ANO
9 |
AGENDA 2015 em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2997
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Dei-me conta que este já é o nono blogar destinado a celebrar
com minhas leitoras e meus leitores aquela que para mim a data mais evocada. Quando
remexo no baú etiquetado com a palavra saudades as noites de 24 de dezembro
afloram. Quando escrevia no meu lapKopf o texto que compunha esta edição,
imaginava que nas oito vezes anteriores escrevera algo que se assemelhava com o
texto que projetava.
Num matar saudades, resolvi revistar os 24 de dezembro desde
2006. Enganara-me nas previsões. Há singularidades, a começar pela primeira, em
2006. Nem lembrava uma blogada simples escrita desde Sofia, num natal búlgaro
que teve visitas memoráveis a monastérios.
Houve tempos de nossa infância e mesmo da pré-adolescência que a
noite de 24 de dezembro era a mais esperada do ano. À medida que os dias
passavam, no começo de um novo ano, parece que o natal ficava mais longe.
Depois dos finados, havia a impressão que o calendário quase parava. Hoje
parece que tudo passa tão rápido. Nossas agendas, então, eram tênues e os dias
custavam a passar. Hoje, são muito densas e quase sem nos darmos conta: “... logo
ali já é natal!”
Em 2010 amealhei algumas lembranças desta data na minha infância:
No dia 24, já em Montenegro, quando estava com uns
10 anos, eu tinha o privilégio – talvez por ser o mais velho – de ajudar minha
mãe na montagem do presépio. Uma peça da casa era interditada aos demais. Ali
se realizava, em espaço que cobria uma área bem significativa, a montagem da
vila de Belém, que recebia as mais fantásticas intervenções no seu cenário.
Talvez nenhum belemita reconhecesse sua vila. Aliás, isso é traduzido pela
miríade de representações de cenas do nascimento de Jesus que existem. Afinal:
imaginar não é fazer imagens!
Recordo que em um ano a gamela
que era usada durante o ano para a lavação dos pés quando vínhamos da rua
transmutou-se em um lago, onde nadavam patinhos de celuloide. Havia uma queda
d’água que fazia girar uma roda que tracionava um moinho. Tinha também uma
fogueira (uma lâmpada revestida de celofane vermelho coberta por carvões) onde
se aqueciam pastores. Havia duas angolistas que moviam os pescoços, que se
comparadas às ovelhas em suas dimensões deveriam ser maiores que dinossauros. Duas
formas destas para assar pão recebiam terra, onde arroz germinado, já há duas
semanas, imitavam uma pastagem onde estava um pastor com um rebanho de ovelhas.
A gruta, feita de barba de pau –
conseguida semanas antes em longas caminhadas até o Faxinal – tinha José e
Maria com o berço vazio, este só receberia o menino, à noite, durante o canto
de ‘Noite Feliz’ – que fora ensaiado a cada dia nas semanas que antecediam a
grande noite. Só então ocorria a entrega dos presentes.
Recordo que quando foi montado pela
primeira vez o presépio (talvez, em 1946! Ainda, em Jacuí) que a mãe comprara
em Cachoeira ou Santa Maria, na se sabia que havia algo imitando um cocho para
ser o berço do menino Jesus. Meu, como hábil marceneiro, preparou uma caminha
que terminou não usada.
Lembro que um ano, montei atrás
da gruta uma caixa de madeira, com sua boca coberta por um papel de seda azul,
onde eu havia colado estrelas e uma lua de papel prateado, e dentro da caixa
uma lâmpada acoplada a um pisca-pisca. Um sucesso tecnológico para os anos
1950s.
Minha primeira desconfiança
acerca da veracidade do papai-noel (este legado mercadológico da Coca Cola).
Primeiro devo dizer que este entrou tardiamente em minha infância. Minha avó
materna – Bárbara Volkweis – falava sempre em São Nicolau ou Heilige Nicklas ou
ainda que quem dava os presentes era o Chriskinder ou Menino Jesus. Tínhamos
que varrer o pátio, para o burrinho de são Nicolau encontrar o pasto que lhe
cortávamos e que desaparecia durante a noite, se nos comportássemos com
dignidade para receber presentes.
Mas meu primeiro descrédito a tudo isso surge
muito cedo: a letra A do
meu nome era exatamente como lindo e original A que só minha mãe fazia tão lindo.
Quando via aquele A usado por outrem, considerava
uma traição. Minha mãe acalmou minha desconfiança dizendo que ela ajudava o
Papai Noel. E eu acreditei?
Amealhei algumas evocações.
Poderia encher páginas principalmente das ameaças de vara do chamado ‘bom
velhinho’.
Mas tudo isso sendo fantasias,
ainda esperamos a noite de hoje. Que ela seja frutuosa, a cada uma e cada um.
Vale curti-la
A leitura de hoje remeteu-me ao passado em uma noite natalina de minha infância quando eu e minhas duas irmãs nos escondemos atrás do sofá para descobrirmos a identidade secreta do Papai Noel. Meu velho pai, tão cansado estava, que nem percebeu o trio bisbilhoteiro.
ResponderExcluirRecordar é viver. Precisamos que nosso imaginário seja povoado de cenas e lembranças saudáveis dos nossos natais da infância para que a alegria do encontro familiar na véspera desta data especial não seja contaminado pelo papai noel do consumismo. Me recordo dos doces que recebíamos, na maioria feitos pela mãe. Como era bom. Mesmo na simplicidade dos parcos recursos encontrávamos felicidade.
ResponderExcluirQuerido Chassot,
ResponderExcluirDesejo-lhe e às tribos Chassot, Knijnik e outras próximas um Natal muito bom. Vale o mesmo para as pessoas que frequentam o blog, comentaristas ou não.
Parabéns pelas blogadas de hoje e de ontem. A evocação de Lady Margaret e as lembranças dos Natais eternos valem por dois magníficos presentes.
Paz e bem.
Tavinho
Meu querido amigo Tavinho,
ResponderExcluirmuito obrigado pelos teus votos. Os clãs Chassot e Knijnik agradecem.
Que bom que estas duas últimas blogadas pareceram para ti presentes. Quando me encantava com Margareth Cavendish lembrei, por razões obvias de ti. Permito-me recomendar na próxima sexta Einstein e a Religião. Foi muito bom para mim ler este livro. Se tiveres uns quatro minutos assista:http://www.youtube.com/embed/tzwWskM4hN8?rel=0
Faz bem para a alma. Ofereço o espetáculo a Solange.
Desejo, também, muita alegria pelas festas natalinas que têm a magia de congregar, sem distinção, crentes e não crentes.
Que cada dia do ano novo todo de 2015 seja de um gostoso fruir da vida em sua dimensão mais plena.
Querido amigo, achei que apenas eu revisitasse o baú de memórias. Gostei muito de conhecer as tuas, em especial a da tua mãe ajudante do Noel... Obrigada por compartilhar!! Um abraço da amiga manauara!
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