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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

31.- Réveillon

Porto Alegre Ano 5 # 1611

Hoje é réveillon. No meu imaginário réveillon era o baile de são Silvestre ou da virada. Estava equivocado. Busquei em dicionários acepções para réveillon. Nem sei se já havia escrito antes esta palavra. Aprendo algo diferente. O Aulete é sintético: Reunião e ceia festiva na passagem do ano. O Priberan frustra: Palavra reconhecida pelos Países de Língua Portuguesa, mas sem definição no dicionário. Já o Houaiss traz três acepções seguidas da etimologia:

Réveillon
substantivo masculino
1 ceia da noite de Ano-Novo 2 conjunto de festejos que costuma acompanhar a ceia e a passagem do ano 3
Derivação: por extensão de sentido: véspera do Ano-Novo
Etimologia
fr. réveillon (1531) 'pequena refeição, feita à noite, com companhia', (1750) 'espécie de divertimento que se faz na França após a missa de meia-noite', der. de réveiller 'acordar'

A Wikipédia sempre oportuna ensina: O Ano-Novo ou Réveillon é um evento que acontece quando uma cultura celebra o fim de um ano e o começo do próximo. Todas as culturas que têm calendários anuais celebram o "Ano-Novo". A celebração do evento é também chamada réveillon, termo oriundo do verbo francês réveiller, que em português significa "despertar".

A comemoração ocidental tem origem num decreto do governador romano Júlio César, que fixou o 1 de janeiro como o Dia do Ano-Novo em 46 a.C. Os romanos dedicavam esse dia a Janus, o deus dos portões. O mês de Janeiro, deriva do nome de Janus, que tinha duas faces - uma voltada para frente e a outra para trás.

Esta referência me faz lembrar que , quando tinha filhos pequenos, fui um voraz contador de história. Na noite do último domingo de outubro, um personagem de então, veio do imaginário fantástico e se fez real. Janus, nas minhas historinhas, era um menino que ria e chorava ao mesmo tempo, ou melhor, um lado do rosto chorava e outro ria.

.A inspiração buscara na mitologia romana. Janus era o deus a quem os romanos creditavam o bom término de algo que estava começando. O templo principal de Janus, no Fórum, tinha portas voltadas para o leste e para o oeste. Entre as duas portas, estava a estátua de Janus com suas duas faces, que contemplavam em direções opostas: o começo e o fim do dia, para que esses fossem abençoados. Em toda casa, a oração matutina era dirigida a esse deus e para toda lide doméstica era solicitada a sua ajuda. Como o deus do começar, ele era invocado publicamente no primeiro dia de janeiro, assim denominado, pois Janus - sem similar na mitologia grega – começava o ano novo. Ele também era invocado no começo das guerras, durante as quais as portas do templo permaneciam sempre abertas; quando Roma estava em paz, as portas estavam fechadas.

Não guardo – diferentemente da noite de 24 para 25 dezembro – muitas evocações da noite do réveillon. Em minha infância não lembro ser momento de celebrações destas noites. O desta noite poderia entra significativamente para a história: eu como milhões de brasileiro estou concorrendo aos mais de 200 milhões da mega-sena da virada. Que todos tenhamos um maravilhoso réveillon e que 2011 seja pleno de Paz.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

30.- Amanhã: um dia histórico 2003-2010

Porto Alegre Ano 5 # 1610

Amanhã será um dia histórico na História do Brasil. Terminam os oito anos do governo Lula. Sirvo-me do editorial da edição natalina de Zero Hora para análise do período 2003–2008. Antes de cobrarem-me coerência em relação à fonte usada, algo muito pessoal. No segundo semestre de 2002, no auge da campanha presidencial, dei uma entrevista para a Revista semanal IHU da Unisinos. Pinço uma pergunta: Jornais que costuma ler – Assino a Folha de S. Paulo e Correio do Povo. Sou visceralmente contra a Zero Hora. Não consumo produtos RBS.

Nunca podemos dizer desta água não bebo. Eu mudei e a RBS mudou. Era guaibeiro, quase fanático. A rádio Guaíba, a televisão e o jornal foram vendidos para a IURD, não tinha como ficar na rede do Pastor mega-milionário. Não havia muitas opções. Há que reconhecer que RBS também mudou, começando pela defenestração de certo pústula que era intragável. A Zero Hora que nos quatro anos do Governo da Administração Popular (Olívio Dutra 1999/2002) bateu no governo, a cada dia, não fez/fará mais o mesmo. A situação da imprensa gaúcha há 12 anos quando Olívio assumiu e agora é incomparável. Penso que há razões para valer-me do editorial que anunciei, mas antes uma notícia da tarde de ontem: Lula encerra oito anos de governo com aprovação recorde, aponta pesquisa CNT/Sensus. Segundo o levantamento, 87% dos entrevistados aprovam o desempenho do presidente.

