ANO
9 |
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www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2973
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Vou contradizer-me.
Domingo falei que as blogadas domingueiras deveriam ser ligeiras e faceiras. O
assunto de hoje tem outra marca. O texto é de Antonio Prata e circulou em diferentes jornais
no domingo pretérito. Vale lê-lo e discuti-lo
#precisamosfalarsobreaborto
O
título desta coluna é um manifesto lançado na semana passada pela revista
"TPM" (goo.gl/5bo1x9). Como participo da campanha, acho que o mínimo
que posso fazer é falar sobre o assunto.
Das
pessoas de quem mais discordo, as com quem mais concordo são as contra a
descriminalização do aborto. Afinal, elas são contra o direito de as mulheres
interromperem a gravidez pela mesma razão que eu sou a favor: respeito à vida.
Uma
vida é algo precioso, raro, sagrado: assino embaixo e reconheço firma em
cartório. Justamente por pensar assim, acredito que uma criança só deve vir ao
mundo porque seus pais quiseram, não porque tiverammedo de ir pra cadeia. Entre
um bebê que cresce sem amor, em casa ou num orfanato, e uma gestação
interrompida até o terceiro mês, a segunda opção me parece, de longe, a menos
ruim.
Não
estou dizendo que uma gravidez indesejada desembocará, necessariamente, numa
criança mal-amada. Muitos bebês que surgiram mais por conta do desejo de um
adulto por outro do que pelo desejo dos dois de terem um filho acabam se
transformando numa grata surpresa. Mas se um casal (ou uma mulher) decide ter
esse filho não planejado, ele passa a ser um filho planejado: se não com anos,
ao menos com alguns meses de antecedência. Ele é uma escolha, não uma vítima do
nosso arcaico Código Penal.
Como
já sabia Vinicius de Moraes, criar um filho não é nada fácil ("Mas se não
os temos..."). A noite passada acordei às três e às cinco da manhã pra
consolar minha filha, que, gripada, chorava no berço. (Dava pra ver nos olhos
dela a indignação: "O nariz não tá funcionando! Eu tô tendo que respirar
pela boca! É ultrajante! Faça alguma coisa!") É preciso todo o amor do
mundo -e uma profissão que não te obrigue a acordar às seis da matina- pra ver
graça numa hora dessas.
Fico
imaginando a estudante de 15 anos que casou às pressas com o primeiro namorado,
um motoboy de 18, largou a escola e foi morar num puxadinho na casa dos sogros,
no mesmo quarto que o bebê. Fico imaginando o motoboy ouvindo o choro às
quatro, já misturado às buzinas que ouvirá a partir das sete, para ganhar uma
merreca que será inteiramente convertida em Hipoglós e fraldas da Mônica. Fico
imaginando o futuro dessa criança.
Ser
feliz não é nada fácil. O cérebro humano, esse computador genial e
incompetente, inventa aviões, concebe romances e pinturas com mais facilidade
do que nos faz feliz. Que o digam, ou melhor, não o digam, Santos Dumont,
Hemingway e Van Gogh, que jogaram a toalha.
Uma
pessoa com todas as condições para a felicidade — comida, um teto, amor, estudo
— tem grandes chances de nunca alcançá-la. Imagina só uma criança que ninguém
quer, que chega ao mundo com o ônus de ter esculhambado a vida dos pais? Deus
do céu: existe coisa mais terrível do que um orfanato? Bebês e crianças sem pai
nem mãe, esperando que algum dia alguém os leve consigo?
Um
feto de algumas semanas que não vem ao mundo é uma coisa triste, sem dúvida,
mas uma criança que cresce sem amor é uma tragédia —comparável a das meninas e
mulheres que, dia sim, dia não, morrem tentando abortar ilegalmente por este
Brasil afora. Tucanos e petistas, crentes e ateus, sem-teto e playboys: por
respeito à vida, precisamos descriminalizar o aborto.
Penso que já é quase passada a hora de deixarmos a hipocrisia, o moralismo barato e todos os rancores de lado para pensarmos na vida. Criança indesejada tudo bem. No entanto, criança indesejada sem amor já traz a marca da infelicidade. Pimenta nos olhos dos outros é refresco? Urge o debate aberto, consciente e responsável sobre o que mais importa. Temos problemas e pessoas problemáticas em demasia. Coerência com a vida, debate sobre a descriminalização do aborto urgente!!!
ResponderExcluirProfessor Chassot.
ResponderExcluirDesobrigar os pais — especialmente a mãe – de levar a termo uma gestação na qual sabidamente (por meio de modernas tecnologias) se está gerando uma criança que não terá vida plena deve ser um direito indiscutível dos pais. Por primeiro, é uma ação de preservação da saúde mental da mãe e/ou do casal.
Sim, à descriminalização do aborto no Brasil.
Soneto-acróstico
ResponderExcluirInterrupção
Pergunta que cabe numa boa relação
Ou que, retórica, faz pensar somente
Requer com certeza alguma reflexão
Que ao menos uma resposta se tente.
Um casal que não queira um rebento
Estando lúcido e harmonioso então
Tem certeza mais que cem por cento
Evitar por algum tempo a concepção.
Resta se no percurso houver acidente
Fazer nessa gravidez uma interrupção
Indo sem remorso novamente à frente.
Lógico é que vidas que infelizes são
Hoje sem motivo para ficar contentes
Onde há gravidez aborto apraz então.
?
Me perdoe a maioria, mas faço severas críticas a posição defendida no texto. É um argumento muito interessante enquanto não se pensa que o "agraciado" pela prática abortiva poderia ter sido o próprio que agora a defende. Acrescento também que é deveras preconceituosa a justificação de tal prática em alusão ao estado de penúria dos pais, lembra-me muito teorias nazistas, de eugenia, purificação da raça. A vida é um dom maior, e a única justificativa em interrompe-la seria o risco de vida da genitora, fora isso é genocídio puro. É o homem destruindo aquilo que não pode construir. Reflitamos em nossos travesseiros, que direito temos de negar um futuro a alguém? Quem dentre nós pode afirmar com propriedade que esse ou aquele será infeliz. Erradicaremos a vida na África em virtude do estado miserável do seu povo? Acabaremos com nossas favelas? Botemos fogo em todos os paupérrimos? Não, nem sempre um comentário com estilo é provido de racionalidade.
ResponderExcluirComo disse, perdoe-me a maioria que aqui se manifesta, mas em respeito a vida voto contra.