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sábado, 3 de maio de 2014

03. — OS CADA VEZ MAIS TÊNUES LIMITES ENTRE O HUMANO/NÃO HUMANO


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2762

Tenho de maneira muito continuada falado acerca da necessidade de estarmos atentos aos cada vez mais tênues limites entre o humano/não humano’. Recordo de um texto seminal que preparei para o IV Congresso Internacional de Educação que ocorreu na UNISINOS, no outono de 2005.
Um tempo depois, fiz com aquela fala quase uma bricolagem para transformá-la no capítulo A Educação nas fronteiras do Humano e as relações curriculares, que está no livro Sete escritos sobre Educação e Ciências (São Paulo: Cortez, 2008), onde refiro, inclusive, discussões de teólogos acerca de batizar ou não robôs. Hoje já há situações possíveis de criminalizar robôs por morte de pacientes por erro na administração de medicamentos em uma UTI hospitalar.
Olhando, agora, estes textos e mais especialmente os exemplos trazidos nos mesmos, há a sensação que estes envelheceram prematuramente. Aliás, muito provavelmente, não há área em que nossos textos envelheçam, ou quase caduquem, tão rapidamente como esta em que se investiga nossa associação com as máquinas. Aqui, uma observação basilar: não me refiro ao uso de máquinas, mas à nossa associação simbiôntica com as mesmas.
Assim, talvez não caiba tanto discutirmos os limites do tecnohumanismo, deste ‘mundo-computador’ onde somos mais ou menos ciborgues [A palavra não está dicionarizada na última edição do Houaiss. Está no Aurélio Século XXI “Suposto ser humano ao qual se adaptam dispositivos mecânicos que comandam suas funções fisiológicas vitais.” Pode ser encontrada com mais detalhes em http://en.wikipedia.org/wiki/Cyborg. Na Wikipédia, em português, o verbete é muito recente (depois de 2008)]. Esse termo é da década de 60, do século 20, foi criado pela junção das palavras cybernetic organism, usado para designar uma criatura na qual há uma mistura de partes orgânicas e mecânicas. Desde então, esse termo tem sido usado com muita flexibilidade. Lenoir (2005, p. 51)* diz que ciborgue é “qualquer forma de acoplamento entre ser humano e máquina”.
 Há os que classificam como ciborgues, pessoas com implantes como marca-passos, próteses e até imunizações por vacinas, juntamente com organismos transgênicos, produzidos pela bioengenharia. Assim, pelo acoplamento que temos, por exemplo, a memória de nosso computador pessoal, que é um apêndice de nossa memória orgânica, somos todos ciborgues. Eu me digo ciborgue por não ter mais minha dentição natural e tê-la formada por pinos de titânio e dentes de acrílico.
Quantos há que hoje não podem viver no mundo real sem depender de memória virtual. Hoje portar um telefone celular nos faz dispor de uma memória auxiliar. A significativa dependência que temos desta memória não-biológica, talvez, possa ser traduzida pela especificidade dos telefones de cada pessoa. Se meu celular está indisponível (sem bateria, por exemplo), não adianta, na maioria das situações, outra pessoa emprestar-me o seu. Eu não sei os números para quem preciso ligar. Isso é uma realidade que inexistia quando este livro foi escrito no ocaso do século 20, quando nos iniciamos com computadores e que precisa contextualizar as leituras de agora.
Na blogada dominical de amanhã vou trazer que não são apenas as mensagens eletrônicas que nos são enviadas por robôs. Isso, também ocorre com aquelas via postal.
* LENOIR, Timothy. 2005. Tecnohumanismo: réquiem para o ciborgue. p. 51-69. In. REGNER, Anna Carolina; RODHEN, Luiz. (org). A filosofia e a ciência redesenham horizontes. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 380p.

2 comentários:

  1. Tema instigante. Mesmo que meus conhecimentos sobre tal são pífios ouso dizer que desde que venha a somar tendo em vista o bem é louvável. Acredito que a ciência, acima de tudo, tem como função primordial ajudar o ser humano a melhorar sua condição de viver.
    Aos genuinamente humanos e aos cyborgs, um ensolarado sábado!

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  2. Nós robôs

    Olharmos para robotização convém
    Aos poucos nos parecemos ciborgues
    Futuro de nós robôs avariados advém
    Cujo destino é sucata e não morgue.

    Seremos meio máquina e meio gente
    Nosso cérebro tomando as decisões
    E a máquina escrava completamente?
    Não sabemos, e aí reside os senões.

    Devemos portanto acumular medo?
    De um dia máquina rebelde nos matar?
    E passar então a escrever o enredo?

    Acho que não há por que se preocupar
    Se houver perigo pressionemos o dedo
    Naquele tradicional botão pra desligar.

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