NUNCA ANTES

Nunca antes na história deste país, um presidente concluiu o seu mandato com tamanha aprovação popular: o ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva, depois de oito anos na presidência do Brasil, ostenta 83% de avaliação positiva (ótimo e bom), sendo desaprovado por apenas 17% de brasileiros que acham o seu governo regular, ruim ou péssimo. Para alcançar esta extraordinária popularidade medida pelo Instituto Datafolha, Lula utilizou seu carisma e sua competência para superar desconfianças. Manteve a economia nos trilhos, elevou a renda dos brasileiros, criou 14 milhões de empregos com carteira assinada e retirou da faixa de carência um contingente estimado em 30 milhões de pessoas, que passaram a ter a oportunidade de participar do mercado de consumo.

Nunca antes na história deste país, reunimos tantas oportunidades para o sonhado salto de desenvolvimento, com a implementação de reformas estruturais, a correção das mazelas educacionais e a cura de um sistema de saúde doente. Mas o governo Lula está terminando de forma constrangedora nestas áreas essenciais: estudantes pessimamente colocados nas avaliações internacionais, pacientes enfileirados nas portas das emergências dos hospitais e descaso total com o saneamento básico, a ponto de o país chegar a 2010 com quase 1 milhão de casos de dengue.

Nunca antes na história deste país, tivemos tanta necessidade de uma reforma política, capaz de fortalecer a democracia, moralizar as disputas eleitorais e reduzir a margem para as barganhas, para o fisiologismo e para as alianças partidárias espúrias. Mas Lula não se diferenciou de presidentes anteriores, nem tentou alterar as regras do jogo, e se omitiu em relação à apuração de escândalos de corrupção protagonizados por pessoas próximas ao poder.

Nunca antes na história deste país, registrou-se um avanço social tão significativo, com a garantia de renda mínima a 13 milhões de famílias que passavam dificuldades e a transferência de R$ 60 bilhões para pessoas que viviam em extrema pobreza. O programa Bolsa-Família cumpre a sua finalidade de beneficiar cerca de 50 milhões de pessoas, mas ainda falha na estratégia de oferecer uma porta de saída para os beneficiários, evitando que se tornem dependentes da ajuda oficial.

Nunca antes na história deste país, um presidente foi tão eficiente na comunicação com as multidões. Mesmo sem o rebuscamento dos oradores diplomados, Lula conquistou plateias com seus discursos improvisados, utilizando-se fartamente de metáforas futebolísticas e de expressões familiares à parcela menos culta da população. Se internamente o presidente chegou perto da unanimidade, externamente provocou reações controversas ao aplicar uma política ambígua de afagos a ditadores e desconsideração com aliados históricos, como os Estados Unidos. Ainda assim, o Brasil conquistou respeito internacional e espaço na mesa de negociação das grandes potências.

Nunca antes na história deste país, tivemos tantas liberdades democráticas e ao mesmo tempo, paradoxalmente, testemunhamos tantos rompantes autoritários de pessoas abrigadas à sombra do poder. Lula cumpriu a Constituição e resistiu à tentação do terceiro mandato, ao contrário de outros governantes populistas do continente. Porém, sob o pretexto de controle social da mídia, o governo facilitou o trânsito de ideias de inspiração stalinista, estimulou fóruns de interferência na produção de conteúdos jornalísticos e tolerou propostas atentatórias à liberdade de expressão.
Nunca antes na história deste país, houve um Lula – o governante que entrará para a história pelos discursos emotivos, pelas decisões populistas e pela ambiguidade de sua política internacional, mas também pela visão social, pela inteligência administrativa e por encaminhar o país para um novo patamar de desenvolvimento.

Primeiro que me relevem os leitores de fora do Brasil, mas análise destes oito anos merecia este registro. Permito-me considerar que nós que vivemos neste país somos afortunados por sermos testemunhas de tudo que aconteceu. Foi/é fantástico sermos partícipes deste Brasil. Vários de nossos sonhos, quando nos envolvemos na campanha de 2002 se transmutaram em realidades

Amanhã teremos a blogada de despedida de 2010. Com votos de uma excelente quinta-feira um ‘até amanhã!’

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

29.- Religião não define caráter


Porto Alegre Ano 5 # 1609

E...depois de amanhã já é dia de São Silvestre. Será o ultimo dia do ano. Mas por enquanto é 2010 e o vivamos, que três dias são três dias.

Hoje esta blogada ocorre após a Academia. Com esta hoje entra em recesso, agora só na segunda-feira, já no ano que vem.

Ontem, neste período de hemi-férias tivemos momentos muito agradáveis. A Julia e o Benjamin acolheram à tarde a Maria Clara e o Antônio e ofereceram aos dois um verdadeiro piquenique com banho na piscina, bolo surpresa e muito mais. Nós curtimos muito vê-los, só lamentado que depois de amanhã, com o retorno do casal visitante tudo isso será saudades.

À noite a Gelsa e eu assistimos a um bom filme:

Mandela - Luta pela Liberdade // Título Original: Goodbye Bafana // Países de Origem: Alemanha / França / Bélgica / África do Sul / Itália / Inglaterra / Luxemburgo // Gênero: Drama // Classificação etária: 10 anos // Duração: 140 minutos // Lançamento: 2007 Estreia no Brasil: 10/10/2008 // Site Pagina Oficial: www.goodbyebafana.com // Direção: Bille August

Gostamos muito do filme. Narra a história real de Nelson Mandela, num período de 20 anos – dos 27 anos – que ficou preso, contada através das memórias de um guarda de prisão racista que teve sua vida completamente alterada pela convivência com o líder da África do Sul. Mesmo que a história de Mandela apareça muito superficial e simplificada, o filme constitui-se numa boa preparação para o livro “Conversas que tive comigo” de Nelson Mandela (Rocco, 2010), que ganhei de minha amiga secreta – a Gelsa – em nossa celebração natalina. Ele será começado logo que termine o excelente livro de Isabel Allende, que devo terminar hoje.

