Ano
6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2169
Esta
blogada abre com a manifestação de torcida [Pensamento
mágico? sim! E que bom é tê-lo...] pela Gelsa que nesta noite de
terça-feira (Brasil)/manhã de quarta-feira (Coréia do Sul) apresenta no ICME12—12th
International Congress on Mathematical Education seu trabalho “Articulating philosophical theories to
analyze the field of Ethnomathematics”.
Uma
das críticas que fundamentalistas fazem a Ciência é que ela também se assenta
em erros e não se corrige. Rafael Garcia, jornalista de Ciência e colaborador
da Folha de S. Paulo em Washington, publicou ontem um contra-exemplo, com o
texto:
Como respirar
arsênico (por pouco tempo)
O processo
científico é naturalmente auto-corretivo, com cientistas tentando reproduzir
resultados já publicados.”
Foi
com o uso do corolário acima, conhecido por todo cientista, que a revista
“Science” reconheceu domingo que um das descobertas recentes mais intrigantes
da biologia estava errada.
Em
dezembro de 2010, Felisa Wolfe-Simon, do Instituto de Astrobiologia da Nasa,
tinha apresentado ao público uma bactéria que não usava o elemento fósforo em
seu metabolismo, pois o tinha substituído por arsênio, o componente central do
veneno arsênico. A mera troca de um elemento pode soar irrelevante para leigos
em bioquímica, mas se a cientista estivesse correta, a GFAJ-1, o micróbio
encontrado no lago Mono, na Califórnia, seria único.
Uma amostra de bactérias GFAJ-1 (Foto:
“Science”)Até
hoje, todos os organismos vivos conhecidos dependem crucialmente de seis
elementos em seu metabolismo: oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio,
enxofre e fósforo. Se este último pudesse ser trocado por arsênio, a
compreensão de cientistas sobre as condições básicas para o surgimento da vida
deveriam ser repensadas. Apelidada até de “bactéria extraterrestre”, a GFAJ-1
seria um sinal de que a vida poderia emergir em locais jamais imaginados.
A
consagração, porém, durou muito pouco. O trabalho de Wolfe-Simon começou a ser
atacado logo após a publicação, e outros biólogos a criticaram por ter sido
apressada em tirar algumas conclusões. Rosie Redfield, da Universidade da
Columbia Britânica, tentou reproduzir o experimento original feito pela
cientista da Nasa, e obteve resultados diferentes . Esse e outros argumentos, porém,
foram insuficientes para convencer a Nasa a retratar o estudo.
A
edição desta semana da “Science”, porém, traz enfim não apenas um, mas dois
estudos explicando o que estava errado no trabalho de Wolfe-Simon.
Um
deles, liderado por Tobias Erb do ETH (Instituto Federal de Tecnologia da
Suíça), em Zurique, mostra que apesar de a bactéria ser capaz de viver num meio
altamente contaminado por arsênio, seu organismo precisa de um pouco de fósforo
para sobreviver. A cientista da Nasa, portanto, havia concluído que o micróbio
metabolizava arsênio sem ter a certeza de que não havia fósforo em suas
amostras.
O
outro estudo, liderado por Marshall Reaves , da Universidade de Princeton,
contraria afirmações de Wolfe-Simon de que moléculas essenciais ao funcionamento
dos organismos —como DNA e os lipídios das membranas celulares— poderiam trocar
o fósforo por arsênio.
A
vida, portanto, volta ao normal a partir de hoje.
“Science” cumpriu seu papel ao buscar os
melhores argumentos contra um estudo controverso e fez o certo em se esforçar
para publicar os trabalhos que contrariam uma descoberta que ela própria tinha
alardeado. Num caso desses, é a reputação da publicação que está em jogo, e os
editores da revista se saíram da melhor forma possível.
