ANO
8 |
RIO DE JANEIRO / PORTO ALEGRE
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EDIÇÃO
2776
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Esta
blogada entra em circulação quando já me aproximo da hora aprazada para pouso no
Salgado Filho, em Porto Alegre depois de meu dia fluminense. Esta edição ocorre
com a ajuda de mais um texto de Heráclito Parmegiano. Permito-me recordar meus
leitores: ele esteve aqui na edição de 30 de abril. Então, em um texto muito
original, conhecemos um professor aposentado, que de vez em vez volta à escola
de Icujá Seco para ensinar algo do que o envolve agora: agricultura ecológica. A segunda vez foi, há uma semana, 10 de
maio, quando nos contou da repercussão de seu primeiro texto no vilarejo, onde se
pode inferir é uma liderança. Hoje, com sua ajuda se preenche esta edição
sabática. Demos-lhe trela. Parece ser isso que ele gosta.
Muito estimado Mestre Chassot, agora, também, meu
editor.
Como o prometido, hoje quero contar algo mais dos
meus ‘casos’. Mas, primeiro quero manifestar meus agradecimentos por publicar
meus textos. Eu que nunca tinha publicado nada, agora tenho até um editor,
professor doutor. Preciso, todavia, me conformar: desta vez a segunda publicação
não teve muita repercussão em Icujá Seco. Até a foto de nossa aldeia que lhe
enviei foi criticada, dizendo que eu fazia questão de divulgar que não passávamos
de uma aldeota. Da foto que trago hoje não caberá recurso.
Estou escrevendo na noite de terça-feira,
contemplando uma linda lua cheia, ou um plenilúnio, como diz a Isolina, que
ficou muito orgulhosa com a referência que fiz, no outro artigo, ao seu
linguajar — ela jacta-se de ser castiço. Professor, não sei se posso chamar
estes escritos de artigos. Até pensei em nominá-los como ‘Crônicas de Icujá’.
Claro que é muita pretensão.
Tinha previsto para hoje o segundo movimento ‘Um
adágio: De ficções e realidades acerca
de um Heráclito missioneiro’. Quase que diria que hoje vamos carpir mais eito
deste roçado que se transforma em escritura.
Começo
dizendo das ficções. Ela está no sobrenome que aditei ao meu nome. Em 2002 tive
a felicidade de fazer minha única viagem ao exterior. A Sociedade de Canto
Santa Cecília, de São Zenóbio de Inhacorá foi convidada para uma excursão à
Itália. Tínhamos um espetáculo “Assim se canta a nossa Itália no Brasil”. Foi
um sucesso. Apaixonei-me pela cidade de Parma. Está explicado o sobrenome, de
meu pseudônimo literário. Neste o Heráclito é verdadeiro. Na verdade: Heráclito
Guapuruvu. E sobre este meu nome conto a seguir.
Meu
falecido pai, descendente de indígenas das missões jesuíticas (sobre minha
ascendência paterna guaranítica falo adiante) era um homem culto. Guaraci Guapuruvu
(1910-1987) nasceu e se criou (como se dizia) aqui em Icujá Seco. Teria muito para
contar de meu pai. Cito, pela ordem de nascimento, o nome de seus sete filhos que
teve com minha finada e muito querida mãe Elena Luzia Lages Guapuruvu (1906-1970):
Anaxágoras, Sócrates, Sofia (minha irmã gêmea), Heráclito, Heródoto, Parmênides
e Hipácia. Há que inferir pelos nomes escolhidos a cultura de seu Guaraci.
Ele
não teve, em termos de escolarização formal, mais que o aprendizado das
primeiras letras e das quatro operações da aritmética. Um autodidata que inovou
a agricultura transformando canhadas íngremes em terraços planos, com a
construção de muros de arrimo (andenes, como faziam os incas) e fez espaços agricultáveis
com sistemas de irrigação. Engenheiros e agrônomos vinham ver as produções de
seu Guaraci e convidá-lo para ensinar em outros povoados.
Em
nossa casa havia uma biblioteca com cerca de 2 mil livros. A biblioteca era uma
bonita construção de favo ao lado da casa, com 16 espaços hexagonais que
abrigavam setores temáticos: agricultura, com destaque aos primeiros livros
sobre ecologia, história, filosofia, religiões, viagens. Em um dos espaços
havia mapas, globos e um telescópio. Os diferentes recantos de leituras tinham
reproduções ou bustos de escritores ou reproduções de capas de obras célebres.
Havia um setor de literatura infantil e outro de revistas: assinávamos Seleções,
Pomares & Jardins, Pais & filhos. As revistas Manchete e Realidade o
jornaleiro de Cerro Alto, enviava a cada edição. Na biblioteca, franqueada à vizinhança,
entrávamos e portávamo-nos como se estivéssemos numa igreja. Ali, entre outras
coisas, aprendemos a murmurar, ao invés de falar alto.
Mais
uma vez estou me espraiando e não disse quase. Vou fazer um artigo só sobre a
Biblioteca.
Quero
cumprir a promessa e contar algo de minha ascendência paterna. Os pais e os
avôs de meu pai (Guaraci Guapuruvu) eram indígenas ou bugres como se dizia, por
aqui pejorativamente. Deles graças a zelosas investigações de meu pai temos
informações (nomes, fotografias e dados colhidos em lápides). Assim meu bisavô
nasceu em 1850. Ele transmitiu, para as gerações pósteras que seu avô (nascido em
torno de 1760) foi fugitivo da redução de São Miguel, quando as Missões jesuíticas
se esfacelaram. Ele era chamado filho do padre, pois corria um boato, que um jesuíta
engravidará sua mãe. Realmente, a acreditar-se em boatos e genética havia
porque Guaraci Gaupuruvu ter sido o gênio que foi. E... quem sai aos seus...
Sobre
minha ascendência materna sei que meu avô foi um colono italiano, que chegou
solteiro ao Brasil, quase no final do século 19. Com um grupo de outros colonos
italianos cedo deixou a região de Caxias do Sul e se estabeleceram nas
cercanias de São Zenóbio do Inhacorá. Terminaram por se e integrar à comunidade
de Icujá Seco, especialmente por meio do folclore e de Sociedades de canto.
Encerro
por hoje, mesmo sabendo que subtraí muito de minha genealogia, mas narrei que tenho
sangue de índio, de italiano e, de jesuíta... é claro. Tenho ainda muito a
contar.
Árvore conta história
ResponderExcluirMais uma vez Icujá Seco presente
No texto de Heráclito Guapuruvu
Homem planta de copa proeminente
Publica história do fundo do baú.
Sangue gentio lhe corre nas veias
Do qual se orgulha com justa razão
Gaúcho brasileiro de mãos cheias
Orgulhoso e prócer de seu torrão.
Mais vezes o teremos aqui imagino
Porque despertou nele um escritor
Porém acima de tudo com seu tino
Seus escritos têm conteúdo e vigor.
E como sei que escrever é destino
Louvemos a ascensão desse autor.
Mestre Chassot,
ResponderExcluirquisera saber poetar como o Jair, para dizer-lhe do encantamento que me trazem os textos de Heráclito que agora sabemos Guapuruvu.
Icujá Seco já tem é a minha aldeia de desejos, especialmente para estar na biblioteca que tem um sabor sacral.
Como o Jair aguardo saber mais deste escritor que amanha a terra e as palavras.
Mirian