ANO
9 |
Bom Dilma!
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EDIÇÃO
2933
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Primeiro cumpre-me agradecer ao prestígio oferecido à edição de
ontem deste blogue. Houve um pico com mais de quinhentos acessos até o começo
da noite. Isto antes do período de maior acesso (entre 20 e 24 horas). Também o
alerta à blogada que postei no Facebook recebia, depois de seis horas de postagem,
mais de meia centena de curtidas e 27 compartilhamentos. Recebi mensagens como ‘vou usar a blogada em discussões no meu
grupo de estudos’. No FB, destaco compartilhamento feito pela professora de
Química e mestranda da UFRGS Bruna Carminatti: Como sempre, as palavras do Mestre Attico Chassot nos ajudam a
refletir, com seriedade e compromisso, sobre as situações importantes da
sociedade.
Escrevo, hoje, acerca de um tema polêmico: o aborto.
Mesmo que não advogue que vá esclarecê-lo, o assunto precisa ser comentado em
termos eleitorais. Ele vem na esteira desta notícia, colhida no UOL:
A Confederação dos
Conselhos de Pastores do Brasil, que reúne diversas denominações evangélicas de
14 Estados, decidiu apoiar Aécio Neves no segundo turno, após ter feito
campanha para Marina Silva. “Vamos caminhar com Aécio e indicar nas igrejas o
voto no candidato, como aconselhamento", diz o pastor Ronaldo Pereira,
presidente da entidade que tem cerca de 2.800 pastores.
A justificativa
para ser "contra a continuidade do atual governo" é o PT defender o
Plano Nacional de Direitos Humanos. "Somos contrários ao aborto, à união
estável entre pessoas do mesmo sexo e à adoção de crianças por
homossexuais", diz Pereira.
A confiável beata Marina está fora do páreo. Opta-se, então, pelo
santo de pau oco tucano que construiu uma pista de pouso em propriedade
familiar. Aquele que escapou do bafômetro e amealha muitas outras passagens
pouco edificantes na rotina noturna de um senador, fartamente documentados na
internet e imprensa escrita. Que os ricos escolham um patricinho bom vivant... concordo. Mas, quando fiéis tementes a
Deus sejam enganados por lobos travestidos em meigas ovelhas, deve ser
denunciado.
Realmente a questão do aborto é tema de
pauta do Plano Nacional de Direitos Humanos, defendido pelo PT. Mais do que ser
contra o mesmo é preciso olhar o noticiário chocante dos últimos dias que “trouxe
à tona uma realidade a que amiúde se faz referência nos debates acerca do
aborto, mas sobre a qual ainda pesa espesso véu de abstrações e julgamentos
moralistas” (Editorial / Folha de S. Paulo, de ontem).
Mesmo sabendo que os números sejam pouco fidedignos, há um
grande contingente de mulheres vitimado pelos maus-tratos e pelas péssimas
condições em que operam as clínicas clandestinas de aborto. Há uma situação
desumana que na grande maioria dos países desenvolvidos, seria encarada com o
respeito inerente aos problemas de saúde pública.
Pode-se reprovar, ou não, a escolha de uma mulher quando busca
interromper a gravidez. Mas é difícil aceitar que se considere criminosa uma
pessoa que nada mais é do que a vítima dos que se aproveitam da clandestinidade
para cobrar pelos serviços que prestam sem controle nem escrúpulos.
A demanda pelos infames serviços de grupos não cessa de crescer.
Certamente é preciso investir mais em campanhas de esclarecimento público e na
ampliação do acesso a métodos anticoncepcionais, como a pílula do dia seguinte.
Diminuindo, assim, as gestações indesejadas, há de diminuir também o total de
mulheres que, em desespero, lançam mão do aborto, um recurso sempre traumático
(Editorial / Folha de S. Paulo, de ontem).
Mas, como indica a experiência de muitos países desenvolvidos,
seria o caso de perguntar se não é a clandestinidade que produz o crime, em vez
de, como habitualmente se pensa, ser o crime a causa da clandestinidade.
Ser a favor da
descriminalização do aborto é ser a favor da vida. Esta é a olhada
que se espera poder oferecer. Barganhar votos em cima da dor de mulheres que
vivem dramas por serem violentadas em seus corpos e em seus direitos parece
crime maior do que abortar.
