Ano
6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2165
Ontem, quando
encerrava a tríade acerca de diários que assuntou terça, quarta e quinta
feira, afirmava que fazer diários é uma forma de colecionismo. Como este
um tema que me faz atávico, pretendia hoje, me espraiar nele.
Mas, eis que surge uma
notícia que se faz manchete: Avanço da Ciência: partícula de Deus, enfim. Postergo discorrer sobre a
mania de colecionar para a próxima semana.
Os jornais
desta quinta-feira são repetitivos: Físicos chegaram em 04 de julho de 2012, em
Genebra, à descoberta de uma “subpartícula” — o bóson de Higgs —, no interior
do átomo, que pode explicar a constituição da matéria, em uma conquista
histórica para a ciência desvendar a constituição da matéria.
Primeiro uma
observação, quase folclórica, acerca da partícula de Deus, para que este nome não
enseje falsas ilusões a alguns fundamentalistas. Parece-me que temos aqui um bom
exemplo do desrespeito a um dos mandamentos do decálogo.
A teoria
formulada nos anos 60 e ‘agora comprovada’ era praticamente desconhecida, quando
em 1993, o estadunidense Leon Max Lederman (Prêmio Nobel de Física 1988), ateu envolvido
também na coprodução de uma discutível lista dos 50 ateus mais brilhantes de
todos os tempos [http://brainz.org/50-most-brilliant-atheists-all-time/],
escreveu um livro sobre o assunto e sugeriu como nome ‘A partícula maldita’ [The Goddamn Particle] referindo-se a dificuldade de mesma
vir a ser localizada.
Os editores
trocaram o nome do livro para ‘Partícula
de Deus’ para torna-lo mais comercial e também porque ‘Goddman’ poderia
parecer ofensiva. O nome do livro de
Lederman é: The God Particle: If the Universe Is the Answer, What Is the
Question? [A
Partícula de Deus: Se o Universo é uma Resposta, Qual é a Questão?]. Encontrei,
em português, dois livros ‘A Partícula de Deus’ mas nenhum é tradução da obra de
Leon Lederman. Não sei se existe versão para o português da mesma.
Acerca da
descoberta agora anunciada não há como correleciona-la com uma saborosa obra de
ficção: ‘Anjos e Demônios’ de Dan
Brown [mais lembrado por Código da Vinci’],
onde o professor Robert Langdon se envolve em uma polêmica disputa de poder
entre a Igreja e a Ciência. Um tubo contendo antimatéria é roubado do Organização
Europeia para Pesquisa Nuclear, CERN (onde agora se anuncia a fantástica
descoberta), colocado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Roma, sede
da Igreja Católica, para servir em um atentado orquestrado supostamente pelos
Illuminatti. Escreveu-se com propriedade: “Ficções
à parte, o CERN existe, o Vaticano existe e a antimatéria... também! Não é um
tema de ficção cientifica, mas uma realidade do Universo.”
A nova
partícula tem características “consistentes” com o bóson de Higgs, mas os físicos
ainda não afirmam com certeza que se trate da “partícula de Deus”. Para isso,
eles vão coletar novos dados para observar se a partícula se comporta com as
características esperadas do bóson de Higgs.
Foram quase 50
anos de pesquisas, mais de uma dezena de bilhões de dólares gastos, o esforço
de mais de 3 mil cientistas de todo o mundo e a construção das maiores e mais
pesadas máquinas já imaginadas pela mente humana.
Parece que
conseguimos – disse, diante de um auditório lotado de cientistas, Rolf-Dieter
Heuer, diretor-geral do Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern),
responsável pela operação do Grande Colisor de Hádrons, o gigantesco acelerador
de partículas localizado na fronteira da Suíça e da França, onde foi feita a
descoberta.
Prevista
teoricamente em 1964, pelo físico britânico Peter Higgs, de quem herdou o nome,
o bóson de Higgs nunca fora detectado, mas sua existência é imprescindível para
a sobrevivência do Modelo Padrão, a teoria da física que descreve as partículas
e forças envolvidas na estrutura da matéria.
Por enquanto,
os cientistas ainda estão cautelosos para assegurar categoricamente que a
partícula que surgiu das entranhas do superacelerador, com a colisão de dois
prótons a uma velocidade próxima à da luz, é mesmo o bóson de Higgs. A
importância histórica do evento é tanta, que eles ficam reticentes.
