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sexta-feira, 14 de março de 2025

O jovem pai salva o seu filho de cinco anos ou seu pai de 80 anos?

 

ANO 16

14/03/2025

Livraria digital em www.professorchassot.pro.br

O jovem pai salva o seu filho de cinco anos ou seu pai de 80 anos?

EDIÇÃO

2812

Esta blogada é tecida no embalar da celebração, do dia de ontem, quando evoquei o 64º aniversário de meu ser professor. Como preâmbulo narro, uma vez mais, uma historieta que me foi contada, já há algum tempo, pelo Prof. Dr. Nélio Bizzo* da USP. 


*UM MITO ANCESTRAL:

        Em um barco havia um homem com cerca de 30 anos, acompanhado de seu filho de 5 anos e de seu pai de 80 anos. O barco soçobrava. Só o jovem pai sabe nadar. Ele pode salvar apenas um. Quem ele salva? O menino? O velho?”

Na cultura africana, onde esta historieta tem sua matriz, o natural é que o velho seja salvo, por um único argumento: ele é  detentor de conhecimentos que são muito preciosos para toda a comunidade.

Há alguns anos narro esta historieta*, quando procuro motivar docentes e discentes à busca de saberes primevos para deles fazer saberes escolares. Parecia ser natural que usasse a mesma historieta quando buscava destacar a valorização de saberes, muitas vezes em risco de extinção, detidos pelos mais velhos. Para os estudantes, que assistem a minha fala, parecia natural que o jovem pai salvasse o menino. Afinal este, diferente de seu avô, tem toda uma vida pela frente. Todavia, na cultura africana, onde esta historieta parece ter suas raízes, é natural que o velho fosse salvo, por um único argumento: ele é o detentor de conhecimentos que são muito preciosos para toda a comunidade. De maneira usual o ensinar ocorria, naturalmente: os mais velhos sempre ensinavam os mais jovens. Estes consideravam os saberes ancestrais como verdades inquestionáveis.

Quando, agora reli o parágrafo anterior me deu uma tristeza de algo que parece  eu ter perdido: a sala de aula, não apenas por aposentadoria. Nas lives e mesmo nas aulas híbridas não ocorre mais ‘aquele contato’ com os alunos. Lembro o quanto curtia perambular entre os alunos em uma sala de aula… Lembro dos olhares cúmplices que trocava com quem meneava positivamente a cabeça; e também como fugia de quem enviava acenos de negação… Ora, isso não se faz mais. 

A cada momento, surge uma novidade que oblitera a sala de aula, na qual eu deambulei por mais de sessenta anos. Há não muito recebi dois convites para palestras. Redigia um sim muito entusiasmado. Soube, então, que devo fazer a palestra na minha casa, em momento que eu desejar, e encaminhar o link para a organização do evento para o qual fora convidado. Para quem e aonde vou falar? Não sei… É mais uma sala de aula que se esboroa silente.  

Dou-me conta que talvez esteja fugindo ao convite dos editores de conceituada revista que me convidaram para um texto. Quando já se tem mais de 60 anos de docência parece permitido sermos, vez ou outra, um pouco intimistas. Afinal as realidades daqueles que vivem agora as primícias da docência são diferentes daqueles que ora vivem o ocaso do inolvidável professorar. 


É preciso — aqui e agora — oferecer uma explicação aos meus atenciosos leitores. Buscara, na historieta de meu preludiar, dizer que este é um texto mal comportado. Ele foge à ortodoxia. Meus leitores já leram, inclusive escreveram, artigos científicos bem comportados. De maneira usual estes textos relatam uma pesquisa. Acerca destes artefatos culturais parece dispensável trazer comentários. Fiz, aqui e agora, apenas um preâmbulo. Em outro momento, prosseguirei com relatos. Até então!

*BIZZO, Nélio; CHASSOT, Attico; ARANTES, Valéria Amorim (Org). Ensino de Ciências: Pontos e Contrapontos, 192p. São Paulo: Summus, 2013. ISBN 978-85-323-0891-7)

sexta-feira, 7 de março de 2025

Por que este ano o carnaval é mais tarde (03/03)?

