ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2611
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Procurei
rastrear há quanto tempo em palestras, artigos ou capítulos de livros venho
referindo os ‘cada vez mais tênues
limites entre o humano/não humano’ que titula esta blogada. Recordo de um
texto que preparei para o IV Congresso
Internacional de Educação que ocorreu na UNISINOS, no outono de 2005.
Um tempo depois, fiz com aquela fala quase uma bricolagem para
transformá-la no capítulo A Educação nas
fronteiras do Humano e as relações curriculares, que está no livro Sete escritos sobre Educação e Ciências (São
Paulo: Cortez, 2008), onde refiro discussões de teólogos acerca de batizar ou
não robôs. Mas, já na virada do milênio, no Alfabetização
científica: Questões e desafios para a Educação (Ijuí: Unijuí, 2000, 1ed)
no capítulo O impacto da tecnologia na Educação
discuto o assunto.
Olhando os dois capítulos, mais especialmente os exemplos trazidos nos
mesmos, há a sensação que estes envelheceram prematuramente. Aliás, muito provavelmente
não há área em que nossos textos envelheçam, ou quase caduquem, tão rapidamente
como esta em que se investiga nossa associação com as máquinas. Aqui uma observação
basilar: não me refiro ao uso de máquinas, mas à nossa associação simbiôntica
com as mesmas.
Por outro lado, mesmo que há muito estejamos atentos a estas transformações
a cada dia temos novas surpresas, determinadas pela rapidação de como se tornam
cada vez mais tênues
estes limites entre ações de robôs parecendo
humanos e de humanos parecendo robôs.
No último domingo,
vivi dois eventos, que a meu juízo ilustram uma e outra situação. Aceito que
esteja laborando em equívocos.
Situação de robô
‘conhecendo’ sentimentos humanos: a cada fim de semana recebo uma
lista alertando-me para a proximidade de aniversários de meus ‘facefriends’.
Neste domingo entre 88 estavam destacados dois (um filho e um dos meus amigos mais
especiais). Claro que me intriguei com esta eleição. Preciso dizer que não faço
contato com eles via Facebook. Como é que os robôs sabem que dos 88 estes dois sejam
os mais especiais para serem celebrado neste dezembro?
Situação de
humano ‘procedendo’ como robô: menino com 1 ano e
três meses incompletos, abre o tablete, liga-o, acessa o ícone do Skype, dentre
as fotos dos contatos que aparecem, escolhe aquela de sua avó e a chama numa
ligação transatlântica. Ante a não resposta da mesma, repete a ação e brada chamando
pela avó [Foto meramente ilustrativa].
Na próxima vez
que encontrar o Edni (aquele que os robôs do Google sabem que é ‘o meu amigo muito
especial’), quando ele vier com seu usual prosear ‘para trocar figurinhas’ acerca
dos feitos de seus netos, vou trazer este relato, no exercício do meu avonar
envaidecido. Por ora parece um feito imbatível. Talvez, ainda, vejamos nossos
netos curtindo na internet o relato de sua chegada, antes mesmo de deixarem a
maternidade.
Limerique
ResponderExcluirPorque nos velhos tempos de meu avô
Gente era gente, não existia complô
Agora máquina e humano
Estão no mesmo plano
E Homo sapiens está se tornando robô.
Interessante a denominação dada pelo Mestre para essa nossa relação com esses "robôs"; simbiótica. Realmente parece que a vida "emburreceu". No domigo próximo passado eu e a Ley fomos a uma farmácia no Catete para comprar uma tinta para o cabelo de minha mãe (apesar dos seus 93 anos completos hoje a vaidade e a lucidez persiste). Ao encontrarmos o referido produto quando o levamos ao caixa fomos surpreendidos com o aviso lacônico do caixa: "O sistema caiu!". Ótimo o sistema caiu, maravilha, mais a mercadoria tem preço certo na prateleira, não é medicamento é só receber e dar o troco. Lêdo engano o atendente com um olhar de mister de mistério e catástrofe, os quais somados resultariam em plena ignorância ratificou: " Aqui é que nem a caixa, o banco, a loteria, o sistema caiu nós não podemos fazer nada...". Indignado perguntei ao boçal se havia previsão do bendido redentor retornar ao mundo dos mortais, recebendo dele outra resposta tão absurda quanto a alegação inicial; " Não sei não, ninguem pode afirmar nada, "ele" volta quando quiser, nós estamos na mão dele." Revoltado com tamanha estupidez dirigi-me para saída quando uma funcionária, demonstrando que o prata nos cabelos é ouro no discernimento, nos interpelou juntamente com outros clientes: "Gente é só ir pagando e anotando em uma papel, quando o sistema voltar é só registrar tudo". Graças a Deus ainda há gente que não abre mão de pensar.
ResponderExcluirJá que me provocaste diante de uma situação de neto com tablet e o exercício da função inalienável de avô - lá vai uma:
ResponderExcluir* Fui visitar recentemente os 2 netos e a neta de Belo Horizonte e estava com o meu tablet. A neta Bettina pediu que eu deixasse o tablet com ela, comprometendo-se a trazê-lo para P.Alegre no Natal. Sem pestanejar, deixei o equipamento que me é valioso nas atividades profissionais e ele passou a acumular por lá joguinhos que vêm não sei de onde (Ela tem 7 anos).
Duas colegas foram visitá-la e ela mostrou radiante sua destreza no uso do tablet. As colegas - mais do que intrigadas - perguntaram: "Mas o teu avô te deixou o tablet dele ?" E a Bettina - rápida como são os meninos e as meninas de hoje - disse: "Sim, ele me ama!". E daí o que é mais precioso: O tablet ou o pensamento de uma neta pelo seu avô?
Meu caríssimo amigo,
ResponderExcluirnão me dera conta em que abelheiro (abelhudo) fora mexer!
Venceste-me com tua trazida!
A Betina sabe o avô que tem.
Com espraiada admiração,
achassot
Realmente as crianças estão dominando o mundo. A cada dia surpreendem mais e mais. Felicidades a todos leitores do Blog.
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