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quarta-feira, 4 de julho de 2012

04.- COMO ESCREVER DIÁRIOS?



Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2163
A edição desta quarta-feira vem no esteirar da blogada de ontem. Então, pergunta era: Porque escrever diários? Hoje tento trazer o como. Vou me referir a diários em suporte papel. O texto vai parecer uma narrativa quase da idade da pedra. Concordo. Veja como cada uma e cada um de nós mudou, em seus processos de escrita, nos quase 30 anos desde que comecei a prática que descrevo.
Como escrever diários? Querer responder a esta pergunta é no mínimo pretensioso. Como se houvesse algumas normas e, agora, eu magistralmente as desfiasse ensinando ao leitor ou à leitora como escrever diários. Vou contar como eu faço. Se houver entre os que agora me leem mais dois ou três escrevinhadores de reminiscências cotidianas, muito provavelmente, teremos mais duas ou três metodologias sobre a arte de escrever diários. É muito provável que alguns leitores poderão apontar outros textos acerca do assunto. Sonho até que minha descrição poderá ajudar a catalisar novas descrições acerca deste quase mistér(io).
Neste 2012, estou no 29º volume ininterrupto de meus diários. Tenho quase uma dezena de diários anteriores, com interregnos. Lamento existirem esses períodos vacantes. Refiro-me aqui, apenas, aos volumes sequenciais que tenho desde 01 de janeiro de 1984, sem nenhuma data que tenha ficado sem algum relato. Essa não interrupção até o momento exigiu em algumas situações, registros em lugares nada ortodoxos, como em Centro de Tratamento Intensivo de hospital, ou descrições de passar por mais de vinte quatro horas em um leito suplementar em um grande hospital na Europa ou em momentos bem mais agradáveis como, por exemplo, quando fomos à cidade onde nascera mais um neto, e uma alternativa mais prática e prazerosa que encontramos para passar a noite foi em motel, e claro que o fato – o nascimento do neto, é óbvio – mereceu um adequado registro no diário.
É fácil supor quantas descrições de alegrias e tristezas há neste vinte e oito volumes já completos que coleciono – aqui a ação verbal é capital – em uma estante em minha biblioteca. Vez ou outra, os exibo a alguma visita, que os conheciam de referências e então os manuseiam, geralmente não sem admirações. Afortunadamente, há muito mais alegrias que tristezas. Entre as frustrações estão um descasamento, as tristezas nas dores das mortes de meu pai e de minha mãe – está sepultada num dos momentos mais indeléveis para quase todos deste século 21: aquele 11 de setembro de 2001, quando do esboroamento das torres do WTC - de dois irmãos, dos quais um até hoje sinto não ter podido participar do sepultamento por estar no exterior – e de não poucos amigos. Alegrias há muitas: um re-adolescer com uma nova relação amorosa que teve uma linda celebração de casamento depois de dezoito anos, o doutorado e também os gostosos meses madrilenos de pós-doutoramento, os livros publicados, os sucessos pessoais e profissionais dos filhos e das filhas, o advento do avonado e depois ser bi-avô quase seis anos depois, sendo no final deste ano nove netos, participações em concursos literários, com sucessos e insucessos - estes mais numerosos que aqueles, ou a reconquista de um local maravilhoso de morar e muitas, mas muitas mesmo, outras situações. Também há o registro de centenas de palestras que dei nesses anos, geralmente com logo da instituição que me acolheu. Envolvimentos em pleitos e resultados eleitorais têm registros tanto entre as alegrias quanto entre as tristezas. Também as decepções políticas amargam algumas páginas.
Cada ano (desde 1984) os volumes anuais são formados por agendas de preferência destas em que cada dia já tem impressa a data, com um mínimo de informações. Há uma exigência importante: que o sábado e o domingo não sejam de apenas ½ página, como a maioria das agendas.
Tenho comigo uma "obrigação contratual" de em cada dia se registrar a página diária. O melhor modelo é aquele que após cada domingo tenha uma página em branco, para receber colagens ou registros suplementares da semana. Sem fazer aqui comerciais, as agendas das Edições Paulinas ou da Paulus são usualmente as preferidas, até porque, sem poder precisar explicações, gosto de saber qual é o santo do dia. Como elas são dirigidas ao clero, as páginas de domingo são inteiras. Como curto usar canetas de diferentes cores, a textura do papel interfere muito na escolha.
O texto se alonga e tenho, ainda, muito a contar. Façamos uma pausa. Amanhã tem mais.

9 comentários:

  1. Caro Chassot,
    não posso deixar de confessar minha admiração pela tua disciplina em escrever diariamente. Imagino que nalguns dias, uma página de agenda seja muito pequena para registrar todas as coisas que se te apresentam como importantes. Talvez seja possível encontrar algumas páginas com apontamentos no final, depois que terminam as linhas, porque uma vida como a tua não pode ficar limitada.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Limerique

    Chassot escrevinha o memento
    Sempre que pode cada momento
    Registra o que faz
    Na guerra ou na paz
    Importa fixar o pensamento.

