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quinta-feira, 8 de maio de 2014

8. — ACERCA DE SOPAS DE LETRINHAS

ANO
 8
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EDIÇÃO
 2767

Mesmo que o mundo da copa nos seja enfiado goela abaixo — penso que é a primeira vez que escrevo essa locução menos polida — 2014 é ano de eleição. A este propósito trago, mais uma vez, a colaboração do professor e sociólogo José Carneiro, que publicou As siglas dos partidos políticos no domingo na imprensa de Belém. A trazida deste artigo, também, é um prelibar no estar em breve, por uma semana, na capital do Pará. Na agenda de então estará rever queridos amigos.
As siglas dos partidos políticos Este assunto, a rigor, não mereceria vir à tona neste espaço se não fosse pelo chamado horário político “gratuito” reservado aos partidos políticos, que me compeliu a isso. Siglas serão sempre siglas, uma reunião de letras a identificar algum nome próprio, facilitando a comunicação em torno dele. Em geral os partidos políticos, pelo menos no Brasil, guardam uma tradição de serem conhecidos apenas por sua sigla, pouco tendo a ver com o seu nome completo. E isso tem se mantido recorrentemente. O que não se pode negar é uma outra tradição, extremamente perniciosa, que cerca as instituições representativas do eleitorado brasileiro. Refiro-me à arquiconhecida fragilidade do nosso quadro partidário, que desde a república cada vez mais se distancia do seu alvo determinado – o eleitorado – porém sempre se munindo de estratégias para conquistar esse expressiva parcela da população e onde o voto, infelizmente, ainda é obrigatório. Os partidos brasileiros são entidades naturalmente frágeis em suas origens, por causa dos interesses nem sempre autênticos ou legítimos que norteiam os seus surgimentos, suas concepções, suas formações. É uma realidade corriqueira entre os partidos ditos burgueses, na sua caminhada em busca da conquista do poder, afinal o objetivo principal de todas essas organizações representativas. O problema brasileiro é que esses interesses encontraram campo fértil entre um eleitorado relativamente inconsciente, suscetível à sedução das palavras (promessas vãs, discursos vazios, panfletarismo) ou ao recebimentos de benesses diversas (emprego, vantagens materiais) em troca de voto. Nada disso foi incomum no país, ao longo de todo o período republicano.
No século XX, dois partidos surgiram no Brasil como exceção a essa regra: o Partido Comunista, nas primeiras décadas e o Partido dos Trabalhadores, nas últimas. Ambos oriundos de posições ideológicas firmes, na luta contra o status quo e o autoritarismo do Estado, empalmaram dois tipos de eleitorado. O PC inserindo-se no novo proletariado urbano, a classe emergente por força da industrialização nascente no país. O PT galvanizando o apoio dos trabalhadores consolidados na moderna indústria e na expansão das cidades, sobretudo as capitais brasileiras. Ambos, como se viu por meio da história real, naufragaram nos seus próprios erros e ambições, tendo sido corroídos em suas entranhas pelo descrédito e lançados na vala comum em que submerge a estrutura partidária brasileira.
O que resta, pode-se dizer sem ironia, é o resto, ou seja, partidos com simulacros de programas, sequer estudados pelos eleitores e, sobretudo, as mais espúrias alianças partidárias que os mencionados PC e PT sempre profligavam e acabaram, lamentavelmente, iguais a todos os outros. Espero que ninguém se surpreenda com o que estou escrevendo, a mais pura e irrefragável verdade. Está ai para quem quiser ver, ler e conhecer. Fechando esse triste quadro a televisão vem nos mostrar que os dirigentes nem sequer ousam pronunciar o nome completo do partido, com receio, quiçá, de que as palavras acabem dizendo ou significando menos do que a eufônica sigla. Assisti todo o programa na semana passada e, durante dez minutos, só se falava na sigla e só aparecia, por escrito, a mesma sigla, sem nada do nome. É uma prova, inconteste, de que os partidos forjados em interesses menores nada têm mesmo a apresentar, nem sequer o nome por trás de qual se escondem esses interesses tão escusos. Isso vai perdurar por muito tempo ainda?

4 comentários:

  1. O lamentavel é que nem os pequenos, nem os grandes trazem algo novo, caímos no marasmo de um barco sem leme ao sabor do vento.

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  2. A sopa

    Pois quer a nossa frágil democracia
    Da liberdade do voto colher benesse
    Cada partido como jamais se veria
    Promete ao povo e depois esquece.

    Entretanto isso é somente culinária
    Sendo fácil observar nas entrelinhas
    Um partido é apenas indumentária
    Que se veste com sopa de letrinhas.

    Os partidos políticos sem conteúdo
    Grassam no horário grátis da tevê
    Portanto se permitem prometer tudo
    Acabam convencendo também você.

    Porém não é necessário ter estudo
    Pra notar que é merda o que se vê.

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  3. Dado o fato de que uma (quase) atrofia cerebral acomete boa parte de nossos (futuros?) eleitores por razões óbvias: Aparência, Superficialidade, Individualismo, Hegemonia do material..., fica difícil esperançar uma ruptura para se visualizar salutares possibilidades.
    Afora a aversão por POLÍTICA. Mudar, como???!!!

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  4. Caro amigo,


    Ainda não havia agradecido sua renovada generosidade por estar fora de Belém com muito trabalho. Agora cheguei a São Paulo e tive a chance de curtir sua postagem com o meu texto. Adorei as ilustrações. E estaremos lhe aguardando, com muita alegria e a honra de sempre, em recebê-lo.
    Abs
    José Carneiro

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