiam a posse de suas editoras, os novos donos não eram bobos de mudar um nome que levara décadas sendo construído.
Desde 1940, começaram a surgir os nomes mais genéricos, mas fortes, positivos, progressistas: Civilização Brasileira, Melhoramentos, Agir. Depois vieram Lidador, Record, Perspectiva, Nova Fronteira, Artenova, Objetiva, Contexto, Sextante, Autêntica, Intrínseca e tantas mais. E, a partir dos anos 60, as que se referem ao próprio ofício: Editora do Autor, Companhia das Letras, Sete Letras, Claro Enigma, Gutenberg, Graphya, Gryphus, Casa da Palavra, Iluminuras, Best-Seller, Belas Letras.
Mas eis que surge uma nova tendência: a dos nomes poéticos e evocativos –Aprazível, Capivara, Cobogó, Folha Seca, Maquinária, Boitempo, Benvirá, Suma, Lazúli, Panda, Pandora, Barcarolla, Tapioca, Veneta, Amarilys, Ouro Sobre Azul, Peixe Grande, Três Estrelas, Biblioteca Azul, Edições de Janeiro e Céu Azul de Copacabana.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

26.- O FIM DE SEMANA...JÁ ERA


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2785

Escrevo este texto, quando recém se pôs o sol. Começa o anoitecer do domingo. Parece-me natural que já viva a segunda-feira. Assim, como a sensação de fim de semana começa, usualmente, com o entardecer de sexta-feira, agora este já termina.
Encanta-me a tradição judaica de passar os dias. O dia não começa e termina à meia-noite como no calendário secular. A meia-noite não é um evento astronômico reconhecível. Antes do advento do relógio, uma hora específica da noite não podia ser sabida com precisão. Mas o passar do tempo, durante o dia, era facilmente avaliado olhando-se a localização do sol. Assim, o dia começava por padrões precisos, simples e universalmente reconhecidos. Isso significava que o dia tinha de ser considerado ou a partir do início da noite ou no início do dia. Assim, na maneira judaica de viver o tempo judaico, o dia começa com o início da noite (o surgimento das estrelas) seguido pela manhã (que tecnicamente começa com o aparecimento do Sol).
Portanto, esta sensação de já viver-se, agora (no momento desta escritura), a segunda-feira é plenamente justificada. Tentar desobstruir alguns pontos de uma agenda, que se vê extensa, é frutuoso. Mas olhar o fim de semana que se despede é, usualmente, saboroso.
Mesmo que tivesse aula na manhã de sábado, esta desacelerada pós Belém foi sensacional. O frio que pediu algumas horas de gostoso lareirar, lócus para curtir jornais e revistas esparramados pelo chão.
Acompanhar o mundo através da janela que nos fornecem as diferentes plataformas (internet, rádio, televisão...) é enriquecedor. Privilegiado pelo fuso horário, cedo conhecia-se os resultados das eleições do parlamento europeu (com decepções como no caso da França), da Ucrânia, da Colômbia. Ver as imagens do Papa na Terra ‘Santa’ percorrendo uma trajetória muito parecida com aquela que a Gelsa e eu fizemos em fevereiro (Jordânia, Palestina e territórios ocupados, Israel) foi muito gostoso. Nisto, resta uma intensa torcida que Francisco ~~ finalmente ~~ consiga a Paz.
Mas a sensação de casualidade alterando história ficou para o gol do Real Madrid, empatando o jogo aos 47 minutos do segundo tempo. Se não tivesse havido este gol temporão, aquelas milhares de pessoas que já a mais de 24 horas não para de festejar teriam outra história. E... a décima — tão exaltada — não teria existido. A manumental festa no Santiago Bernabeu também tem sabor especial. Em 2002, durante o pós doutorado, morávamos no Paseo de la Castellana, muito próximo ao estádio.
Dentro de minha tradição de torcer pelo mais fraco, desejei muito a vitória do Atlético. Algo impressionante. Ser vice-campeão da Europa, para seus torcedores, sabia a derrota. Por tal até muito chorada.
Assim nesta copa minha torcida é pela ordem: Costa do Marfim, Nigéria e Camarões, os menores índices de qualidade de vida. Aceito parceiros para irmanar-se comigo.
Agora o fim de semana já era. Então maio, também, já era. Até o próximo, muito há de acontecer. 

domingo, 25 de maio de 2014

25.- DIA INTERNACIONAL DA TIREOIDE.