É
incrível, nunca esperei que isso fosse acontecer no meu tempo de vida –
disse o próprio Higgs, que chegou a ficar com os olhos marejados durante o
anúncio da descoberta e que, devido à importância desse seu trabalho, tornou-se
já o favorito para conquistar o prêmio Nobel de Física, tal a importância da
conquista.
O brasileiro
Alberto Santoro, professor titular do Instituto de Física da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, que participou dos trabalhos que resultaram no
avanço registrado nesta quarta-feira faz, agora, projeções para o futuro da
física: Há muita coisa que ainda
precisamos compreender melhor. Por exemplo, qual a simetria entre matéria e
antimatéria, o que é a energia escura que supostamente está provocando a
expansão do Universo, quantas dimensões existem – enumerou.
E que a
descoberta representa? Na leitura de Alberto Santoro – É o coroamento de muitos anos de trabalho. Encontramos o que pode ser a
partícula que daria massa às demais partículas que formam a matéria. Porém,
ainda será preciso aprofundar os estudos, para definir todas as propriedades
dessa partícula e confirmar a descoberta.
Santoro
responde que muda para a física? De
imediato, nada. O que poderemos fazer é comprovar como a matéria adquiriu
massa. Mas é o início de uma nova era, que pode nos levar a novas descobertas.
Caro Chassot,
ResponderExcluirNa verdade, eu já escrevi sobre o Bóson de Higgs (25/08/10) quando do fracasso da primeira experiência para encontrá-lo. Ontem um amigo meu escreveu sobre o evento e eu compus um limerique para comentar o texto dele. Trapizonga é nome que dei ao Grande Colisor de Hádrons. Abraços, JAIR.
Limerique
Na Trapizonga junto aos seus:
Ao mistério digamos adeus!
Somos muito malvados!
Átomos revelados!
Cientistas brincando de Deus.
Deuses, anjos, demônios... acho que gastamos tanto tempo nessa discussão que esquecemos do humano.
ResponderExcluirAinda que esses conceitos sejam todos humanos, mas esquecemos dos homens, seus problemas, suas angústias, necessidades, responsabilidades, potencialidades e tudo o mais.
Como sempre, Mestre, o senhor nos brinda com um belo texto. Eu vinha pensando em falar sobre esse asunto no meu blog. O senhor me permite postar seu texto? Claro, como todos os créditos e links... isso nem se discute.
O objetivo é informar os nossos alunos, o que, creio, o seu texto faz com grande brilhantismo. Forte abraço.
Muito estimado Lúcio Cândido,
ResponderExcluirFazes uma excelente síntese: acho que gastamos tanto tempo nessa discussão que esquecemos do humano
Obrigado pela avaliação de meu texto.
Espero que teu uso e tua transcrição contribua para alfabetização científica;
A estima e admiração do
attico chassot
José Schifino escreveu
ResponderExcluirMeu Caro Attico Chassot
Lendo o teu blog sobre a tão falada Partícula de Deus (ou Maldita, como bem colocas) fiquei refletindo sobre a real finalidade de certas pesquisas. Gastam-se montanhas de dinheiro para comprovar algumas elocubrações teóricas cuja finalidade prática dificilmente justificam o investimento. Minha impressão é a de que algumas pesquisas tem por finalidade exaltar o ego de seus autores. A finalidade passa a ser a própria pesquisa. Muitas e não poucas vezes, os sub-produtos resultantes são mais importantes que o objetivo principal do trabalho. Contrastando com os físicos e seus orçamentos bilhonários, os matemáticos fazem pesquisas com orçamentos modestos. Certamente deves ter lido sobre o último teorema de Fermat. Trata-se de um teorema aparentemente simples que demandou um longo tempo para ser demonstrado. O livro O Último Teorema de Fermat é uma leitura emocionante mesmo para quem não está familiarizado com a matemática. Andrew Wiles, o britânico que demonstrou o teorema recebeu um prêmio de um milhão de libras esterlinas. Imagino que ele deve ter experimentado uma sensação muito semelhante à que os cientístas do CERN estão vivendo nesse momento, mas com uma diferença de custo incrível.