Para
Wolfe-Simon e para o Instituto de Astrobiologia da Nasa, porém, o futuro não
será tão fácil. O erro talvez não seja feio o suficiente para que a cientista
seja crucificada eticamente, mas, ao que tudo indica, errar foi um pecado menos
grave do que insistir no erro. Pareceristas que lerem seus estudos futuros
certamente terão cuidado redobrado antes de endossar suas conclusões.
A
“Science”, para qualquer efeito, tentou resgatar aquilo de bom que sobrou do
estudo original da pesquisadora, no comunicado que publicou domingo.
Tecnicamente o estudo não foi retratado, e a revista reconhece o mérito de
Wolfe-Simon de ter atentado para a importância da GFAJ-1, “um organismo de
resistência extraordinária que deve ser de interesse em mais estudos,
particularmente relacionados a mecanismos de tolerância ao arsênico”.
Caro Chassot,
ResponderExcluirdeixo de lado a polêmica dos erros da ciência para me juntar à torcida pela tua querida Gelsa: que tudo transcorro com muita tranquilidade e que o seu trabalho seja amplamente aclamdo - é a minha prece.
Um abraço,
Garin
Caro Chassot,
ResponderExcluirEstou aqui em Canoas onde vim a um casamento da filha de um amigo.
Quanto ao tema em pauta, transcrevo:
Quero repetir aqui argumento que usei em meu texto “A maravilhosa ciência”: A ciência “aconselha-nos a considerar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor à realidade. Presta-se como ferramenta do cético, do inconformado, do curioso e não daqueles habituados a certezas inquestionáveis”. Por isso, o cientista (e por extensão o evolucionista) é uma mente sempre aberta para ideias e propostas novas, já o criacionista é adepto de “certezas inquestionáveis”
Abraços, JAIR.
Ouço de um aluno (adolescente): "te quero longe da minha igreja, sora. Pessoal da filosofia, da história, tão sempre fazendo pergunta e, oh, na boa, vocês se perdem por que nunca encontram nada"
ResponderExcluirBem na boa, digo que o barato está em procurar e perder de novo. Nem que seja para encontrar o mesmo... diferente.
Acredito que o êrro é inerente apenas ao que tenta. A crítica ao que deveria ter tentado, mas desistiu antes mesmo de tentar. Como negar a Bentham o entusiasmo em afirmar que o seu panóptico era o "ovo de Colombo"? Seria recriminável o alarido científico pós a penicilina de Fleming? No clamor do "eureka" acredito terem nossos cientistas a mais beneplácita licença poética.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Boa tarde, Caro Mestre!
ResponderExcluirÀs vezes, o pesquisador pode se afeiçoar tanto à sua possível e sonhada descoberta que acaba deixando de ver falhas na metodologia ou na análise.
Acaba "torcendo" para que uma coisa seja confirmada!
Mas, felizmente, a paixão cedeu lugar à razão...
E ficou uma pontinha de decepção...
Abraços!
Mui caro Leonel,
ResponderExcluirhá muita sapiência em tua mirada.
Vibrei com a análise<>síntese
Com admiração
attico chassot
O espanhol Santiago Ramóm y Cajal, histologista e premio Nobel, recomendava aos jovens que nunca se apaixona-sem pelas suas hipóteses pois um dia poderiam ter que abandona-las... A ciência não pode admitir o tipo de fidelidade que as relações pessoais precisam.
ResponderExcluirMuito estimado Mario,
ResponderExcluirrecebi tua mensagem quando falava com a Gelsa que está em Seoul.
A frase de Santiago Ramón y Cajal me pareceu tão significativa que li para ela. Ela endossou. Lateralmente devo dizer que ela mais de uma vez reiterou a apreciação a teus comentários no blogue.
Desconhecia Ramon y Cajal, que ganhou o Nobel em 1906. Fui ler um pouco sobre sua história e não sem razão vi o quanto é celebrado na Espanha, tido como o mais importante nome da Ciência espanhola do século 20.
A máxima que tu com propriedade nos relembra poderia ser mote de um curso de metodologia da pesquisa.
Agradecimentos pelo prestígio que conferes a este blogue
attico chassot