ANO
8 |
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EDIÇÃO
2765
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Na noite de hoje deve ocorrer a segunda de duas
intervenções que faço no Seminário de
Pesquisa I do Mestrado Profissional
de Reabilitação e Inclusão, coordenado pela Profa. Dra. Marlis Morosini
Polidori. Como no dia 25 de abril, teremos hoje mais uma oficina acerca de “A arte de escrever Ciência com arte”.
Fremem ideias. Destas algumas são crestadas. Há
limitações; temos hoje menos de quatro horas de encontro. Aflorou comentar, também, algo acerca de corretores de texto.
Olhei a idade dos mestrandos. Suas experiências
com o ferramental de escrever são muito diferentes das minhas. Há quase 20 anos
escrevi um texto* onde celebrava meus 50 anos de escrita.
Hoje me considero um escrevinhador inveterado. Se houvesse que
fazer um agradecimento por isto, este seria para o meu computador. Sem dúvida
eu não teria a produção que tenho não fosse ele (e a internet). Para que não
seja julgado imerecido este agradecimento, devo contar, que hoje ter uma
dependência grande de um tão fabuloso processo de escrita, tem para mim uma
dimensão significativa. Evoco que comecei minha alfabetização numa lousa,
depois escrevi com pena de aço.
Aqui, vale recordar a ritualística que havia no levar a caneta
ao tinteiro e na volta para o papel (quanto tempo de reflexão havia no escrever
de então, se comparado com o leve teclar de agora); e neste tempo de reflexão
sobre o que se escrevia tinha o secar a página com um mata-borrão. O grande
sucesso posterior foram as canetas-tinteiros, com seus depósitos de borracha
que enchíamos com uma pequena alavanca metálica e que causavam muitos borrões,
que, não raro, acarretavam fazer novamente os temas.
A revolução na tecnologia de escrever para mim aconteceu em
1954, quando ganhei a minha primeira caneta esferográfica, invento ainda tão
presente em nossas escritas, sessenta anos depois. Mesmo tendo comprado uma
Remington, com meus primeiros salários de professor, em 1961, nunca fui um
aficionado da máquina de escrever, e quando fiz mestrado em 1977, fiz
datilografar por outros minha dissertação. Já minha tese de doutorado, quinze
anos após, eu mesmo digitei / diagramei / imprimi. Assim, loas merecidas ao
computador.
O propósito (corretores de texto) ficou distante com esse esparramar-se
em recordações. Nesta transição datilografar → digitar um grande parceiro de nossas escritas passaram a
ser os corretores de textos. Eles são de dois fazeres: ortográficos e
gramaticais. Aqueles deixam a cobrinha vermelha que ferreteia nossos erros; estes
assinalam discretamente sugestões. É sobre estes que queria trazer alguns
comentários. Mais especificamente sobre o corretor gramatical do Word.
Ele é quase perfeito nas questões de gênero e número, nos
alertando sempre que escrevermos: minha amigo // eles tem ou tu fez. Uma sugestão equivocada de número
ocorre quando sugere corrigir valores menores que 2: assim 1,5 litro sugere,
erroneamente, escrever 1,5 litros.
Mas há alertas mais preciosos, pois nos avisa para não dizemos:
vi o outro // havia um outro // uma certa quantia // proponho outra alternativa, pois outro e certa na sua etimologia já contêm o artigo e alternativa é sempre outra.
Outra imprecisão. Ao colocarmos vírgula depois do vocativo, o
corretor julga ser sujeito e avisa que não se separa com vírgula o sujeito e
verbo: Menino, seja curioso!
Para a frase: Assim, antes de mais nada, procure um caminho, o corretor tem duas sugestões: Assim, antes de tudo, procure um caminho ou Assim antes de qualquer coisa, procure um caminho. Convenhamos que uma e outra são mais elegantes.
Já a locução adverbial presente na frase: Ele desenvolve a leitura ao mesmo tempo que a escrita será corrigida para Ele desenvolve a leitura ao mesmo tempo em que a escrita.
Poderia trazer mais exemplos. Encerro com um realmente prosaico.
Escreva: “Deixe de trepar em
árvores, à noite!” Seu pudico corretor lhe admoestará
sugerindo: “Deixe de ter
relações sexuais em árvores, à noite!” Aliás, parece um bom conselho.
*CHASSOT, Attico. Sobre o ferramental necessário
para o trabalho de escrever . Estudos
Leopoldenses, v.32, n.148, p.37-55, 1996.
Caro Attico,
ResponderExcluirVale também comentar os corretores ortográficos acrescentados aos celulares da atualidade. Embora menos robustos que aqueles utilizados pelos processadores de texto, tentam completar palavras a fim de reduzir a digitação do usuário. Entretanto, como efeito colateral, costumam criar equívocos ao substituírem palavras corretas por outras selecionadas em seu banco de dados e tornando frases desconexas ou com outro sentido.
Grande abraço,
Paulo Marcelo.
Muito atencioso Paulo Marcelo,
Excluirno preparo do texto que comentas, tomei conhecimento de movimento contra a autocorreção em celelures e assemelhado pelas correções até constrangedoras que opera.
Pretendo voltar a esse assunto. Claro que temos distinguir autocorreção de coreção (sugerida).
Obrigado pelo retorno aqui,
achassot
Como dizem as máquinas são estúpidas, tal qual o famigerado "sistema", "sujeito" hoje responsável por toda serie de atrocidades que nos afligem no mundo cibernético. Não tão estúpido quanto os atendentes de call center que conseguem ser mais irracionais que as máquinas ao repetirem suas frases decoradas em um tom de voz incrivelmente irritante...
ResponderExcluirUm forte amplexo (fui corrigido!)
Numa boa!
ResponderExcluirAgora escrever virou maior moleza
Pois corretor de texto, nosso amigo
Acerta nossa gramática com certeza
E mesmo escrever livros eu consigo.
Chega de letra a letra então dedilhar
Sem saber se entra esse ou cedilha
Escrevinhar entra em outro patamar
Estando do nosso lado essa cartilha.
Ao presente corretor ativo teço loa
O qual me salva em hora dramática
Com seu guarda chuva fico na boa
Escrever corretamente, uma prática.
Quando o sublinhar de erro me soa
Percebo que é a linha emblemática.
Querido Mestre!
ResponderExcluirTem também na questão dos corretores ortográficos o impedimento de neologismos... por um lado, ajuda na questão ortográfica, por outro, nos puxa a orelha quando resolvemos ser criativos... A tecnologia e suas limitações... Abraços!
Cris querida,
Excluirconcordo contigo. Como adoro inventar, quando um neologismo que criei — três exemplos: avonar / localívoro / rapidação — ganha ‘certo uso’ dou-lhe alforria e adiciono, não sem certo ritual, ao dicionário para eles deixarem de ganhar a cobrinha vermelha.
Hoje de noite vou usar o livro Não fiz lição minha de casa porque... acolhendo tua sugestão, num exercício de escrever ficção.
Obrigado pelas continuadas parcerias.
ac