Vivemos nesse dezembro um período marcado também por muita religiosidade. Não tenho, com o o assunto de hoje fazer um contraponto, mas considerar o que fiz manchete desta edição: “Religião não define caráter”,

No começo do mês a Atea – Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, uma entidade sem fins lucrativos sediada virtualmente no site www.atea.org.br – tentou em algumas capitais brasileiras, incluído Porto Alegre, veicular campanha em ônibus. Esta seria semelhante ao que já relatei aqui em diferentes momentos, quando ocorreu na Espanha e no Reino Unido.

O Brasil seguiu na mesma onda, e a Atea é uma das manifestações do fenômeno. Sua campanha publicitária segue o modelo já adotado em países europeus e nos Estados Unidos. Na capital gaúcha, os anúncios deveriam estampar a traseira de 10 ônibus durante um mês. Na última hora, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) barrou as peças, justificando que a legislação municipal proíbe manifestações religiosas (na verdade, são vetadas peças que estimulem a discriminação religiosa).

São quatro as peças em defesa do ateísmo que seriam veiculadas nos ônibus de Porto Alegre e foram vetadas pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). Todas elas expressam algum aspecto do pensamento ateu e exigem o fim do preconceito contra quem não é religioso.

Um dos anúncios afirma que “religião não define caráter” e dá como exemplo Charles Chaplin (ateu) e Adolf Hitler (crente). Outro exibe divindades de diferentes crenças e conclui: “Somos todos ateus com os deuses dos outros”. As duas peças restantes geraram mais críticas. Uma delas exibe a foto de um avião se dirigindo a uma das torres do World Trade Center, enquanto a outra já está em chamas, e é acompanhada dos dizeres “se deus existe, tudo é permitido”. O último afirma que a fé não dá respostas, só impede perguntas.

– Recebemos críticas segundo as quais algumas peças não seriam adequadas para combater o preconceito, mas entendo que elas são bastante adequadas. Não estamos criticando pessoas, mas ideias. Respeitamos profundamente os religiosos, mas as ideias deles não estão acima da crítica – defende Daniel Sottomaior, presidente da Atea.

A Atea preparou os anúncios, financiados pelas contribuições dos sócios, sob a inspiração de campanhas similares realizadas em diversas partes do mundo desde 2008, quando apareceram na Inglaterra ônibus com a lateral ornada pelo slogan “Deus provavelmente não existe. Agora pare de se preocupar e aproveite sua vida”.

– Nosso objetivo é a transformação da sociedade. Acreditamos que dar visibilidade aos ateus diminui o preconceito – afirma o presidente da Atea.

O fato novo é que, no Brasil e em várias partes do mundo, os ateus não estão mais dispostos a ficar calados. Favorecidos pela internet, que os colocou em contato por meio de comunidades de discussão, os descrentes se articularam e começaram a lançar campanhas para enfrentar o preconceito e expor seu ponto de vista. Também saíram à rua para protestar, como durante a recente visita papal à Espanha. A onda ateísta contou ainda com uma série de best-sellers publicados por intelectuais importantes, como o evolucionista Richard Dawkins (Deus – Um Delírio), o filósofo francês Michel Onfray (Manual de ateologia) e o jornalista Christopher Hitches (Deus Não é Grande). Os dois primeiros mais de uma vez transitaram aqui. Já contei aqui: na primeira década do século 21 foram publicados mais livros como aqui referidos que em todo o século 21.

Esse assunto é significativo. Desejo voltar ao tema. Por hoje, ainda, votos de uma muito boa quarta-feira. Já que falei que depois de amanhã é dia de São Silvestre, vale lembrar que, um dos pratos recomendados para o jantar da virada é lentilha. Ainda há tempo para adquiri-la, para que não o fez. Só não dar receita para o preparo da mesma.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

28.- "Alencar: um vitorioso

Porto Alegre Ano 5 # 1608

Esse período entre Natal e Ano Novo, tido como o ‘tempo das festas’ é como um aperitivo das férias. Passado este, os docentes da maioria das universidades têm duas semanas de atividades, usualmente marcadas por bancas, seminários etc, para depois fruir-se 30 dias de férias. Estas se encerram, este ano, com olho no carnaval, três semanas depois.

Dentro do ciclo de festas, na noite de ontem, a Gelsa e eu recebemos nos jardins da Morada dos Afagos para um jantar a Júlia e o Benjamin. Eles nesta sexta-feira retornam, depois de duas semanas, à Paris onde moram. Foi muito bom tê-los para alguns momentos na noite de temperatura agradável.

Mas este é um período de balanços. No Brasil este é significativo. Terminamos 8 anos de governo Lula. Assunto isto ainda esta semana.