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  3. Estimado Jair,
    mais uma vez honras meu blogar com poético limerique.
    Obrigado por me ensinares esta manifestação literária.

    attico chassot

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  4. Querido mestre Chassot,tenho vindo ler seus diários,são realmente ótimos.Através destes registros comecei a conhecê-lo um pouco.Quanta riqueza em uma vida.Quisera eu também poder deixar meu comentário em versos,mas ainda sou pequena para ser poeta.Um grande Abraço!

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  5. Prezado mestre, endossando o comentário do amigo Norberto, tambem fiquei muito admirado com a organização e o esmero por detalhes na composição dos seus diários. Confesso que além da organização, o que acho mais difícil nesta prática é que nestas horas temos que ser fiéis a realidade,sendo assim algumas vezes nos depararemos com alguma "saia justa"...

    abraços

    Antonio Jorge

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  6. Meu caro Antônio Jorge,
    estranhei a tua ausência.
    Que bom que voltaste.
    Teus comentários qualificam este blogue.
    Com estima
    attico chassot

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  7. Caro Prof Chassot
    Admiro muito as pessoas que escrevem diários e parte da minha vida convivi com pessoas com esta característica. Parabéns pela dedicação, organização e capacidade, inclusive de compartilhar estes detalhes com outros. Gostaria de ter feito o mesmo, pois estes escritos nos auxiliam a não perder fatos vivenciados, que com o passar dos tempos parecem que se apagam na nossa mente.
    Por aqui, temos os diários do Pe Balduíno Rambo S.J, cujo o início foi em 1919 até seu último registro, em 1961 um dia antes do seu falecimento. Onde fez o seguinte citação: “O tempo é nublado e frio. Pela tarde, ocorre o jogo anual entre o Internacional e o Grêmio, o qual desta vez, contudo, ocorre de maneira frouxa.”
    No total foram 33 volumes e a este diário, Pe Rambo dizia que: “É meu diário a principal obra literária e científica de minha vida” ou em alemão, sua manifestação predileta, além da estenografia no sistema Stolze & Schrey: “Mein Tagebuch ist mein literarisches wissenschaftliches Lebenswerk”. Mais informações podem ser vistas no site:
    http://www.unisinos.br/exposicao/rambo/index.php?option=com_content&task=view&id=83&Itemid=164&menu_ativo=active_menu_sub&marcador=164.

    Vários colegas e professores meus, fizeram e fazem ainda registros em seus diários. Interessante, fazer registros em cadernos chamados de diários eram as recomendações de professores no tempo da minha graduação. Tudo o que acontecia em um experimento, ou na confecção do trabalho de conclusão deveria ser registrado.

    Charles Darwin (http://darwin-online.org.uk/) também fazia isto e assim vários outros.

    Meu professor Helmuth Sick, teve recentemente seu diário divulgado na íntegra e on line (http://www.do-g.de/index.php?id=200). Belas páginas com registros fantásticos de suas façanhas de campo e laboratório desde 1923 até 1938 em 12 volumes.

    Infelizmente não tenho registros diários, mas tenho diários dos projetos de pesquisas que participei ou coordenei. Cada um é um caderno de capa dura e neles fiz alguns registros dos fatos passados. Recentemente em fevereiro, quando comemoramos 30 anos de pesquisa na Antártica, fiz uso de algumas informações daquele momento: (https://www.facebook.com/#!/photo.php?fbid=309246699140120&set=a.264727213592069.71775.100001643782896&type=1&theater).

    Sem o meu diário, mesmo sendo somente de projetos, muito eu teria esquecido.

    Fiquei muito feliz em saber que escreves diários e que ainda recomenda que sejam feitos. Acho que vou adotar esta recomendação, para manter alguns registros do dia a dia e não somente dos projetos que agora findam.

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    1. Muito querido colega e amigo Martin Sander,
      recebo comovido teu comentário. Valorizas um fazer que parece a muitos apenas um diletantismo.
      Sobre os diários do Padre Rambo conversei horas com o Pe. Rabuske e escrevi um artigo para Episteme.
      Ele presenteou-me com o 3º volume de “Em busca da grande síntese” que a SJ tirou de circulação horas após a publicação.
      Obrigado pelas sugestões.
      Estou respodendo no faceboock pois não tenho teu correio eletrônico;
      Com estima e admiração
      attico chassot

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  8. Meu caro Mestre Chassot
    Não sei dizer de que forma assumi esse compromisso que tambem tenho, mas de escrever semanalmente. Tenho a certeza de nao possuir a competencia tua de escrever diariamente. Mas se hoje sou doutrinado neste fazer, certamente ele tem um impulso do teu exemplo. Admiro a tua forma de elaborar os paragrafos e muito tenho me inspirado nela, embora nao possua a verve esplendida que consegues imprimir em tuas escritas. Parabéns e siga nos mantendo informados e no deleite destes relatos diários. JB

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