ANO
 8
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EDIÇÃO
 2784

Abro esta blogada dominical com um pedido de desculpas. Na abertura da blogada de ontem fui preconceituoso. Ao referir-me aos gelados auditórios e salas de aula escrevi: O Norte e o Nordeste brasileiros têm uma dívida ambiental com o Planeta. Locupletam-se com ar condicionado. Com propriedade Conceição Cabral protestou, em comentário: [...] Sobre os gelados auditórios, imagine-se por 4 horas dentro de um auditório cheio de pessoas, com o calor e a umidade daqui de Belém, sem ar condicionado. Uma umidade que pode chegar a 95%, tendo a média de 85% ao ano [...].
Reconheço que pisei na bola com a abertura desta blogada. Fui preconceituoso com o Norte e Nordeste. O Norte, mais precisamente a Amazônia tem me acolhido também. Peço, aqui e agora, desculpas. A situação aqui é díspar. na manha deste sábado dei aula com temperaturas menor que 10ºC, na mesma sala em que dou aula quando faz mais de 35ºC. Talvez por isso que, há muito indigno com os auditórios, gélido. Minha muito querida amiga Conceição foi testemunha que na manhã de terça-feira, em Belém, tive que interromper minha fala e pedir para diminuir o ar condicionado, pois mesmo de camisa de manga comprida, estava encarangando de frio. Isto não justifique minha deselegância. Vou me redimir. Isto dará azo a uma blogada especial.
Isto posto, vale lembrar que hoje é o DIA INTERNACIONAL DA TIREOIDE.
No endereço referido* somos alertados que tireoide é uma glândula que produz hormônios que são essenciais para o funcionamento do organismo em todas as etapas de nossas vidas. Afeta o desenvolvimento e crescimento na criança, o metabolismo, a função de diversos órgãos e a fertilidade.
As doenças da glândula são muito frequentes. A tireoide pode aumentar de tamanho homogeneamente ou na forma de nódulo(s), benigno ou maligno. Quando deixa de produzir hormônios adequadamente ocorre o hipotireoidismo e quando ela produz em excesso, o hipertireoidismo. Ambas situações trazem consequências negativas para o organismo.
Deve-se dar atenção especial ao feto e neonato, pois o hipotireoidismo nestas fases da vida causa graus variáveis de retardo mental irreversíveis se não for tratado precocemente. Por isto, é extremamente importante a avaliação da tireoide da gestante para garantir sua ingestão adequada de iodo (usado pela tireoide da mãe e do feto para produzir os hormônios). Mais informações há em:
*www.tireoide.org.br/25-de-maio-dia-internacional-da-tireoide/

