ANO
9 |
J U I Z D E F O R A - MG
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EDIÇÃO
2942
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Estou, uma vez mais, em Juiz
de Fora. Esta já é a segunda vez neste 2014 e, em anos mais recentes, já estive
algumas vezes. Nesta quinta participo da II Semana da FACED da Universidade Federal de Juiz de Fora. À noite estou em uma Mesa-Redonda: Experiências Inter e Multidisciplinares com Prof. Dr. Rogério de Almeida (USP);
Prof. Dra. Iduina Chaves (UFF) Comentadora: Prof. Dra. Cristhiane Cunha Flôr (UFJF).
Nas manhãs de hoje e de amanhã me envolvo com a Oficina História e Filosofia da Ciência catalisando
propostas transdisciplinares no Programa de Pós Graduação em Educação da UFJF.
Quando
cheguei ontem à Campinas recebi: Chassot, pensei que você iria postar algo sobre
o grande passo que o Vaticano deu ontem no sentido de avalizar as conquistas da
ciência. Respondi
assim para um dos mais apreciados comentadores deste blogue: Jair, no voo POA/VCP minutei algo.
Só tomara conhecimento na imprensa de hoje. Será assunto do blogue de amanhã desde
Juiz de Fora. Cumpro
o prometido.
Eis uma síntese da notícia que movimentou a imprensa da cristandade:
O papa Francisco afirmou nesta segunda-feira
a acadêmicos que as teorias do Big Bang e da Evolução são reais, não contradizem
o cristianismo e fazem parte dos planos divinos. “O Big Bang não contradiz a intervenção
criadora, mas a exige”, disse. "O desenvolvimento de cada criatura não contrasta
com o conceito de criação, pois a evolução pressupõe a criação de seres que evoluem."
No discurso foi proferido na Pontifícia Academia das Ciências, em
Roma o pontífice criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis e entendem
que Deus agiu “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”.
“A criação do mundo não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo que cria
por amor.”
Noticias mais apressadas manchetearam:
O Papa Francisco é evolucionista. Estou longe de aderir a esta tese. Diria o papa
fez profissão de fé na
proposta acientífica do ‘design inteligente’.
Claro que se fez outras leituras: O sentido bíblico é simbólico. O Papa tem coragem. Há quem diga
que a Bíblia é livro científico, que a interprete literalmente. Ele diz que não,
que é de catequese, que passa mensagem, nos campos poético e simbólico — analisa o padre jesuíta Attilio Hartmann,
mestre em Ciências da Comunicação. O Papa
explicar a realidade, explicar às famílias é algo novo em 2 mil anos de cristianismo. Concordo com meu ex-colega de Unisinos,
na Zero Hora de ontem, quanto ao detalhe de a Bíblia ser livro que traz historias
míticas. Logo não deve concorrer para leituras fundamentalistas.
Há interpretações mais ufanistas: o católico de formação e referência como cientista,
o cardiologista Fernando Lucchesi, no mesmo jornal festeja: É um papa com o pé na realidade. Não há como evitar a evolução
científica. A Bíblia é uma parábola, uma forma de expressar a condição humana, não
um livro científico. Foi uma atitude corajosa. Não adianta rasgar a realidade. Se
esse papa tivesse vivido em 1500, Galileu teria sido absolvido bem mais cedo. Estou
cada vez mais encantado com esse Papa. Para mim, já é o homem do século.
Repito: o papa fez profissão de fé na proposta
do ‘design inteligente’. Como tal, ele mostrou no mínimo uma singular coerência.
Como pastor máximo de uma igreja monoteísta, não deixou, também, de fazer inequívoca
profissão de fé criacionista, apresentando um Criador. Ou seja: jogou para as duas
torcidas: criacionistas e evolucionistas. Pode parecer pretensioso, mas lembro que
não se pode acender vela para dois senhores. Ou como recomenda o evangelho: “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar
um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro” (Lucas 16:13).
Em 2012 a Sociedade Brasileira de Genética publicou
importante manifesto. Dele fiz uso continuado em aulas e palestras. Seu texto na
íntegra está neste blogue como o anunciado ao lado. Trago um pequeno excerto aqui:
Esta
manifestação da SBG visa comunicar de forma muito clara à Sociedade Brasileira que
não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas (incluindo o Design
Inteligente) que têm sido divulgadas em algumas escolas, universidades e meios de
comunicação. Entendemos que explicações baseadas na fé e crença religiosa, e no
sobrenatural podem ser interessantes e reconfortantes para muitas pessoas, mas não
fazem parte do conteúdo da pesquisa ou de disciplinas científicas nas áreas de Biologia,
Química, Física etc.
