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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

12.- PRA NÃO ESQUECER...


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2985

Para a penúltima sexta-feira do advento, trago uma reflexão dura. Ela tem uma dupla inserção temporal. Estarmos num tempo litúrgico, que já foi destinado à preparação do Natal. Até se dizia Santo Natal. Hoje canonizamos o papai-noel.
Também estamos recebendo dolorosas informações da Comissão da Verdade. Há relatos e números tétricos. As lágrimas que na quarta derramou a Presidente não foram só as de uma ex-presa política. Elas retratam uma extensa dor que tomou muitos de nós.
Nesta dimensão, meu colega e amigo Carlos Augusto B M Normann, mestre em Biologia pela UNICAMP e um diletante aluno do curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Metodista do IPA, escreveu um texto que, com sua autorização reproduzo aqui. O Guto que não oculta sua matriz Metodista, é inclemente com posturas de igrejas. Vale ler e, talvez, (não) perdoar ...
pra não esquecer... Deu no Estadão: a Comissão da Verdade relatou, em sua farta documentação produzida, que as igrejas tiveram sim um papel chave no apoio ao malévolo golpe de 1964. Não me espanta que os babacas dos ratos direitosos que se escondem nas igrejas e que justificam os desvarios reacionários de suas mentes podres com textos descontextualizados da Bíblia tivessem essa cara-de-pau.
O que me dá nojo é saber que, pelo menos, dois clérigos metodistas, de minha igreja de origem, se encontram nesse lixo todo. Um bispo e um reverendo se ofereceram para virar informantes da Polícia, do DOPS. Se ofereceram para, voluntariamente, mandar suas ovelhas para o abate, usando o bibliquês.
Espero que os dois, ou, pelo menos, um deles (o Anivaldo Padilha, da Comissão da Verdade, teve a elegância de não divulgar ainda os nomes... não esperaria algo diferente, um gesto grandioso de um homem grandioso) estejam vivos. Sim, pois é importante que esses vermes sejam desmascarados diante da sociedade.
Não consigo me conformar com gente que se diz "de Deus" fazendo coisas tão demoníacas, tão cruéis, quanto mandar gente para a tortura, quanto delatar seus "pastoreados". De acordo com Anivaldo, havia um pastor metodista ciente das torturas. E como esse sujeito podia colocar a cabeça em um travesseiro e dormir? Se tinha filhos e filhas, como podia olhar suas crianças, sabendo que um pai de família, uma mãe de família, um jovem, uma jovem, estava lá, com o sangue vertendo, os choques nos mamilos e genitália, os vergões roxos deformando o corpo, olhos inchados de pancadas, punhos e tornozelos marcados de amarras e algemas...
Sr. pastor, se você ainda está vivo, faça uma gentileza: retrate-se numa igreja, neste domingo. Arrependa-se de sua crueldade. Peça perdão aos familiares dos que mandou pro abate. Ajoelhe-se no altar, e peça perdão às famílias que desmantelou, aos sonhos que sepultou. Peça perdão àquela mãezinha idosa que não pôde sepultar o filho, à esposa que não soube o que dizer às crianças quando o papai sumiu com os moços de farda. Eu não sei se sou evoluído o bastante para lhe perdoar, seu canalha desgraçado, mas Deus possivelmente o fará. Ou não.

3 comentários:

  1. Vejo muitos questionarem sobre boa parte da juventude permanecer afastada das igrejas (religiões).
    Há como ser diferente? Muitos não toleram incoerências, mentiras, enganações, nem ratos. Logo...

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  2. Entendo e compartilho a dor dos que sofreram as injustiças da ditadura. Mas vejo com reservas discursos inflamados, carregados de ódio e que possam incitar mais violência. A história da humanidade é uma sucessão de barbáries. No próprio livro de Êxodo o Ser maior dizima à todos que lhe são contrários. Tivemos Nero, Calígula, Gengis Khan, Napoleão, Hitler e muitos outros mais, todos responsáveis por genocídios em suas épocas. Há pouco mais de um século escravizamos nossos semelhantes negros, fomos a África e separamos pais e filhos, destruímos famílias, tudo porque nos demos esse direito. Hoje o mundo convive com as mais diversas atrocidades, todas em nome da razão, todos se acham certos. A ponderação e o amor ao próximo nos fazem ver que o certo é combater as chagas que agora sangram, para que amanhã não sejamos tomados de um sentimento de vingança que certamente cegará nosso discernimento.

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  3. Pois fica estranho que a figura central do Natal cristão seja o balofo-propaganda da Coca-Cola. Sim, o bispo São Nicolau não usava aquela roupa com o chapéu estilo saci-pererê, não usava trenó de renas voadoras e nem soltava o ro-ro-rooooo... O verdadeiro São Nicolau de Mira era beeem diferente. Enfrentava opositores na própria igreja nascente, sob o governo de Constantino, no século III. Nicolau, que ficou encarcerado para negar a fé cristã, voltou a enfrentar oposição da própria Igreja. Diante de um debate com outros líderes, Nicolau levanta-se e embolachou legal um de seus antagonistas, algo parecido com o que o próprio Cristo fez aos vendedores do Templo. Isso o impediu de permanecer como um líder da Igreja, mas não de manter o auxílio às crianças, viúvas, idosos e pobres em geral. A grande diferença entre Nicolau de Mira e o Santa Claus ianque é que um ajudava aos pobres, o outro enche de grana os já endinheirados... Abração, mestre!

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