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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

18.- FLEMING E A PENICILINA


ANO
  8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2626

A blogada desta quarta-feira retoma a série serendipitosa, iniciada no último sábado quando o tema foi serendipidade. Domingo e segunda-feira — na mesma dimensão — foram assuntos aqui: ‘princípio de Arquimedes’ e ‘estrutura do anel benzênico’. Ontem houve uma pausa para anunciar que neste dia 18, quarta-feira, no Museu da PUC, o professor Guy Barros Barcellos lança o livro: Manual de implantação de museus escolares.
Agora, a série prossegue com algo que talvez seja a descoberta mais serendípica: a penicilina e seu autor — o escocês Fleming, que possui uma das histórias cheia de eventos, aparentemente, casuais.
Sir Alexander Fleming, (Lochfield, 6 de agosto de 1881 — Londres, 11 de março de 1955) foi um farmacologista, biólogo e botânico escocês. Autor de diversos trabalhos sobre bacteriologia, imunologia e quimioterapia, notabilizou-se como o descobridor da proteína antimicrobiana lisozima, em 1923, e da penicilina, obtida a partir do fungo Penicillium notatum, em 1928, pela qual foi laureado Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1945, juntamente com Howard Florey e Ernst Boris Chain.
De uma história muito rica (Fonte: Roberts, citado na edição de sábado) extraio breves detalhes.
Em 1922, Fleming descobriu serendipicamente, um antibiótico que matava bactérias, mas não leucócitos. Fortemente gripado, fez uma cultura com um pouco de sua secreção nasal. Ao examinar este meio que estava infestado de bactérias amarelas, deixou cair uma gota de sua lágrima sobre a placa de cultura. No dia seguinte, ao examinar a cultura, ele percebeu que havia uma região limpa na área em que lágrima havia caído. Sua percepção perspicaz estava correta: a lágrima continha uma enzima (que denominou lisozima) que destruía bactérias, mas era inofensiva ao tecido humano.
Em 1928, Fleming estava empenhado em pesquisa da gripe influenza. A rotina de laboratório envolvia observações de culturas de bactérias em placas de vidro. Notou que havia uma placa, com uma área limpa. Notou, então que a região limpa se desenvolveu em torno de um bolor, que havia caído quando a placa por equívoco fora deixada aberta. A experiência com a lágrima, seis anos antes, o alertou. O bolor era letal aos estafilococos presentes na cultura. Ele relata: “Não fosse a experiência anterior eu teria jogado fora o material, como muitos bacteriologistas devem ter feito antes” (Roberts, p.201). Fleming isolou o bolor e o identificou como do gênero Penicillium, batizando a substância antibiótica produzida de penicilina — primeira droga capaz de curar inúmeras infecções bacterianas.
Este antibiótico não só salvou milhares de vida na Segunda Guerra Mundial, como estimulou as pesquisas de outros antibióticos quimicamente próximos à penicilina, como as cefalosporinas (também descobertas acidentalmente). Vários destes antibióticos mais novos são eficazes contra bactérias resistentes à penicilina.
Há na história da bacteriologia muito a narrar. Sir Alexander Fleming estava ciente de seus encontros com a serendipidade, pois afirmou: “A história da penicilina é de certa forma romanceada, e ajuda a ilustrar a quantidade de acaso, ou fortuna, ou sina, ou destino, chame-o como quiser, na carreira de qualquer um” (Roberts, p. 205).
Uma nota muito pessoal. Se a produção da penicilina está associada ao seu uso na Segunda Guerra, infiro que minha mãe deve ter sido na remota Estação Jacuí onde nasci, uma das primeiras pacientes a ser tratada com penicilina. Tenho a lembrança da transferência do soro que vinha em uma ampola para dentro do vidrinho hermeticamente fechado onde estava a droga. Entre as crianças disputávamos os vidrinhos vazios. Ganhava quem soubesse pronunciar ‘pe-ni-ci-li-na’. Como ainda não estava na escola, isso deve ter sido em 1945/46, ou antes.
Há, ainda dezenas de descobertas serendípicas, como por exemplo, o Velcro®, uma dádiva da Ciência à vida moderna. Assim, há bons assuntos para este dezembro. 

2 comentários:

  1. Mestre Chassot,
    esta serie de blogadas acerca da serendipidade (ainda vou acertar escrever esta palavra) é valiosa.
    Sabia algo esparso acerca do Fleming e descoberta da penicilina.
    Hoje o senhor faz um relato esclarecedor.
    Já estou curtindo saber acerca dos carrapichos e muitas descobertas mais.
    A gratidão e o reconhecimento de seu fazer alfabetização científica da
    Mírian

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  2. Rossano Evaldt Steinmetz Ribeiro 25 de dezembro de 2013 17:48
    Olá professor, lendo seu blog vi a postagem sobre a descoberta da penicilina e lembrei que já tinha ouvido sobre algumas controvérsias em relação a sua descoberta. Acho que são bons temas as questões sobre a "glória" da descoberta bem como a importância de saber divulgar seus trabalhos. Envio junto um link, mais provocativo do que qualquer outra coisa, sobre a descoberta da penicilina. Grande abraço! http://www.facebook.com/l/KAQG1YGZpAQHQ9CrV4hVzS_7JPS6T52wIU4o7gpIDG9t9QQ/en.wikipedia.org/wiki/Ernest_Duchesne
    Ernest Duchesne - Wikipedia, the free encyclopedia
    en.wikipedia.org
    Ernest Duchesne (30 May 1874 – 12 April 1912) was a French physician who noted that certain moulds k...

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