Houve avanço nas posturas da Igreja? Sim.
Ele tirou o chão dos fundamentalistas cristãos. Viva! Mas salvo outra interpretação,
falta muito para Francisco aceitar Darwin.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCom essa ascendência no pensar questões polêmicas da doutrina católica, Francisco não corre risco de ter destino parecido com o de Jesus Cristo?
ResponderExcluirO Papa se faz, o que a todos os homens públicos é imprescindível nos dias de hoje: o Papa é um POP STAR. Nessa semana, bem a propósito, quando assistíamos a tv em um desses desconhecidos canais vimos a figura do vaqueiro, chapeu característico, calça apertada de cintura baixa, cantando apaixonadamente, simplesmente UM PADRE!
ResponderExcluirBom dia, meu caro amigo!
ResponderExcluirAcho que é provável, mas não necessariamente concreta, a opção do papa Francisco pelo Design Inteligente. É concreta sua opção pelo Criacionismo e não poderia ser diferente. Mas o Design Inteligente exige algo mais do que a simples criação: ele denota uma direção intencional da evolução, manipulada por um Divino para atingir determinado patamar (se o patamar formos nós, esperemos que Ele possa trabalhar um pouco mais). Apesar de possivelmente esta ser a vertente apoiada pelo papa, não senti esse detalhe de forma concreta.
A Criação do Universo e sua evolução aleatória parece-me outra linha de imaginação possível. E o mais interessante, estaria de acordo com várias mitologias, de diferentes partes do mundo. "Eu sou o início, o fim e o meio", são palavras ditas por Krishna a Arjuna, no Bhaghavad Gita.
Acredito que o papa Francisco tem feito avanços dentro de uma Igreja secularizada - e engessada - em suas concepções. Parece-me um papa mais humano, mais gente como a gente, como deveria-se sempre esperar do Vigário de Cristo. E acredito ser um bom papa, não por ser cristão (crente, espírita, budista, agnóstico, etc.), mas por possuir as qualidades em seu próprio caráter e modo de ser.
Grande abraço,
PAULO MARCELO
Acróstico – A fé piscou!
ResponderExcluirPor centenas de anos negou a igreja
Ao mundo que sobejavam evidências
Provando para que toda a gente veja
A Terra é redonda conforme a ciência.
Francisco num ato de extrema bravura
Repudiando ignorância que então vigia
Assume verdade que sempre perdura
Nada é como a igreja até agora dizia
Concordamos que o Big Bang é viável
Infelizmente não pensávamos assim
Seja pois também o universo instável
Com toda implicação tintim por tintim.
Outra coisa também é bom que se diga
É a evolução compatível com divina lei
Outra qualquer explicação será inimiga
Bem como criacionismo é bobeira eu sei.
Inclusive entre fé e ciência não há briga
Conhecimento científico é fundamental
Hoje a igreja retira-se de qualquer intriga
Onde há ciência fé não põe colher de pau.
Mestre Chassot,
ResponderExcluirPois o tal Francisco que se chama Jorge Mário (que Mário????) não parou de me surpreender. Pelo jeito o próprio é prova viva da Evolução Humana...
De um sujeito que fez franca oposição aos Kirschner ao liberal-libertário de hoje, que enfim tirou o véu do rosto papal e viu o que vemos desde 1900 e Darwin, tem uma astronômica distância! Quase um big bang de distância!
Como ouso ser cristão e homem de ciências ao mesmo tempo, digo que ser coerente com esses dois lados não é difícil. O segredo que não é segredo é entender a linguagem poética bíblica (cara, é bonito pra caramba o "fiat lux" do Gênesis, e não falo dos fósforos!), as metáforas, onde elas estão e onde elas não estão... Isso vale pro pessoal que acha que "agulha" é um acidente geográfico, e não um artefato de costura, conforme temos no evangelho de outro homem de ciência, o tal São Lucas, 18:18:30. Ali camelo é camelo, e agulha é agulha!
Parabenizo aos católicos e católicas pela sabedoria do Velho Francisco. O mais ilustre torcedor do San Lorenzo fez um golaço! Para os fundamentalistas, recomendo o uso do cérebro para pensar, e não o fígado... Agora, Francisco, que a igreja peça perdão pelas ações e omissões do passado, para se redimir de vez com seu povo!!
Abração, meu mestre!!!
Querido Chassot,
ResponderExcluirFiquei feliz pela blogada de hoje desde Minas Gerais. É sempre bom
saber de você. E hoje tão mais perto de Belo Horizonte, em Juiz de Fora.
