ANO
9 |
A G E N D A em www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
2930
|
O
texto desta sabatina tem origem naquelas mensagens que chegam à catadupa. Não
conheço a autoria. Apenas alterei dois personagens do último parágrafo.
Necessariamente
não subscrevo o texto na sua íntegra. Mas há que reconhecer que contem instigantes
no relato, mantendo suspenses. Por tal vale faze-lo parte de uma fugaz presença
num sábado marcado por rituais de troca de horário.
A ESTRANHA Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma
estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade. Desde o princípio, meu pai
ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, a convidou a
viver com nossa família.
A
estranha aceitou e, desde então, tem estado conosco. Enquanto eu crescia, nunca
perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem ela já tinha
ganho um lugar muito especial.
Meus
pais eram professores da Educação básica... minha mãe me ensinou o que era bom
e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas
a estranha era nossa narradora. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com
aventuras, mistérios e comédias. Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa
que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia
tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Sabia, como poucos,
qual seria o tempo no dia de amanhã. As previsões meteorológicas sabidas por
meu avô eram contraditas.
Levou minha família ao primeiro jogo de
futebol. Fazia-me rir, e me fazia chorar. A estranha nunca parava de falar, mas
o meu pai não se importava.
Às
vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, ia à cozinha para ter paz e
tranquilidade, enquanto o resto de nós ficava escutando o que aquela que já não
era mais estranha sempre tinha a dizer. (Agora me pergunto se ela teria rezado
alguma vez para que a estranha fosse embora).
Meu
pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se
sentia obrigada a honrá-las.
As
blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem
por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.
Entretanto,
nossa visitante de longo prazo usava sem problemas sua linguagem inapropriada
que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe
se ruborizar.
Meu
pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas a estranha nos animou a
tentá-lo e a fazê-lo regularmente. Fez com que o cigarro parecesse fresco e
inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava
livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram, às vezes
evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos. Agora sei que meus
conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha
adolescência por essa estranha.
Repetidas
vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de meus pais, e mesmo
assim, permaneceu em nosso lar!
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a
estranha veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão
fascinante como era no princípio.
Não
obstante, se hoje você pudesse entrar na casa de meus pais, ainda a veria em
seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu
tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu
nome? Bom... nós a chamamos Televisão.
Agora ela tem um esposo que se chama Internet
e um filho que se chama Smartphone.
Ambos mais invasivos que ela.
Simplesmente sensacional o texto. Acredito que só os mais antigos entenderão como foi marcante essa mudança. Dentre as varias atividades de meu constava também a de técnico de radio e tv, sendo assim desde menino convivi com as exóticas válvulas que davam à nossa realidade um toque futurístico. O que não imaginávamos é que a telinha mágica era um fiel funcionário a serviço do consumo. E nem sempre o que vende é o que presta, ao contrario o proibido tem um sabor mais atraente.
ResponderExcluir* de meu pai
ResponderExcluirAcontece que a "estranha" é apenas MEIO, um VEÍCULO. Portanto não tem culpa de todas as mudanças, lambanças e influências...E foi recebida de braços, corpos e alma abertos sem restrição alguma. Já, quem a manipula...Bueno, aí é outra história. São os tais interesses, as intenções, ilusões...
ResponderExcluirBelo texto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHaverá inteligência?
ResponderExcluirImpressionante o tal mundo da tevê,
Universo impregnado de mesmice
Porém uma vez ou outra veja você
Produz alguma coisa além da tolice.
No mais, tudo atende ao puro irreal
Descontando cabedal de babaquice
Que não tem da inteligência o aval
Resta esquecer o que um tolo disse.
Televisão não é do bem ou do mal
Aceita qualquer coisa, até estultice
Como as que rolam na rede social.
Se conhecimento do mundo fluísse
Por essa importante veia universal
Decretada seria a morte da burrice.