ANO
9 |
Bom Dilma!
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EDIÇÃO
2935
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A semana nervosa chega à metade. A quarta-feira — o dia de
Mercúrio — em alemão foge ao culto a deuses. Conta-se que, um monge piedoso
querendo exorcizar o paganismo celebrado na nominação dos dias da semana,
conseguiu que este dia fosse chamado de Mittwoch: meio da semana.
Dentro da contribuição que procuro trazer à alfabetização política, comparto hoje um texto de Ricardo Melo, 58,
jornalista. Na Folha, foi entre outras funções, editor da 'Primeira Página'.
Também foi chefe de Redação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), editor-chefe
do 'Diário de S. Paulo', do 'Jornal da Band' e do 'Jornal da Globo'. Na
juventude, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil 'Liberdade
e Luta' ('Libelu'), de orientação trotskista. O ortigo foi publicado na
segunda, no caderno Eleições da Folha de S. Paulo.
É
MENTIRA OU É VERDADE? NÃO É UMA QUESTÃO DE PONTO DE VISTA
A frase atribuída ao nazista Joseph Goebbels — uma mentira
repetida mil vezes se transforma em verdade — tem sido a resposta preferida do
candidato Aécio Neves e sua equipe diante de críticas. O problema é quando a
verdade, repetida mil vezes, continua sendo verdade, sem contraponto ou
contraditório capaz de desmenti-la.
O candidato tucano construiu uma pista de pouso em propriedade
familiar. A chave da mordomia ficava na mão de parentes, os quais, aliás, ele
empregou aos montes. Tudo documentado. Nenhum estudo, mesmo fabricado às
pressas, provou a necessidade da obra. Isso não é uma questão íntima. É
dinheiro público queimado para fins pessoais. Existe uma ação em curso, por
improbidade administrativa. É um fato, não depoimento selecionado de delação
desesperada, desculpe, premiada.
O governo de Minas destinou uma gorda fatia de publicidade para
empresas de telecomunicações dos Neves. Nem o candidato nega. É deselegante
perguntar como o rapaz lida quando se encontram o público e o privado? Cabe aos
brasileiros descobrir o montante, pois envolve gente disputando a Presidência.
"Não registramos quanto foi gasto", respondem o tucano e seu staff.
Documentos do Tribunal de Contas de Minas Gerais apontavam
suspeitas de irregularidades no governo do atual senador. A capivara foi citada
durante um dos debates. Horas depois, a papelada desapareceu do site oficial do
tribunal, uma instância pública(!). Tomou Doril. Sumiu. E nada se faz a
respeito.
O drible no bafômetro e outros momentos pouco edificantes da
rotina noturna do senador estão fartamente documentados na internet e imprensa
escrita. Não são montagem, assim como não é falso o stand-up daquele artista de
fim de noite que relacionou Maradona e Aécio quanto ao consumo de drogas. Hoje
o mesmo personagem posa de aecista desde criancinha. Mas nunca desmentiu a
performance.
Balela a história de que trazer a público tudo isso é baixaria
etc, etc. Isso é falta de argumento de quem não tem resposta.
Pense bem: quantas vezes já não deparamos com indivíduos
brilhantes (o que não é propriamente o caso...), mas com uma trajetória
errática, que seríamos incapazes de indicar para uma função, mesmo menor, numa
empresa? Não há nisso preconceito nenhum; somente o desejo de saber qual é a
pessoa certa para o lugar certo.
"Ah, mas e os programas, as propostas?", indagam os
puritanos habituais. Bem, todos conhecem o que pensam tanto Dilma quanto Aécio
e seu braço direito, Armínio Fraga.
A primeira pelo que ela e seu partido fizeram nos últimos tempos
no Planalto. Aécio, pelo que ele e sua equipe revelam em entrevistas e
jantares. Coisas como corte de gastos sociais, esvaziamento de bancos públicos,
encolhimento de salários, facão nas empresas, tarifaço, mudança nas leis
trabalhistas e por aí vai. As tais medidas impopulares. Para ele, sem isto o
Brasil vai piorar. Acredite quem quiser.
Com a campanha perto do fim, supostas regras de etiqueta surgem
para esconder o essencial. Cortina de fumaça. Estão em jogo a vida e o futuro
de milhões de pessoas. Elas têm todo o direito de conhecer quem pretende ocupar
o cargo mais alto da República.
Pesquisas são só pesquisas. A depender delas, o PT não teria
ganho no primeiro turno na Bahia e em Minas Gerais, Aécio não teria os votos
obtidos em São Paulo, e o PMDB estaria fora do segundo turno no Rio Grande do
Sul.
A questão não é satanizar institutos. É dar aos seus
levantamentos o peso que merecem. Mais do que nunca, o primeiro turno mostrou
que a palavra final é do eleitor, não de pesquisados. Da mesma forma que é
patética a tática de carimbar como mentiras verdades inapagáveis, registradas
em vídeo, áudio e folhas de papel.
Em verdades ou mentiras, tanto lá como cá, a verdade é uma só; político nesse nosso mundinho do menor ou maior, ingresse pobre ou rico mas sempre fica rico, ou quando menos, abastado. E se alguém quiser ter alguma coisa, mesmo as atribuídas a obrigação da atividade política, que seja "amigo do rei", caso contrário nada feito. Não é raro se ver nesses municípios paupérrimos, de população de pés descalços, casas de pau a pique, de economia de subsistência miserável, mas o staff político lá está, seu prefeito de carrão, casa boa, prestígio etc. "!Mujicas" são raríssimos, diria até que se tornarão lenda.
ResponderExcluirMujicas defendem educação em primeiro, segundo, terceiro, quarto lugar. É com povo educado que as oportunidades são criadas. Com educação também se pode esclarecer conceitos como política, democracia e outros. Pela educação se pode chegar à política. Porque ouvir sobre política apenas nesta época...Ah, isso não é política, não!!! Então, a bandeira a levantar é a da Educação (de qualidade). Depois de 1988 houveram conquistas sociais importantes. Não se pode negar. Ainda se carece muito mais. Como nosso ex-presidente João Goulart: "O Brasil precisa viver sua economia transformada em desenvolvimento social". Parece que a turma que se instalou desde 1500 nesta fartas terras dificultam tal sonho (tão necessário). Por isso também acredito, como Mujica, o mestre Attico e o Antonio, que o caminho será pela Educação. Gostaria de outra alternativa para presidente. Mas...Aécio e sua retórica produzida em estúdio não convence. Grande abraço.
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