Que seja fecunda a semeadura de hoje e que sejam proveitosos os encontros
e reencontros.
Não creio que tenha contribuições relevantes para a discussão que você
propõe no blog hoje. Penso no assunto e mais uma vez constato a minha
monumental ignorância. Eis a razão fundamental para declarar que serei um
pobre contribuinte. Dizer que hoje estou apertado com obrigações urgentes
seria verdade, mas seria uma covardia ("Que pena que ele está ocupado e nos
priva de suas luzes". Rs.)
Com certeza o Papa Francisco é criacionista e não poderia ser cristão,
católico, papa, de outra forma. Não é? É dogma de fé que existe um deus
criador.
Li com atenção o seu resumo da fala de Francisco e acabei apelando para os
robôs do Google, como você gosta de dizer. E como eles são bem informados e
prestativos! Encontrei a fala completa do Papa no jornal católico italiano
Avvenire (Futuro). É curtinha: sete parágrafos. Leitura complicada porque
eu não leio italiano, mas só adivinho.
Confesso que não sei interpretar que sentido o Papa dá à evolução e ao big
bang e à intervenção divina em ambos. Acho que fica claro que ele nega uma
leitura literal do Gênese, com uma criação "rápida". Ele admite que houve
seres diferentes no passado e diz que o Criador concedeu-lhes autonomia
para que evoluíssem?
Então Deus criou (provavelmente não simultaneamente) a biodiversidade e
a deixou evoluir, assegurando-lhe a continuidade de sua existência
(Francisco diz isso da continuidade explicitamente)?
É assim? Talvez, mas é muito diferente da hipótese de uma origem única da
vida em alguma forma muito simples, que depois evolui. E sem qualquer
garantia da continuidade. Acho que assim pensa a ciência. Não é?
E é engraçado e um pouco desconfortável ler o Papa falar nessa evolução
múltipla durando "séculos e milênios". Puxa! Eu diria que as unidades de
contagem nesse tema - a evolução - seriam milhões e bilhões de anos.
O Papa terá simpatia pela ideia do "design inteligente"? Talvez, mas não
me parece que ele a explicite.
Acho importante lembrar que o curto discurso dessa última segunda-feira
ocorreu numa visita protocolar no penúltimo dia de um simpósio da
Pontifícia Academia de Ciências sobre "The evolving concepts of Nature",
com sessões consecutivas sobre as concepções em transformação na física,
na astrofísica, na biologia, na bioquímica, nas neurociências, nas
matemáticas, etc.
O Papa deu as boas vindas aos participantes e desejou-lhes sucesso no
evento e no seu trabalho. É claro que numa fala nessas circunstâncias ele
não concluiria dizendo que terminava ali e estava à disposição para o
debate e para esclarecimentos.
Concluindo, concordo com o seu comentarista Paulo Marcelo em algo muito
importante. Francisco me parece uma boa pessoa. Até pela escolha do seu
nome papal. E a Pontifícia Academia funciona sem interferência do Papa e
sem restrições religiosas. Por exemplo, um de seus membros é o Stephen
Hawkings, declaradamente ateu.
Um grande abraço.
Tavinho
Caro Attico,
ResponderExcluirobrigado por me chamar para esta blogada. Repercuti essa noticia no meu mural do FaceBook também. Não por que ache uma grande novidade que o papa ou a igreja católica aceitem a evolução.
Na verdade a teoria evolutiva é aceita pela igreja desde 1950, reconhecida por PioXII que a descreveu como "uma abordagem válida do desenvolvimento humano". João Paulo II reiterou a mesma coisa em 1996. Ainda em 2009 promoveu uma conferência internacional pelo 150 anos do "A origem das espécies" à que foram convidados pesquisadores do mundo todo. Tem, é claro, alguns que não concordam, como o cardeal Christoff Schoenborn, de Viena, ex-estudante e amigo do papa Bento 16, que gerou polêmica ao afirmar que a teoria da seleção natural de Darwin era incompatível com a fé cristã. Mas são absoluta minoria e estão isolados. Tanto assim que à mencionada conferência os criacionistas, incluídos do defensores da DI, não foram convidados.
Discordo de ti que Francisco tenha feito profissão de fé para o DI. Acho que o que ele fez é algo que esta aceito faz tempo que é aceitar um único ato de criação lá bem no início, após o qual todo continuou de forma totalmente natural, seguindo as "regras" naturais. As hipóteses criacionistas, incluídas as do DI, requerem uma intervenção direta em constante, onde o criador "designer", desenhava cada uma das formas básicas e nem tão básicas. Pouca ou nenhuma variação significativa depois disso teria se seguido, no máximo um pouco de variação, mas não mudanças de tipos ou surgimento de novos tipos.
