ANO
9 |
SANTA CRUZ DO SUL - RS
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EDIÇÃO
2915
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Esta edição ocorre dentro do 34º EDEQ. Não vou olhar, aqui e
agora, olhar esta caminhada. Mostrei na edição ontem que isso começou em 1980.
Mesmo que evocações — trazidas pelo reencontro, aqui na UNISC, de colegas,
especialmente aqueles que estão nesta ciranda há muito tempo — nos permitam
dizer que ‘parece que foi ontem’.
Com Ayrton Martins um dos pioneiros |
Foi emocionante encontrar pelo menos três gerações de
participantes. Há aqueles que são os da primeira hora com continuada presença [Maurivan
G. Ramos (o pioneiro dos pioneiros), Ayrton Martins, Otávio Maldaner, Clóvia
Mistura, Wolmar Severo, Lenir Zanon, Ademar Lauxen, Mara Braibante, Moacir
Langoni de Souza, Vicente Robaina, Andrea Horta....]. Há uma segunda geração:
são os nossos alunos assumindo já há uns anos a liderança e há ainda um grupo majoritário
que são jovens estudantes que já vem ao evento há dois ou três anos.
Era esse público descortinava em auditório lotado, com quase 500
participantes, enquanto fazia a conferência de abertura. Não sei porque, era
confortável, ou melhor, estimulante ver a primeira geração me prestigiando
atenta. Parece que eles eram meus ouvintes privilegiados. A tarde dei um
minicurso para cerca de 25 pessoas, todas muito jovens. À noite houve um jantar
de confraternização, para o qual todos os participante foram convidado sem
necessidade de taxa de adesão. Tivemos então uma amostra da Oktoberfest, com
grupos folclóricos encantando com danças alemãos.
Mas volto à Escola que nestes dois dias é central em nossas
preocupações. A Escola para qual buscamos ações inovadores, mudou muito. Ou
melhor, foi mudada. Quando pergunto se Escola mudou ou foi mudado, permito-me
sempre evocar um aprendizado de língua portuguesa: voz ativa e voz passiva,
Sim! A Escola foi passivamente mudada.
Se tivesse que buscar dentre as muitas ações, que de uma maneira
particular modificaram a Escola, pelo avassalador (e revolucionário) advento
das novas tecnologias, talvez, destacasse os cada vez mais tênues limites entre o humano/não humano. Estes
nos fazem não darmo-nos conta de quanto os robôs são co-partícipes de nosso
cotidiano. Basta dizer que são estes (aqueles dos buscadores como o Google, por
exemplo) que iniciam nossas pesquisas.
Às vezes, em minhas falas refiro que
quando, recebo uma dissertação ou tese para exame, por primeiro deleito-me na
leitura dos agradecimentos. Isto me oferta um bom perfil do autor. “Agradeço a
Deus, que foi o inspirador deste trabalho” (sempre temo ler um trabalho com tal
gratidão, pois certamente não há o que retocar em um trabalho assim, pois o
Criador não iria inspirar nada que não estivesse absolutamente certo, já que
Ele é a Verdade). “Agradeço ao meu marido por ter suportado estoicamente viver várias
horas longe de mim durante a realização desta tese” (não ouso imaginar o quanto
esse estoico senhor possa também ter se sentido aliviado por não precisar se
envolver no tesear). “Agradeço ao meu dedicado orientador por generosamente ser
meu incondicional aliado intelectual” (de maneira generosa! Não, ele é pago
para ser orientador e ainda engo(r)da seu Lattes).
Poderia trazer aqui uma extensa
litania de agradecimentos, que vão desde a babá de meu filho à sogra que soube
ser avó muito dedicada de minhas crianças. E poderia trazer mais uma dezena de
salmodiares de reconhecimento.
Por mais numeroso que seja o meu
amealhar destas expressões de gratidão, ainda não encontrei uma que devia estar
nos agradecimentos de todos os trabalhos acadêmicos mais recentes (livros, artigos,
teses, dissertações, monografias...): “Agradeço aos robôs do Google que foram
expeditos na busca e eventual tradução de artigos e livros, nas mais distantes
geografias”. Quem achar imerecido tal gratidão é porque não fez trabalho de
pesquisa na era pré-google. O que era então fazer uma revisão de literatura.
Hoje, cada uma e cada um de nós somos
mais ou menos ciborgue [Do inglês: cyborg, abreviatura de cyb(ernetic)
org(anism)]. Suposto ser humano ao qual se adaptam dispositivos mecânicos
que comandam suas funções fisiológicas vitais. Eu, enquanto uso lentes ou tenho
implantes dentários, torno-me ciborgue, pois tenho uma parte não humana¸ Assim,
pelo acoplamento que temos, por exemplo, à memória de nosso computador pessoal
ou ao telefone celular, apêndices de nossa memória orgânica, somos todos
ciborgues.
Quantos há que hoje não podem viver
no mundo sem depender de memórias eletrônicas. Podemos dizer que ciborgue é
“qualquer forma de acoplamento entre ser humano e máquina” Há os que
classificam como ciborgues, pessoas com implantes como marca-passos, próteses e
até imunizações por vacinas, juntamente com organismos transgênicos, produzidos
pela bioengenharia.