Hoje queria trazer outro balanço. Antes devo contar que, no primeiro semestre de 2002, então vivendo em Madrid, uni-me a uma infrutífera campanha internética contra a escolha de José Alencar como candidato a Vice-Presidente na chapa com Lula. Protestávamos contra a juntada de um rico empresário, ‘dono’ de um partido nanico, esta com posturas altamente criticáveis, fazendo dupla com um operário.

Enquanto Lula termina o mandato como recordista em popularidade, o vice-presidente da República, José Alencar, chega ao fim tendo como maior proeza justamente o fato de ter chegado até aqui. Desacreditado pelos prognósticos médicos, o empresário milionário que ajudou o torneiro mecânico a conquistar a confiança do mercado financeiro para chegar ao poder em 2003 acabou se transformando em um exemplo de luta ao resistir com valentia a um câncer na região do abdômen. Nos últimos dias, o país tem acompanhado apreensivo aos boletins do Hospital Sírio-Libanês sobre seu estado de saúde, mas até ontem Alencar permanecia confiante de que conseguiria se recuperar mais uma vez para assistir à posse da presidente eleita, Dilma Rousseff. Com a promessa de ainda dançar um xaxado e tomar um golinho na cerimônia.

Na tarde desta segunda-feira, o médico Roberto Kalil Filho afirmou que não recomenda que o vice-presidente compareça à cerimônia de posse da presidente eleita Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer, no próximo sábado, em Brasília.

Ao mesmo tempo em que emociona, a disposição do vice de 79 anos, que já passou por 17 cirurgias, suscita algumas reflexões. A jornalista Letícia Duarte, na Zero Hora de ontem, questiona: Teria o vice-presidente conseguido resistir a tantos obstáculos se tivesse de enfrentar as filas do Sistema Único de Saúde? Conseguiria manter a disposição se tivesse de aguardar por atendimento nas emergências superlotadas da rede pública? Poderia ter recebido o diagnóstico do tumor a tempo suficiente se tivesse de aguardar meses para conseguir um exame, anos por uma consulta especializada, como é comum em diferentes Estados, incluindo o Rio Grande do Sul?

Inevitável comparar o atendimento de ponta que o vice vem recebendo, num dos hospitais privados mais renomados do país, à realidade enfrentada cotidianamente por quem depende do poder público.

Devo dizer, claro que não gostaria que o Zé Alencar soubesse disso, que cheguei a torcer, quando nesta véspera de natal seu estado era, mais uma vez, crítico, para que ele morresse, não apenas para que não precisasse fazer a 18ª cirurgia, mas para que tivesse um enterro como chefe de Estado. Seria uma linda homenagem que ele bem mereceria. Mas ele tem pelo menos 17 vidas, pois no dia de natal pediu – e ganhou – um pedacinho de panetone.

Absolvam-me deste desejo. Reviso-o. Ele esta a demonstrar que ainda vai comer panetone em alguns natais. Meus votos de uma linda terça-feira. Lemo-nos amanhã.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

27.- Em uma segunda-feira ressacosa

Porto Alegre Ano 5 # 1607

Última segunda-feira de 2010. Um dia diferente inserido no recesso natalino. Parece um aperitivo anunciando os 30 dias de férias, dentro de três semanas.

Hoje é um bom dia para falar em hábitos alimentares. Começamos a fazer planos para o novo ano. Reduzir o perímetro abdominal é algo salutar.

Na quinta-feira comentei acerca de reduzirmos, um pouco a carne vermelha. Vale ler o que escreveu o jornalista e sociólogo José Carneiro, leitor deste blogue em Belém do Pará:”[...] Mas em cima de tudo isso, a leitura do seu blogue me levou a tomar, agora, uma decisão para o ano que vem: reduzir o consumo de carne, o que já vinha fazendo ‘suavemente’". Para referendar esta decisão e também de algum outro leitor, eis mais um texto publicado nesta segunda-feira no Caderno Nosso mundo sustentável, do jornal Zero Hora.

Carne vermelha e processada entre as grandes vilãs

O professor Steve Field, presidente do Conselho do Royal College de Clínicos-gerais, concorda com a necessidade de diminuir a quantidade de carne ingerida diariamente:
– As pessoas não devem parar de comer carne, mas precisam comer menos, especialmente carne processada, devido ao sal e à gordura saturada que ela contém, e comer mais frutas e vegetais.
Rachel Thompson, vice-diretor de Ciência no Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer, afirmou:
– Esses números dão peso ao que temos dito sobre as carnes vermelha e processada, são evidências convincentes de que elas aumentam o risco de desenvolver câncer de intestino. O fundo recomenda que não se coma mais do que 500 gramas de carne vermelha por semana e que se evite carne processada, como bacon, presunto e salame.
Muita culpa em um pedaço de carne
Os produtores de carne, por sua vez, criticaram o relatório.
– A grande maioria dos consumidores já come menos carne do que a média recomendada. É muito simplista dizer que mudar um elemento da dieta pode ter um resultado tão dramático – afirmou Chris Lamb, do BPEX, que representa 20 mil produtores de carne de porco na Inglaterra.
Jen Elford, da Sociedade dos Vegetarianos, acrescentou:
– É claro que comer menos carne é melhor, não podemos enfrentar a escala dos problemas ambientais e de saúde vivenciados pela sociedade sem uma grande mudança que nos afaste da proteína animal.