Um grande abraço meu amigo,
José Schifino
Meu muito estimado colega Schifino,
Excluirtua presença aqui me evoca uma trajetória comum de muitos anos juntos como alunos e depois como professores.
Conforta-me, um físico-químico ter uma posição crítica em relação aquilo que às vezes possa parecer um brinquedinho da Ciência Golen, que podia dar outro destinos para seus bilionários investimentos. Mesmo que o comentário do Mario, um paleontólogo de renome nos alerte, com competência, para outras leituras.
O livro “O último teorema de Fermat’ é envolvente e tu menção me sugere trazer como um dica sabática.
Obrigado por seres leitor do blogue e ajudares a matar saudades de nosso tempo de Instituto de Química .
Com admiração,
attico chassot
Procurando saber mais sobre o assunto em destaque encontrei vários sites, blogs e o seu blog me chamou a atenção pelo titulo, onde estava procurando as respostas para a minha curiosidade "Porque uma pessoa iria relacionar o nome "A partícula maldita" à "Partícula de Deus".".
ResponderExcluirE o incrível é saber que o mundo precisa de mais humanidade, mais solidariedade, mais respeito, mais conscientização,... O mundo esta praticamente um caus com tanta poluição, criminalidade, preconceito, saneamento básico, e o governo arrecada bilhões pra um estudo que nem se sabe pra que vai ajudar a população, porque ao invés de procurar problemas, problemas sim pois ninguém sabe se essa descoberta vai trazer benefícios ou não a população, os governantes, cientistas, ... procuram gastar em beneficio a nosso universo e bem como nós humanos.
Estimada Jecyca,
Excluirprimeiro seja benvinda a este blogue. Há uma pretensão diária em fazer alfabetização científica.
A mim parece que o destino de bilhões de euros poderia ser outro: alimentação e saneamento básico neste Planeta onde a cada dia morem 30 mil pessoas por falta de água.
Respeito e admiro o posicionamento do Mario (que refere teu comentário) mas penso que só seremos aprendentes se convivermos com a pluralidade sempre desejada aqui.
Aparece aqui e de vez em vez deixa um comentário.
Com expectativa
attico chassot
Inicialmente peço perdão a todos em primeiro lugar pelo atraso do comentário, hoje fui a Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro entregar um exemplar de "A ciência é masculina? É sim senhora" do mestre Chassot para cientista pesquisadora Dra Marcia Lazera.
ResponderExcluirEm segundo lugar porque farei hoje o papel de "advogado do diabo". Defenderei aqui a figura do cientista. Todo homem de ciência é inicialmente um abnegado. Abre mão de sua vida em suas pesquisas e em momento algum tem seu pensamento voltado para vantagens monetárias. E curiosamente quem desenvolve determinada descoberta não se beneficia da mesma.
E graças a esta faculdade de alguns homens que a humanidade avançou da roda aos dias de hoje.
Abraços
Antonio Jorge
Caro Attico,
ResponderExcluircomo sempre, teu blog nos leva a entender estes novos avanços da pesquisa.
Entendo os comentários do José e da Jecyca, mas como alguém que faz ciência básica, tenho que discordar.
Pode até parecer que este tipo de projetos é uma gastadeira sem fim, mas na prática acaba, a médio e longo prazo, rendendo frutos em desenvolvimento tecnológico, muitas vezes em áreas inesperadas.
A tentação de se dedicar apenas aos aspectos aplicados da pesquisa é obvio, mas é um erro pensar que esse deveria ser o foco da pesquisa, mesmo em países "em desenvolvimento". A chamada pesquisa aplicada pode vir a ter aplicações a curto prazo, mas se esgota logo. Muitas vezes, inclusive, beneficia apenas uma pequena parte da população que aproveita a patente ou a exploração econômica da mesma.
A pesquisa básica pode passar anos sem tem uma aplicação, mas toca em pontos que, além de abrir fonteiras de conhecimento, permite a abertura de novos campos teóricos e práticos, nos leva a mais perguntas das que respostas.
Em síntese, somente a pesquisa básica permite que o conhecimento aumente constantemente, que as bases para a pesquisa aplicada sejam re-abastecidas, que novos campos nunca antes imaginados possam se abrir e, não menos importante, permite entender melhor a natureza na que vivemos.
