ANO
9 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2978
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Vivo um sábado com a quarta (e última) despedida de um grupo de
alunos deste semestre: Hoje, o Jose Clovis e eu encerramos os seminários
quinzenais de Inclusão e Educação no Mestrado Profissional de Reabilitação e
Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA. Solenizaremos esta despedida
recebendo o grupo na Morada dos Afagos para um almoço. Prevemos bons momentos.
Retornado de mais uma viagem, algumas reflexões. Quando,
enquanto alienígenas olhamos uma cidade, vamos registrando suas construções
culturais, fazendo que mesma se desenhe em nós. As cidades se fazem em nós, não
apenas quando de nossas visitas, mas também pelas nossas leituras em livros e
filmes. Isso vale para qualquer cidade. Eu imagino (vale lembrar que imaginar é fazer imagens!): Paris,
Londres, São Petersburgo, Bancoc, São Tomé das Letras, Parintins, Amargosa,
Não-me-toque...
Estas imagens são muito pessoais; marcadas por nossas
idiossincrasias. Na quinta, por exemplo, tentei narrar como fui capturado pela
maneira querida como Anápolis, mais precisamente a Universidade Estadual de
Goiás, me acolheu. Esse sentimento passa integrar a maneira como vou
construindo esta cidade. Ela, quando estive aqui em setembro do ano passado,
ofereceu outra experiência inédita. Esta aflora ainda significativa, quando
revisito cenários do ocorrido. Evoco-a.
Então, o trecho Goiânia/Anápolis se fez pequeno para que fruísse
mais do excepcional privilegio de aprender com André Lucio Franceschini Sarriá,
um químico de produtos naturais, especialista em ‘comunicação entre plantas’
algo que para mim era desconhecido. Na foto ao autografar para o Dr. Sarriá meu
livro A ciência através dos tempos em
19 de setembro de 2013.
Tite — como é conhecido pelos amigos — um brasileiro radicado no
Reino Unido, concedeu em 19 de outubro uma entrevista a este blogue. Trago aqui
suas resposta a três perguntas:
1. — André, poderias fazer um breve relato acerca de tuas pesquisas.
Meu projeto de pós-doutorado foi sobre voláteis emitidos por
plantas quando em situação de estresse. Explico: Ao passo que animais podem se
proteger, plantas permanecem no mesmo local, não importando quão desfavorável
as condições ambientais podem ser, durante o processo evolucionário as plantas
adquiriram uma sofisticada estratégia defensiva para “perceber” os ataques de
patógenos e insetos, traduzindo essa percepção em uma resposta. Um exemplo
simples Quando uma planta ao ser atacada por algum inseto ela precisa se
defender contra este ataque, mas de que maneira ela se autodefende? O primeiro
sinal de defesa é a emissão para a atmosfera de voláteis, substâncias orgânicas
de baixo peso molecular que são carreados pelo vento, estes voláteis muitas
vezes funcionam como moléculas de comunicação. Primeiramente é para comunicar a
sua vizinha de que algo está errado, a planta vizinha capta este sinal e o
traduz em uma série de reações em cadeia onde são ativados enzimas de
resistência; o metabolismo da planta passa a ser focado em um determinado
ponto. Assim a planta vizinha fica “preparada” para um possível ataque. O
segundo sinal observado é que estes sinais também podem atrair predadores ao
local do ataque muitas vezes estes insetos são predadores da praga que está
atacando a planta. Um mecanismo muito sofisticado a meu ver.
2.
— Já há alguma descoberta na área de ‘comunicação entre plantas’ que poderias
ilustrar para nossos leitores?
Existem muitos exemplos, um deles é do professor Ariel
Novoplansky de Israel, ele conseguiu provar, com um experimento bem simples,
que plantas avisam sua vizinha quando algo não vai bem. Ele colocou 150 vasos
enfileirados e a cada dois vasos ele acrescentava uma planta (metade da raiz
ficava em um vaso e a outra metade em outro vaso) dessa maneira todas as
plantas estavam ligadas entre si. No primeiro vaso (e somente neste) ele
acrescentou uma substância que fez com que seus estômatos se fechassem e o que
foi fascinante é que após um período de uma metade de hora as 150 plantas
estavam com seus estômatos fechados. A primeira planta foi estressada passou um
sinal pela raiz para outra planta e assim sucessivamente uma a uma todas
fecharam seus estômatos. Isto também prova a necessidade que as plantas possuem
de preservar seu DNA, pois se a minha vizinha está doente, muito provavelmente
eu vá sofrer também então elas se auto preservam.