Que a ultima segunda-feira do ano seja agradável, de maneira muito especial àquelas e àqueles que têm o privilégio de ter um recesso natalino. Votos de que o balanço do ano que se esvai seja positivo e que os planos para o ano que se avizinha seja exequível. Até amanhã.

domingo, 26 de dezembro de 2010

26.- "Bispo recusa comenda"

Porto Alegre Ano 5 # 1606

Um domingo para expandir o tríduo de comemorações natalinas, nesta conjugação de um domingo pós-natal. Um bom dia para curtir as festas.

Ontem tivemos mais uma festa familiar na tradução que o natal não é uma festa apenas dos cristãos, mas da cristandade. Tenho usado esta palavra, em algumas falas, numa acepção diferente dos dicionários, não como o ‘conjunto de cristãos’ mas como ‘país ou região onde o cristianismo é hegemônico’. Assim a festa de ontem com distribuição de presentes natalino foi no seio de minha família de tradição judaica.

No almoço natalino, que ocorreu na casa do Aldo e da Neusa, reencontrei ontem o Iridan Berger, que fora meu aluno há 45 anos no Colégio Israelita Brasileiro. Ele estava ali como futuro sogro de meu sobrinho Ruben. Tivemos muitos assuntos a evocar.

Ainda dentro da inserção deste domingo no espírito natalino uma gostosa sugerência – a propósito de redes sociais que foi muito assunto aqui, a querida leitora Thaiza Montine, que quase comemora um mês da chegada da graciosa Ellen: "Como seria o nascimento de Jesus na era digital?" vale ver o endereço:http://www.youtube.com/watch?v=vBjwBI5pSGo&feature=player_embedded

Um bom assunto para este domingo esteve nos jornais na quarta-feira: Bispo chegou a receber comenda, mas depois a recusou. Eis detalhes da notícia, que foi pautada aqui, pela leitora Eunice Gomes, que de vez em vez, traz abalizados comentários com marcados pela competentes profissional na área da saúde que é:.

Na semana passada, na terça-feira, no dia 21, mesmo dia em que os deputados gaúchos na Assembleia Legislativa aumentaram seus próprios salários em 73%, o bispo de Limoeiro (CE), Manuel Edimilson da Cruz, subiu à tribuna do Senado para recusar uma homenagem, em Brasília. O motivo do protesto: o reajuste que os congressistas aprovaram para si próprios na semana passada, elevando seus vencimentos para R$ 26,7 mil ao mês.

O bispo foi ao Senado para receber a comenda Direitos Humanos Dom Helder Câmara. Chegou a tomar a distinção em suas mãos mas, ao discursar, afirmou que o reajuste autoconcedido pelo Congresso o levou a rejeitar a homenagem. O aumento – que equipara os vencimentos de presidente da República, vice, deputados federais, senadores e ministros aos do Supremo Tribunal Federal –, provocou efeito cascata no poder público em todo o país, o que incluí os deputados da Assembleia gaúcha.

– Sem ressentimentos e agindo por amor e por respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte para o bem de todos, com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho – discursou o bispo.

A atitude do bispo surpreendeu o plenário. Num ataque mais explícito ao Congresso, o bispo disse que o aumento dos parlamentares deveria ter seguido o reajuste do salário mínimo. Na opinião dele, a atitude do parlamento se configurou num “atentado” aos direitos humanos dos brasileiros.

Como muitos senadores já anteciparam o recesso parlamentar que tem início na quinta-feira, o plenário estava praticamente vazio no momento do discurso do bispo. O senador José Nery (PSOL-PA), que presidia a sessão, disse que o Congresso deveria refletir sobre o reajuste:

– Entendemos o gesto, o grito, a exigência de dom Edmilson da Cruz. Exige que o Congresso reavalie a decisão que tomou em relação ao salário de seus parlamentares.

Ainda no discurso, o bispo disse: – O povo brasileiro (...) ainda os considera parlamentares? Graças ao bom Deus, há exceções em tudo isso. Mas excetuadas estas, a justiça, a verdade, o pundonor, a dignidade e a altivez do povo brasileiro já têm formado o seu conceito. Quem assim procedeu não é parlamentar. É para lamentar.

Eu, lamentavelmente, devo reconhecer que não teria o brio de dom Manoel da Cruz, que tornou sua Limoeiro menos ignota. Talvez, agora, tenha aprendido a lição.

Que o domingo seja frutuoso, na gostosa recordação de mais um natal que se esvai. Até amanhã.

sábado, 25 de dezembro de 2010

25.- Feliz Natal!

Porto Alegre Ano 5 # 1605

Ao analisar o tríplice DNA que nos forma enquanto mulheres e homens ocidentais, se considerarmos que dos gregos herdamos a sede pelo saber, que nos exercita no filosofar; do judaísmo, a fidelidade à lei, que gera a nossa assim chamada culpa judaica; é do cristianismo que recebemos o legado maior: amor. Assim a mensagem de hoje, a todos,

independente de credos e de não-credos: é a lembrança continuada do novo mandamento que outorgado por aquele que é o aniversariante do dia: que vos ameis uns aos outros. E... Feliz Natal a todos.

