ANO
9 |
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EDIÇÃO
2974
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E... é dezembro. Se
novembro passou a galope, dezembro deverá se esvair a jato. Nesse fim de semana,
evoquei algo ocorrido em Porto Alegre há quase quarenta anos. Uma reminiscência
aflorou forte no sábado. Vejamos árvores em dois tempos.
Primeiro tempo: Protesto
sobre árvore da Av. João Pessoa
Uma tipuana, (ou acácia
da espécie tipa), localizada no início do Viaduto Leopoldina, em frente à
Faculdade de Direito, foi pivô de fato de grande repercussão na imprensa e na
sociedade gaúcha, em meados da última década de 70. No plano de construção do
Viaduto, estava previsto derrubar uma série de árvores, para viabilizar o
alargamento da pista. No dia 25/02/1975, funcionários da Secretaria Municipal
de Obras e Viação chegaram com a missão de cortar as árvores sobre a calçada,
em frente à Faculdade de Direito da UFRGS. Faltava uma última árvore para ser
derrubada; foram almoçar ("para terminar o serviço depois"). Nesse
ínterim, um estudante da Faculdade de Engenharia Eletrotécnica, Carlos Alberto
Dayrel, morador da Casa do Estudante, aproveitou para subir na árvore e, assim,
evitar que fosse derrubada. Logo teve a solidariedade e apoio de transeuntes, e
mais dois estudantes (Teresa Jardim, da Faculdade de Biblioteconomia; e Marcos
Saracol, da Matemática) também a galgaram. Em plena época da ditadura, tal ato
constituía "ofensa grave e intolerável" à ordem instituída pelo
"regime de exceção".
Todavia, a atitude
desafiante dos jovens logo impressionou e sensibilizou os transeuntes, que
passaram a assistir a cena insólita e, em seguida, a gritar para que a prefeitura
interrompesse o trabalho.
No transcorrer dos
acontecimentos, um Batalhão de Choque da Brigada Militar foi chamado,
transformando a Av. João Pessoa numa verdadeira praça de guerra. Mais tarde, o
diretor da Faculdade de Engenharia conseguiu subir na árvore, e negociou a
descida dos estudantes. Houve a garantia de que a árvore iria ficar. Nada
aconteceria a eles. A promessa do secretário municipal de Obras e Viação, de
que a árvore não seria cortada, foi mantida, mas alguns jornalistas, que
cobriam o acontecimento, foram espancados e dois dos estudantes foram levados
presos para o temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
A árvore continua lá,
como símbolo de resistência a um crescimento desvairado; e o fato criou uma
nova consciência na cidade. Cada vez que a vejo evoco a bravura de estudantes. Em
28/04/1998, o engenheiro Carlos Alberto Dayrel recebeu o título de
"Cidadão de Porto Alegre", conferido pela Câmara Municipal.
Segundo tempo: Mariante perde um jacarandá centenário. Eu pensara em fazer uma bravata. Sabendo da condenação de um
centenário jacarandá em frente de meu prédio, avisara a portaria que quando
chegassem os carrascos executores da sentença me chamassem.
Repetiria Dayrel. Claro
que bazofiava, mas queria mesmo salvar o jacarandá. Mesmo que nesta quarta contara
aqui, que foram as flores jacarandá, que catalisaram minha queda, narrada na
última quarta. Eles deveriam continuar enfeitando minha rua.
Há muitos anos, na
primavera, jacarandás-mimoso tintam de anil muitas ruas de Porto Alegre. Parecia-me
que um laudo da prefeitura que árvore fora condenada por ser velha, era insensibilidade.
Antes do corte |
Na manhã de sábado sai
cedo. No Centro Universitário Metodista do IPA envolvera-me com seleção de
novos alunos para Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão e acompanhei
uma mestranda que coletava dados de sua dissertação.
Quando voltei, quase 13
horas, o imponente gigante fora esquartejado por motosserras. A frondosa árvore
agora era dezenas de pedaços. Fiquei triste, pois sabia que meu protesto não teria
eco. Dizia-se lindo jacarandá estava doente. Mas parecia que ele precisava de alguém
que fosse solidário a seu passamento. Eu faltei.
Acróstico
ResponderExcluirHomo stultus
Homo sapiens um sábio se acha
Onde ele está torna-se prioridade
Mata bichos e plantas e cobra taxa
E torna-se vítima da mediocridade.
Mais vale pássaro morto na mão
O mais das vezes assim ele pensa
Viver e deixar outro viver, isso não
Íntimo da morte e maldade imensa.
Reflorestar é apenas para os fracos
Um dia todas as árvores ele acaba
Se algum animal servir para casaco
Destrói e mata, não resta uma aba.
O planeta não precisa deste maldito
Pode sumir que o mundo melhor fica
Louco, insano, um vírus, tenho dito
Alguém necessita dar-lhe uma dica.
Nenhum benefício produz o homem
Ele é tão somente o vírus do Planeta
Tanto animais como plantas somem
Assim que o beócio mostra a faceta.