ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2634
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É natural que
no fim de ano façamos balanços pessoais. Claro que não contabilizamos só sucessos.
Para no ajudar olhar (também) os fracassos, trago um texto que Marcelo Gleiser — professor
de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de
"Criação Imperfeita" — publicou na Folha de S. Paulo no último
domingo. Vale lê-lo.
Homenagem ao fracasso Todo poeta,
todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que
sucessos. Numa sociedade em que o sucesso é almejado e festejado acima de tudo,
onde estrelas, milionários e campeões são os ídolos de todos, o fracasso é
visto como algo embaraçoso e constrangedor, que a gente evita a todo custo e,
quando não tem jeito, esconde dos outros. Talvez não devesse ser assim.
Semana
passada, li um ensaio sobre o fracasso no "New York Times" de autoria
de Costica Bradatan, que ensina religião comparada em uma universidade nos EUA.
Inspirado por Bradatan, resolvi apresentar minha própria homenagem ao fracasso.
Fracassamos
quando tentamos fazer algo. Só isso já mostra o valor do fracasso,
representando nosso esforço. Não fracassar é bem pior, pois representa a
inércia ou, pior, o medo de tentar. Na ciência ou nas artes, não fracassar
significa não criar. Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um
número bem maior de fracassos do que de sucessos. São frases que não funcionam,
traços que não convencem, hipóteses que falham. O físico Richard Feynman
famosamente disse que cientistas passam a maior parte de seu tempo enchendo a
lata de lixo com ideias erradas. Pois é. Mas sem os erros não vamos em frente.
O sucesso é filho do fracasso.
Tem gente que
acha que gênio é aquele cara que nunca fracassa, para quem tudo dá certo, meio
que magicamente. Nada disso. Todo gênio passa pelas dores do processo criativo,
pelos inevitáveis fracassos e becos sem saída, até chegar a uma solução que
funcione. Talvez seja por isso que o autor Irving Stone tenha chamado seu
romance sobre a vida de Michelangelo de "A Agonia e o Êxtase". Ambos
são partes do processo criativo, a agonia vinda do fracasso, o êxtase do senso
de alcançar um objetivo, de ter criado algo que ninguém criou, algo de novo.
O fracasso
garante nossa humildade ao confrontarmos os desafios da vida. Se tivéssemos
sempre sucesso, como entender os que fracassam? Nisso, o fracasso é essencial
para a empatia, tão importante na convivência social.
Gosto sempre
de dizer que os melhores professores são os que tiveram que trabalhar mais
quando alunos. Esse esforço extra dimensiona a dificuldade que as pessoas podem
ter quando tentam aprender algo de novo, fazendo do professor uma pessoa mais
empática e, assim, mais eficiente. Sem o fracasso, teríamos apenas os
vencedores, impacientes em ensinar os menos habilidosos o que para eles foi tão
fácil de entender ou atingir.
Claro, sendo
os humanos do jeito que são, a vaidade pessoal muitas vezes obscurece a memória
dos fracassos passados; isso é típico daqueles mais arrogantes, que escondem
seus fracassos e dificuldades por trás de uma máscara de sucesso. Se o fracasso
fosse mais aceito socialmente, existiriam menos pessoas arrogantes no mundo.
Não poderia
terminar sem mencionar o fracasso final a que todos nos submetemos, a falha do
nosso corpo ao encontrarmos a morte.
Desse fracasso
ninguém escapa, mesmo que existam muitos que acreditem numa espécie de
permanência incorpórea após a morte. De minha parte, sabendo desse fracasso
inevitável, me apego ao seu irmão mais palatável, o que vem das várias
tentativas de viver a vida o mais intensamente possível. O fracasso tem gosto
de vida.
Dom dia!
ResponderExcluirRefletir sobre o sucesso nos estimula a pensar sobre nossos esforços.
Penso que se o sucesso é fruto do esforço, da busca, toda tentativa já é um sucesso.
Neste sentido, mesmo não vencendo, o sucesso se configura.
Logo, não há fracasso.
Fracassar é não tentar, é se omitir...
Muito estimado Mestre Chassot!
ResponderExcluirUma vez mais o sucesso do mestre na seleção de um tema para um fim de ano.
Uma nova leitura para o fracasso. A trazida do texto de Marcelo Gleiser é de rara oportunidade.
Aproveito para falar do sucesso deste blogue neste ano de 2013, dizendo que vibro com retorno a edições diárias.
Na expectativa do continuado sucesso deste blogue.
A admiração do
Laurus Loureiro Lima
Quanto ao tema, gostaria de aditar uma reflexão. O fracasso pode ser também um questão de pespectiva. Jesus Cristo, crenças a parte, inegavelmente foi maior revolucionário da história da humanidade, e ao final da vida foi morto e crucificado. Enfim; fracassou ou foi vitorioso?
ResponderExcluirAbraços.
*o maior
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ExcluirNa vida de qualquer um existe espaço
Para grande sucesso e útil fracasso
Quase sempre se erra
E a vida é uma guerra
E da vida à morte apenas um passo.
Limerique
ResponderExcluirAí canícula, frio aqui no norte
Pode ser azar, ou será sorte?
Tanta neve que assusta
Mesmo assim "me gusta"
Esqueço até da palavra morte.
Brilhante este comentário. Compartilhei com meus amigos nas redes sociais, justo elas, que às vezes escondem os fracassos tão bem que achamos que a vida de todos é feita apenas de sucessos...
ResponderExcluirObrigado, prof. Chassot, pela bela reflexão!