ANO
8 |
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
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EDIÇÃO
2773
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Mais
uma blogada que se tece a partir de minhas atividades docente. Todavia esta é,
talvez, a mais original. Jamais me imaginava trazer o assunto para sala de aula
e muito menos, na esteira desta ação, trazê-lo para este blogue.
Mesmo
que o edificante relato de ontem — a
sabedoria de Rita Levi-Montalcini, que com emoção nos recomenda ter emoções
— e o de hoje sabem às aulas de segunda-feira, os dois temas são díspares.
Permito-me recordar que saber a significa
ter sabor ou gosto.
Já
comentei, aqui, que neste semestre, ministro aulas de Teorias do
Desenvolvimento Humano para duas turmas de licenciatura em Música. De uma
maneira muito continuada esclareço aos alunos (a grande maioria músicos que vem
a universidade para serem professores de Música) meu quase total analfabetismo
musical.
Nesta
segunda-feira. Abri as aulas nas duas turmas, dizendo que pela primeira vez, aventurar-me-ia
a trazer uma questão de música: Quem é Thomas
Wurst? Ante o silêncio total, disse que o personagem em questão também era
conhecido por Conchita. O desconhecimento
total continuou. Disse que daria uma dica: até ontem (domingo) pela manhã eu
também desconhecia. Relatei a surpresa, que determinou a trazida o assunto para
a sala de aula. Esta ocorreu quando soube do resultado do 59º Festival
Eurovisão da Canção — que para a Gelsa e para mim se tornou muito próximo em
2001, quando vivemos na Espanha — com uma muito significativa ruptura de um
paradigma. Então o assunto se tornou familiar aos alunos.
Nascida
em 1988 com o nome Thomas Neuwirth, Conchita Wurst venceu o Eurovisão com uma
balada clássica, no estilo das músicas dos filmes de James Bond dos anos 1960,
Rise Like a Phoenix. Conchita Wurst, o travesti austríaco que venceu o Festival
Eurovisão da Canção, cuja final se disputou no sábado em Copenhagen, na
Dinamarca, regressou neste domingo ao seu país e foi recebido no aeroporto de
Viena por mais de um milhar de fãs, alguns deles com barbas falsas pintadas na
cara, que gritavam palavras de apoio, fotografavam a "diva" e
lançavam ao ar mãos-cheias de purpurinas.
Alguns
traziam bandeiras da Áustria, outros bandeiras com o arco-íris da comunidade
homossexual. A cantora posou para as câmaras de televisão, mostrando o troféu
que trouxera da capital dinamarquesa.
O
Presidente austríaco, o socialista Heinz Fischer, afirmou, numa declaração
escrita, que o triunfo de Conchita Wurst “não é apenas uma vitória para a
Áustria, é o antes de tudo algo em prol da diversidade e a tolerância na
Europa”.
A
generalidade dos partidos políticos austríacos seguiu o exemplo presidencial e
também saudou o triunfo da intérprete, e mesmo a extrema-direita do FPÖ
[Partido da Liberdade Austríaco], que classificara como “ridícula” a
representação do país na Eurovisão, teve agora de reconhecer que “é da ordem
das coisas que as pessoas se regozijem quando há uma vitória”.
Thomas
Neuwirth, que se refere a si próprio no feminino quando assume a personagem de
Conchita Wurst (wurst é a palavra alemã para morcilha ou, mais genericamente,
para embutido; mas em austríaco a expressão significa "não quero
saber"), apresentou-se em palco com um visual de diva — vestido comprido,
cabelos longos e maquilhagem pesada —, ao qual somou uma barba e bigode.
A
Áustria não vencia o Festival Eurovisão da Canção desde 1966, quando Udo
Jürgens conquistou o primeiro lugar em Luxemburgo, com a canção Merci Cherie. Apesar do título francês,
o tema era cantado em alemão. Tinha mesmo que ser, já que nesse ano entrou em
vigor a regra que obrigava os concorrentes a cantar na língua oficial do seu
país. A alteração, que foi imposta pelos protestos de alguns países contra o fato
de a Suécia ter apresentado, em 1965, uma canção interpretada em inglês, deve
estar fazendo sorrir os que assistiram a esta última edição do festival, no
qual constituíram exceção os temas que não foram cantados em inglês.
É
muito bom ver se esboroar paradigmas conservadores. Melhor, ainda, saber que
preconceitos são superados.
Mestre chassot
ResponderExcluirt, seria surpresa sua trazida deste assunto não fosse o destaque que o senhor confere a fala do presidente da Áustria e o encerramento de seu texto, quando o senhor saúda a quebra de paradigmas vencendo preconceitos, especialmente aqueles relacionados com as opções sexuais.
Como seus alunos eu também não conhecia o Thomas ou a Conchita. Os conheci na leitura deste blog que é quase meu maná intelectual de cada dia.
Obrigado
Mirian
Acho muito válida o reconhecimento do artista, mas tenho uma ressalva a fazer sobre o tema. Todo preconceito deve ser repreendido e banido dos nossos procedimentos, porém devemos ter cuidado com a exaltação exagerada as minorias que sofrem essa discriminação. Pois tal exagero passa a falsa premissa de que o indivíduo merece todo louvor apenas por ter essa tal característica fazendo até de certa forma ter-se a impressão de que todos os outros estariam errados só por ter escolhas ou etnias diferentes.
ResponderExcluirMeu caro Antônio Jorge,
Excluirteu alerta é válido. A exaltação pode conduzir a discriminação. A política de cotas (que defendo às ultimas instâncias), por exemplo, pode ser discriminatória. Claro que se o/a vencedor(a) da Eurovisão não fosse exótica não teria essa repercussão.
O comentário da Mirian, faz sentido enquanto mostra uma aprendizagem no quebrar paradigmas e aprender superar preconceitos e conviver com diferenças.
Obrigado por tua importante presença aqui.
A admiração do ac
Iguais
ResponderExcluirÉ hora da sociedade tomar jeito
Então em nome da humanidade
Reconhecer a todos seu direito
E respeitar direito à diversidade.
Porque nascemos todos iguais
E cada um assume sua opção
Pois também aos homossexuais
Não tenhamos qualquer objeção.
Aqui vivamos e deixemos viver
Os que querem ser diferentes
Assim mundo no futuro vai ser
Lugar muito menos oprimente.
E muito mais justo vale dizer,
Fraternidade entre as gentes.
E assim caminha a sociedade, quebrando paradigmas, superando ideias preconceituosas.
ResponderExcluirA natureza é diversa. O mundo é diverso. Salve a diversidade.
Ganha a música. Perde a intolerância. É de admirar.
Para min é como uma diversão musical. Gostei porque foi com música clássica.
ResponderExcluirLuvander.