sábado, 24 de maio de 2014

24. – (I)MOBILIDADE URBANA


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2783

Depois de meu périplo belenense de quase semana, cheguei em casa, cerca do meio-dia, depois de varar madrugada em voos: Belém / Belo Horizonte / Campinas / Porto Alegre.
Senti a transição térmica. Os 11ºC daqui não pareciam muito diferentes dos gelados auditórios e salas de aula. O Norte e o Nordeste brasileiros têm uma dívida ambiental com o Planeta. Locupletam-se com ar condicionado.
Mesmo retornado, fica um pouco de mim em Belém. A oportunidade de convívio com amigos como Conceição Cabral e José Carneiro, não nos deixam voltar sem reter-nos um pouco lá.
Como diz a Conceição, há sempre ‘passagens e paragens em Belém’. Por
tal, essa blogada traz um texto do José Carneiro. O tema vale para Belém e para a maioria das cidades brasileiras, grandes ou pequenas. Vale ler sentindo-se engarrafado.
A dura (i)mobilidade urbana É indiscutível que o planeta terra se urbanizou expressivamente, de um modo muito mais rápido do que se poderia prever. As primitivas polis aristotélicas, pressupostas pelo filósofo grego como o lugar ideal para o cidadão viver, foram gradativamente se transformando nas megalópoles do atual século XXI, em função, sobretudo, do êxodo rural, com suas causas conhecidas, de expulsão e de atração. Com o inchaço desmedido das cidades, sobrevieram todos os problemas bastante conhecidos de quem as habita. Seria necessário enumerá-los? Há para todos os gostos, por isso dispenso-me dessa relação neste espaço, hoje reservado para uma reflexão sobre a chamada “mobilidade urbana”, expressão tão simpática quanto caótica, que está mudando a feição do mundo e interferindo nos hábitos e costumes da população. Como se locomover nas grandes concentrações urbanas? De um lado, temos a perspectiva aristotélica de bem comum, de outro as imensas possibilidades da engenharia e, entre esses extremos, o caos nosso de cada dia, concentrado no trânsito rodoviário mas não apenas nele. São muitas as mazelas que agridem o individuo em sua convivência urbana, necessitando de deslocamento cada vez mais complicado para o trabalho, para o lazer, para as emergências da saúde, num frenesi que acaba por solapar um dos direitos fundamentais da cidadania, o de ir e vir ao bel prazer de cada um.
Voltando a Aristóteles, é curiosa sua percepção da dimensão adequada do espaço para a satisfação humana na vida social, ou seja, a extensão e os correspondentes limites da polis seriam determinados pelo alcance do projetil disparado pela arma mais potente, precisando se levar em conta que ainda não havia sido conhecida a pólvora. Não deixava de ser plausível, em se tratando de uns tempos mais moderados, quando até a democracia podia ser exercida de forma direta pelos próprios cidadãos. Tudo pertinente para tempos tão remotos. Hoje os sonhos e as realidades são bem diferentes. O excesso de veículos, em aquisição estimulada e facilitada pelo governo, e a restrição nas vias de tráfego, aparecem como os obstáculos principais, com maior visibilidade e irritabilidade para os congestionamentos, useiros e vezeiros em todas as grandes cidades, com maior ou menor agravamento, dependendo da gestão e dos recursos. Como sabem muito bem os entendidos, a engenharia pode fazer quase tudo, depende de haver recursos para isso. Daí se pensar nas caríssimas soluções à vista, mas distantes, como metrôs de superfície, subterrâneos, tuneis ou elevados de passagens, novas vias pavimentadas etc.
Poucas cidades brasileiras, aqui incluídas também capitais, dispõem dos recursos necessários para obras de tamanho vulto, capazes de minorar as agruras das populações. De modo que, entre a visão simpática de Aristóteles e as metamorfoses que a engenharia poderia produzir na paisagem, existem as medidas atenuantes, que logo são superadas pelo crescimento avantajado dos problemas. Cidades como Belém, por exemplo, dispondo de vias fluviais cercando a cidade, ainda não souberam agir com sagacidade para aproveitar as nossas “estradas naturais”, desafogando as vias artificiais, poluidoras e causadoras de mais calor e mais incidentes. Já houve tentativas nesse sentido, sem continuidade e o quadro permanece à espera de quem implante um projeto consistente. Nem a filosofia, nem a engenharia, talvez nos reste o que a natureza oferece, impedindo que a mobilidade urbana chegue ao colapso. Será que agora é só esperar?  