Era quase 02h deste 25 quando, sob chuva e falta de energia elétrica em vários bairros de Porto Alegre, voltávamos de duas celebrações natalinas muito fraternas: primeiro, na casa da Clarissa, Carlos e Maria Clara; depois, no Bernardo, Carla e Maria Antônia. Em uma e outra vivemos intensamente o bem querer. Há que registrar que a necessária antecipação em uma semana da comemoração na Morada dos Afagos determinou certa vacuidade.

Adito aos meus votos o cartão virtual endereçado aos leitores deste blogue por Matilde Kalil do Equador. Vale conferir a beleza e exigentes desafios:

http://ak.imgag.com/imgag/product/preview/flash/bws8Shell_fps24.swf?ihost=http://ak.imgag.com/imgag&brandldrPath=/product/full/el/&cardNum=/product/full/ap/3166187/graphic1

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

24.- Evocando outros 24 de dezembro


Porto Alegre Ano 5 # 1604

Não posso omitir um registro de ontem: a Clarinha, Bernardo, Gelsa e eu, no crematório de São Leopoldo, nos despedimos da Jane, que inerte parecia irradiar jovialidade nos seus 51 anos densamente vividos. Foi muito significativo estar com a Suzana, Carolina e Patricia, que choravam a perda da mãe, que por 14 anos também representou a figura do pai. Encantamo-nos com a July, despedia-se da avó que também era sua mãe. Ela, nos seus 10 anos, fez desfilar livros e autores que a encantam e com sabedoria disse: “Sei que ainda não caiu a minha ficha, quanto ao significado da morte de minha avó”. Foram momentos comoventes e nos prometemos não deixar estes reencontros para um próximo ato fúnebre.

Ao final da blogada de ontem havia anunciado para hoje o conto “Missa do Galo pós-moderna”. Este se fizera sugestão, pois uma das mais densas lembranças dos natais de minha infância é a missa do galo, que há mais de meio século não assisto e muito pouco ouço referências. Recordo a longa espera e até os cochilos durante o sermão que perecia interminável. Cheguei a pensar em trazer um conto clássico natalino ou o muito conhecido ‘A missa do galo’ de Machado de Assis. Devo dizer que até o reli alguns na busca de algo para esta blogada.

Ficara satisfeito um conto muito original que encontrara. Colhera-o numa destas tarrafadas que fazemos a esmo na rede. Estava em www.xxxxxxxxxxx.com.br, porém razões técnicas que advieram fraudo a expectativa de algum leitor que ficara atraído pelo reclame que fizera ontem. Desautorizei-me de publicar.

Assim, amealho aqui algumas lembranças que dizem de minhas emoções com as evocações desta dita noite santa de antanho. Já que falei em evocação: no texto há uma palavra que não é corrente no significado que usei: reclame. O muito consultado dicionário português Priberan apresenta reclame como ‘buraco, no alto dos mastros dos barcos rabelos, onde passa uma corda’, mas o Aulete consagra acepção que já foi corrente: Anúncio publicitário veiculado pelos meios de comunicação. [do francês reclame]. Porém o Priberan dicionariza reclamo: Publicidade, feita por qualquer forma, para tornar conhecida uma pessoa, uma obra, um produto. Traz como sinônimo chamariz.

Aqui, assiste ao leitor que reclame: onde estão as evocações natalinas nesta ‘aulinha’ de português? Brincar com palavras é algo que me encanta. Como natal também evoca brinquedos, concedo-me esta digressão. Volto à busca de substituições ao texto glosado (na acepção de cortado).

É provável que algum leitor mais jovem desconheça ‘a missa do galo’ pois salvo equívoco, ela ainda tem tradição no Vaticano, onde o papa chama a si sua celebração. Afora ali, parece que não faça mais parte dos rituais natalinos como em minha infância.

Missa do Galo é o nome dado à missa celebrada depois do jantar da Véspera de Natal que começa à meia noite de 24 para 25 de dezembro. Seu nome consagra a lenda segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo teria cantado, anunciando a vinda do Messias. Outra origem da expressão é citada em o De onde vêm as palavras, de Deonísio da Silva (Editora A Girafa): dado ao fato de a Missa de Natal normalmente terminar muito tarde "quando as pessoas voltavam para casa, os galos já estavam cantando".

Outra lembrança que guardo era aquela do dia 24 quando eu tinha o privilégio – talvez por ser o mais velho – de ajudar minha mãe na montagem do presépio. Uma peça de casa era interditada aos demais. Ali se realizava, em espaço que cobria a metade da área, a montagem da vila de Belém, que recebia as mais fantásticas intervenções no seu cenário. Talvez nenhum belemita reconhecesse sua vila. Aliás, isso é traduzido pela miríade de representações de presépios que existem.

Recordo que em um ano havia um lago – a gamela que era usada durante o ano para a lavação dos pés quando vínhamos da rua – onde nadam patinhos de celuloide que evocavam pertencimento a gerações passadas; tinha uma queda d’água que girava uma roda que tracionava um moinho; havia uma fogueira (uma lâmpada revestida de celofane vermelho coberto por carvões) onde se aqueciam pastores; havia duas angolistas que moviam os pescoços, que se comparadas às ovelhas em suas dimensões deveriam ser maiores que dinossauros; duas formas destas para assar pão recebiam terra, onde arroz germinado já há duas semanas imitavam uma pastagem onde estava um pastor com um rebanho de ovelhas, que fora uma herança de alguém não se guardava o nome.

