ANO
8 |
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EDIÇÃO
2762
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Tenho
de maneira muito continuada falado acerca da necessidade de estarmos atentos aos
‘cada vez mais tênues limites entre o
humano/não humano’. Recordo de um texto seminal que preparei para o IV Congresso Internacional de Educação
que ocorreu na UNISINOS, no outono de 2005.
Um
tempo depois, fiz com aquela fala quase uma bricolagem para transformá-la no
capítulo A Educação nas fronteiras do
Humano e as relações curriculares, que está no livro Sete escritos sobre Educação e Ciências (São Paulo: Cortez, 2008),
onde refiro, inclusive, discussões de teólogos acerca de batizar ou não robôs. Hoje
já há situações possíveis de criminalizar robôs por morte de pacientes por erro
na administração de medicamentos em uma UTI hospitalar.
Olhando,
agora, estes textos e mais especialmente os exemplos trazidos nos mesmos, há a
sensação que estes envelheceram prematuramente. Aliás, muito provavelmente, não
há área em que nossos textos envelheçam, ou quase caduquem, tão rapidamente
como esta em que se investiga nossa associação com as máquinas. Aqui, uma
observação basilar: não me refiro ao uso de máquinas, mas à nossa associação
simbiôntica com as mesmas.
Assim,
talvez não caiba tanto discutirmos os limites do tecnohumanismo, deste
‘mundo-computador’ onde somos mais ou menos ciborgues [A palavra não está
dicionarizada na última edição do Houaiss. Está no Aurélio Século XXI “Suposto
ser humano ao qual se adaptam dispositivos mecânicos que comandam suas funções
fisiológicas vitais.” Pode ser encontrada com mais detalhes em http://en.wikipedia.org/wiki/Cyborg.
Na Wikipédia, em português, o verbete é muito recente (depois de 2008)]. Esse
termo é da década de 60, do século 20, foi criado pela junção das palavras cybernetic organism, usado para designar
uma criatura na qual há uma mistura de partes orgânicas e mecânicas. Desde
então, esse termo tem sido usado com muita flexibilidade. Lenoir (2005, p. 51)*
diz que ciborgue é “qualquer forma de acoplamento entre ser humano e máquina”.
Há os que classificam como ciborgues, pessoas com implantes como marca-passos,
próteses e até imunizações por vacinas, juntamente com organismos transgênicos,
produzidos pela bioengenharia. Assim, pelo acoplamento que temos, por exemplo,
a memória de nosso computador pessoal, que é um apêndice de nossa memória
orgânica, somos todos ciborgues. Eu me digo ciborgue por não ter mais minha
dentição natural e tê-la formada por pinos de titânio e dentes de acrílico.
Quantos
há que hoje não podem viver no mundo real sem depender de memória virtual. Hoje
portar um telefone celular nos faz dispor de uma memória auxiliar. A
significativa dependência que temos desta memória
não-biológica, talvez, possa ser traduzida pela especificidade dos
telefones de cada pessoa. Se meu celular está indisponível (sem bateria, por
exemplo), não adianta, na maioria das situações, outra pessoa emprestar-me o
seu. Eu não sei os números para quem preciso ligar. Isso é uma realidade que
inexistia quando este livro foi escrito no ocaso do século 20, quando nos
iniciamos com computadores e que precisa contextualizar as leituras de agora.
Na
blogada dominical de amanhã vou trazer que não são apenas as mensagens
eletrônicas que nos são enviadas por robôs. Isso, também ocorre com aquelas via
postal.
* LENOIR,
Timothy. 2005. Tecnohumanismo: réquiem para o ciborgue. p. 51-69. In. REGNER,
Anna Carolina; RODHEN, Luiz. (org). A filosofia e a ciência redesenham
horizontes. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 380p.
Tema instigante. Mesmo que meus conhecimentos sobre tal são pífios ouso dizer que desde que venha a somar tendo em vista o bem é louvável. Acredito que a ciência, acima de tudo, tem como função primordial ajudar o ser humano a melhorar sua condição de viver.
ResponderExcluirAos genuinamente humanos e aos cyborgs, um ensolarado sábado!
Nós robôs
ResponderExcluirOlharmos para robotização convém
Aos poucos nos parecemos ciborgues
Futuro de nós robôs avariados advém
Cujo destino é sucata e não morgue.
Seremos meio máquina e meio gente
Nosso cérebro tomando as decisões
E a máquina escrava completamente?
Não sabemos, e aí reside os senões.
Devemos portanto acumular medo?
De um dia máquina rebelde nos matar?
E passar então a escrever o enredo?
Acho que não há por que se preocupar
Se houver perigo pressionemos o dedo
Naquele tradicional botão pra desligar.