Concluindo, é muito bom ver uma posição como esta no papa Francisco, e na igreja católica como um todo, sobre tudo pelo contraste com as posições fundamentalistas de algumas igrejas evangélias que insistem no literalismos bíblico ou o disfarçam com a tal de DI. Mas não é novidade de forma alguma. A igreja católica, tal vez por velha, aprendeu que se opor à ciência não é uma boa estratégia (como diz Martin Fierro, "el diablo sabe por diablo, pero más sabe por viejo"...) e que é mais importante para ela se preocupar com outros aspectos da vida dos seu fieis. Acredito que a grande repercussão que estas declarações tiveram é pela aura de progressista e a imagem de reformador que marcou Francisco desde o início do seu pontificado.
Que se celebre!
Um grande abraço
Mario
Estimadíssimo amigo e mestre.
ResponderExcluirEm primeiro lugar, parabéns pelo post que focaliza a Reforma Luterana, evento histórico de consequências profundas, inclusive para a educação, já que Lutero foi a primeira voz a se levantar em defesa da escola pública gratuita para meninos e meninas, ricos e pobres. Com relação ao Sumo Pontífice, creio que está longe de ser um darwinista... Ele busca compatibilizar a fé com a ciência, seguindo os passos de tantos outros religiosos. A proposta do design inteligente é um argumento persuasivo, aceito por muitos auditórios. Mas não pode ser nem rejeitada nem aceita de modo definitivo... Sobre assunto tão fascinante, ou seja, a origem de tudo, dou meus pitacos no texto "O Uno e as Religiões" (http://educacao2010.criarumblog.com). Um grande abraço do amigo
Renato
Muito atentos
ResponderExcluirVanderlei, Antonio, Paulo Marcelo, Jair, Carlos Augusto, Tavinho, Mario e Renato,
agradeço a cada um de vocês pelo enriquecimento que fizeram à blogada de ontem. A leitura dos comentários aditados mostra o quanto vocês ampliaram a discussão que a fala pontifícia produziu. Devo reconhecer o quão dispares são as questões trazidas e de maneira geral foram muito condescendentes com Francisco.
O Vanderlei, como bom filósofo, vê o papa com suas posturas salvando-se de uma crucifixão.
O Antônio confere ao papa jogadas para plateia e que nisso ele sai-se muito bem.
O Paulo Marcelo traz do Pernambuco uma análise mais estendida do Design Inteligente mostrando exigências e vê no papa capacitado para transitar no paraíso da Ciência. Paulo Marcelo recebeu a adesão do Tavinho.
O poeta Jair não fugiu ao seu harmônico poetar. Produziu um acróstico muito rimado com PAPA FRANCISCO É O BICHO. Realmente para o aviador que está pousado em Florianópolis a rima vem aos borbotões.
O Carlos Augusto, biólogo crítico, vê no papa Francisco prova viva da evolução. Então um paradoxo, o pode não ser evolucionista, mas faz a Igreja evoluir.
O mineiro Tavinho vai longe, Primeiro se diz não ter nada a trazer, mas vai longe e destaca a evolução extensa (parece aceita pelo papa) versus a criação rápida (seis dias) do Gênesis.
O paleontólogo Mário traz uma muito oportuna revisão histórica do pensamento de diferentes papas, desde 1950 com Pio XII. Mario é o que faz a maior defesa do papa. Diria, como broma, que o Mario é suspeito, pois como o papa é argentino e se chama Mario. Para ele o papa não esposa o criacionismo.
Por fim o filósofo Renato, traz considerações e termina oferecendo sobre assunto tão fascinante, ou seja, a origem de tudo, dou meus pitacos no texto "O Uno e as Religiões" (http://educacao2010.criarumblog.com).
Como vemos todos temos reservas, mas concordo com o Mario há que celebrar.
Obrigado pelas ajudas,
ac
Ser alfabetizado cientificamente significa não fazer sensacionalismo em cima das chamadas divulgações de cunho científico. Uma notícia desse porte deve ser divulgada e tratada com cuidado. Autoridades da área como o Professor Attico Chassot tratam da temática com clareza. Vale a pena ler. Bárbara Maciel, Dayanne Araujo, Rafael Ribeiro,Angelo Martins e demais alunos da Universidade Estadual do Amapá
ResponderExcluirEsse PAPA é muito estratégico. Ele admite o evolucionismo apartir do criacionismo. Na verdade ele estabelece que o criacionismo antecede o evolucionismo, o que propõe a hegemonia da Fé sobre a ciência.
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