  07/03/2026 Sexta-feira, 07 de março de 2025// Ano 16<> Edição 2811

Preliminarmente devo trazer uma notícia indigesta: não realizei a disfunção que na pretérita sexta-feira, 28/02,  agastou e terminou sem encerrar a última blogada do primeiro bimestre de 2025. Tento uma recuperação.

Não raro sou criticado por ser por demais igrejeiro em muito dos temas aqui assuntados. Justifico quando  me refiro que estudo (também) Ciência e Religião. Nesta edição que escrevo acerca do Carnaval (na última terça-feira 04/02 os assuntos vêm a calhar. Eis uma questão: Por que a data do Natal (25 de dezembro) é fixa e a data da Páscoa é móvel(entre 22 de março e 25 de abril)? Mais uma interrogação: Por que este ano o carnaval é bem mais tarde (03/03)?  Nos 16 anos deste blogue ofereci textos a fruir a quase cada ano.

O plenilúnio (palavra com sonoridade ímpar que traduz um fenômeno astronômico que não raro nos embriaga no mundo da lua). A Páscoa ocorre sempre na primeira lua cheia do equinócio de primavera no Hemisfério Norte (ou de outono no Hemisfério Sul). Como o calendário lunar é independente do calendário solar, vemos que essa variação é de trinta e quatro dias, ou seja, cinco semanas menos um dia. Como o equinócio (quando temos o dia com 12 horas de sol e 12 horas de noite) de outono (no Hemisfério Sul) é em 22 de março, há a possibilidade de variação entre 22 de março e 25 de abril.

Ainda com ações restritas no computador, encerro este registro com convite aos crentes a que se integrem aos habitantes do Planeta em orações pelo restabelecimento da saúde do Papa Francisco e aos não crentes lembrar que torcer é uma maneira agnóstica de rezar. Torçamos pelo batalhador da Paz na Terra.


sábado, 1 de março de 2025

Por que este ano o carnaval será bem mais tarde?

28 fevereiro de 2025// Ano 16<> Edição 2809

Fevereiro se esvaziava: o primeiro bimestre de 2024 terminava e começava o mais extenso feriadão do ano começava.

Pergunta capital: Por que este ano o carnaval era bem mais tarde? Nos 16 anos deste blogue oferecia textos a fruir a quase cada ano. Tudo pronto para simplesmente aguardar o pôr-do-sol para a desejada postagem.

O plenilúnio (palavra com sonoridade ímpar que traduz um fenômeno astronômico que não raro nos embriaga no mundo da lua).

A Páscoa ocorre sempre na primeira lua cheia do equinócio de primavera no Hemisfério Norte (ou de outono no Hemisfério Sul). Como o calendário lunar é independente do calendário solar vemos que essa variação é de trinta e quatro dias, ou seja, cinco semanas menos um dia. Como o equinócio (quando temos o dia com 12 horas de sol e 12 horas de noite) de outono (no Hemisfério Sul) é em 22 de março, há a possibilidade de variação entre 22 de março e 25 de abril.

Num momento quase mágico desaparecem todos os arquivos gestado durante horas. Não consigo recuperar o produzido.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Três verbos: LER / ESCREVER / EDITAR

ANO 16

21/02/2025

Agenda de Lives em página

www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO

2010


O monumento aos livros está em Morro Reuter, próximo a Porto Alegre. 72 livros

Estamos já vivendo a última semana de fevereiro. Estou com livros a mancheia. Três verbos determinam meu viver como homo librorum nesses meus novos tempos de neo-aposentado: ler, escrever e publicar. Os dois primeiros preenchem quase exclusivamente o meu/nosso quotidiano. O que estamos fazendo agora? Lendo  e/ou escrevendo! 

O terceiro: quantos de nós já não sonhou ser um editor? Muito provavelmente ser editor de um blogue é uma maneira ‘pequena’ de realizar este sonho reprimido. Ler também os nossos escritos nos faz editores! Ler os comentários laudatórios de nossos colegas nos faz quase detentores do Nobel de Literatura.

