ANO
9 |
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2929
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Nesta
quinta, de muito granizo e de continuadas chuvaradas no Rio Grande do Sul,
envolvi-me em leituras e escritos acerca do começo da modernidade, para
compreender um pouco mais a Escola e a Universidade de então. Lateralmente
buscava algo para a blogada de hoje. Lembrei-me que amanhã, dia 18 de outubro,
dia de são Lucas é o dia do médico. São Lucas, o evangelista, deve ter sido um
médico grego, contemporâneo dos apóstolos, sendo mencionado por Paulo em
epistolas.
Essas
evocações catalisaram a trazida de algo acerca da História da Medicina. Ajudou-me
o Prof.Dr.HC João Bosco Botelho (Dr. HC significa doutor Honoris Causa). Ele é
editor de um excelente blogue sobre o tema — www.historiadamedicina.med.br/
— dele ofereço um texto que traz uma visão panorâmica da Medicina. A ilustração
não pertence à fonte citada. A publicação deste texto e, também, uma homenagem
aos médicos, que cumprimento por antecipação.
TRATAMENTOS DA DOR: DA IDADE MÉDIA
AO SÉCULO 20 Os tratamentos oferecidos pela Medicina para vencer a dor, na
Europa central, no medievo, estavam atados aos preceitos de Hipócrates, século
4 a.C., e Galeno, século 1 d.C.: o desequilíbrio dos humores levaria às doenças
e, em consequência, alteraria os temperamentos, causando dores.
O famoso médico francês Guy de
Chauliac, em 1363, na sua obra Grande
Cirurgia, definiu a dor como sendo qualquer fator que determinasse o
desequilíbrio dos humores. Como todos os tratamentos estavam baseados na
intenção de equilibrar os humores por meio de retirada intencional de sangue e
secreções do corpo, os tratamentos consistiam nas sangrias, vomitórios,
cataplasmas e vegetais, como a salsaparrilha, para provocar a diarreia.
Novos entendimentos da dor atados ao
sofrimento coletivo foram provocados quando os países europeus, além de
suportarem as mortes provocadas nas guerras intestinas, foram dizimados pela
peste negra. As terríveis dores e
sofrimentos antecedendo a morte inevitável nos pestilentos, mesmo sendo
interpretados como sinais da cólera de Deus, empurraram a busca de respostas
que pudessem cessar o desespero.
O Renascimento trouxe o desvendar
dos corpos. Os estudos da anatomia são retomados e, em 1543, é publicado o
extraordinário livro La fabrique du corps
humain, de André Vesálio. Os corpos abertos e o afrouxamento das proibições
pela Igreja impulsionam novos avanços.
As mudanças já iniciadas, o
desvendar dos corpos pela anatomia e a posição dos filósofos, mesmo com a
condenação de Galileu, em 1633, instigam novas leituras da dor, acompanhadas de
inevitáveis rupturas com o cristianismo.
Destacam-se, no século 17, o médico
inglês Harvey, em 1628, com a publicação do Exercitatio
anatomica de motu cordis et sanguinis in anima, demonstrando os erros de
Galeno sobre a circulação do sangue e Marcelo Malpighi, em 1666, com o livro De viscerum structura inaugurando
micrologia. Esses livros determinaram o início do processo de enfraquecimento
das teorias de Hipócrates e Galeno, até então, aceitas como dogmas, nas
universidades cristãs.
Na segunda metade do século 18, os
intelectuais, laicizaram a dor. Na França, as rápidas mudanças sociais
provocadas pela revolução trouxeram à lembrança os horrores da peste negra e
induziram a maior valorização da dor sob a compreensão laica. Entre essas
mudanças, destacaram-se: proibição dos sepultamentos nas igrejas, construção
dos esgotos e reservatórios de água potável, normas rígidas de higiene pública,
desvinculação das universidades do poder eclesial e construção de hospitais sem
laço administrativo com a Igreja.
As práticas médicas oitocentistas
retomaram nova tentativa de ordenar a dor, adaptando-a às concepções da
fisiologia e do pensamento micrológico: dor tensiva (redução da fratura); dor
pulsátil (acompanha o ritmo das artérias); dor gradual (presença de líquido na
cavidade, como da hidropisia; dor pruriginosa (no prurido intenso, como na
sarna).
O século 19 colhendo os frutos da
anatomia e da fisiologia amadurece a busca da dor no nível celular, em estreita
consonância com a tendência de levar a doença à célula, iniciada no século 17
por Marcelo Malpighi.
No século 20, os progressos para os
tratamentos das dores alcançaram dimensão nunca imaginada ser possível. Os
estudos genéticos possibilitaram que os analgésicos conseguissem controlar a
dor lancinante contínua, como as causadas por alguns tipos de câncer na fase
terminal.
BOTELHO, João Bosco. TRATAMENTOS
DA DOR: DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO 20 www.historiadamedicina.med.br (Acesso no dia 16/10/2014).
Graças ao avanço da medicina, hoje, só não se tem, via medicina, a cura das dores do sentimento, da alma e da consciência. Mas, ainda, a pior dor é a dor da inconsequência da nossa ignorância refletida na desumanização. Isso dói...
ResponderExcluirInfelizmente a medicina ainda é de uma forma geral, profissão exercida pela elite, ou seja a maioria dos profissionais não experimenta os sofrimentos e dores afetos à uma vida dura. Basta observarmos a entrada dos estudantes nas grandes universidades públicas para constatarmos o nível financeiro tanto dos pais ao deixarem e buscarem seus filhos em bons carros, quando não os próprios estudantes chegam nos seus. Essa peculiaridade tem o seu reflexo no atendimento, pessoas de menor potencial financeiro, o que é a esmagadora maioria, encontra um profissional lacônico e desatento que pouco presta atenção à queixa do enfermo.
ResponderExcluirLouve-se Hipócrates!
ResponderExcluirMedicina tem história comprida
É do tempo de bruxos e magos
Desde lá melhor torna a vida.
Incute a esperança com afago.
Contudo médicos somos todos
Onde existe doença haverá cura
Só porque não somos bobos
Então achar o que se procura.
Logo de bruxo temos um pouco
Ou nos achamos curandeiros
Uns tantos se tornam loucos.
Coitados dos velhos pioneiros
Ouviam com órgãos moucos
Só contavam com açougueiros.