Hoje, dolorosamente temos no Brasil abortos realizados por pessoas
de alto poder aquisitivo em clínicas particulares de luxo, indetectáveis, por acordo
verbal entre paciente e médico, facilitados pela enorme quantia de dinheiro que
é cobrada por um aborto e as mulheres sem poder econômico, que têm abortos
feitos no banheiro, com agulha de tricô, cabide, navalhas ou galhos. Repito: Ser a favor da descriminalização do aborto é
ser a favor da vida.
Mestre Chassot, o tema requer uma solução urgente, mas não deixa de ser polêmico. Práticas criminosas que propiciam crimes são de lugar comum em sociedades mais atrasadas como a nossa. É irrefutável que nossas mulheres estão se matando pela falta de apoio do Estado em momento tão difícil, no mesmo viés está o tráfico de drogas. Nosso vizinho, o Uruguai, nos deu exemplo de como enfrentar várias mazelas com as quais convivemos já há muito tempo, como o aborto, as drogas e os bancos. Mas falta-nos um José Mujica. Não só de idealismo se constrói uma nação. Não sou eleitor do Aécio, há muito faço apologia ao voto nulo, como protesto pacífico para com essa situação de penúria e abandono que se encontra nosso país. Mas como negar a verdadeira empreitada desastrosa que foi essa última copa? Como validar um governo que preferiu construir suntuosos estádios deixando a rede pública de saúde sucateada. Pessoas morrendo pelos corredores, a míngua sem um leito público. Trabalhei na saúde por vinte e cinco anos. Dei plantões em pronto socorro e tive contato direto com a população mais carente em seus momentos de maior aflição, e lhe afirmo meu amigo, do fundo do meu coração, nunca vi um quadro tão caótico como o que temos agora. Nem durante a ditadura, nem durante a transição com os Fernandos da vida tivemos um povo tão abandonado, tão preterido como temos hoje. Nem os planos de saúde sobreviveram à essa falta de governo que ai está. Posso estar enganado, peço perdão pela minha sinceridade, mas seu sincero amigo e eterno aprendiz, não consegue ver essa estrela de luz que o PT se diz ser.
ResponderExcluirMuito querido amigo Antônio Jorge,
Excluiracolho comovido teu desencanto. Tenho esperança. Não dá para mudar por mudar. Ainda há pouco dizia para zeladora de meu prédio. “Meus netos, provavelmente chegarão a Universidade se o Aécio for eleito. Mas os seus netos só ascenderão socialmente, talvez possam ser médicos ou engenheiros, de houver programas como o ProUni e assemelhados”. Isso os ricos não querem para os pobres.
Meu amigo,
sei que é difícil, mas mesmo neste tempo nublado, vejo que ainda há estrelas.
Querido Mestre Chassot,
ResponderExcluirem nome das mulheres, especialmente daquelas pobres, lesadas, cumprimento sua coragem e sua lucidez nesta postagem;
Como evangélica que pode estudar porque consegui uma bolsa do PROUNI aceito suas explicações quanto as possibilidade de não considerar o aborto um crime.
Marineusa Teixeira,
da Bahia que lhe ouviu falar na UEB.
Attico,
ResponderExcluire tenho toda uma admiracao pelo senhor e acompanho seus escritos porem hoje tenho que discordar. Vi na televisao uma mulher pagando para matar seu filho de 7 meses, em seu ventre. Por que? Simplesmente por que nao queria esse filho. Attico essa pessoa teve a opcao de nao fazer esse filho pois temos inumeros metodos contraceptivo. Por que nao fez a opcao de usar um deles? Nao acho que todas essas mulheres sejam inocentes. Tenho acompanhado mulheres que se envolvem com homens casados, fica, gravidas e matam seus filhos. Nao é uma decisao sobre seus corpos, é uma decisao sobre a vida do outro.
KD
Ainda somos uma sociedade conservadora. Talvez, por conta da herança religiosa e cultural judaico-cristã. No entanto, a legislação precisa proteger quem, por exemplo, sofreu abuso sexual ou mesmo tem motivos suficientes e racionais para interromper uma gravidez. Por que não se discutir abertamente? Apenas por contra ou a favor? E os poréns???
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