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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

22.- COMO FAZER DE UM REVOLUCIONÁRIO UM LÍDER PIEDOSO?


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2995

Na sexta contei aqui sobre a trilogia de livros que marcam minhas leituras neste final de ano: li Infiel / Zelota /Einstein e a religião. Naquele dia ratifiquei comentário anterior acerca da importância do livro autobiográfico da moça negra somali que com Infiel desafiou o islã. Hoje quero falar um pouco sobre Zelota. Espero ainda este mês terminar Einstein e a religião para então comentar em uma blogada.
ASLAN, Reza. 1972— Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré. Zealot, the life and the time of Jesus of Nazareth. Tradução de Marlene Suano. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 303 p. ISBN 978-85-378-1152-8
Zelota é por primeiro um livro polêmico. Um iraniano — Reza Aslan — se propõe escrever uma biografia do homem Jesus de Nazaré e descrever seu tempo. Uma boa síntese da proposta de Aslan está no título do livro. Zelota é um membro de um grupo radical de fariseus, que via Deus como único soberano e que se opunha ao domínio romano. Aslan arvora-se em mostrar como o Jesus zelota foi transformado em mensageiro pacífico ao invés do revolucionário, politicamente conscientizado que em verdade ele foi. O mote de trabalho de quem consultou quase duzentos livros e uns cinquenta artigos, pesquisou em universidades em Israel e nos Estados Unidos é mostrar que as leituras canônicas estão equivocada e ele (Aslan) conta como foi. Ele sabe. Ele tem a explicação certa. Ele mostra-se melhor conhecedor. Também tem muitas certezas.
O livro foi sucesso de vendas e de polêmica nos Estados Unidos. Os anúncios dizem ter mobilizado opinião publica estadunidense. Se diz ser um livro contundente e profundamente político, que honra e faz justiça ao Jesus real. Parece-me, no mínimo, propaganda enganosa.
Faço dois comentários. Um de forma (Como?) e outro de conteúdo (o que?).
Primeiro comentário: quando se conclui na p. 233 a leitura do ‘epílogo’, uma surpresa: da p. 234 a p. 281 (quase 50 cinquenta páginas) há centena de notas, em tamanho bem menor que o texto do livro. Há uma dezena de notas para cada um dos capítulos. Estas não são numeradas e, portanto, não tem chamada no corpo do texto. Suspeito ser uma falha da edição brasileira. Não conheço outras edições. Isto representa uma lamentável perda. Vale ler cada uma das notas, mas nem sempre é fácil encontrar conexão com o texto principal. É preciso dizer que não se espera por estas notas, pois o livro abre com uma nota do autor de mais de quatro páginas. Ponto negativo para a Zahar.
Segundo comentário: Aslan narra sua conversão e seu encontro com Jesus. Ter estado no segundo ano da Universidade em um acampamento evangélico, mudou a vida do muçulmano, reconhecendo Jesus salvador, ressuscitado e glorioso. Nada contra uma conversão. Mas a obra que é para ser histórica fica no mínimo suspeita.
O que livro trouxe de mais original para mim? Uma boa descrição da Palestina no primeiro século da era cristã. E, principalmente, o relato detalhado de divergências (leia-se, inclusive brigas físicas) entre o apóstolo Paulo e o apóstolo Pedro e os demais discípulos. A crer em Aslan as distensões foram muito maiores (mas muito, mesmo) que aquelas que eu conhecia.
Outro dado: Aslan nega a autoria que é conferida a textos do Novo Testamento. Isto vale para os evangelhos e outros textos. Por exemplo, das 14 cartas atribuídas a Paulo, afirma que só sete foram escritas por ele. É lugar comum no livro dizer que isso não foi assim, tal é fantasia etc.
Acredito que um teólogo possa ter uma visão mais crítica. Não sei se vale o investimento de tempo na leitura.
Para quem quiser ler algo do livro:
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2013/11/1369777-leia-trecho-de-zelota-a-vida-e-a-epoca-de-jesus-de-nazare.shtml

3 comentários:

  1. Não há como misturar uma leitura de fé com uma leitura científica. Geralmente esses autores defendem dogmas extrapolando seu fanatismo além dos fatos. E o curioso, o que foi muito bem observado na crítica feita pelo Mestre, é que passam a fazer afirmações sem qualquer base. Um coisa é olhar os fatos e entender a história, outra, e perigosa, é enfiar pela goela abaixo de todos afirmações de opinião pessoal. O lamentável é que a leitura dissemina-se pelo espaço e pelo tempo, e infelizmente o solo é fértil gerando uma legião de fanáticos que passam a professorar sandices como fatos.

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  2. Oi Chassot,
    não li, pois o tema sai do fulcro do meu doutorado e sabes bem como é essa época na vida de um cristão…
    Um amigo meu, muito erudito, aquele que conheceste, conhecedor profundo de línguas e História, leu e disse ter percebido laivos de antissemitismo nas páginas. Tiveste alguma impressão semelhante?
    Abraços do continente do norte.

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  3. Meu querido Guy!
    Primeiro uma muito boa estada no teu hibernar no hemisfério norte!
    Não me dera conta, mas talvez o teólogo de Wittenberg tenha razão. O livro parece de um islâmico que quer faturar com sua conversão ao Ocidente.
    Assunto três: amanhã o blogue não só citará a II Mostra científica do IEEPG como palpitará uma sucessora às duas ícones já homenageadas. I HIpatia // II Marie Curie // III aguarde blogue de amanhã.
    Um afago com saudades.
    attico chassot

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