Um exemplo que observei na Inglaterra (no período que fiz meu
estágio de pós-doutorado) foi sobre a lagarta do milho. Esta lagarta é uma
praga que causa prejuízos em plantações, a “boca” da lagarta possui secreções e
ao comer as folhas esta secreção entra em contato com a folha do milho. O
efeito observado é que o milho passou a liberar uma substância para a
atmosfera, e esta substância é um atrativo para vespas (os predadores naturais
da lagarta). Hoje sabe qual substância é produzida pela saliva da lagarta, ela
se chama volicitina e experimentos mostraram o mesmo comportamento quando se
aplica volicitina sintética. Este é um dos exemplos, mas existem vários. Um
deles que me atrai são os chamados aleloquímicos, isto é, a capacidade que uma
planta tem de inibir a germinação de uma planta invasora (talvez em psicologia
isso possa ser chamado de egoísmo), neste caso a planta desenvolveu uma maneira
de biossintetizar substâncias como uma forma de sobreviver. Vamos a um exemplo:
suponhamos que uma planta de tamanho pequeno necessite de luz solar, mas
furtivamente começou a nascer cerca a si uma espécie de planta de tamanho maior
e com grandes folhagens “roubando o seu sol”, esta planta pequena é capaz de
liberar para as raízes substâncias que inibem o crescimento da sua vizinha e
dessa maneira seu banho de sol estará garantido. Isso é o chamado de alelopatia
e um pesquisador renomado nesta linha de pesquisa é o professor Macias, da
universidade de Cádiz na Espanha.
3.— Agora a pergunta clássica: Qual
é a aplicação destas pesquisas?
Esta é uma pergunta muito importante e bem pertinente, estamos
hoje com 7 bilhões de habitantes no mundo e como iremos alimentar toda essa
gente? como fornecer alimentos saudáveis a tantas pessoas? Hoje utilizamos
agroquímicos para controlar insetos e outras pragas agrícolas. Contaminamos
rios, animais e todo o globo sofre com isso. Conhecendo a comunicação de
plantas podemos propor protótipos moleculares 100% naturais com a opção de
aumentar a produção de alimentos. Um exemplo são os aleloquímicos, a planta nos
fornece um “molde molecular” onde químicos sintéticos podem produzir esta
molécula e assim pode ser aplicado na agricultura como um herbicida 100%
confiável. Isso é o que me fascina: “ouvir” e “anotar” aquilo que a planta está
“dizendo” para nosso próprio benefício. Usar os voláteis de plantas também é um
método seguro e eficiente contra pragas agrícolas, atraindo predadores e ao
mesmo tempo polinizadores.
ENTREVISTA COMPLETA: 19OUTUBRO2013
Incrível como a hipótese do André Lucio Franceschini Sarriá pode servir para os humanos. Penso que se nos comunicássemos melhor ouvindo e escutando de fato, não precisaríamos tantos artefatos artificiais para melhorar a comunicação humana. O egoísmo deveria dar lugar ao altruísmo. Assim como a eliminação dos agrotóxicos é a consequência de se permitir escutar o que as plantas dizem, também a eliminação de muitos antidepressivos e assemelhados se os humanos dialogassem mais utilizando mais a audição. Comunicação é ouvir também. Muito se fala, pouco se ouve. Bom sábado a todos os que ouvem.
ResponderExcluirVocê tem toda razão caro Amigo.
ExcluirSoneto-acróstico
ResponderExcluirPlantas
A natureza sempre sabe o que faz
Simples plantas fazem comunicação
Pedem socorro para frente ou atrás
Liberam eflúvios no seu raio de ação.
Assim ajustam falta de movimento
No relacionamento com as amigas
Tentam evitar a qualquer tormento
Ataque de predador e de formigas.
Sentem atmosfera e meio ambiente
Sabem até mais do que muita gente
Apesar de bestas acharmos que não.
Basta que uma planta seja atacada
Então ela avisa todas as camaradas
Mover não, comunicar-se de montão.
Não conhecia este soneto, gostei muito. Vou usa-lo algumas vezes. Um abraço.
ExcluirTiti Sarria,
ExcluirEu também não o conhecia até hoje, acabei de fazê-lo. Pode usa-lo como quiser, está liberado. JAIR.
rs obrigado. A usarei com as devidas referências, um abraço.
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