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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

01.- DO DIÁRIO DE UM MESTRE-ESCOLA


ANO
 9
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br  
EDIÇÃO
 2913

Já vivemos outubro... Estamos no último trimestre deste 2014, que ainda com odores de ano novo. Dentro de mais um pouco, rotundos papais-noéis estarão chamando àquilo que é a marca do fim do ano que se aproxima: consumismo. Este oblitera o mote da celebração natalina: um Deus se encarnando entre os humanos.
Não raro, quando me refiro o livro no qual celebro meus 50 anos de magistério Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto, que tem 51 capítulos, distribuídos em mais de 500 páginas, um para cada um dos anos desde 1961 a 2011, digo que já tenho pelo menos 4 capítulos para um segundo volume, pois já se aproxima o termino do 54º ano de magistério.
Defendo a tese que devemos registrar os nossos fazeres. Há muitos argumentos na defesa desta prática. Aceno com um. Quantos de nós não vibraríamos se tivesse um excerto de um diário ou uma carta de dos seus bisavôs. Uma simples fotografia de um ancestral nosso já nos enleva. Imaginem um livro sobre como era ‘o antigamente’.
Este preâmbulo vem de uma reflexão, quando quase no final da terça, retornava do Centro Universitário Metodista do IPA, olhando meu dia. Pensei, este tema poderia servir para uma blogada.
À tarde, falei para professoras e professores de quatro escolas estaduais de Porto Alegre, líderes em suas escolas do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio proposto pelo Ministério da Educação. Por três horas vivemos os desafios de experiências marcadas pelo compromisso com valorização da formação continuada dos professores do ensino médio público. Foi uma tarde sumarenta.
Mas, mais emocionante foi pela manhã e à noite, reencontrar minhas alunas e meus alunos de Música e Pedagogia. Não nos víamos há duas semanas. Sentimos que havia saudades.
Quando em 10 dias se vai e volta duas vezes à Amazônia (Manaus e Macapá) e entre estas se vai uma vez ao Araguaia e no período ministrado sete palestra se tem muito a contar e mais ainda a ouvir. Já expliquei que tenho como norma não aceitar convites para dias que tenho aulas na graduação. Usualmente segundas e/ou terças. Não sei explicar bem o que aconteceu: tive uma fala na segunda-feira anterior em Barra do Garças, de onde segui na terça para Macapá.
E as aulas de terça no Centro Universitário Metodista do IPA? As duas disciplinas que leciono na graduação preveem um trabalho de campo por semestre. Assim no dia 16, orientei a pesquisa nas duas disciplinas, na noite de terça, dia 23; enquanto eu fazia a minha memorável viagem de 19 horas rumo a Macapá, os estudantes realizaram a pesquisa e ontem, houve os relatos.
Em cada uma das turmas houve apresentação de trabalhos, que mereceriam um extenso artigo. Eis uma pequeníssima amostra.
Pela manhã tenho grupo de 30 alunos, em sua maioria músicos profissionais, que vêm fazer licenciatura para habilitarem-se legalmente à docência. Leciono para o grupo, pela primeira vez, Ética, Sociedade e Meio Ambiente.
O ponto de partida foi fazer uma revisão dos termos meio ambiente e ambiente para, a seguir, considerar que chamamos de trabalho o ato de agir sobre a natureza, transformando-a para nossas necessidades. É isto que faz os humanos distinguidos dos demais animais.
Se a Ciência pode ser considerada, também, uma linguagem que explica e transforma o ambiente. Ocorrem transformações nem sempre são para melhor. Há muitas situações que essas transformações podem prejudicar o meio ambiente.
A proposta da Pesquisa de campo: Detectar e descrever (tão detalhadamente quanto possível) uma transformação no meio ambiente, por meio de trabalho (ou pelo uso da Ciência). Se esta for prejudicial, sugerir alternativa para corrigir a ação. Se favorável, justificar, isso.
Lamentavelmente não tenho condições aqui e agora de detalhar alguns dos relatos. Só trago uma afirmação: poucas vezes aprendi tanto como professor de sala de aula como nestes relatos.
À noite, tenho 11 alunas e um aluno no curso de Pedagogia, onde leciono, já há vários semestres, Teorias do Desenvolvimento Humano.
No mesmo esquema da turma de música, a proposta foi: Primeiro escolha uma classificação das fases do desenvolvimento humano [por exemplo: 1) Pré-natal; 2) recém-nascido; 3) bebê; 4) infância; 5) pré-adolescência; 6) adolescência; 7) idade adulta; 8) idade madura; 9) adulto maior]. Da classificação, pince uma das fases. Escolha uma lente para olhar essa fase: religião / geografia / momento histórico / sexo / opção sexual / etnia / ciência / pensamento mágico / senso comum / saberes primevos / mitos, indicando como foram usados os diferentes recorte de observação.   Com a fase escolhida e a lente definida: Entreviste uma pessoa de mais de 70 anos, perguntando para ela acerca de um saber, visto pelo entrevistado, com a lente proposta.
Trazer para aula do dia 30, um relato escrito com o resultado da entrevista destacando três dimensões: I) Um breve registro biográfico do entrevistado. II) Relato do saber primevo colhido na entrevista. III) Sugestão de como fazer deste saber primevo um saber escolar, indicando a etapa da escolarização, com um breve plano de atividades.
É fácil inferir a beleza de algumas propostas. Esses são excertos do diário de um professor, do último dia de setembro de 2014, festa de são Jerônimo, o proto-Gutenberg, há 1600 anos antes do presente.

Um comentário:

  1. Debate tão em alta acerca do futuro da educação, porém sem muito efeito já que se dá em meio a promessas políticas mais afetas ao nariz do Pinóquio. Faltam mais Chassots nos lugares certos.

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