A gruta, feita de barba de pau – conseguida semanas antes em longas caminhadas até o Faxinal – tinha José e Maria com o berço vazio, este só receberia o menino, à noite, durante o canto de ‘Noite Feliz’ – que fora ensaiado a cada dia nas semanas que antecediam a grande noite. Só então ocorria a entrega dos presentes.

Lembro que um ano, montei atrás da gruta uma caixa de madeira, com sua boca coberta por um papel de seda azul, onde eu havia colado estrelas e uma lua de papel prateado, e dentro da caixa uma lâmpada acoplada a um pisca-pisca. Um sucesso tecnológico para os anos 1950s.

Como já quase cumpri a substituição do texto, trago apenas mais um lembrança. Minha primeira desconfiança acerca da veracidade do papai-noel. Primeiro devo dizer que este entrou tardiamente em minha infância. Minha avó materna – Bárbara Volkweiss – falava sempre em São Nicolau ou Heilige Nicklas ou ainda que quem dava os presentes era o Chriskinder ou Menino Jesus. Tínhamos que varrer o pátio, para o burrinho de são Nicolau encontrar o pasto que lhe cortávamos e que desaparecia durante a noite, se nos comportássemos com dignidade para receber presentes.

Mas meu primeiro descrédito a tudo isso surge muito cedo: a letra A do meu nome era exatamente como lindo e original A que só minha mãe fazia tão lindo. Quando via aquele A usado por outrem, considerava uma traição. Minha mãe acalmou minha desconfiança dizendo que ela ajudava o Papai Noel. E eu acreditei?

Missão cumprida e comprida. Não saiu o texto que sonhava. Serviu para mexer em lembranças. Desejo que cada uma e cada um nesta vigília natalina relembrem momentos de sua infância e com eles embalem gostosas recordações. Lemo-nos amanhã. Ah!... Um feliz Natal!...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

23.- Mexendo na ceia natalina


Porto Alegre Ano 5 # 1603


Abro esta edição com uma nota fúnebre.

No entardecer de ontem chegou desde Passo Fundo, a notícia que inquietava há mais de uma semana.

Morreu a Jane.

Jane Noeli Chassot era casada com meu irmão José Maria (*1948 +1996). A Jane, precocemente viúva foi mãe dedicada da Suzana, Carolina e Patrícia e muito concorreu na formação de seus quatro netos: Julie, Edwiges, Alice e Artur, em Salto do Jacuí. Os quatro nasceram bem depois da morte do Zé Maria. Entre suas muitas habilidades manuais, guardo a lembrança da hábil crocheteira que era.

Nesta manhã meus irmãos e irmãs, filhos, sobrinhos, Gelsa e eu estaremos juntos com a Suzana, Carolina e Patrícia, no crematório de São Leopoldo, para despedir-nos da Jane.


Ontem anunciei que traria um destempero para alguns pantagruélicos jantares destas festas de fim de ano. Um jornal diário ontem mostrava como devem ser os cortes para os churrascos destes dias.

Vou em direção contrária, comer menos carne pode salvar 45 mil vidas por ano. Pesquisa britânica afirma que cortar o consumo de carne para 210 gramas por semana poderia reduzir as mortes por doenças cardíacas e câncer, além de ajudar na preservação de florestas. Apresento a seguir um texto que foi publicado nesta segunda-feira no Caderno Nosso mundo sustentável, do jornal Zero Hora.

Mais de 45 mil vidas por ano poderiam ser salvas se todos começassem a comer carne, no máximo, duas ou três vezes por semana, afirmam especialistas em saúde e a organização Friends of the Earth (FoE).

Difundida, a mudança para dietas à base de pouca carne evitaria a morte precoce de 31 mil pessoas por doenças cardíacas, 9 mil por câncer e 5 mil por derrame. Isso, segundo a análise dos hábitos alimentares dos britânicos pelo especialista em Saúde Pública Mike Rayner, publicada no relatório da FoE.

Uma dramática redução no consumo de carne também ajudaria a diminuir as mudanças climáticas e a devastação na América do Sul, onde florestas tropicais são derrubadas para criar pastagens de gado, cuja carne tem como destino a Europa.
Comer muita carne, particularmente a processada, é ruim para a saúde porque esse hábito envolve ingerir mais gordura, gordura saturada e sal do que o recomendado. A FoE não defende o afastamento completo da carne da dieta, mas estimula que as pessoas não comam esse alimento mais do que duas ou três vezes na semana, com o consumo não excedendo 210 gramas – o equivalente a meia salsicha por dia. A média de consumo semanal é de entre sete e 10 porções de 70 gramas.
Tomar essa atitude pode salvar 45.361 vidas por ano, de acordo com a pesquisa de Rayner e seus colegas da Fundação Britânica do Coração para Pesquisa em Saúde na Universidade Oxford.
Eles calcularam que a mudança do consumo de carne para no máximo cinco vezes por semana pode prevenir 32.352 mortes. São 228 mil mortes por ano decorrentes de três condições nas quais o consumo alimentar representa um papel-chave: doença cardíaca, derrame ou tipos de câncer relacionados à dieta, como o de intestino.
– Não precisamos virar vegetarianos para preservar o planeta ou a nós mesmos, mas precisamos diminuir a carne – disse Craig Bennett, diretor de Política e Campanhas da Foe.