sexta-feira, 23 de maio de 2014

22.- UM CONVITE: CONHECER AS DOCAS DE BELÉM


ANO
 8
BELÉM - PA
EDIÇÃO
 2781

Faço nas primeiras horas desta sexta-feira minha despedida de Belém, aonde cheguei quando começava a segunda-feira. Voo Belém-Belo Horizonte-Campinas-Porto Alegre.
Imaginei ter que viajar sem minha bagagem, pois houve várias tentativas sem sucesso para abrir meu ‘apartamento’. Após mais de 40 minutos, conseguiram abrir, mas por ora só se consegue abrir por dentro. Às vezes, chegamos a acreditar mais em um artefato tecnológico de metal chamado chave do que em um cartão magnetizado que se diz conter um código.
Como nos dias anteriores, ontem me envolvi em atividades de bancas na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática. Cedo foi ao campus do Guamá, aquele que referi aqui na terça-feira como um quase gueto aristocrático inserto em bairro muito pobre de 100 mil habitantes.
Pela manhã assisti a defesa de doutorado de Artur G. Machado Jr. Este apresentou a tese Aprendizagens compartilhadas de formadores de professores: o caso da licenciatura integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens para os anos iniciais do Ensino Fundamental. É significativo ver a longa transição de um professor de cursinho se transformar durante mais de dez anos em doutor em ensino de Ciências e Matemática. Esta foi a quinta tese doutoral do Instituto de Educação Matemática e Científica da UFPA.
À tarde, participei de três bancas de pré-qualificação. De uma delas, a proposta de tese de Raiziana Mary de Oliveira Zurra que apresentou As etnociências e o processo de ensino e aprendizagem das ciências da natureza dos estudantes do ensino fundamental, em escolas rurais ribeirinhas de Tefé-AM: um estudo a partir da perspectiva da etnoecologia por meio das narrativas populares fui avaliador. Fiz algumas contribuições, entre elas examinar a perspectiva da etnociência ao invés da etnoecologia.
Passava das 19h quando se encerrava a sessão. O evento se estende ainda até sábado. Como era minha despedida de um grupo com o qual estive intensamente junto durante três tardes, onde participei da discussão de propostas de 11 teses, fiz uma fala de despedida, alertando a problemas estruturais que se não houver correção poderão comprometer o projeto para formar 120 doutores para a Amazônia.
Mas ontem Belém para mim não foi só discutir ações doutorais. Para o almoço fui convidado pelo Tadeu Olivier Gonçalves, orientador da tese, a acompanhar a celebração gastronômica que se seguiu a defesa de tese. Fomos a um restaurante no Guamá, talvez mais apropriadamente a um boteco, comer uma caldeirada de filhote. Estava excelente. Sou grato a minha colega Isabel Cristina Lucena que, sob chuva, me levou e trouxe antecipadamente ao/do restaurante para que eu pudesse atender aos compromissos de avaliação.
À noite, em companhia do Luciano, Silvia, Conceição e Geziel fui jantar nas docas de Belém. A Estação das Docas é um complexo turístico da cidade. Anteriormente parte do Porto de Belém, foi inaugurado em 13 de maio de 2000.
O complexo turístico e cultural congrega diversos ambientes, entre eles: gastronomia, cultura, moda e eventos. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns e um terminal de passageiros. Os bulevares foram resultado de um cuidadoso trabalho de restauração dos armazéns do porto da capital paraense. Os três galpões de ferro inglês são um exemplo da arquitetura característica da segunda metade do século 19.
Os guindastes externos, marcas registradas da Estação, foram fabricados nos Estados Unidos, no começo do século 20. Já a máquina a vapor em meados de 1800, fornecia energia para os equipamentos do porto.
As ruínas do Forte de São Pedro Nolasco, onde foi construído um Anfiteatro, foram originalmente construídas para a defesa da orla em 1665. O espaço foi destruído após o Movimento da Cabanagem, em 1825, e revitalizado para a inauguração da Estação.