Faço uma experiência: edições menores; edições trazidas de excertos de edições grandes. Agora os dois momentos já anunciados. Um dos momentos preencheu meu fim de semana e ainda se espraia pelos dias que fluem. O terceiro (publicar) ainda me interroga. É irrespondível.  Eis um teste:

No sábado, um passarinho, ainda implume, caiu no foyer pela chaminé da lareira, de provável ninho no piso superior. Não voa ainda, mas se adonou e marcou sua presença em peças da casa. No domingo, com orientações de distantes pontos do país recebi recomendações para hidratá-lo e alimentá-lo. Não tive muito sucesso. Acolchoei-lhe uma caminha. Na manhã de segunda-feira, anunciei aos meus parceiros salvacionistas que o frágil passarinho fora a óbito. Engano meu. Ao ascender para dar-lhe sepultura no jardim, manifestou-se piando a doer. Então, de vez em vez, ofertei-lhe uma solução hidratante, leite morno, pirão... Não fui hábil. Penso que a oferta não foi aceita. À tarde, na expectativa que seu piar chamasse sua mãe (depois me disseram que as mães não reconhecem filhotes que foram tocados por humanos e os deserdam), levei-o a um tomar um sol, entre nuvens, nada intenso. Foi fatal. Ele morreu. Dei-lhe sepultura sob uma lápide, onde penso que vejo escrito este memorial. Sofri. Sofro. Eu não mato uma das milhares de drosophilas que se apossaram de minha cozinha, ajudei a matar um passarinho ainda implume (levando-o ao sol).

Agora um interrogante fulcral: como o episódio do frágil filhote e os cruéis crimes contra a humanidade em centros de extermínios se entretecem. Parece que não preciso responder. Até a vindoura sexta-feira.


sábado, 15 de fevereiro de 2025

Alfabetização digital, uma questão moral

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Alfabetização digital, uma questão moral###

 

 ANO 16

14/02/2025

Livraria digital em

www.professorchassot.pro.br

                  LIVRARIA VIRTUAL

EDIÇÃO

2810

ESTA BLOGADA É UM OFERTÓRIO A VERA LÚCIA RENNER, uma fazedora de palavras

Parece que o 2025 começou prá valer... Já se fala em carnaval (na segunda metade de fevereiro). Já se fala muito em preço de ovos (não de Páscoa). O plenilúnio (palavra com sonoridade ímpar que traduz um fenômeno astronômico que não raro nos embriaga no mundo da lua). Na academia  tenho dito que na pandemia perdemos a sala de aula. Outra perda: não temos mais a hegemonia dos semestres letivos. Tenho colegas em 2022 e outros estão começando o 2021/1. E o 2025 agora já aparenta ser o ano passado labelado com as marcas da vacuidade.

Há não muito, de maneira usual, dividíamos os humanos em analfabetos e alfabetizados. Estes, enquanto alfabetizados na língua materna, eram — de maneira usual — qualificados como capazes de saber interpretar (ou ser capazes de redigir) um bilhete ou ser um leitor de um livro. Também, aqui se pode falar em múltiplas alfabetizações além da usual no idioma de berço: alfabetização científica, alfabetização matemática, alfabetização geográfica, alfabetização musical, alfabetização astronômica, ou ainda, em idioma(s) estrangeiro(s) etc. Talvez, pudéssemos afirmar que a Alfabetização Científica — na acepção de ler o mundo por meio da linguagem que a Ciência o descreve — se faz numa assemblage*1 de diferentes alfabetizações. Mais recentemente, depois de milênios usando múltiplas linguagens escritas, incorporamos às nossas habilidades a alfabetização digital. Nesta especificidade, de maneira mais recorrente, caracterizamos três estratos: os nativos digitais, os imigrantes digitais e os alienígenas digitais.

Hoje, de vez em vez, encontramos situações nas quais avós se socorrem dos netos em múltiplos fazeres, nos quais são inábeis, como por exemplo, na operação de smartphones. Há crianças (e também adolescentes) que jamais escreveram com um lápis ou com uma caneta. Há os que nunca usaram suporte papel para escrever um bilhete ou uma carta ou mesmo para a redação de um trabalho escolar.

Há situações nas quais nativos digitais (= nascidos no século 21, parece ser uma adequada cronologia) se comunicam por escrito prescindindo inclusive da língua materna. Diálogos — usando apenas emojis2** — podem oportunizar uma frutuosa comunicação entre nativos digitais.