Mesmo que todos possam colocar em dúvidas esse números, especialmente seu absolutismo, vale pensar sobre eles e, se possível fazer algo na direção sugerida. Desejo a melhor quinta-feira para casa um. Permito-me antecipar para manhã um amoroso (e sensual) conto garimpado na internet: Missa do galo pós-moderna.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

22.- Brasil: uma República nababesca

Porto Alegre Ano 5 # 1602

Primeira manhã do verão 2010/11 no Hemisfério Sul. Tenho a expectativa, que os tríplices fotos geográficos enunciados, ontem aqui,i se cumpram, assim queira os deuses que cuidam do clima.

O assunto de hoje não tem nada de saboroso. Muito menos é insonso. Ao contrario é amargo como fel. Queima como bile. Ele ainda se conecta com notícias que repercutiram, ad nauseam, desde a semana passada.

O salário de congressistas brasileiros é maior que em países ricos, pois com o aumento auto concedido, a remuneração anual, de US$ 204 mil, será mais alta que nos EUA e na Europa. Quando a comparação é com o PIB per capita, a diferença é ainda maior: 20 vezes no Brasil, contra 5,5 na Itália.

Os deputados gaúchos, que sempre se dizendo tão diferentes e tão melhores, foram mesmo diferentes. E piores: Ontem aprovam reajuste de 73% nos próprios salários. A partir de 1º de fevereiro de 2011, o vencimento dos parlamentares será fixado em R$ 20.042,34

Permito-me aditar a seguir matéria acerca deste inóspito assunto que foi publicada na Folha de S. Paulo. Vale ver o quanto vivemos um país de contradições.

Com o recente aumento de 62% em seus salários, os congressistas brasileiros passarão a ganhar mais do que seus pares em países desenvolvidos e em outros emergentes importantes.
A remuneração anual (incluindo o décimo terceiro salário) dos congressistas chegará a US$ 204 mil.
Esse valor é mais alto que o recebido pelos parlamentares da União Europeia e de 16 países pesquisados pela Folha, incluindo os do G8 (EUA, Japão, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá e Rússia).
A desigualdade entre a renda de deputados e senadores e a da média da população brasileira também será uma das maiores do mundo a partir de fevereiro, quando o novo salário, de R$ 26,7 mil por mês, passa a valer.
Deputados e senadores receberão valor quase 20 vezes maior que o PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Brasil - de US$ 10,5 mil neste ano, segundo o FMI.
Essa desigualdade significativa entre a remuneração dos congressistas e a da média da população é bem maior do que a registrada em outros países onde os salários de parlamentares também são elevados.
Itália e Japão são conhecidos pela alta remuneração de seus Legislativos. Os salários anuais dos parlamentares desses países são de cerca de US$ 185 mil.
Esse valor é próximo dos US$ 204 mil que receberão os congressistas brasileiros. Mas na Itália os congressistas ganham 5,5 vezes mais que a renda per capita. No Japão a diferença é de 4,4.
Tanto no caso do Brasil como no dos outros países pesquisados pela Folha, essas remunerações representam apenas o salário dos congressistas e não incluem verbas extras e benefícios.
Segundo matéria publicada ontem pela Folha, cada congressista brasileiro representará um custo médio de R$ 128 mil por mês, se computados outros benefícios além do salário, como passagens aéreas. O valor equivale a US$ 896 mil por ano.
De acordo com reportagem da publicação online "Money Zine" do Japão, cada parlamentar japonês recebe (incluindo bônus e verbas extras) US$ 497,4 mil anuais.
A comparação entre remuneração total de parlamentares de diferentes países é complicada porque há benefícios de difícil mensuração.
Para o cientista político Bruno Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o salário (sem incluir benefícios) dos legisladores brasileiros "parecia baixo se comparado ao recebido por profissionais da classe média alta".
Mas ele ressalta que o hiato entre a nova remuneração de congressistas e o PIB per capita do Brasil é muito alto, reflexo da desigualdade de renda ainda elevada no país.
Tanto Reis como Fabiano Santos, pesquisador e professor de ciência política da UERJ, afirmam que, pelo menos no campo teórico, a vantagem de ter legisladores bem remunerados é que o incentivo à corrupção diminui.
Diferentemente do que ocorrerá com os congressistas, a remuneração do presidente continuará mais baixa que a dos chefes de governo de países ricos.
Dilma Rousseff receberá o mesmo que os legisladores brasileiros, o que equivale à metade do salário anual de US$ 400 mil do presidente dos EUA, Barack Obama.
Os primeiros-ministros da Nova Zelândia e do Reino Unido ganham, respectivamente, US$ 290 mil e US$ 235 mil por ano.

Com votos que a chegada à ante-véspera do dia mais festivo da cristandade traga a cada uma e cada um o melhor nesta quarta-feira. Amanhã, vou colocar destempero em ceias natalinas. Vale prevenir-se. Até então.