Sem ela, ta vez teríamos esgotos ou água encanada, mas não teríamos muitas coisas como antibióticos, radio, TV, telefone, e muitas outras coisas que damos por descontadas hoje. Mas, no meu ver mais importante, não saberíamos ada sobre evolução, sobre a diversidade biológica, sobre a vastidão do universo e sua origem. Muitos podem achar que podem viver sem isso. Sim, de fato, podem... mas que pobre vida é essa?
Abraços
Muito querido Mario,
Excluiré muito bom ler-te. Trazes sempre uma postura mais crítica. Hoje, talvez divirjamos mesmo que reconheça que o interregno entre a Ciência pura (ou básica, como preferes) é cada vez menor.
A mim parece que essa fabulosa inversão se investida em saneamento básico e alimentação seria melhor empregada.
Para mim está partícula é mais maldita que divina.
Agradeço pelos bem postos alertas que fazes estabelecendo-se aqui uma Ágora de pensamentos díspares, mas respeitosos
Com continuada admiração
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirentendo que a nominação do bóson de Higgs com Partícula de Deus é apenas um truque comercial para chamar a atenção das pessoas sobre as notícias da grande mídia. Na verdade, o que os cientistas do CERN estão tentando medir é o DNA da matéria. Possivelmente, essa partícula subatômica revelará muitas novidades para a ciência, mas não será tudo o que se espera e se fantasia, assim como aconteceu com o mapeamento genético. De tudo e em tudo precisamos aprender, mas com parcimônia. Somos apenas uma partícula num complexo extraordinariamente imenso e as descobertas, por mais fantásticas que sejam, ainda são pequenos bóson diante da imensidão que a totalidade representa.
Um abraço,
Garin
Então,... a formidável estrutura do acelerador de partículas LHC é um belo modelo de Design Inteligente! Que exigiu Criação e exige Manutenção.
ResponderExcluirSobre a tal partícula, certamente ela é composta de algo .+#@¨&*
Será mais partículas menores ??!!
A incrível ordem que segue o big-bang prova que há um Ser Sobrenatural Inteligente, Incausado, Ilimitado, Necessário, Pessoal, Racional pra criar e manter as Forças e Leis universais coesas e em harmonia; dando também; vida orgânica inteligente aos elementos químicos (homem) na Terra.
Do nada não poderia advir algo; pois nem existe. E caos só geraria mais caos …
Senhor Cícero Ramiro Pereira
ResponderExcluir(de quem não consegui o endereço em http://ieadblu.com/perfis/cicero),
custaste a te manifestar. Pena que vieste, uma vez mais, atrofiado por uma cegueira.
Penso que não leste o que foi escrito acerca das razões do batismo do bóson de Higgs como partícula de Deus. Relê como de maldita ela foi transmutada e elevada à divina. Na edição de domingo 08JULHO2012 olha a correlação da Partícula de Deus com galo de Barcelos.
Como um biblista como tu não brandes argumentos pela violação ao mandamento do decálogo que diz algo como: “não tomarás se nome em vão!” Usaram o teu Deus como um garotão de propaganda e tu exaltas isso de Design Inteligente. É querer ser cego.
Tomara que este teu Deus se apiede de ti e te recupere a visão,
attico chassot
PS.: Não vou responder a qualquer outra provação como esta tua manifestação
Caro, Chassot
ExcluirNão tenho lá muito tempo pra ficar vindo aqui. Mas me chamou a atenção o título.
Nem acho que tomaram o nome Dele em vão, afinal está em toda parte; e nesse caso de fato todas as partículas vieram e pertencem a Ele.
É verdade como tu disseste "garotão de propaganda" usaram o Nome pra provocar um grande alardeamento na mídia como se vê.
Se mencionassem apenas: Bóson de Higgs; seria só mais uma particula ...
Não entendi a "cegueira" da analogia do LHC - um design (projetado, desenhado) com a formação maravilhosa(design) do Universo.
Quanto a gastarem 10 bilhões de euros é sinal que teriam dinheiro pra alimentar o povo da África e outros.
Mas a Bíblia diz por que não o fazem ...
Abçs.