Um grupo, muito mais numeroso que o anterior, são os imigrantes digitais (= a imensa maioria dos nascidos no século 20) que em suas vidas foram (por muitos anos) analfabetos digitais, mas — não raro, com árduo aprendizado — deixaram de ser alienígenas e ingressaram na tribo dos nativos digitais. Muitos fizeram essa transição sem sotaques, inclusive, com a trazida de suas habilidades, enquanto estrangeiros, e aportaram riquezas ao universo digital. Esta migração também foi/é muito ampla. Há aqueles que são (quase) do paleolítico, pois foram alfabetizados em uma pedra de ardósia escrevendo nela com uma estilete da mesma pedra. Há cerca de um quarto de século escrevi um texto3*** no qual narrei, então, os meus cinquenta anos de meu escrevinhar, iniciado em uma lousa de ardósia, emoldurada em madeira, muito semelhantes — no formato físico    e em tamanho — aos atuais tabletes.

Há um terceiro grupo: os alienígenas digitais. Este é um grupo muito numeroso e, muitas vezes, invisibilizado. A maior parte daqueles que não ‘usam’ dos recursos do mundo digital, são, cada vez mais marginalizados no hodierno. Por exemplo: são incapazes de usar os mais comuns meios de transportes urbanos, pois não conseguem operar um aplicativo (um dos ícones do mundo digital). Nos tempos pandêmicos os alienígenas digitais foram/são cada vez mais excluídos também pela inabilidade no ensino remoto. É importante mencionar que no mundo da Educação a exclusão ocorre, de maneira significativa, pela impossibilidade de acesso a hardwares necessários para acessar as ‘benesses’ do mundo digital. Vale registrar dentre os diferentes hardware nenhum é de uso tão exclusivo quanto o smartphone. A propósito: tu já emprestaste o teu para alguém?   

Hoje há que lutarmos para ensejar a migração dos alienígenas digitais para fazê-los imigrantes digitais. Assim, como ninguém discorda que se faça campanhas de alfabetização na língua materna temos que acolher, como uma questão moral, os alienígenas e fazê-los imigrante digitais. Quando alguém imigra para um país que tem um Idioma diferente, o que busca aprender por primeiro.

A cada dia chegam centenas de migrante a nosso convívio que ainda são analfabetos digitais. Há que alfabetiza-los. Há que faze-los migrantes digitais e mágico e) fantástico mundo digital.

[1] * No Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explicou-me que uma assemblage consiste de vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas, Assim, por exemplo, cabernet sauvignon + merlot poderiam formar uma assemblage (o substantivo é feminino, numa evocação à assembleia), ou tannat + pinot noir, outra. Observaram como esses varietais (palavra não dicionarizada, usada para indicar tipos de cepas) têm nomes sonoros. Aqui a palavra cepa (que pode ser usado para designar cebola, a partir de seu nome genérico) esta sendo usada em duas acepções no ramo das videiras: 1) caule ou tronco da videira, de onde nascem os sarmentos; ou 2) estirpe, linhagem ou tronco de família; cepo. O Houaiss me diz que assemblage significa composição artística realizada com retalhos de papel ou tecido, objetos descartados, pedaços de madeira, pedras etc e diz que a etimologia é da palavra francesa homônima assemblage (datada de 1493) 'conjunto constituído de elementos ajustados uns aos outros'. Já que estou brincando com palavras transcorreram duas que são dissonantes. Sarmento: mesmo que em Porto Alegre tenha na família Sarmento Leite das mais importantes, sarmento ser ‘vara que a videira dá cada ano’ nunca me soa bem, talvez porque evoque mais um ‘cão sarnento’. Outra é cepo, que para mim sempre foi ‘pedaço de tronco cortado transversalmente’ e não um ramo de videira.

[2] * Emojis — originados no Japão — são ideogramas e smileys usados em mensagens eletrônicas e páginas web, cujo uso está se popularizando para além do país. Eles existem em diversos gêneros, incluindo: expressões faciais, objetos, lugares, animais e tipos de clima.

[3] * CHASSOT, Attico. Sobre o ferramental necessário para o trabalho de escrever. Estudos Leopoldenses, v.32, n.148, p.37-55,1996.

A alfabetização digital como nós, a maioria dos leitores deste texto temos que aprender  Há que ensejar a muitos as benesses ofertadas por essas novas tecnologias.