Hoje, essa tendência de dividir o
mundo duas zonas – a dos seres vivos e aquela da matéria inanimada – rompe-se
continuamente devido a um equilíbrio entre a parte vivente e parte inerte do
mundo. A vida escapa às mãos do biólogo para passar às mãos do físico.
O preocupante nessa escalada tecnológica é que também nós estamos ficando cada vez mais descartáveis tal qual os aparatos eletrônicos. Não se fala mais ao telefone nos famigerados call center com pessoas, muita embora as vozes o sejam, e ridiculamente cada vez mais tentem dar um tom informal a gravação. Não vemos mais pessoas nas cancelas dos estacionamentos, temos só lacônicos "Aperte o botão" "siga em frente". No Japão estão substituindo os professores por robots em fase experimental. Vivemos o mundo de Matrix onde a vida imita a arte.
ResponderExcluirSobre robôs
ResponderExcluirEstá nascendo um super ser humano. Mas, ao contrário do super-homem de Nietzsche, este novo ser não é uno, não é uma unidade viva isolada, trata-se de um organismo coletivo mais complexo e mais forte que seus componentes. Também, ao contrário do que Arthur C. Clark escreveu em “2001, uma odisséia no espaço”, onde mostra astronautas travando uma luta mortal contra o computador - a versão moderna do confronto entre criador e criatura, que já inspirara clássicos como Frankenstein, - o super-homem que se avizinha é mais uma interação homem-máquina que qualquer outra coisa.
Este conjunto animado e consciente não é composto apenas de pessoas, mas de combinações que interagem, ligam, comunicam e somam homens e sistemas de transportes de energia, de comunicação, de informações e de interesses globais. A super-humanidade está longe de ser apenas um monte de gente e seus recursos. Sistemas de túneis, estradas, condutos de água, fios elétricos, chips, próteses, tubulações de gás e de ar condicionado, fios telefônicos e de fibra ótica, raios laser, aviões, satélites, trens bala, internet, computadores, GPS, e outros elementos de ligação vão encerrando os seres humanos numa teia de extrema complexidade e agregada de valores cada vez mais altos. Essa soma de coisas, cada vez mais, aumenta a sinergia do conjunto homem-máquina, tornando o homem-ser-isolado dependente, beneficiário e peça capital do todo.
Acreditemos ou não que as convergências da super-humanidade tendem a se tornar conscientes além de nós, da nossa consciência individual, não será surpresa se esse novo organismo vier a mostrar comportamento inesperado, diverso do comportamento do homem comum. É lícito presumir que o comportamento do todo seja diferente do comportamento das partes, assim como um conjunto complexo age diferente de cada uma de suas peças. Se até seres microscópicos se unem e comportam-se como organismos sensíveis agindo de forma diferente de seus componentes isolados, mais razão terá a super-humanidade de adquirir conduta própria.
Negar a existência dessa tendência do homem somar-se a seus recursos cada vez mais sofisticados e poderosos e tornar-se um novo ser, um super-homem, é como dizer que uma pessoa é a mera soma de suas células e órgãos. Entre os seres vivos mais bem sucedidos do planeta – isto é, os mais abundantes – estão aqueles que se associam para formar comunidades mais fortes que a soma de todos, como as bactérias, por exemplo. Uma bactéria é nada, duas bactérias são dois nadas, mas bilhões de bactérias matam um elefante.
Nenhum ser humano sozinho é capaz de falar com outro, em tempo real, a milhares de quilômetros de distância. Nenhum ser humano sozinho poderia chegar à Lua. Essas são aptidões resultantes da super-humanidade.
Nossas habilidades globais e mais espetaculares fazem lembrar a dos insetos sociais como as formigas, com a diferença que nosso formigueiro é a biosfera inteira.
Continuando...
ResponderExcluirEmbora pareça que a associação do Homo sapiens com os instrumentos e meios (leia-se tecnologia) seja coisa recente, não é. As culturas da humanidade vão da idade da pedra à idade do ferro passando pela idade do bronze, e há quem diga que estamos na idade do silício, assim, somos uma humanidade “de ponta” na acepção da palavra.
Desde o momento que o homem usou a lança e se associou a outros para matar o animal mais forte e mais rápido que ele, estava criando os alicerces da proto super-humanidade, estava projetando o super-homem do futuro. Se o homem vier a residir no espaço e viajar para além do sistema solar, será obra da super-humanidade.
As máquinas não são ameaças à existência humana, são sua extensão natural e necessária. Com certeza, para que haja condições do homem colonizar o espaço, será necessária uma integração cada vez maior entre o homem e a máquina através de softwares sofisticados, como neurônios de um cérebro planetal ligados por bilhões de sinapses.
A despeito do tom apocalíptico dos ambientalistas (confesso, incluo-me entre eles às vezes), nossa espécie caminha para uma integração cada vez maior com o meio ambiente. Entendendo-se que o meio ambiente vai sendo modificado e adaptado às necessidades e aspirações humanas, de tal modo que, dentro de milênios não mais parecerá com o que é hoje ou o que foi no passado.
Se algum cataclismo global não encerrar a carreira do Homo sapiens prematuramente, dentro de alguns milênios, uma nova variedade primata, o Homo machina sapiens será o mamífero predominante no Planeta Azul. JAIR, Floripa, 07/02/10.