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terça-feira, 14 de outubro de 2014

14.- UMA NOTA DE RODAPÉ

ANO
 9
A G E N D A   em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2926

Antes de adentrar no que se faz manchete — Uma nota de rodapé — Um informe. Ontem foi anunciado o Prêmio Nobel de Economia de 2014. 
O economista e professor da Universidade de Toulose, na França, Jean Tirole, de 61 anos, conquistou nesta segunda-feira (13) esta láurea por seu trabalho sobre análise do poder e regulação de mercado. "O prêmio deste ano é sobre como "domar [regular] empresas poderosas. O Prêmio Nobel de Economia – o único mais recente, pois, diferentemente dos cinco outros, que iniciaram em 1901, este começou em 1969 – em 2009, agora já com 65 premiações. Pela primeira vez (e única) premiou uma mulher (Elinor Ostrom, nascida em 1933 nos Estados Unidos) junto com um homem. Este prêmio não é sustentado pela Fundação Nobel. E sim, pelo Banco Central da Suécia.
Assim dos 13 nomes premiados neste 2014, 11 são homens e dois são mulheres. Ou seja, não é só a Ciência que continua masculina.
Isto anunciado, o tema anunciado. Mais recentemente, alguns lances, aparentemente inexpressivos catalisaram a escritura deste texto. Na manhã de quinta, na banca de qualificação que participou o André Boccasius Siqueira, que há 10 anos fora meu orientado de mestrado, em uma de suas intervenções, disse: “Vou fazer uma nota de rodapé, como diria o Chassot”. Outro dia em sala de aula, um aluno, ante meu anúncio que traria uma informação lateral, disse: “Já estava com saudades de suas notas de rodapé!” Ainda outra evocação: Na oficina de escrita da última quinta foi agradável ‘abrir uma nota de rodapé para falar laureados com o Nobel nesta semana’.
Dou-me conta que há certas marcas de estilo na fala oral (de aulas e palestras) que uso certos marcadores que não estão presentes no texto escrito. Nesta modalidade não cabe dizer (como faço em uma fala oral): ‘Agora, façamos uma nota de rodapé!”
Recordo que escrevi, em tempos que se fazem distante, acerca de preciosidades que, de maneira usual e frequente, encontro em notas de rodapé.  Mas, não gosto apenas de garimpar diamantes em notas rodapé. Gosto de inseri-las em meus textos. Dou-me conta que essas possibilidades de inserção se tornaram facilitada com o advento dos editores de textos.
Antes deles, nos textos manuscritos (aqui a palavra tem sentido restrito a sua etimologia) e mesmos nas produções datilografadas, o uso de notas de rodapé era algo menos corrente, até porque não era nada fácil inseri-las. Dou-me conta o quanto referir um texto datilografado realmente é algo velho, digamos do século passado.
Sempre imagino Karl Marx, no British Museum, escrevendo O Capital, com aquelas dezenas de notas. Como nosso trabalho hoje é facilitado pelos editores de texto. Se insiro uma nota, em determinado trecho todas as demais são reordenadas. Isto é maravilhoso.
Atualmente deleito-me, em goles quase homeopáticos, com Nunca Pura [SHAPIN, Steven, Belo Horizonte: Traço Fino, 2013] que tem como subtítulo uma quase súmula: Estudos históricos de Ciência como se fora produzida por pessoas com corpos, situadas no tempo, no espaço, na cultura e na Sociedade e que se empenham por credibilidade e autoridade. O livro tem mais de 550 páginas, das quais cerca de 150 são de notas. Mas não são notas de rodapé. Nem são de fim de capítulo. São notas de fim de livros. Estas duas últimas me desagradam, principalmente as de fim de capítulo. São difíceis de localizar.
Como sobremesa: uma palhinha de Nunca Pura: Os ensaios de Shapin reunidos neste livro incluem reflexões sobre as relações históricas entre ciência e senso comum, entre ciência e modernidade, e entre ciência e ordem moral. Exploram a relevância dos contextos físicos e sociais na construção do conhecimento científico, os métodos adequados para se entender a ciência historicamente, a dieta como um ponto instigante de investigação histórica, a identidade daqueles que fizeram o conhecimento científico, e os meios pelos quais a ciência adquiriu credibilidade e autoridade. "Steven Shapin argumenta que a ciência, para todos, esta imensa autoridade e poder, é e sempre foi um esforço humano, submetido às nossas capacidades e limites. Dito de outro modo, a ciência nunca foi pura. Os ensaios de Shapin coletados no livro incluem reflexões sobre as relações históricas entre a ciência e o senso comum, entre ciência e modernidade, bem como entre a ciência e a ordem moral."

2 comentários:

  1. Na verdade, nada é puro.
    Somos mistura, uma miscigenação.
    Precisamos do outro para a composição.
    Tudo é diverso, junto e misturado.
    Como haver ciência pura se a mesma é feita por pessoas?

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  2. Houve uma época em que os "doutos" do mundo diziam ser o mesmo uma tábua, um tempo depois mesmo com a concepção esférica, era essa o centro do universo, verdade que também caiu por terra, ou seja não existe verdade imutável, cabe a ciência nos trazer a melhor verdade para o momento.

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